O que se pode dizer de um disco
que teve os arranjos de cordas feitos pelo ex-baixista do Led
Zeppelin, John Paul Jones, e que foi um dos últimos a ser
ouvido por Kurt Cobain, antes de cometer suicídio? O que
dizer de um disco que traz "Everybody Hurts", "Man
on the Moon", "Drive" e "Nightswimming"?
E como é possível vender, novamente, 10 milhões
de cópias e, novamente, não sair em uma turnê
mundial? Como? Só lendo o texto para saber tais respostas...
Out
Of Time colocou o R.E.M. nas paradas do mundo todo e
a expectativa do que fariam a seguir era imensa. E a banda não
queria descansar sobre a aclamação, longe disso.
Michael Stipe costumou
a escrever letras mais pessoais, mas não queria tocar no
tema amor e, sim, em dor, medo e perdas. Após ganharem
prêmios da indústria musical no início de
1992, se trancaram em estúdios em Miami, Seattle, New York
e Woodstock. Michael começava a enfrentar a angústia
de fazer 30 anos e sentia insegurança com o futuro.
Michael Stipe estava ansioso
pelo futuro e sabia que a pressão sobre o R.E.M. começava
a ficar imenso. Em uma entrevista à Life Magazine,
ele disse: "Não compramos nosso próprio mito.
Você aparece do nada e de repente te colocam em um pedestal,
um lugar muito alto. E te dão muito dinheiro. As pressões
são monumentais e eles não se importam que as pessoas
entre nessa e depois se arrebentem. Mas nós quatro somos
amigos, nos importamos um com outro."
Apesar dos temas pesados,
a banda teve ótimos momentos no estúdio, particularmente
com a presença de John Paul Jones. O ex-baixista do Led
Zeppelin usou toda a experiência e talento para conduzir
arranjos de violinos nas canções do grupo. Mais
uma vez, a banda explorava o lado acústico nas canções,
com poucas guitarras. Paul Jones deu sua contribuição
em "Drive," "The Sidewinder Sleeps Tonite,"
"Everybody Hurts," e "Nightswimming.
O resultado foi deslumbrante.
Seis canções viraram singles - "Drive,"
"The Sidewinder Sleeps Tonite," "Everybody Hurts,"
"Nightswimming," "Find the River," e "Man
on the Moon" e vários críticos consideraram
a obra-prima definitiva do grupo. Estariam certos?
Lançado
no dia 5 de novembro de 1992, Automatic for the People,
chegou ao primeiro lugar no Reino Unido e, em segundo, na América.
O trabalho recebeu elogios rasgados de alguns músicos contemporâneos.
Para Bono, era o melhor
disco de country jamais feito; Kurt Cobain, fã confesso
do grupo, foi mais longe: "Eu não sei como eles consegue
fazer essas coisas. Deus, eles são maravilhosos e conseguem
lidam com o sucesso como se fossem santos e continuam fazendo
músicas maravilhosas!"
Cobain tinha um sonho de
fazer algo com o grupo e confessou que a principal influência
para gravar o disco Unplugged havia sido Automatic
for the People.
O disco trazia as seguintes
faixas, todas compostas por Stipe, Buck, Mills e Berry:
1. "Drive" –
4:31
2. "Try Not to Breathe" – 3:50
3. "The Sidewinder Sleeps Tonite" – 4:06
4. "Everybody Hurts" – 5:17
5. "New Orleans Instrumental No. 1" – 2:13
6. "Sweetness Follows" – 4:19
7. "Monty Got a Raw Deal" – 3:17
8. "Ignoreland" – 4:24
9. "Star Me Kitten" – 3:15
10. "Man on the Moon" – 5:13
11. "Nightswimming" – 4:16
12. "Find the River" – 3:50
O
primeiro compacto extraído foi Drive,
em 8 de outubro de 1992.
Ela trazia a canção
"World Leader Pretend" no lado B do compacto britânico
de sete polegadas e, "Winged Mammal Theme", no norte-americano.
Na edição
alemã, o single de 12 trazia uma cover de Leonard Cohen,
"First We Take Manhattan", que haviam gravado para o
disco tributo I'm Your Fan. A canção
não chegou a ser um grande sucesso.
O
segundo compacto acabaria se tornando um imenso sucesso, principalmente
quando foi lançado um filme de mesmo nome, estrelado por
Jim Carrey: Man on the Moon.
A música prestava
um tributo ao comediante norte-americano Andy Kaufman, morto aos
35 anos, de câncer no pulmão. É um dos pontos
mais altos do disco e teve várias edições
em single, ficando em sexto lugar no Reino Unido e, em nono, na
América.
A edição
de sete polegadas, nos EUA, trazia "Man on the Moon"
e "New Orleans Instrumental #2". Foi editada uma edição
especial para colecionadores na Inglaterra, com as faixas "Man
on the Moon","Fruity Organ", "New Orleans
Instrumental #2" e "Arms of Love", de Robyn Hitchcock.
A versão em sete polegadas inglesa, tinha "Turn You
Inside-Out".
O
terceiro compacto, The Sidewinder Sleeps Tonite
foi inspirado em "The Lion Sleeps Tonight", canção
sul-africana escrita em 1939 e que virou um hit com Solomon Linda
e seu grupo, The Evening Birds.
A música conseguiu
apenas uma 17ª posição no Reino Unido. "The
Lion Sleeps Tonight", aliás, foi usado na versão
sete polegadas norte-americana e na britânica.
A versão britânica,
aliás, foi dividida em dois singles: no primeiro trazia,
como bônus, "The Lion Sleeps Tonight" e "Fretless"
e no CD 2, "Organ Song" e "Star Me Kitten (demo)".
O
quarto single é o mais famoso do disco, e teve covers de
vários artistas como o irlandês Corrs: Everybody
Hurts. Stipe fez uma letra dedicada aos jovens que perdem
a esperança e tentam o suicídio. Stipe estava muito
preocupado com o alto número de suicídios entre
os jovens no mundo todo.
Apesar do sucesso mais
modesto na parada que "Man on the Moon" - apenas o sexto
lugar no Reino Unido e 29º, na América - Stipe a considera
uma de suas melhores composições e está entre
as preferidas dos fãs. No compacto de sete polegadas norte-americano
vinha a faixa "Mandolin Strum"; na edição
especial inglesa, em dois CDs, tinha a mesma "Mandolim Strum"
e New Orleans Instrumental No. 1" (Long Version); no CD2
vinha "Chance" e "Dark Globe", do ex-líder
do Pink Floyd, Syd Barrett.
O
disco gerou ainda outros dois compactos, Nightswimming
e Find the River.
A primeira canção
trazia um tema da infância dos quatro membros do R.E.M.
Quando meninos, eles e os amigos costumavam nadar nus nas piscinas
dos clubes, em Athens, no meio da noite, com quase 50 pessoas
à noite.
Stipe também fala
sobre a perda da inocência. A música fez pouco sucesso,
ficando apenas na 27ª posição no Reino Unido.
"Find the River" foi ainda mais modesto, ficando apenas
na 54ª posição na Inglaterra.
Sempre cuidadosa com a
banda, a Warner lançou um dos boxes mais legais da história,
The Automatic Box.
A
compilação consistia em quatro CDs temáticos:
Vocal Tracks, Instrumental Tracks,
Cover Versions and -B-sides dos singles do disco Green.
Assim sendo, foram editadas as seguintes canções:
Disk 1:
Vocal Tracks: "It's a Free World, Baby" / "Fretless"
/ "Chance (Dub)" / "Star Me Kitten (Demo)".
Disk 2: Instrumental Tracks: "Winged Mammal
Theme" / "Organ Song" / "Mandolin Strum"
/ "Fruity Organ" / "New Orleans Instrumental #2"."
Disk 3: Cover Versions: "Arms of Love"
/ "Dark Globe" / "The Lion Sleeps Tonight"
/ "First We Take Manhattan".
Disk 4: Singleactiongreen B-sides: "Ghost
Riders" / "Funtime" / "Memphis Train Blue"s
/ "Pop Song '89 (Acoustic)" / "Everybody Hurts
(Live)".
Após
tamanho sucesso, a banda resolveu não seguir em excursão,
mantendo a promessa que haviam feito quando gravavam Out
Of Time.
Em entrevista à
Life Magazine, Stipe deu uma curiosa declaração
quando perguntado qual seria a banda perfeita da década
de 90: "Seria aquela que jamais fará shows; que jamais
fará vídeoos, que jamais dará entrevistas
e que nunca deixará ser fotografada e aquela que estará
apenas preocupada em fazer música".
Seria esse o futuro do
R.E.M.? Seria o fim das guitarras e a adoção completa
ao acústico? Temas que ficarão para uma nova coluna
em um novo dia. Um abraço.
Discografia
Chronic Town (1982)
Murmur (1983)
Reckoning (1984)
Fables of Reconstruction (1985)
Lifes Rich Pageant (1986)
Dead Letter Office (1987)
Document (1987)
Eponymous (1988)
Green (1988)
Out Of Time (1991)
The Best of R.E.M. (1991)
Automatic for the People (1992)
Monster (1994)
R.E.M.: Singles Collected (1994)
The Automatic Box (1995)
New Adventures in Hi-Fi (1996)
In the Attic: Alternative Recordings 1985-1989 (1997)
The Best of R.E.M. (1998)
Up (1998)
Reveal (2001)
In Time: The Best of R.E.M. 1988-2003 (2003)
Around the Sun (2004)
And I Feel Fine... The Best of the I.R.S. Years 1982-1987 (2006)
R.E.M. Live (2007)
Acelerate (2008)
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