06 - Pulp

Pulp: O ícone do Britpop dos anos 90

Poucas bandas simbolizaram tão bem os anos 90 no Reino Unido como o Pulp. Liderada pelo carismático Jarvis Cocker, ainda hoje é uma das mais populares da ilha, apesar de ter acabado em 2004.

Jarvis Cocker é hoje uma das figuras mais carismáticas do rock inglês. Não é para menos, liderando o hard indie do Relaxed Muscle, tocando com maestria sua carreira solo (sua ocupação atual) ou, principalmente, à frente do Pulp, sempre arregimentou grande quantidade de fãs, fascinados pela mise-en-céne do astro, letras que tratam do cotidiano com a fina ironia britânica e mesmo por declarações bombásticas na imprensa e aparições inusitadas (Jarvis chegou a subir ao palco interrompendo um show do Michael Jackson em uma ocasião).


Jarvis CockerParece impossível de acreditar, mas o Pulp, como Jarvis, não surgiram na onda do neo glam da metade dos anos 90, como poderia se supor.

A banda explodiu nessa época, mas foi formada simplesmente em 1978 - sim, Jarvis é contemporâneo de gente como Ian Curtis, Morrissey, Ian McCulloch e outros grandes astros do rock britânico.

Porém, naquele momento, com apenas 15 anos de idade, Jarvis não poderia querer aspirar mais que cantar em uma banda de apoio, daquelas que abrem shows para outros grandes artistas.

No início, o grupo chamava-se Arabacus Pulp, nome reduzido no ano seguinte à formação, que aconteceu na cidade industrial de Sheffield - berço de bandas eletrônicas inglesas como Cabaret Voltaire e Human League.

Nada modesto, na ocasião Jarvis dizia que o Arabacus era uma banda que seguia os passos de David Bowie, The Cure, The Beatles e The Kinks. O som, entretanto, passava a anos-luz de distância dos mestres. A primeira formação contava com Jarvis, David Lockwood, Mark Swift e Peter Dalton, que tocou pela primeira vez no Centro de Artes Rotherham em julho de 1980. Gravaram uma fita cassete e, no ano seguinte a entregaram ao famoso DJ John Peel.

A fama conseguida com a exposição no lendário programa da BBC, entretanto, limitou-se ao circuito universitário. Sabendo de seu potencial como letrista e cantor, Jarvis resolveu tocar o negócio ‘Pulp’ a sério, contratando outros músicos para a gravação do primeiro disco, chamado It, em 1982: Simon Hinkler (guitarrista que mais tarde trabalharia com o The Mission), David Hinkler, Wayne Furniss, Peter Boam, Gary Wilson, e até a irmã de Jarvis, Saskia.

capa do disco ItO disco não fez sucesso algum fora do circuito independente, o que deixou o genioso Jarvis ainda mais aborrecido.

Novamente, tratou de formar um novo time, trazendo para o Pulp o guitarrista Russell Senior e o baterista Magnus Doyle. O trio conseguiu dar uma nova direção musical ao Pulp que, naquela época, parecia um arremedo de The Jam. Na mesma época também entraram para a banda o baixista Peter Mansell e o tecladista e letrista Tim Allcard.

Na busca pelo sucesso comercial, Jarvis arriscou-se a levar o som da banda para uma seara mais pop. Dessa forma, ele conseguiu ver uma música bem tocada nas rádios, "Everybody's Problem c/w There Was", com uma levada new wave. Naquela época Javis havia levado a sério uma conversa com Tony Perrin, manager do selo Red Rhino, o qual o aconselhava a escrever canções no estilo Wham! (protótipo de música comercial na época).

Quando parecia que as coisas melhorariam, Allcard deixa a banda, sendo substituído por Candida Doyle. Mas, em seguida, ainda em 1983, um novo passo em direção ao sucesso foi dado por Javis, ao assinar com a Fire Records, gravadora bem maior que a Red Rhino. A banda começou a produzir mais músicas, embora não as lançasse. A produção dessa fase pode ser ouvida somente no disco Masters of the Universe, e não segue a linha comercial que vinha sendo adotada, parecendo o Pulp um sub-Fall.

Freaks, de 1987, também não ajudou Jarvis a alcançar o sonhado salto para a fama.

Gravado em uma semana por pressão da gravadora, revelou o clima tenso que existia entre a banda, o que ocasiou sua dissolução temporária.

O sempre temperamental Jarvis também passou na época um bom período fora de ação por ter se machucado ao tentar impressionar uma garota atravessando uma janela. Ficou meses internado em um hospital.

Com tempo para refletir sobre os rumos do grupo (e muito, já que o Pulp lançaria o sucessor de Freaks somente cinco anos depois), Jarvis revelou no final estar satisfeito com seu trabalho, apesar de não estar sendo bem-sucedido comercialmente.

Ao menos, no circuito independente e das revistas ditas alternativas ele estava bem cotado – seu trabalho seguinte, um 12” de nome “My Legendary Girlfriend”, foi eleito single do mês pelo semanário New Music Express.

capa do disco SeparationsPor essas e por outras, ele resolveu manter o estilo melancólico de Freaks no álbum seguinte do Pulp, chamado Separations, de 1992. No lado A do disco (naquela época ainda havia “bolachas”), as mesmas canções no estilo Leonard Cohen, que Jarvis tanto admira.

Novidades mesmo apareceram no lado B, com várias músicas com influências de acid house, o ritmo daquele momento. Na verdade, Separations foi gravado bem antes de ser lançado. A demora causou grande frustração em Jarvis, que resolveu trocar de gravadora, assinando com a Warp Records em 1992.

Porém, tudo o que Jarvis sonhava aconteceu quando assinou com a Island Records. Os primeiros singles lançados em nova casa, "Do You Remember the First Time?" e "Lipgloss", fizeram sucesso nos charts de singles independentes.

capa do disco His 'n' HersAs duas canções entraram no álbum que catapultaram o Pulp para o status de grande banda em 1994, His 'n' Hers.

O disco chegou ao nono lugar da parada britânica (de discos em geral, não somente independentes), e foi indicado para concorrer ao Mercury Music Prize, uma das maiores premiações da indústria fonográfica britânica.

Naquela época, o Pulp era uma das pontas-de-lança do novo rock britânico (embora a banda mesmo não fosse exatamente uma estreante), ao lado de Suede, Oasis e Blur – banda, aliás, para quem o Pulp abriu na turnê americana de 94.

A partir daí, a fama da banda só cresceu. Em 1995, o single “Common People” atingiu o segundo lugar na parada de singles.

Jarvis, cada vez mais entusiasmado, protagonizava memoráveis exibições nos grandes festivais britânicos, como Glastonbury e Reading.

capa do disco Different ClassCom a moral lá em cima, o Pulp apresentou nesse mesmo ano um dos melhores discos de 1995, o Different Class, com diversas canções inesquecíveis, como a já citada "Common People", uma ode de 6 minutos à mediocridade da vida cotidiana na Inglaterra, a sensual "Underwear", a agitada "Disco 2000" e "F.E.E.L.I.N.G.C.A.L.L.E.D.L.O.V.E.".

No mesmo ano, o presidente do fã-clube da banda, Mark Webber, acabou sendo admitido na mesma como guitarrista.

Já freqüentador das premiações de melhores do ano, Jarvis foi protagonista de uma cena bizarra no Brit Awards de 1996, quando invadiu o palco da premiação para protestar contra a performance do megastar Michael Jackson, que se apresentava naquele momento. A cena custou uma noite na cadeia ao líder do Pulp.

capa do disco This Is HardcoreOs anos seguintes, entretanto, não foram bons para Jarvis, que não suportou o peso da fama com a qual tanto sonhava. Para começar, seu maior colaborador e inventor do “estilo Pulp”, Russell Senior, decidiu se afastar da banda para cuidar da família.

Por sua vez, Jarvis se afundava no vício da cocaína, assim como outros companheiros de banda. Por estes fatores, o hiato entre Different Class e This Is Hardcore foi de três anos, e a temática deste último refletiu bem este período de dificuldades pós-fama do Pulp.

Os novos fãs, aqueles que se divertiram com os temas cotidianos tão ironicamente tratados por Jarvis em Different Class, acabaram por se chocar com a frieza e a melancolia de This Is Hardcore, que em alguns aspectos se assemelhava mais ao clássico The Wall, do Pink Floyd.

capa do disco We Love LifeO Pulp gastou mais três anos para produzir o sucessor de This Is Hardcore, We Love Life.

A razão para a demora teria sido a insatisfação de Jarvis com o resultado das primeiras gravações, obrigando a banda a tocar de novo todas as canções.

Para simbolizar a nova fase do Pulp basta dizer que o guru de Jarvis nas gravações de We Love Life foi nada menos que Scott Walker, songwriter britânico conhecido pelas músicas extremamente tristes.

Pela primeira vez, em um trabalho do Pulp, as letras saíram do cotidiano urbano, mostrando a preocupação do líder da banda com temas do meia ambiente, revelado em canções como "Trees", "Weeds" e "Sunrise".

O disco foi recebido novamente com surpresa pelos fãs, já que revelava mais um redirecionamento musical do grupo. As vendas refletiram estas mudanças contínuas, e Jarvis decide, novamente, sair da gravadora, rescindindo o contrato com a Island.

A partir daí, o cantor decide dar uma parada com o Pulp e tocar trabalhos paralelos, primeiro com o Relaxed Muscle, com Richard Hawley, um britpop mais “heavy” e glam, e depois com sua carreira solo.

Lançado em 2006, Jarvis revela um cantor mais à vontade, sem o peso de ter uma banda por trás, e com mais alegria de viver. Ao que tudo indica este parece ser o caminho do cantor – a não ser, claro, que ele resolva mudar de idéia novamente e fazer outra coisa.

O que parece certo é que ele não deve reviver o Pulp. Perguntado sobre o assunto recentemente, ele afirmou de forma direta, bem ao seu estilo: “é mais fácil o inferno congelar”. Tá bom!

Discografia

It (1983)
Freaks (1987)
Separations (1991)
His 'n' Hers (1994)
Different Class (1995)
This Is Hardcore (1998)
We Love Life (2001)

Compilações

Intro - B-Sides (1993)
Masters of the Universe - B-Sides (1994)
Countdown 1992-1983 - Músicas da era Fire/Red Rhino (1996)
Death Goes To The Disco (1998)
Freshly Squeezed (Early Years) (1998)
Pulped 1983-1992 - Box-set com 4 CDs, com os primeiros três discos, mais Masters of the Universe (2000)
Hits - greatest hits (2002) #71 UK
The Peel Sessions (2006) - Todas as Peel Sessions do Pulp

Singles

Maio de 1983 - "My Lighthouse" (remix)/"Looking For Life"
Setembro de 1983 - "Everybody's Problem"/"There Was"
Outubro de 1985 - "Little Girl (With Blue Eyes)"/"Simultaneous"/"Blue Glow"/"The Will To Power"
Junho de 1986 - "Dogs Are Everywhere"/"Mark Of The Devil"/"97 Lovers"/"Aborigine"/"Goodnight"
Janeiro de 1987 - "They Suffocate At Night"/"Tunnel"
Maio de 1987 - "Master of the Universe"/"Manon"/"Silence"
Março de 1991 - "My Legendary Girlfriend"/"Is This House?"/"This House Is Condemned"
Agosto de 1991 - "Countdown"/"Death Goes To The Disco"/"Countdown" (radio edit)
Junho de 1992 - "O.U. (Gone, Gone)" (Radio Edit)/"O.U. (Gone, Gone)" (12" Mix)/"Space"
Agosto de 1992 - "My Legendary Girlfriend" (live)/"Sickly Grin"/"Back in L.A."
Outubro de 1992 - "Babies"/"Styloroc (Nights of Suburbia)"/"Sheffield - Sex City"
Fevereiro de 1993 - "Razzmatazz"/"Stacks"/ "Inside Susan" /"59 Lyndhurst Grove"
Novembro de 1993 - "Lipgloss"/"You're a Nightmare"/"Deep Fried in Kelvin"
Abril de 1994 - "Do You Remember The First Time"/"Street Lites"
Junho de 1994 - "The Sisters EP" (Babies/Your Sister's Clothes/Seconds/His 'n' Hers)
Janeiro de 1995 - "Common People" (Motiv8 Mix/Vocoda Mix/Ansafone) White Label (Uncharted)
Junho de 1995 - "Common People"/"Underwear"
Outubro de 1995 - "Mis-Shapes"/"Sorted for E's & Wizz"
Dezembro de 1995 - "Disco 2000"
Abril de 1996 - "Something Changed"/"Mile End"
Novembro de 1997 - "Help the Aged"/"Tomorrow Never Lies"/"Laughing Boy"
Março de 1998 - "This Is Hardcore"
Março de 1998 "Like a Friend" (EUA)
Junho de 1998 - "A Little Soul"
Setembro de 1998 - "Party Hard"
Outubro de 2001 - "Sunrise"/"The Trees"
Abril de 2002 - "Bad Cover Version"