319 - R.E.M. - Monster

O sucesso, infelizmente, às vezes traz problemas. E eles vieram aos montes para o R.E.M. Primeiro, com Peter Buck que teve de enfrentar boatos de que era viciado em drogas e morava na rua. Stipe também não escapou e ficou magoado ao espalharem o boato que era portador do vírus da AIDS. Mas nada se compara ao problema de saúde que se abateu sobre o baterista Bill Berry que passou por uma cirurgia no cérebro, após um aneurisma. Além dele, Bill Berry também foi operado por problemas intestinais e o próprio Michael entrou na faca para corrigir uma hérnia. E tudo isso quando a banda fazia a primeira turnê dos anos 90 para promover o disco Monster. Aliás, que título irônico, não?


Com o sucesso de Automatic for the People, o R.E.M. experimentou algo inédito: as fofocas maldosas da mídia. O primeiro a sofrer com isso foi o vocalista Peter Buck. Segundo alguns tablóides, o guitarrista era viciado em drogas e andava dormindo nas ruas. Buck nem perdeu tempo em responder a tais absurdos.

Michael Stipe também não foi poupado. Por ser um sujeito recluso, sem namoradas e ter raspado a cabeça, muitos disseram que ele estava com AIDS, algo que irritou o vocalista, um grande ativista de campanha contra a doença pelo mundo. Além disso, ele ficou mais irritado quando começaram a comentar se era gay ou não, discussão findada quando assumiu a homossexualidade, em 1998.

Enquanto os boatos cresciam, o grupo tentava resolver um dilema: continuariam a ser uma banda mais acústica ou voltariam às raízes? O grupo remoía esse pensamento, já que desde que a nova onda grunge tomava de assalto o planeta, o R.E.M. havia escolhido desplugar as guitarras. E o R.E.M. havia feito fama sendo uma grande banda de rock. Por isso, havia a necessidade de ligá-las novamente.

Estava resolvido que o R.E.M. voltaria a ser uma banda de rock, com guitarras. E o resultado foi outro grande disco: Monster. Segundo Buck, "Monster é um disco de rock, simples". E Buck usou toda sua técnica e seu vasto conhecimento musical, para fazer um outro imenso sucesso, abandonando o bandolim e tirando do armário seu arsenal Rickenbackers e Gibsons.

Monster é um disco cheio de sexo e amor e igualmente de perdas. Isso porque Stipe havia perdido dois grandes amigos: Kurt Cobain e o ator River Phoenix. Em homenagem a eles, escreveu para Kurt "Let Me In" Na gravação, foi utilizada a guitarra Fender Jag-Stang, que pertencia a Cobain, cedida pela viúva Courtney Hole. Para homenagear River, que morreu de overdose, em 31 de outubro de 1993, com apenas 23 anos, escreveu "For River".

Em novembro daquele mesmo ano, o grupo lançou o single, que continha uma versão ao vivo de "Everybody Hurts", gravada em fevereiro de 1993, no MTV Awards.

Lançado em 26 de setembro de 1994, Monster foi direto para o primeiro lugar da América e Reino Unido, vendendo mais de 9 milhões de cópias. A foto da capa trazia um bicho de pelúcia, fazendo um brincadeira com a palavra monstro e o álbum trazia as seguintes faixas:

1. "What's the Frequency, Kenneth?" – 4:00 sample
2. "Crush with Eyeliner" – 4:39
3. "King of Comedy" – 3:40
4. "I Don't Sleep, I Dream" – 3:27
5. "Star 69" – 3:07
6. "Strange Currencies" – 3:52
7. "Tongue" – 4:13
8. "Bang and Blame" – 5:30
9. "I Took Your Name" – 4:02
10. "Let Me In" – 3:28
11. "Circus Envy" – 4:15
12. "You" – 4:54

Cinco dias antes, era lançado o primeiro compacto, What's the Frequency, Kenneth? O título da canção veio de uma história tragicômica e se refere ao comentário que um assaltante fez ao âncora de um programa jornalístico da CBS, Dan Rather, enquanto o assaltava, junto com um colega.

A canção chegou à 21ª posição nos EUA e, em nono, no Reino Unido.

O grupo causou ainda maior felicidade, ao anunciar que estavam de volta à estrada. "Nós queremos voltar a fazer shows. Não fizemos antes porque não era nossa intenção. Gostamos da idéia de quebrar regrar no show business. Não estamos fazendo isso para vender mais discos ou pelo dinheiro e sim porque gostamos."

Foi dessa maneira que Michael Stipe anunciou a volta do grupo à estrada.

A banda desejava fazer uma extensa turnê pelo mundo, começando em janeiro de 1995, pela Austrália.

Tudo corria bem até que Bill Berry passou mal na apresentação em Lausanne, no dia 1º de março, despencou sobre seu kit de bateria e desmaiou. Imediatamente foi levado ao hospital urgentemente.

Após exames, foi diagnosticado um aneurisma cerebral e Bill foi operado dois dias depois, colocando uma nuvem de incertezas sobre o grupo.

O R.E.M. foi obrigado a ficar um mês na Suíça, esperando a recuperação do baterista e os resultados dos novos exames com várias dúvidas.

No dia 17 de abril a Warner solta um comunicado afirmando que Bill Berry havia voltado aos EUA após a completa recuperação e que aos poucos estava aumentando as atividades.

Segundo o comunicado, Bill estava jogando bastante tênis e golfe e que tinha sido liberado pelos médicos para voltar a tocar, tanto que estava ensaiando com o grupo em Athens.

O R.E.M. iria resumir a excursão ao show de 15 de maio, em San Francisco e os shows futuros seriam anunciados em 24 de junho. As apresentações canceladas seriam marcadas em nova data.

Segundo Peter Buck, a situação toda foi um pandemônio: "estávamos tocando para 20 mil pessoas que não falavam nossa língua quando tudo aconteceu. Temi por algo do tipo Altamont, pois a apresentação parou por uns 40 minutos e fiquei pensando que o público começaria a jogar cadeiras no palco, algo assim. Voltamos ao palco e terminamos o show com Mike nos teclados, assustado. Tocamos três ou quatro músicas acústicas sem baixo ou bateria até que Joey Peters (baterista do Grant Lee Phillips) subiu para nos ajudar a finalizar o show. Só ficamos sabendo o que havia acontecido no dia seguinte. Quando soubemos que era um aneurisma, me reuni com Michael e Mike por horas e achei que jamais iríamos terminar a turnê. Foi horrível! Bil poderia ter morrido e pessoas ficavam perguntando se iríamos contratar um baterista. Jamais faríamos isso. Concluímos que a banda era boa porque era um casamento entre nós quatro. Sem Bill, não seria a mesma coisa. Quando os médicos disseram que ele iria se recuperar, resolvemos esperar pela recuperação e continuaríamos a turnê."

A longa excursão que correu ao mundo e foi batizada cruelmente de Welcome on Aneurysm Tour 95! pelos integrantes. Os shows teriam várias bandas abrindo os espetáculos. Na América, seriam feitos pelo Sonic Youth e Luscious Jackson. Na Europa, teriam The Cranberries, Belly, PJ Harvey, Blur, Radiohead, Sleeper e Oasis como companheiros de palco.

Enquanto o disco vendia bem e gerava vários compactos - cinco, ao todo - o grupo ganhou novos problemas. Em julho, foi a vez de Mike Mills ser operado com problemas estomacais.

capa do single Crush With EyelinerSemanas depois, Stipe teve problemas na última apresentação européia, em Praga, e voltou imediatamente para Atlanta onde foi operado de hérnia. A turnê havia sido problemática.

O segundo compacto do disco foi lançado antes da excursão, em novembro: Bang And Blame, que trazia versões diferentes da mesma nos lados B. Ela ficou em 19º na América e 15º no Reino Unido.

Em janeiro é a vez de Crush With Eyeliner, inspirada no New York Dolls, segundo Stipe.

Na versão de 12 trazia versões ao vivo de "Fall On Me", "Me In Honey" e Finest Worksong", conseguindo apenas a 20ª posição nos EUA e 33ª na Inglaterra.

capa do compacto Strange CurrenciesO grupo lançou ainda singles de "Star 69", "Strange Currencies" e "Tongue", mas, ironicamente, não foi editada em compacto da - em minha opinião - mais bela canção do disco e aquela que mais faz referências a sexo: "I Don't Sleep, I Dream".

Apesar de não ter sido single, peço licença para publicar a letra, em inglês:

I Don't Sleep, I Dream

I'm looking for an interruption,
do you believe?
You looking to dig my dreams
Be prepared for anything
You come into my little scene
Hooray hooray hip hip hooray
There's one thing I can guarantee:
You won't have to dig, dig too deep

Said leave me to lay, but touch me deep,
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need

Are you looking to drive my dreams?
You here to run my screens?
You come, deliver my demons
Hooray hooray hip hip hooray
Are you coming to ease my headache?
Do you give good head?
Am I good in bed?

I don't know, I guess so
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need

I'm looking for an interruption,
can you believe?
Some medicine for my headache
Hooray hooray hip hip hooray
I'm pitching for a new direction
Pinch me when I wake
Don't tell me my dreams are fake
you leave me to lay, you touch me deep,
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need
Leave me to lay, but touch me deep,
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need

Os ótimos resultados com Monster fariam com que a banda renovasse contrato com a Warner, em 1996, por US$ 80 milhões, um recorde até então. Mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)

 


 

 

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