O sucesso, infelizmente,
às vezes traz problemas. E eles vieram aos montes para
o R.E.M. Primeiro, com Peter Buck que teve de enfrentar boatos
de que era viciado em drogas e morava na rua. Stipe também
não escapou e ficou magoado ao espalharem o boato que era
portador do vírus da AIDS. Mas nada se compara ao problema
de saúde que se abateu sobre o baterista Bill Berry que
passou por uma cirurgia no cérebro, após um aneurisma.
Além dele, Bill Berry também foi operado por problemas
intestinais e o próprio Michael entrou na faca para corrigir
uma hérnia. E tudo isso quando a banda fazia a primeira
turnê dos anos 90 para promover o disco Monster. Aliás,
que título irônico, não?
Com
o sucesso de Automatic for the People, o R.E.M.
experimentou algo inédito: as fofocas maldosas da mídia.
O primeiro a sofrer com isso foi o vocalista Peter Buck. Segundo
alguns tablóides, o guitarrista era viciado em drogas e
andava dormindo nas ruas. Buck nem perdeu tempo em responder a
tais absurdos.
Michael Stipe também
não foi poupado. Por ser um sujeito recluso, sem namoradas
e ter raspado a cabeça, muitos disseram que ele estava
com AIDS, algo que irritou o vocalista, um grande ativista de
campanha contra a doença pelo mundo. Além disso,
ele ficou mais irritado quando começaram a comentar se
era gay ou não, discussão findada quando assumiu
a homossexualidade, em 1998.
Enquanto os boatos cresciam,
o grupo tentava resolver um dilema: continuariam a ser uma banda
mais acústica ou voltariam às raízes? O grupo
remoía esse pensamento, já que desde que a nova
onda grunge tomava de assalto o planeta, o R.E.M. havia escolhido
desplugar as guitarras. E o R.E.M. havia feito fama sendo uma
grande banda de rock. Por isso, havia a necessidade de ligá-las
novamente.
Estava
resolvido que o R.E.M. voltaria a ser uma banda de rock, com guitarras.
E o resultado foi outro grande disco: Monster.
Segundo Buck, "Monster é um disco de rock, simples".
E Buck usou toda sua técnica e seu vasto conhecimento musical,
para fazer um outro imenso sucesso, abandonando o bandolim e tirando
do armário seu arsenal Rickenbackers e Gibsons.
Monster
é um disco cheio de sexo e amor e igualmente de perdas.
Isso porque Stipe havia perdido dois grandes amigos: Kurt Cobain
e o ator River Phoenix. Em homenagem a eles, escreveu para Kurt
"Let Me In" Na gravação, foi utilizada
a guitarra Fender Jag-Stang, que pertencia a Cobain, cedida pela
viúva Courtney Hole. Para homenagear River, que morreu
de overdose, em 31 de outubro de 1993, com apenas 23 anos, escreveu
"For River".
Em novembro daquele mesmo
ano, o grupo lançou o single, que continha uma versão
ao vivo de "Everybody Hurts", gravada em fevereiro de
1993, no MTV Awards.
Lançado em 26 de
setembro de 1994, Monster foi direto para o primeiro
lugar da América e Reino Unido, vendendo mais de 9 milhões
de cópias. A foto da capa trazia um bicho de pelúcia,
fazendo um brincadeira com a palavra monstro e o álbum
trazia as seguintes faixas:
1. "What's the Frequency,
Kenneth?" – 4:00 sample
2. "Crush with Eyeliner" – 4:39
3. "King of Comedy" – 3:40
4. "I Don't Sleep, I Dream" – 3:27
5. "Star 69" – 3:07
6. "Strange Currencies" – 3:52
7. "Tongue" – 4:13
8. "Bang and Blame" – 5:30
9. "I Took Your Name" – 4:02
10. "Let Me In" – 3:28
11. "Circus Envy" – 4:15
12. "You" – 4:54
Cinco
dias antes, era lançado o primeiro compacto, What's
the Frequency, Kenneth? O título da canção
veio de uma história tragicômica e se refere ao comentário
que um assaltante fez ao âncora de um programa jornalístico
da CBS, Dan Rather, enquanto o assaltava, junto com um colega.
A canção
chegou à 21ª posição nos EUA e, em nono,
no Reino Unido.
O grupo causou ainda maior
felicidade, ao anunciar que estavam de volta à estrada.
"Nós queremos voltar a fazer shows. Não fizemos
antes porque não era nossa intenção. Gostamos
da idéia de quebrar regrar no show business. Não
estamos fazendo isso para vender mais discos ou pelo dinheiro
e sim porque gostamos."
Foi
dessa maneira que Michael Stipe anunciou a volta do grupo à
estrada.
A banda desejava fazer
uma extensa turnê pelo mundo, começando em janeiro
de 1995, pela Austrália.
Tudo corria bem até
que Bill Berry passou mal na apresentação em Lausanne,
no dia 1º de março, despencou sobre seu kit de bateria
e desmaiou. Imediatamente foi levado ao hospital urgentemente.
Após exames, foi
diagnosticado um aneurisma cerebral e Bill foi operado dois dias
depois, colocando uma nuvem de incertezas sobre o grupo.
O R.E.M. foi obrigado a
ficar um mês na Suíça, esperando a recuperação
do baterista e os resultados dos novos exames com várias
dúvidas.
No
dia 17 de abril a Warner solta um comunicado afirmando que Bill
Berry havia voltado aos EUA após a completa recuperação
e que aos poucos estava aumentando as atividades.
Segundo o comunicado, Bill
estava jogando bastante tênis e golfe e que tinha sido liberado
pelos médicos para voltar a tocar, tanto que estava ensaiando
com o grupo em Athens.
O R.E.M. iria resumir a
excursão ao show de 15 de maio, em San Francisco e os shows
futuros seriam anunciados em 24 de junho. As apresentações
canceladas seriam marcadas em nova data.
Segundo
Peter Buck, a situação toda foi um pandemônio:
"estávamos tocando para 20 mil pessoas que não
falavam nossa língua quando tudo aconteceu. Temi por algo
do tipo Altamont, pois a apresentação parou por
uns 40 minutos e fiquei pensando que o público começaria
a jogar cadeiras no palco, algo assim. Voltamos ao palco e terminamos
o show com Mike nos teclados, assustado. Tocamos três ou
quatro músicas acústicas sem baixo ou bateria até
que Joey Peters (baterista do Grant Lee Phillips) subiu para nos
ajudar a finalizar o show. Só ficamos sabendo o que havia
acontecido no dia seguinte. Quando soubemos que era um aneurisma,
me reuni com Michael e Mike por horas e achei que jamais iríamos
terminar a turnê. Foi horrível! Bil poderia ter morrido
e pessoas ficavam perguntando se iríamos contratar um baterista.
Jamais faríamos isso. Concluímos que a banda era
boa porque era um casamento entre nós quatro. Sem Bill,
não seria a mesma coisa. Quando os médicos disseram
que ele iria se recuperar, resolvemos esperar pela recuperação
e continuaríamos a turnê."
A longa excursão
que correu ao mundo e foi batizada cruelmente de Welcome on
Aneurysm Tour 95! pelos integrantes. Os shows teriam várias
bandas abrindo os espetáculos. Na América, seriam
feitos pelo Sonic Youth e Luscious Jackson. Na Europa, teriam
The Cranberries, Belly, PJ Harvey, Blur, Radiohead, Sleeper e
Oasis como companheiros de palco.
Enquanto o disco vendia
bem e gerava vários compactos - cinco, ao todo - o grupo
ganhou novos problemas. Em julho, foi a vez de Mike Mills ser
operado com problemas estomacais.
Semanas
depois, Stipe teve problemas na última apresentação
européia, em Praga, e voltou imediatamente para Atlanta
onde foi operado de hérnia. A turnê havia sido problemática.
O segundo compacto do disco
foi lançado antes da excursão, em novembro: Bang
And Blame, que trazia versões diferentes da mesma
nos lados B. Ela ficou em 19º na América e 15º
no Reino Unido.
Em janeiro é a vez
de Crush With Eyeliner, inspirada no New York
Dolls, segundo Stipe.
Na versão de 12
trazia versões ao vivo de "Fall On Me", "Me
In Honey" e Finest Worksong", conseguindo apenas a 20ª
posição nos EUA e 33ª na Inglaterra.
O
grupo lançou ainda singles de "Star 69", "Strange
Currencies" e "Tongue", mas, ironicamente, não
foi editada em compacto da - em minha opinião
- mais bela canção do disco e aquela que mais faz
referências a sexo: "I Don't Sleep, I Dream".
Apesar de não ter
sido single, peço licença para publicar a letra,
em inglês:
I Don't Sleep,
I Dream
I'm looking for an
interruption,
do you believe?
You looking to dig my dreams
Be prepared for anything
You come into my little scene
Hooray hooray hip hip hooray
There's one thing I can guarantee:
You won't have to dig, dig too deep
Said leave me to lay, but touch me
deep,
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need
Are you looking to drive my dreams?
You here to run my screens?
You come, deliver my demons
Hooray hooray hip hip hooray
Are you coming to ease my headache?
Do you give good head?
Am I good in bed?
I don't know, I guess so
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need
I'm looking for an interruption,
can you believe?
Some medicine for my headache
Hooray hooray hip hip hooray
I'm pitching for a new direction
Pinch me when I wake
Don't tell me my dreams are fake
you leave me to lay, you touch me deep,
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need
Leave me to lay, but touch me deep,
I don't sleep, I dream
I'll settle for a cup of coffee, but you know what I really need
Os ótimos resultados
com Monster fariam com que a banda renovasse
contrato com a Warner, em 1996, por US$ 80 milhões, um
recorde até então. Mas isso é papo para outro
dia. Um abraço e até a próxima coluna.
Discografia
Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)
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