322 - R.E.M. - New Adventures in Hi-Fi

É possível um grande álbum ter baixas vendagens, mesmo com convidados especiais como Patti Smith e logo após ter assinado um contrato recorde para a época? Bem, o R.E.M. A renovação com a Warner rendeu US$ 80 milhões ao quarteto, mas o novo disco - New Adventures in Hi-Fi - foi recebido com certa reserva pelos fãs, ocasionando vendas baixas e quase nenhum sucesso. Além disso, o período marcaria a saída definitiva do baterista Bill Berry e de vários problemas internos.


Tudo parecia ir de vento em popa para a banda. O novo contrato firmado com a Warner fazia do R.E.M. o grupo mais bem pago do mundo, com US$ 80 milhões no bolso. Nada mal para quem começou tocando em uma igreja e era considerado difícil demais para o público médio. Mas problemas existiam no horizonte.

O mais embaraçoso foi com o empresário Jefferson Holt. O antigo empresário do grupo, que havia começado com eles em 1981, foi demitido após ser envolver em uma humilhante acusação de assédio sexual em cima de uma funcionária que trabalhava com o grupo. O processo foi arquivado após um acordo extra-judicial. Em seu lugar entrou Berti Downs IV.

E coube a Downs fechar a extraordinária renovação de contrato com a Warner, pelos próximos cinco discos, fazendo da banda a mais rica do planeta.

Segundo o jornal britânico The Times, o acordo era excepcional: a banda recebeu US$ 10 milhões adiantados pelo cinco álbuns, US$ 20 milhões de adiantamento pelo seis álbuns de catálogo, US$ 10 milhões de bônus pela assinatura do contrato e 24% dos royalties das vendas futuras. E a melhor parte é que o grupo teria, ao final do contrato, a posse das fitas masters, tornando-se dono de seu catálogo. Além disso, a Warner assegurou que a antiga gravadora, I.R.S., não iria mais lançar nenhum disco deles a partir daquela data, finalizando uma exploração que já durava quase 10 anos. Muitos especialistas perguntavam como a gravadora faria dinheiro depois de tanta generosidade.

Michael e PattiPara a gravação do novo disco, Michael Stipe convidou uma velha amiga e de quem era fã: Patti Smith. Michael e Patti eram amigos de longa data e Michael havia fotografado a cantora na turnê que fez em 1995 promovendo o disco Gone Again, quando abria os shows de Bob Dylan.

As fotografias acabaram sendo registradas, posteriormente, no livro 2XIntro: On The Road With Patti Smith.

O novo disco seria gravado ao longo da turnê Monster e em vários estúdios. Peter Buck conta que eles queriam fazer um disco tão de rock como era Monster, mas que nem sempre era possível. Uma inspiração desse período foi o álbum Time Fades Away, de Neil Young, lançado em 1973.

Outra inspiração vinha de um grupo novato de quem ficariam amigos, o Radiohead, que abriam os shows da turnê. O grupo estava gravando o excelente The Bends, e eles acharam interessante a maneira como o Radiohead produzia as músicas. O R.E.M. resolveu trazer gravadores de oito canais para as apresentações e usá-las como base para as novas composições.

Nessa mesma época, Stipe havia montado uma companhia cinematográfica, Single Cell, e confessava que estava cheio dos rumores sobre sua homossexualidade. "Melissa Etheridge assumiu sua homossexualidade e continua vendendo milhões de discos, mas é muito mais complicado para o homem assumir isso, porque vivemos numa sociedade patriarcal. Mas ver duas mulheres se roçando é ok, porque isso é uma fantasia masculina."

Em estúdio, o grupo tinha a companhia dos músicos Scott McCaughey, Nathan December (que os acompanhava na excursão), além de Andy Carlson, que tocava viola em "Electrolite".

Em 9 de setembro de 1996, é lançado New Adventures in Hi-Fi. O álbum teve um ótimo começo nas paradas de sucesso, indo direto ao topo da parada britânica e ficando em segundo lugar, nos Estados Unidos. Apesar disso, o disco teve vendas decepcionantes e demorou mais de sete meses para alcançar as 900 mil cópias na América, pouco perto dos campeões Monster, Automatic for the People e Out Of Time.

O trabalho trazia as seguintes faixas:

1. "How the West Was Won and Where It Got Us" – 4:31 Seattle Studio
2. "The Wake-Up Bomb" – 5:08 Charleston
3. "New Test Leper" – 5:26 Seattle Studio
4. "Undertow" – 5:09 Boston
5. "E-Bow the Letter" – 5:23 Seattle Studio
6. "Leave" – 7:18 Atlanta Soundcheck
7. "Departure" – 3:28 Detroit
8. "Bittersweet Me" – 4:06 Memphis Soundcheck
9. "Be Mine" – 5:32 Seattle Studio
10. "Binky the Doormat" – 5:01 Phoenix
11. "Zither" – 2:33 Dressing Room Philadelphia
12. "So Fast, So Numb" – 4:12 Orlando Soundcheck
13. "Low Desert" – 3:30 Atlanta Soundcheck
14. "Electrolite" – 4:05 Phoenix Soundcheck

capa do single E-Bow the LetterA edição vinil trazia dois lados: o "Hi side" trazias as faixas de 1 a 6; enquanto o "Fi side", de 7 até 14.

Três canções merecem destaques: a faixa "E-Bow the Letter", onde Patti Smith participa nos vocais em uma parceria simplesmente arrepiante; "Bittersweet Me" e "Electrolite". Além dessas, eu destacaria a faixa de abertura do disco ""How the West Was Won and Where It Got Us" e linda "Leave".

Curiosamente, "E-Bow the Letter", que ficou apenas na 49ª posição na América, foi um sucesso estrondoso no Reino Unido, chegando ao quarto lugar, sendo o maior sucesso do R.E.M. no país, até aquele momento.

capa do single Electrolitecapa do single Bittersweet Me

O grande problema do álbum foi uma grande canção para o disco. Ao contrário dos outros discos, New Adventures in Hi-Fi não tinha uma canção pronta para tomar conta das paradas do mundo, todo, pois era experimental demais, cerebral em demasia.

Michael Stipe afirmava que era um de seus álbuns favoráveis, embora algumas críticas nao gostavam do som esparso, por ter serem sido gravado em arenas onde fizeram os shows.

A banda acabou não excursionando para promover o álbum e sofreria um baque imenso, em abril de 1997.

Durante as primeiras gravações do novo disco, no Havaí, Bill Berry decidiu que iria deixar o grupo, com uma ressalva: só faria isso se o grupo prometesse não se separar motivado por sua decisão.

A banda não apenas prometeu, como jamais colocou um quarto membro fixo. O R.E.M. seria, agora, um trio.

Essa história renderia um outro disco de baixas vendagens e igualmente belo: Up. Mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)

 


 

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