Rory
era um guitarrista extraordinário, um amante do blues e
sua longa carreira e discografia provam isso. Mas ele também
amava a música folk, e o folk-blues. Wheels Within
Wheels é a maior prova de sua versatilidade. Trata-se
do segundo lançamento póstumo do cantor e guitarrista
irlandês, organizado pelo seu irmão Donal. Nesse
cd estão 14 faixas de um músico que o próprio
Donal classificava como um apaixonado pela música.
O disco abre com a faixa-título,
uma linda balada, que Rory a abandonou depois de pronta. A segunda
canção “Flight to Paradise” é
uma inusitada canção flamenca, onde Rory mostra
todo seu lirismo. “As the Crow Flies” é uma
velha conhecida dos fãs, presente no essencial Irish
Tour, só que desta vez gravada em estúdio.
A canção havia sido pedida pelo diretor Bernie Bonavoisin
para usar em seu filme, Blanche.
Sua veia celta pode ser
ouvida em “Bratacha Dubha” e em “She Moved Thro’
The Fair/Ann Cran Uli”, duas canções do folclore
irlandês. Na primeira, Rory tocou em parceria com Martin
Carthy, Chris Newman e Màire Ni Chathasaigh. Já
em “She Moved Thro’ The Fair/Ann Cran Uli”,
teve a companhia de Bert Jansch. A seguir, vem a grande canção
do disco “Barley & Grape Rag”, totalmente diferente
da versão gravada em Calling Card. Donal
conta que Ronnie Drew, um dos integrantes do Dubliners havia ouvido
a canção no disco original e quis fazer uma versão
mais tradicional. O resultado é um encontro memorável,
com os Dubliners e Rory visivelmente descontraídos e rindo
ao mesmo tempo. Donal lembra que a farra foi tão grande
que alguns membros do Dubliners nem foram a um show que deveriam
dar naquela noite.
“The Cuckoo” e “Deep Elm Blues” são
duas parcerias com Roland van Campehout, um belga de nascença
e amante da folk music. As duas canções foram gravadas
durante o tempo em que os irmãos Gallagher viveram na Bélgica.
A seguir vem uma seqüência
de três canções gravadas ao vivo, no festival
de Montreux, em 1994, absolutamente belas: “Amazing Grace”,
“Walkin’ Blues” (de Robert Johnson” e
“Blue Moon of Kentucky”, de Bill Monroe.
Encerrando o disco mais
duas músicas imperdíveis: uma versão de “Goin’
to My Hometown”, imortalizada no disco Live in Europe,
contando com a presença do pai do skiffle, Lonnie Donegan
e a instrumental “Lonesome Highway Refraining”, título
que parece sintetizar o espírito desse irlandês que
faz muita falta hoje em dia.
Ouvindo esse disco (que
saiu no Brasil e é possível de ser encontrado) só
podemos agradecer a duas pessoas: Rory, pelo seu imenso talento
e legado que deixou, e Donal por lançar pérolas
tão preciosas para ouvidos tão saudosos do velho
mestre.
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