Após o
sucesso com o Irish Tour, era hora de voltar ao estúdio
e lançar um novo disco de estúdio. Afinal, o último
havia sido Tattoo, em 1973. Uma das frustrações
de Rory era não consegui levar o ambiente e a atmosfera
do palco para as gravações, especialmente para alguém
que soava tão forte e livre nas apresentações.
E tudo isso foi contornado após o lançamento de
Against the Grain.
Rory confessava que se
sentia meio tenso em estúdio, especialmente com as novas
técnicas de gravações, as quais utilizava,
embora não fosse um apreciador.
"Tenho
horror de eletrônica, pois sou um músico tradicional.
Não gosto dessa coisa de gravar as vozes separadamente.
Aprendi a fazer tudo em um take, quase 'ao vivo'. Minha
escola foram os grandes nomes do passado, gente como Elvis Presley,
Carl Perkins, todos os antigos cantores de blues. Mas estamos
em 1975 e vou dar meu máximo para fazer um álbum
que me satisfaça."
Se a tecnologia o incomodava,
o seu grande alento era a banda.
Estabilizado com o trio
que o acompanhava desde 1973 - o pianista Lou Martin, o baixista
Gerry McAvoy e o baterista Rod deAth - e entrosados com a centenas
de shows realizados mundo afora, Rory sabia que essa união
seria uma grande arma.
"Já escrevi
novas músicas e teremos tempo de sobra desta vez. Poderemos
ficar umas duas semanas no estúdio, relaxando, gravando
os instrumentos, etc... Assim, as coisas ficam mais fáceis."
Mesmo tendo limitações
óbvias, Gallagher queria reproduzir o clima ao vivo o mais
próximo dentro do novo disco de estúdio.
"A vantagem de ter
uma banda estabilizada há um bom tempo é que nos
conhecemos bem e todos sabem o tipo de som que busco. No passado,
algumas músicas perdiam força se comparadas às
apresentações ao vivo."
Como
era praxe, Rory assumia a produção de seus álbuns.
As gravações rolaram nos estúdios Wessex,
onde nunca havia trabalhado.
Após o sucesso de
Irish Tour - que rendeu até um filme promocional,
facilmente encontrável em DVD -, Rory havia negociado um
contrato com um novo selo - Chrysalis - que o tratava como estrela
de primeira grandeza.
Embora não fosse
um excepcional vendedor de discos, Rory sempre era bem votado
entre os melhores músicos nas eleições anunais
dos semanários ingleses, além de ter um grande respaldo
no meio artístico.
Para se ter uma medida
de sua fama, basta dizer que Muddy Waters o convidou para participar
da gravações do disco The London Sessions.
Isso sem contar na turnê
que havia feito com Jerry Lee Lewis ou nas gravações
com Albert King, no Royal Albert Hall, em Londres. O palco era
a "moradia" favorita de Rory desde os tempos do Taste
e onde se sentia mais à vontade.
Embora não fosse
um extraordináro letrista, havia uma crescente preocupação
com isso.
"Sei que não
sou profundo como Bob Dylan, por exemplo, mas ao mesmo tempo não
ficaria satisfeito se minhas letras fossem apenas um veículo
para as minhas improvisações. Considero as palavras
importantes e geralmente penso nelas primeiras e sempre aparecem
antes da melodia. Muitas vezes as escrevo sem ter uma guitarra
ao meu lado."
Por
isso, das 10 composições do disco, oito eram dele.
E Rory entregava aos fãs
o que esperavam: um disco que misturava músicas fortes
e rápidas, com momentos mais sutis e acústicos,
como é o caso na versão de "Out on the Western
Plain", de Leadbelly.
Lançado no dia 24
de outubro de 1975, Against the Grain trazia
as seguintes faixas:
Side 1
"Let Me In"
– 4:03
"Cross Me Off Your List" – 4:26
"Ain't Too Good" – 3:54
"Souped-Up Ford" – 6:24
"Bought and Sold" – 3:24
Side 2
"I Take What I Want"
– 4:22 (David Porter, Mabon Hodges, Isaac Hayes)
"Lost at Sea" – 4:06
"All Around Man" – 6:14 (Bo Carter)
"Out on the Western Plain" – 3:53 (Leadbelly)
"At the Bottom" – 3:18
Ao
ser editado em CD, em 1999, trazia duas faixas bônus e uma
nova capa:
"Cluney Blues"
– 2:12
"My Baby, Sure" – 2:55
Após o lançamento,
Rory confessou ter gostado do resultado.
"Escrevi sete novas
composições no período de um ano, além
de uma de Leadbelly e uma ver4são de "I Take What
I Want". Consegui produzir um bom disco.
O disco saiu meses antes
de uma imensa excursão que pegaria todo o inverno, com
apresentações em Londres, no Royal Albert Hall,
em dezembro.
A turnê passaria
por Glasgow (no Apollo), no dia 13 de dezembro, seguindo por Birmigham
(Birmingham Town Hall), no dia 15, Manchester (no Free Trade Hal),
dia 16, Newcastle (no City Hall), dia 18, em Sheffield (também
no City Hall), no dia 19, fechando, em Londres, no dia 23.
O concerto do dia 23, no
Albert Hall fazia parte de uma nova política de liberarem
a volta de artistas do rock a tocarem no local após incidentes
com os fãs do The Who, Chuck Berry e o Mott the Hoople.
Deixo vocês com a
discografia completa do mestre. Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
com o Taste
Taste (1969)
On The Boards (1970)
Live Taste (1971)
Live at the Isle of Wight (1972)
In the Beginning, an early Taste of Rory Gallagher (1974)
Take It Easy Baby (demo sessions, 1974)
Rock Is Dead (2008)
Solo
Rory Gallagher (1971)
Deuce (1971)
Live In Europe (1972)
Blueprint (1973)
Tattoo (1973)
Irish Tour (1974)
Against The Grain (1975)
Calling Card (1976)
Photo Finish (1978)
Top Priority (1979)
Stage Struck (1980)
Jinx (1982)
Defender (1987)
Fresh Evidence (1990)
Etched In Blue (1991)
BBC Sessions (1999)
Let's Go To Work (2001)
Wheels Within Wheels (2003)
The Big Guns: The Very Best of Rory Gallagher (2005)
Live at Montreux (2006)
The Essential (2008)
Notes from San Francisco (2011)
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