Um dos gêneros mais bacanas,
porém pouco comentado é o power pop, que teve grandes
representantes na década de 70 como Raspberries, Big Star
e Cheap Trick. E nos anos 80, o gênero teve bons grupos,
que conseguiram algum sucesso e atenção. Um deles,
os Romantics, entupiram as FMs do mundo (e daqui também)
como o hit "Talking In Your Sleep". Mas, a chance de
alguém se lembrar deles é ínfima. Como ninguém
mais se recorda de quem foram ou se ainda existem, tentarei matar
a curiosidade (se é que alguém está curioso)
sobre esses incuráveis românticos...
A
história da banda começa nos anos 70, precisamente
em um dia dos namorados do ano de 1977, quando quatro garotos
- Wally Palmar (vocais), Jimmy Marinos (bateria), Mike Skill (guitarra)
e Rich Cole (baixo) – começaram a tocar, irritados
e frustrados com o tédio. Ao invés de conseguirem
trabalhos em shopping centers, lanchonetes, resolveram abraçar
o movimento punk que explodia no planeta. Resolvem adotar o nome
The Romantics e começam a montar um repertório básico.
A influência do grupo ia de MC5 a Stooges, The Up, Rationals
(bandas da cena local de Detroit nos anos 60 e 70), passando pelos
grupos ingleses da década de 60 – Kinks, Who, Stones,
Animals. O som era cheio de energia, bom humor, irônico,
tudo coberto com muito volume saído dos amplificadores.
Os Romantics tinham uma
imagem simples e limpa, com cabelos curtos, calça e camiseta.
Mas resolveram mudar para poderem se destacar dos demais e começaram
a ficar famosos quando adotaram um visual que os marcariam até
hoje: ternos de couro vermelhos!
Depois
de muita luta e apresentações por todos os cantos,
resolveram fundar um selo próprio, Spider Records, e lançaram
o primeiro compacto, contendo as canções “Little
White Lies" e "I Can't Tell You Anything".
Seguem uma maratona de
shows e após uma apresentação em Toronto,
no Canadá, Greg Shaw, da Bomp Records, convida o grupo
para gravar um disco.
Shaw
havia ficado impressionado com o som dos meninos. O resultado
foi um outro compacto, contendo as músicas “Tell
It To Carrie” e “First In Line”. O grupo começa
a burilar nesse segundo lançamento um pouco mais do estilo
que os faria estourar. O passado punk começa a ser deixado
de lado e acabam sendo catalogados como banda “new wave”,
o que não desagrada o grupo, já que queriam fazer
um som divertido e que pouco lembrasse o niilismo dos Sex Pistols.
Ainda que fosse feito nos mesmos três acordes do grupo inglês.
Em
1979 assinam com a Nemperor Records in 1979 e em três semanas
gravam o primeiro LP do grupo, batizado apenas de The
Romantics. O disco trazia uma cover dos Kinks, “She’s
Got Everything You” e dois dos primeiros sucessos do grupo,
“When I Look In Your Eyes” e a clássica “What
I Like About You”, que começa com o famoso “Hey,
uh huh huh” que os marcaria tanto quanto o “hey ho,
let’s go!” dos Ramones”, embora, obviamente,
tenham sido infinitamente menos famosos. O disco fazia um som
extremamente divertido, alegre, cheio de humor e mostrava um grupo
bem entrosado e com boa pegada rock. Nesse contexto, se destacavam
dos grupos “new wave’, pela ausência de sintetizadores
e já começavam a ser chamados de banda “power
pop”.
O
sucesso de “What I Like About You” é modesto
nas paradas – apenas a 49ª posição –
mas o suficiente para colocar a banda na estrada pelo país.
Em 1980, o grupo entra em estúdio para gravar o segundo
LP, National Breakout. O som do grupo mostra
influências diferentes, incorporando a surf music e até
o soul da Motown nas novas composições. O grupo
consegue um bom resultado com as canções "Tomboy,"
"21 and Over" e "Stone Pony" e debutam em
palcos europeus e australianos. O grupo também participa
de uma coletânea da Quark Records, cedendo as canções
gravadas pela Bomp, que entraram no disco Midwest Pop
Explosion, lançado também em 1980.
O
sucesso começava a aparecer em doses maiores, mas acabam
perdendo o guitarrista Skill, que é substituído
por Coz Canler. É com Canler que lançam o novo disco
no ano seguinte, Strictly Personal, que alcança
boa vendagem e sedimenta a imagem dos Romantics.
O grupo começa então
a trabalhar em novas composições e em 1983 lançam
o disco que os fariam vender milhões: In Heat.
Amparado
em dois clássicos do grupo, “One In A Million”
e, principalmente, “Talking In Your Sleep”, o grupo
conquista todas as rádios do planeta.
Deixando um pouco o som
mais ingênuo da banda e com uma produção mais
bem cuidada, o grupo consegue uma pequena obra-prima pop e o sucesso
cresce assim como os bizarros cortes de cabelo. O álbum
alcança rapidamente a marca de disco de ouro e coloca as
duas canções no Top 10, feito inédito.
Mas,
curiosamente, o sucesso fez mal ao grupo, que perde o baterista
Marinos, cansado da histeria de fãs e do ego de seus colegas.
Nessa época, os integrantes viviam as turras entre si e
com seus empresários. A solução foi convocar
Dave Petratos para a bateria.
Mas o ambiente já estava muito deteriorado entre os quatro
integrantes do grupo e após um novo LP, Rhythm
Romance, em 1985, o grupo acaba.
O
som da banda descaracteriza-se e abandona o “power pop”
em busca de algo mais convencional, flertando com o rock de arena.
Tanto os fãs quantos os próprios integrantes ficam
desgostosos com o resultado e decidem que cada um deve seguir
seu caminho.
Mas a separação
é muito mais complicada do que imaginavam, pois se envolvem
em uma séria de batalhas judiciais contra os antigos empresários
que exigem pagamento de royalties e indenizações
pelas excursões quem foram marcadas e não cumpridas
pelo grupo.
Com
a banda desfeita, a Nemperor lança a coletânea What
I Like About You (And Other Romantic Hits), contendo
os 10 maiores sucessos do grupo, em 1990.
E no mesmo ano os Romantics
voltam à ativa com um membro ilustre na bateria: Clem Burke,
ex-Blondie. A banda começa a fazer shows novamente, e em
alguns shows Burke é substituído por Johnny "Bee"
Badanjek, em alguns shows em 1992, quando Burke havia assumido
outros compromissos. A performance mais famosa desse ano acontece
em uma apresentação feita em homenagem ao ex-vocalista
do MC5, Rob Tyner, que havia falecido em 19 de setembro de 1991.
Em
1994, lançam um EP chamado Made In Detroit
pelo selo Westbound Records. O disco consistia em cinco canções,
sendo três delas escritas por outra lenda da cena de Detroit:
o maluco George Clinton, líder do Funkadelic. No final
do ano, o grupo ganha um prêmio pela sua contribuição
ao pop e rock de Detroit, dado pelo Motor City Music Awards. Nada
mal para uma cidade que também mostrou ao mundo o Parliament,
Suzi Quatro, ? And The Mysterians, Mitch Ryder, além do
próprio MC5 e Iggy Pop...
Em 1995, após quase
oito anos de brigas judiciais, conseguem chegar a um acordo com
os antigos empresários, e agora detém o direito
sobre seu catálogo e de suas composições.
Jimmy Marinos acaba voltando ao grupo em lugar de Clem, em 1996,
mas abandona a banda novamente no ano seguinte.
O
grupo passa os próximos 10 anos sendo reverenciados por
fãs do planeta inteiro e tocando, mas sem gravarem material
novo. Entretanto, vale conhecer alguns discos ao vivo como King
Biscuit Flower Hour, de 1996, Live,
de 2000 e Hits You Remember: Live, de 2001, e
conferir como o grupo era bom e afiado em cima de um palco. O
grupo mostrava um grande tesão e muita alegria, novamente.
E
quando ninguém mais esperava nada deles, surgem em 2003
com um novo disco de estúdio que captura o velho espírito:
61/49. O nome do novo trabalho vem da famosa
encruzilhada em Clarksdale, Mississippi, onde Robert Johnson fez
o famoso e suposto pacto com o demônio e se tornou um dos
mais importantes e idolatrados bluesman da história.
O disco conta com Wally, Coz, Mike e Clem Burke na formação
e mostra um trabalho sólido de músicas bem feitas
e tocadas. Com composições próprias, além
de covers de Kinks e Pretty Things, o disco tem a presença
de Marinos em metade das faixas e de Johnny "Bee" Badanjek
em duas canções. Além dos dois, o tecladista
Eddie Hawrysch (Black Crowes) e Luis Resto participaram do disco.
Considerado como o melhor
disco de um grupo de Detroit em anos, 61/49 coloca
o grupo novamente na ativa e eles saem tocando em vários
lugares e dando várias entrevistas. Recentemente participaram
do Little Steven’s Underground Garage Festival (Little é
aquele mesmo do projeto Sun City e que tocou com Bruce Springsteen),
em Nova York.
Skill
explica como se deu essa volta: “Nós jamais perdemos
nossa raiz rocker durante todos esses anos. Fizemos vários
shows sozinhos e até com os Kinks e Cheap Trick, que nos
influenciaram tremendamente. Quando voltei ao grupo em 1984 eu
estava pensando em fazer um som mais ao estilo da Motown, que
era radicalmente contra o que Duran Duran fazia e que dominava
as paradas. Agora resolvemos apostar nas nossas raízes
de Detroit, com um som mais sujo, básico, furioso. Nosso
novo disco tem tido um apoio importante das college radio
e estamos tocando por toda costa leste e fazendo programas de
rádios transmitidas pela internet, que hoje mostram mais
rock do que as rádios tradicionais. Quando começamos
a compor as músicas, tínhamos centenas de idéias
e Wally escreveu quilos de letras. E Jimmy acabou voltando ao
grupo ajudando em algumas composições e também
porque tínhamos aqueles processos correndo. Quando nos
reuníamos, falávamos sobre os problemas e tocávamos
para nos distrairmos. Quando achamos que já tínhamos
um bom número de composições, fizemos os
arranjos e convidamos Steve King e Al Sutton para produzirem.
Eles souberam valorizar nosso som, sem soterrá-lo com modernices
ou aumentar em demasia o som das guitarras.”
Skill
explica também que com a volta do Blondie aos palcos, Clem
precisou ser substituído por Brad Elvis, do Elvis Brothers.
“Brad é um baterista que gosta de tocar alto e com
muita energia, um cruzamento entre o próprio Clem com Keith
Moon. Quando ele disse que ia fazer shows com o Blondie disse
que devíamos experimentar tocar com Brad. Acabamos aceitando
e é ótimo termos alguém que pode se comprometer
seis meses por ano. Nós convidamos Jimmy para voltar ao
grupo, mas ele disse que não tem mais disposição
de enfrentar uma turnê.”
Skill explica também
que hoje a ambição da banda é bem menor:
“agora tocamos em lugares pequenos para 400 ou 500 pessoas.
Muitos nem conhecem ‘Talking In Your Sleep’ ou o próprio
Romantics e tem gente que jura que ouviu a canção
em um comercial de televisão no dia anterior...risos. Mas
tem sido muito melhor dessa maneira. Hoje somos uma banda muito
mais centrada. O importante é continuamos a fazer o som
do qual sempre gostamos. Eu ainda ouço meus velhos discos
de blues, gente como Howlin’ Wolf, ou Kinks e MC5. Também
ouço as novas bandas de Detroit como o White Stripes, mas
ainda gosto dos meus velhos ídolos. Parei de querer dar
conselho aos mais novos porque fizemos tanta merda e sofremos
tanto que não quero mais confusão para o meu lado.
A única coisa que digo é que nunca percam o controle
de suas carreiras. Isso é muito importante e evita um monte
de ida aos tribunais.”
Com essa mentalidade simples
e tendo apenas o rock em foco, os Romantics continuam tocando
pela América, Europa, Japão e Austrália.
Os discos da banda não estão mais disponíveis
em catálogo, mas uma boa pedida é a coletânea
de 1990, What I Like About You (And Other Romantic Hits),
com 10 faixas e que dá um bom apanhado do grupo, se você
quiser importar algo deles. E não deixe se assustar com
os ternos vermelhos achando que são apenas um sub-Duran
Duran. Afinal, eles são muito mais do que isso. Deixo você
com uma foto caricatura do grupo e com as letras dos dois maiores
sucessos, além da discografia. Um abraço a todos
e até a próxima coluna!
What
I Like About You
Hey, uh huh huh
Hey, uh huh huh
What I like about
you, you hold me tight
Tell me I'm the only one, wanna come over tonight, yeah
You're whispering
in my ear
Tell me all the things that I wanna to hear, 'cause that's true
That's what I like about you
What I like about
you, you really know how to dance
When you go up, down, jump around, think about true romance, yeah
You're whispering
in my ear
Tell me all the things that I wanna to hear, 'cause that's true
That's what I like about you
That's what I like about you
That's what I like about you
Wahh!
Hey!
What I like about
you, you keep me warm at night
Never wanna' let you go, know you make me feel alright, yeah
You're whispering
in my ear
Tell me all the things that I wanna to hear, 'cause that's true
That's what I like about you
That's what I like about you
That's what I like about you
That's what I like about you (whispered)
That's what I like about you (whispered)
That's what I like about you (whispered)
That's what I like about you (whispered)
Talking In Your
Sleep
When you close
your eyes and go to sleep
And it's down to the sound of a heartbeat
I can hear the things that you're dreaming about
When you open up your heart and the truth comes out
You tell me that
you want me
You tell me that you need me
You tell me that you love me
And I know that I'm right
Cuz I hear it in the night
I hear the secrets that you keep
When you're talking in your sleep
When I hold you
in my arms at night
Don't you know you're sleeping in a spotlight
And all your dreams that you keep inside
You're telling me the secrets that you just can't hide
You tell me that
you want me
You tell me that you need me
You tell me that you love me
And I know that
I'm right
Cuz I hear it in the night
I hear the secrets that you keep
When you're talking in your sleep
When you close
your eyes and you fall asleep
Everythng about you is a mystery
You tell me that
you want me
You tell me that you need me
You tell me that you love me
And I know that I'm right
Cuz I hear it in the night
I hear the secrets that you keep
When you're talking in your sleep
Dis
Little White Lies/ I Can't
Tell You Anything (compacto, 1977)
Tell It To Carrie/ First In Line (compacto, 1978)
The Romantics (1980)
National Breakout (1980)
Midwest Pop Explosion! (1980)
Strictly Personal (1981)
In Heat (1983)
Rhythm Romance (1985)
What I Like About You (& Other Romantic Hits) (1990)*
Made in Detroit (1993)
King Biscuit Flower Hour (1996)
Breakout (1996)*
Super Hits (1998)*
Live (2000)
Hits You Remember: Live (2001)
Extended Versions (2002)
Take 2 (2003)*
From the Front Row Live (2003)
61/49 (2003)
* coletâneas
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