Um dos mais importantes discos de estréia no anos 80, Murmur foi eleito o LP de 1983 pela revista Rolling Stone superando The Police, Michael Jackson, Eurythmics e é um dos mais arrebatadores já feitos pelo R.E.M. Nesse álbum desfilam alguns dos clássicos do grupo, sendo "Radio Free Europe" a música mais famosa e talvez mais importante já feita pela banda. Uma estréia que merece ser explicada...

Após o sucesso inicial de Chronic Town, O R.E.M. voltou aos estúdios novamente com Mitch Easter e Don Dixon para prepararem o primeiro LP. O grupo fazia shows sem parar e tinham aberto inclusive para o Gang of Four na América.

Mitch relembra que o clima dentro do estúdio era o mais tranqüilo possivel. Vencida a resistência da I.R.S., que sonhava com um produtor mais famoso, mas cedeu aos pedidos do grupo, o trabalho fluiu em grande harmonia. Easter lembra que as gravações foram rápidas, durando umas três semanas.

Em Murmur, o R.E.M. já mostrava suas principais características marcantes: os vocais tímidos e as letras obscuras de Michael, a guitarra com influências folks e dos Byrds de Peter Buck e o baixo climático de Mike Mills.

Uma das providências era regravar "Radio Free Europe", já que a versão inicial pela Hibtone havia deixando a banda frustrada. Easter explica como funcionou: "a primeira versão feita pela Hibtone foi gravada pela primeira vez quando apareceram no meu estúdio (Drive-In). Eu não estou certo sobre o que fariam com as fitas, mas acho que queriam lançar eles mesmos. Foi quando encontraram Johnny Hibbert e ele acabou se envolvendo na mixagem. Johnny veio então para cá e passou muito tempo remixando a canção e não sei se ele sabia o que estava fazendo e, além disso, meu estúdio era muito limitado. Assim, com todos esses fatores, ele acabou fazendo uma versão bem diferente daquela que a banda havia gravado sozinha e foi essa que ele lançou pela Hibtone! Desconfio que eles usaram essas versão em uma coletânea do grupo, não a do Hibbert, mas a primeira de todas (N do E: foi no disco Eponymous, mas a versão de Hibbert está disponível na coletânea And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987). Por isso quando entramos no Reflect Studios para gravar o disco, fizemos uma outra versão bem diferente: mais lenta e com mais recursos."

Com mais recursos tecnológicos, "Radio Free Europe", acabou sendo maciçamente executada pelas college radios norte-americanas e acabou ficando na 25ª posição na parada de compactos de rock da Billboard. O lado B teria uma cover de "There She Goes Again", do Velvet Underground e essa canção está contida na coletânea Dead Letter Office.

Assim, Murmur é lançado em 11 de abril de 1983 e recebe rasgados elogios da crítica norte-americana, deixando banda, produtores e gravadora, surpresos, principalmente quando foi escolhido como o LP do ano.

Michael disse que o nome do disco se deve à palavra ser uma das mais fáceis da língua inglesa, mas também pode ser entedida ao seu peculiar estilo de cantar, quase sussurrando e o grupo. No encarte havia poucas informações sobre a banda e a completa ausência das letras.

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado 1

1. "Radio Free Europe" – 4:06
2. "Pilgrimage" – 4:30
3. "Laughing" – 3:57
4. "Talk About the Passion" – 3:23
5. "Moral Kiosk" – 3:31
6. "Perfect Circle" – 3:29

Lado 2

7. "Catapult" – 3:55
8. "Sitting Still" – 3:17
9. "9-9" – 3:03
10. "Shaking Through"1 – 4:30
11. "We Walk" – 3:02
12. "West of the Fields" – 3:17

Para a contra-capa do disco, o grupo escolheu usar uma paisagem local de Athens, um cavalete sobre a estrada de trem de Dudley Park. No século XIX ela era usada para ligar a cidade de Athens até Lula, Georgia.

O disco já mostra o R.E.M. indo atrás de suas raízes e criando um estilo próprio. O LP conseguiu a 36ª posição nas paradas, mas demorou oito anos para atingir a marca de 500 mil cópias e ganhar seu primeiro disco de ouro.

Se o sucesso comercial surgiu lentamente, o R.E.M. começava a adquirir uma sólida reputação entre os estudantes universitários, principalmente por causa dos shows, onde a banda fazia versões de músicas já clássicas.

Apesar disso, tentam homenagear o Gang of Four em "9-9". Porém, a força se reside nas baladas amargas e doces como "Laughing", "Catapult" e "Talk About the Passion", que seria o segundo single do disco e que teria no lado B três canções do EP Chronic Town:"Shaking Through", "Carnival of Sorts (Boxcars)" e "1,000,000". O segundo compacto, no entanto, passou completamente batido.

Junto com os Replacements, Hüsker Dü, Dream Syndicate, The B-52's, Minutemen e outros, o R.E.M. começava a contruir a nova cena dos Estados Unidos. Ironicamente nenhum de seus contemporâneos continuam na ativa atualmente.

Mas o grupo ainda estava apenas afiando as garras e o próximo passo seria um disco igualmente brilhante, Reckoning. Mas isso é papo para um outro dia e uma outra coluna. Deixo vocês com a discografia do grupo. Um abraço!

Discografia

Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)