290 - R.E.M. - Green

O primeiro álbum do R.E.M. na Warner foi o começo do sucesso mundial. "Orange Crush" e "Stand" foram as primeiras canções a chegarem ao topo da parada na categoria rock da Billboard e em 12º lugar na parada geral de LPs. O lançamento se deu em novembro de 1988 para coincidir com as eleições presidenciais norte-americanas e teve uma longa excursão mundial que consumiu quase dois anos.


A saída da I.R.S. rendeu muitos dividendos aos grupos. Primeiro, porque receberam um adiantamento de US$ 10 milhões pelos próximos cinco discos, além de serem donos de suas composições. Com isso, a banda estava finalmente entrando no seleto clube dos milionários grupos de rock.

Mais uma vez na produção do novo disco estava Scott Litt e desta vez os músicos resolveram ampliar seus limites musicais. Assim, o baterista Bill Berry tocou baixo em algumas faixas, Peter tocou bandolim e Mike Mills, acordeom. A idéia era produzir um disco totalmente acústico, mas não conseguiram completar o projeto por falta de canções.

Peter Buck conta que a idéia original da banda era tirar um ano de folga, após trabalho intensivo desde 1981.

"Eu queria ser apenas o Peter Buck, não o músico, mas um homem comum. No entanto, achamos importantes nos posicionarmos esse ano e o resultado foi que nos encontrávamos seis dias por semana para escrevermos o novo álbum. Esse foi um disco de ser feito, mas não tanto quanto Fables of Reconstruction. Estávamos há três anos excursionando e gravando sem parar e ficamos exaustos quando começamos a trabalhar nele."

Peter entendeu perfeitamente que as pessoas estranharam Green. "as canções são extremamente fortes e relevantes para nós, mas não soa como um disco típico do R.E.M. Na verdade, não existe 'canções típicas do R.E.M.' em minha visão. Sempre fomos muito abertos."

Peter Buck disse também que um dos motivos para deixar a I.R.S. foi a péssima distribuição dos discos na Europa. "Veja, fizemos uma excursão com o Green On Red, uma banda bem bacana e que vendias três vezes mais do que nós na Alemanha. Eu realmente gosto deles, mas eles não poderiam ter uma venda tão superior a nossa, no máximo empatar. Esse foi um dos motivos que nossa relação com o selo azedou."

Enquanto a banda passava um longo tempo trabalhando, a I.R.S. aproveitou para lançar, em outubro de 1988, uma coletânea do grupo chamada Eponymous.

O disco trazia basicamente o repertório clássico do grupo e mais três gemas: a versão de "Radio Free Europe" para o selo Hib-Tone, uma versão com vocais diferentes de "Gardening at Night" e uma versão remix de "Finest Worksong". O disco fez um sucesso razoável, alcançando a 44ª posição na parada norte-americanas e 69ª posição no Reino Unido.

Mas o que todos esperavam era o disco novo e no mês seguinte é editado Green.

O disco foi mornamente recebido por crítica e fãs, apesar de vender mais de dois milhões cópias e chegando ao 12º posto na parada.

O disco continha algumas surpresas: Peter Buck tocavam bandolim em "You Are the Everything," "The Wrong Child" e "Hairshirt" e bateria na faixa que encerrava o disco, intitulada "Untitled". Mike Mills tocou teclado em várias músicas e em "Orange Crush", Michael cantava com um megafone.

As faixas originais eram:

Air side

1. "Pop Song 89" – 3:04
2. "Get Up" – 2:39
3. "You Are The Everything" – 3:41
4. "Stand" (listed as track number R.) – 3:10
5. "World Leader Pretend" – 4:17

Metal side

6. "The Wrong Child" – 3:36
7. "Orange Crush" – 3:51
8. "Turn You Inside-Out" – 4:16
9. "Hairshirt" – 3:55
10. "I Remember California" – 4:59
11. – 3:10

Uma curiosidade: na contra-capa do disco ao invés de aparecer "4" antes do nome "Stand", aparece a letra "R". Um erro de tipografia que jamais foi arrumado, mesmo quando editado em CD posteriormente. "Acho bem interessante quando acontecem coisas assim e por isso resolvemos não mexer depois", disse Michael.

A idéia de lançá-lo em novembro foi para que o grupo fincasse sua posição política contra o governo de Ronald Reagan, que acabou fazendo seu sucessor, George Bush.

O grupo também se apropriou de algumas idéias alheias. Na faixa que abre o disco, "Pop Song 89", um dos compactos, a banda se inspirou nitidamente em "Hello, I Love You", dos Doors. "Pop Song" foi o terceiro single retirado do LP.

O lado B do compacto trazia uma versão acústica da mesma, que seria usada no futuro na coletânea In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003. A canção foi apenas a 86ª na parada de compacto, e 16ª na categoria rock.

O primeiro compacto editado foi "Stand", que alcançou o sexto lugar na parada geral, mostrando que o R.E.M. tinha um bom potencial comercial.

Apenas "Losing My Religion", em 1991, teria uma colocação superior, ao atingir a quarta posição.

O lado B trazia "Memphis Train Blues". A canção também serviu de tema para o seriado televisivo "Get a Life".

A próxima canção a ser editada como compacto foi "Crush".

Apesar de ter atingido as 100 mais da parada de compactos, ficou em primeiro na parada de compactos de rock (onde se manteve por oito semanas), superando o U2, na época e alcançando a 28ª no Reino Unido.

Apesar do título remeter a um refrigerante, o título se referia ao agente laranja, que o governo norte-americano usou na Guerra do Vietnã. Segundo Stipe, a canção fala de um jovem que é obrigado a abandonar sua vida de jogador de futebol, pois fora convocado para a Guerra.

O sucesso fez com que o grupo saísse uma imensa turnê pelo mundo. O grupo estava à beira do estrelato, coisa extremamente perigosa para Buck: "só um idiota acha que o estrelato é uma dádiva. Eu não o odeio e nem o evito, mas tomo muito cuidado com isso. Estamos em uma posição perigosa. Muitos fãs podem interpretar erroneamente o que somos ou queremos."

A passagem para lugares maiores era também causava algum incômodo: "quando éramos desconhecidos, tocávamos seis canções novas e as pessoas prestavam atenção e gostavam. Agora damos shows para mais de 15, 20 mil pessoas e você vê uma agitação maior apenas nas duas primeiras fileiras. Se começarmos a tocar muitas músicas desconhecidas em seqüência, o show perde a alegria e todos ficavam nos olhando, de braços cruzados."

O último compacto do disco seria "Get Up" e apenas no mercado norte-americano, onde ficou longe das 100 mais.

O lado B trazia uma versão para "Funtime", de David Bowie e Iggy Pop, do disco The Idiot. Na capa aparece metade do rosto de Mike Mills, que a fez com Michael Stipe. Stipe, aliás, contou, para surpresa de Mike, que o título veio da frase que todo dia era obrigado a repetir para chamar o baxista.

Com shows lotados entre 1989 e 1990 e uma crescente popularização, a banda estava próxima de ser o maior grupo norte-americano. Isso aconteceria em breve, em 1991, com o lançamento de Out Of Time e seria sedimentado com Automatic for the People, em 192. Mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)

 


 

 

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