285 - R.E.M. - Reckoning
 

É muito complicado dizer qual o melhor disco do R.E.M. E é mais complicado ainda não considerar Reckoning a obra-prima da banda. O segundo LP do grupo de Athens é um dos mais belos momentos da carreira do grupo, cheio de influências de Byrds e com uma das mais belas canções de todo catálogo da banda - "So. Central Rain". Um trabalho simplesmente espetacular.


Excursões e mais excursões. Shows pela América, Japão e Europa sem parar. A banda ia vendo seu séquito de fãs crescendo dia após dia.

Uma aparição no programa Late Night with David Letterman só ajudou a aumentar a fama. Nessa noite tocaram uma canção "sem nome", que acabaria se transformando em "So. Central Rain".

Mas a banda não se queixava da dura rotina de palcos, aeroportos e assédio. "Não podemos nos queixar. A vida na estrada é pesada, mas há algo que nos relaxa. Está tudo bem", confessou Peter Buck em uma entrevista da época.

O grupo se sentia surpreso com a aceitação de suas canções: "não acho que soamos com uma banda americana típica. Também não somos iguais às bandas inglesas. Acho que somos um pouco de tudo isso. Temos James Brown como referência, mas minha banda favorita quando eu tinha 13 anos era o T. Rex e Richard Thompson é meu músico inglês favorito."

Enquanto a banda excursionava, precisou voltar à América para gravar o segundo disco. Novamente teriam Don Dixon e Mitch Easter como produtores. As gravações aconteceram entre 8 de dezembro de 1983 e 16 de janeiro de 1984 no melhor clima possível. E tão bom quanto o clima eram as novas canções.

capa do disco Reckoningcontra-capa do disco Reckoning

O R.E.M. continuava fazendo poucas concessões aos fãs. Michael Stipe continuava sussurrando suas estranhas e indecifráveis letras, enquanto Peter dedilhava no melhor estilo Byrds, enquanto Mike Mills e Bill Berry forneciam uma base segura. E dessa maneira nascia Reckoning, uma obra-prima.

O disco era composto de 10 faixas, todas simples e, ao mesmo tempo, enigmáticas.

O álbum tinha uma forte carga emocional, pois "Camera" era dedicada a Carol Levy, amiga íntima da banda e morta em um acidente automobilístico.

Mike Mills conta que as composições são todas feitas em conjunto: "Michael ouve a melodia e então escreve uma letra ou acha alguma que se encaixa. Elas são incrivelmente pessoais, coisas que aconteceram com ele, por isso, às vezes as pessoas não conseguem decifrá-las."

As 10 faixas do disco eram:

1. "Harborcoat" – 3:54
2. "7 Chinese Bros." – 4:18
3. "So. Central Rain" – 3:15
4. "Pretty Persuasion" – 3:50
5. "Time After Time (annElise)" – 3:31
6. "Second Guessing" – 2:51
7. "Letter Never Sent" – 2:59
8. "Camera"1 – 5:25
9. "(Don't Go Back To) Rockville" – 4:32
10. "Little America"2 – 2:58

Michael Stipe ficou também encarregado de fazer a capa do álbum, ao lado de Howard Finster, um artista também da Georgia. Mas Stipe não gostou muito dela.

"Algumas coisas não funcionaram bem na capa do disco e isso me decepcionou. Ele estava ok, mas não excelente. Eu tenho uma tendência horrorosa de controlar tudo do tipo "ninguém vai me sacanear!", mas quando a capa ficou pronta eu estava fazendo shows e não dei o ok final."

Quando o disco saiu, foi aclamado mundialmente. O som do R.E.M. era único.

Se as indecifráveis letras de Stipe podiam ser comparadas as do Cocteau Twins pelos temas, o som sessentista do grupo não encontrava paralelo.

Ao mesmo tempo frágil e vacilante, o grupo mostrava uma grande força e coesão em cima do palco.

"Nóa tivemos um crescimento orgânico e natural. Excursionamos para testarmos as novas composições e você aprende muito tocando em bares apertados e vê quais canções servem e quais não. Eu me lembro uma vez que estávamos tocando e uns babacas começaram a pedir 'Sweet Home Alabama' do Lynyrd Skynyrd. Eu berrei 'não tocamos músicas de bandas mortas'. Na hora gelei, porque estavam apenas esses quatro caras nos assistindo", lembra Buck.

O disco teve um desempenho razoável, chegando ao 27º posto da parada, mas só recebeu seu primeiro disco de ouro, em 1991. Seria o primeiro disco do grupo a entrar na parada oficial.

A crítica inglesa derreteu-se pelo disco e dizia que era o grupo mais excitante do planeta.

O primeiro compacto do disco acabou sendo mesmo "So. Central Rain" e ficou apenas na 85ª posição.

A canção, aliás, teria quatro grafias diferentes ao longo dos tempos:

a) "So. Central Rain" (na contra-capa de Reckoning e Eponymous).
b) "So. Central Rain (I'm Sorry)" (no single).
c) "S. Central Rain" (na capa de Reckoning e no texto interno de Eponymous).
d) "Southern Central Rain (I'm Sorry)" (dentro do encarte de Reckoning).

Há duas versões do single, de 7 e 12 polegadas

7" Single

1. "So. Central Rain (I'm Sorry)" - 3:16
2. "King of the Road" (Roger Miller) - 3:16

12" single

1. "So. Central Rain (I'm Sorry)" - 3:16
2. "Voice of Harold" - 4:25
3. "Pale Blue Eyes" - 2:54

A boa repercussão do Reckoning faria com que o R.E.M. tivesse um ótimo ano de 1984 e a ótima acolhida por parte dos britânicos faria com que a banda gravasse o próximo disco por lá, o que seria um grande erro.

Mas isso é papo para outra coluna. Um abraço e até mais.

Discografia

Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)

 


   

 

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