433 - Rory Gallgher - Against the Grain

Após o sucesso com o Irish Tour, era hora de voltar ao estúdio e lançar um novo disco de estúdio. Afinal, o último havia sido Tattoo, em 1973. Uma das frustrações de Rory era não consegui levar o ambiente e a atmosfera do palco para as gravações, especialmente para alguém que soava tão forte e livre nas apresentações. E tudo isso foi contornado após o lançamento de Against the Grain.


Rory confessava que se sentia meio tenso em estúdio, especialmente com as novas técnicas de gravações, as quais utilizava, embora não fosse um apreciador.

"Tenho horror de eletrônica, pois sou um músico tradicional. Não gosto dessa coisa de gravar as vozes separadamente. Aprendi a fazer tudo em um take, quase 'ao vivo'. Minha escola foram os grandes nomes do passado, gente como Elvis Presley, Carl Perkins, todos os antigos cantores de blues. Mas estamos em 1975 e vou dar meu máximo para fazer um álbum que me satisfaça."

Se a tecnologia o incomodava, o seu grande alento era a banda.

Estabilizado com o trio que o acompanhava desde 1973 - o pianista Lou Martin, o baixista Gerry McAvoy e o baterista Rod deAth - e entrosados com a centenas de shows realizados mundo afora, Rory sabia que essa união seria uma grande arma.

"Já escrevi novas músicas e teremos tempo de sobra desta vez. Poderemos ficar umas duas semanas no estúdio, relaxando, gravando os instrumentos, etc... Assim, as coisas ficam mais fáceis."

Mesmo tendo limitações óbvias, Gallagher queria reproduzir o clima ao vivo o mais próximo dentro do novo disco de estúdio.

"A vantagem de ter uma banda estabilizada há um bom tempo é que nos conhecemos bem e todos sabem o tipo de som que busco. No passado, algumas músicas perdiam força se comparadas às apresentações ao vivo."

Como era praxe, Rory assumia a produção de seus álbuns. As gravações rolaram nos estúdios Wessex, onde nunca havia trabalhado.

Após o sucesso de Irish Tour - que rendeu até um filme promocional, facilmente encontrável em DVD -, Rory havia negociado um contrato com um novo selo - Chrysalis - que o tratava como estrela de primeira grandeza.

Embora não fosse um excepcional vendedor de discos, Rory sempre era bem votado entre os melhores músicos nas eleições anunais dos semanários ingleses, além de ter um grande respaldo no meio artístico.

Para se ter uma medida de sua fama, basta dizer que Muddy Waters o convidou para participar da gravações do disco The London Sessions.

Isso sem contar na turnê que havia feito com Jerry Lee Lewis ou nas gravações com Albert King, no Royal Albert Hall, em Londres. O palco era a "moradia" favorita de Rory desde os tempos do Taste e onde se sentia mais à vontade.

Embora não fosse um extraordináro letrista, havia uma crescente preocupação com isso.

"Sei que não sou profundo como Bob Dylan, por exemplo, mas ao mesmo tempo não ficaria satisfeito se minhas letras fossem apenas um veículo para as minhas improvisações. Considero as palavras importantes e geralmente penso nelas primeiras e sempre aparecem antes da melodia. Muitas vezes as escrevo sem ter uma guitarra ao meu lado."

Por isso, das 10 composições do disco, oito eram dele.

E Rory entregava aos fãs o que esperavam: um disco que misturava músicas fortes e rápidas, com momentos mais sutis e acústicos, como é o caso na versão de "Out on the Western Plain", de Leadbelly.

Lançado no dia 24 de outubro de 1975, Against the Grain trazia as seguintes faixas:

Side 1

"Let Me In" – 4:03
"Cross Me Off Your List" – 4:26
"Ain't Too Good" – 3:54
"Souped-Up Ford" – 6:24
"Bought and Sold" – 3:24

Side 2

"I Take What I Want" – 4:22 (David Porter, Mabon Hodges, Isaac Hayes)
"Lost at Sea" – 4:06
"All Around Man" – 6:14 (Bo Carter)
"Out on the Western Plain" – 3:53 (Leadbelly)
"At the Bottom" – 3:18

Ao ser editado em CD, em 1999, trazia duas faixas bônus e uma nova capa:

"Cluney Blues" – 2:12
"My Baby, Sure" – 2:55

Após o lançamento, Rory confessou ter gostado do resultado.

"Escrevi sete novas composições no período de um ano, além de uma de Leadbelly e uma ver4são de "I Take What I Want". Consegui produzir um bom disco.

O disco saiu meses antes de uma imensa excursão que pegaria todo o inverno, com apresentações em Londres, no Royal Albert Hall, em dezembro.

A turnê passaria por Glasgow (no Apollo), no dia 13 de dezembro, seguindo por Birmigham (Birmingham Town Hall), no dia 15, Manchester (no Free Trade Hal), dia 16, Newcastle (no City Hall), dia 18, em Sheffield (também no City Hall), no dia 19, fechando, em Londres, no dia 23.

O concerto do dia 23, no Albert Hall fazia parte de uma nova política de liberarem a volta de artistas do rock a tocarem no local após incidentes com os fãs do The Who, Chuck Berry e o Mott the Hoople.

Deixo vocês com a discografia completa do mestre. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

com o Taste

Taste (1969)
On The Boards (1970)
Live Taste (1971)
Live at the Isle of Wight (1972)
In the Beginning, an early Taste of Rory Gallagher (1974)
Take It Easy Baby (demo sessions, 1974)
Rock Is Dead (2008)

Solo

Rory Gallagher (1971)
Deuce (1971)
Live In Europe (1972)
Blueprint (1973)
Tattoo (1973)
Irish Tour (1974)
Against The Grain (1975)
Calling Card (1976)
Photo Finish (1978)
Top Priority (1979)
Stage Struck (1980)
Jinx (1982)
Defender (1987)
Fresh Evidence (1990)
Etched In Blue (1991)
BBC Sessions (1999)
Let's Go To Work (2001)
Wheels Within Wheels (2003)
The Big Guns: The Very Best of Rory Gallagher (2005)
Live at Montreux (2006)
The Essential (2008)
Notes from San Francisco (2011)

 

 

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