Está
na hora de esvaziar o baú, atualizar algumas bios que timidamente
comecei anos atrás. Sendo assim por que não contar
um pouco mais a vida do Simple Minds, um dos mais importantes
grupos escoceses e até hoje na ativa? Tendo como líder
o sempre falante Jim Kerr, o Simple Minds começou a experimentar
o sucesso com esse disco de 1982, especialmente com a faixa "Promised
You A Miracle".
O
bom momento vivido pelo Simple Minds após os lançamentos
de Sons and Fascination e Sister Feelings
Call foi quebrado com a saída de Brian McGee.
E Brian deixou no exato momento em que o grupo batia à
porta do estrelato. Para os shows, a saída foi chamar o
velho amigo Kenny Hyslop, ex-Skids. Mas Kenny não durou
muito, apesar de ter tocando no compacto Promised You
A Miracle.
A gravação
da canção surgiu por acaso. O grupo tinha reservado
um estúdio por dez dias no mês de janeiro com a única
finalidade de ensaiar, sem maiores pretensões. "Tocamos
'Promised You A Miracle' por uma hora e achamos que ela tinha
uma boa sonoridade. Continuamos trabalhando até o final
da noite, quando ficamos exaustos e chegamos à conclusão
de que ela havia ficado boa daquele jeito e resolvemos não
mexer mais", conta Jim Kerr.
A
canção saiu como compacto em abril de 1982, entrando
em 30º lugar nas paradas. Um mês depois, ele chegaria
ao 13º posto, a melhor posição do Simple Minds
até o momento e o grupo acabou aparecendo no programa Top
Of The Pops.
Isso fez com que a banda
começasse a pensar de maneira diferente: "nós
nunca pensamos em singles, mas sim em disco. Apenas recentemente
é que essa idéia começou a ser estudada,
porque agora nos achamos capazes de fazer um. Nós não
somos estudiosos do pop como o pessoal do Heaven 17 que ficam
pesquisando o que as pessoas querem ouvir e dão a eles
exatamente aquilo. Não temos essa ambição",
comentou o guitarrista Charlie Burchill.
Logo que a música
foi lançada, Hyslop desistiu de tocar com o Simple Minds.
Novamente sem baterista, o grupo chamou Mike Ogletree, ex-Cafe
Jacques, para continuar gravando. Ele participaria de três
novas canções - "Somebody Up There Likes You",
"New Gold Dream (81-82-83-84)" e "Colours Fly And
Catherine Wheel".
Mas
Ogletree também durou pouco e foi novamente substituído,
por um outro baterista negro, Mel Gaynor. Ex-membro de bandas
londrinas que tocavam funk como Linx, Gonzalez e Light Of The
World, Mel era visto como um outro baterista qualquer e que não
seria fixado ao quarteto restante. Mel conta que ele mesmo não
sabia o que esperar daquele quarteto escocês: "eu não
sabia como seria, mas desde o momento em que pisei no estúdio,
meu som pareceu casar perfeitamente com a proposta dos demais.
Eles mudaram completamente minha atitude."
Jim
logo aprovou a entrada do novo membro: "nós temos
agora uma seção rítmica melhor do que qualquer
banda funk londrina e temos um guitarrista e um tecladista que
poderiam perfeitamente tocar no Genesis ou no Roxy Music."
Mel foi então fixado
como membro oficial do grupo e em agosto lançam um segundo
compacto, Glittering Prize e o novo disco, New
Gold Dream (81-82-83-84), no mês seguinte.
Glittering Prize
acabou chegando ao 16º posto da parada de compactos e o disco
se alojou na 3ª posição na parada de LPs em
pouco tempo.
Feliz com o sucesso, a
gravadora Virgin tratou logo de procurar a antiga gravadora do
Simple Minds, a Arista, e comprar todo seu catálogo.
Um
dos motivos para isso é que em fevereiro de 1982, ela havia
lançado uma coletânea oportunista em cima dos três
primeiros discos gravados pelo grupo, chamada Celebration.
Foi uma jogada inteligente da Virgin, pois a Arista não
tinha ainda tirado os discos antigos de catálogo e quando
ela os relançou nem precisou gastar dinheiro em promovê-los,
pois ainda eram possíveis de serem encontrados.
Livres totalmente e vivendo
um ótimo momento, Jim começou a explicar o conceito
do disco, iniciando pelo título, uma referência implícita
ao livro 1984, de George Orwell, uma obra que
virou um clássico mundial e que falava de uma sociedade
totalmente reprimida por um regime autoritário e que se
iniciaria, segundo o autor, no ano de 1984. Assim, quando começou
a década de 1980, a cada ano as pessoas achavam que a obra
fictícia de Orwell viraria uma realidade e todos temiam
o futuro. Menos o Simple Minds: "não temos medo de
olhar para a frente como outras pessoas", disse Jim.
Outra
coisa que chamou a atenção foi a arte da capa, com
uma cruz, ao lado de traços heráldicos e uma transcrição
medieval. "Usamos porque gostei da imagem, ela me agradou.
Eu costumava usar o martelo e a foice dos comunistas não
porque eu seja um, mas porque eu gosto das formas", disse
Kerr.
O grupo ficou até
surpreso com o sucesso do disco, pois a escolha de Jim Walsh como
produtor não parecia muito promissora, já que ele
tinha pouca experiência. Mas, no final, isso acabou trabalhando
a favor do grupo, não pressionando o quinteto a seguir
um caminho que eles não desejavam.
Outro
ponto interessante é que, pela primeira vez, as músicas
eram assinadas como "Simple Minds" e não mais
"Jim Kerr/Simple Minds". Isso, segundo o vocalista,
ajudou a criar uma unidade maior, e foi considerado por Jim uma
vitória contra seu complexo de inferioridade por pouco
ajudar nas melodias. Jim sempre se sentiu inferiorizado por não
tocar nenhum instrumento.
O disco acabou rendendo
o primeiro disco de ouro ao Simple Minds, na Inglaterra, e Charlie
o descreveu, como "uma grande jam cheia de clássicos",
um comentário bem-humorado e, ao mesmo tempo, imodesto,
já que sabia que o grupo havia conseguido um grande feito.
Com isso, era mais do que
natural que saíssem pelo mundo promovendo o novo trabalho
e todos se sentiram muito bem com isso, pois o Simple Minds sempre
foi um grupo muito contudente ao vivo. Pela primeira vez o grupo
começou a tocar em lugares maiores - ginásios, festivais
e estádios. E nesse aspecto sempre se sentiram bem mais
confortáveis do que as bandas pops, que tinham dificuldades
em lotar seus shows, pela pouca presença de palco e também
por serem músicos limitados.
"Nós
fomos crescendo aos poucos, lenta, mas progressivamente. Nosso
sucesso veio com as apresentações, não com
sucessos radiofônicos. Aliás, somos um dos piores
grupos que existem em rádio, nossa música soa estranha.
Por isso, tivemos que construir uma reputação ao
vivo, com a platéia. Esse é um dos motivos pelo
qual nossos fãs são tão conectados conosco
e pelo qual muitas bandas novas não conseguem prosseguir
na carreira. Eles não sabem o que fazer quando encaram
um grande número de pessoas."
Jim salientava que apesar
disso, ainda não se sentiam uma superbanda. "não
acho que fizemos algo tão notável assim. Nascemos
como um grupo modesto e ainda acho que podemos tirar mais força
de nós mesmos."
E Kerr estava certo. Os
dois próximos discos dariam, pela primeira vez, o número
1 não apenas na Inglaterra, mas também na América.
Seria o amadurecimento (e para muitos) a morte do Simple Minds.
Mas isso é papo para outra coluna. Deixo vocês com
a discografia da banda.
Discografia
Singles
como Johnny And The Self Abusers
Saints And Sinners (1977)
Singles
Life In A Day (1979)
Chelsea Girl (1979)
Changeling (1980)
I Travel (1980)
Celebrate (1981)
The American (1981)
Love Song (1981)
Sweat In Bullet (1981)
I Travel (1982)
Promised You A Miracle (1982)
Glittering Prize (1982)
Someone Somewhere (In Summertime) (1983)
I Travel (1983)
Waterfront (1983)
Speed Your Love To Me (1984)
Up On The Catwalk (1984)
Don't You (Forget About Me) (1985)
Alive And Kicking (1985)
Sanctify Yourself (1986)
All The Things She Said (1986)
Ghost Dancing (1986)
Promised You A Miracle Live (1987)
Ballad Of The Streets EP (1989)
This Is Your Land (1989)
Kick It In (1989)
The Amsterdam EP (1989)
Let There Be Love (1991)
See The Lights (1991)
Stand By Love (1991)
Real Life (1991)
Love Song/Alive And Kicking (1992)
She's A River (1995)
Hypnotised (1995)
Glitterball (1998)
War Babies (1998)
Dancing Barefoot EP (2001)
Homosapien (2001)
Cry (2002)
Spaceface (2002)
Home (2005)
Discos
Life In A Day (1979)
Real to Real Cacophony (1979)
Empires and Dance (1980)
Sons and Fascination (1981)
Sister Feelings Call (1981)
Celebration (1982)
New Gold Dream (81-82-83-84) (1982)
Sparkle In The Rain (1984)
Once Upon a Time (1985)
Live In The City of Light (1987)
Street Fighting Years (1989)
Ballad Of The Streets EP Box (1989)
Real Life (1991)
Let There Be Love Box Set (1991)
Glittering Prize: Simple Minds 81/92 (1992)
Good News from the Next World (1995)
Hypnotised Box Set (1995)
Néapolis (1998)
Promised Night (1998)
Original Gold (2000)
Neon Lights (2001)
The Best of Simple Minds (2002)
Cry (2002)
Early Gold (2003)
Our Secrets Are The Same (2003)
Live & Rare (2003)
Silver Box (caixa com cinco cds)
Black & White 050505 (2005)
Simple Minds Live Volume One (2007)
Simple Minds Live Volume Two (2007)
Gift Pack (2007)
|