187 - Simples Minds - New Gold Dream (81-82-83-84)

Está na hora de esvaziar o baú, atualizar algumas bios que timidamente comecei anos atrás. Sendo assim por que não contar um pouco mais a vida do Simple Minds, um dos mais importantes grupos escoceses e até hoje na ativa? Tendo como líder o sempre falante Jim Kerr, o Simple Minds começou a experimentar o sucesso com esse disco de 1982, especialmente com a faixa "Promised You A Miracle".


da esquerda para a direita: Charlie Burchill, Derek Forbes, Jim Kerr, Mike Ogletree e Michael MacNeilO bom momento vivido pelo Simple Minds após os lançamentos de Sons and Fascination e Sister Feelings Call foi quebrado com a saída de Brian McGee. E Brian deixou no exato momento em que o grupo batia à porta do estrelato. Para os shows, a saída foi chamar o velho amigo Kenny Hyslop, ex-Skids. Mas Kenny não durou muito, apesar de ter tocando no compacto Promised You A Miracle.

A gravação da canção surgiu por acaso. O grupo tinha reservado um estúdio por dez dias no mês de janeiro com a única finalidade de ensaiar, sem maiores pretensões. "Tocamos 'Promised You A Miracle' por uma hora e achamos que ela tinha uma boa sonoridade. Continuamos trabalhando até o final da noite, quando ficamos exaustos e chegamos à conclusão de que ela havia ficado boa daquele jeito e resolvemos não mexer mais", conta Jim Kerr.

A canção saiu como compacto em abril de 1982, entrando em 30º lugar nas paradas. Um mês depois, ele chegaria ao 13º posto, a melhor posição do Simple Minds até o momento e o grupo acabou aparecendo no programa Top Of The Pops.

Isso fez com que a banda começasse a pensar de maneira diferente: "nós nunca pensamos em singles, mas sim em disco. Apenas recentemente é que essa idéia começou a ser estudada, porque agora nos achamos capazes de fazer um. Nós não somos estudiosos do pop como o pessoal do Heaven 17 que ficam pesquisando o que as pessoas querem ouvir e dão a eles exatamente aquilo. Não temos essa ambição", comentou o guitarrista Charlie Burchill.

Logo que a música foi lançada, Hyslop desistiu de tocar com o Simple Minds. Novamente sem baterista, o grupo chamou Mike Ogletree, ex-Cafe Jacques, para continuar gravando. Ele participaria de três novas canções - "Somebody Up There Likes You", "New Gold Dream (81-82-83-84)" e "Colours Fly And Catherine Wheel".

Mel GaynorMas Ogletree também durou pouco e foi novamente substituído, por um outro baterista negro, Mel Gaynor. Ex-membro de bandas londrinas que tocavam funk como Linx, Gonzalez e Light Of The World, Mel era visto como um outro baterista qualquer e que não seria fixado ao quarteto restante. Mel conta que ele mesmo não sabia o que esperar daquele quarteto escocês: "eu não sabia como seria, mas desde o momento em que pisei no estúdio, meu som pareceu casar perfeitamente com a proposta dos demais. Eles mudaram completamente minha atitude."

New Gold Dream (81-82-83-84)Jim logo aprovou a entrada do novo membro: "nós temos agora uma seção rítmica melhor do que qualquer banda funk londrina e temos um guitarrista e um tecladista que poderiam perfeitamente tocar no Genesis ou no Roxy Music."

Mel foi então fixado como membro oficial do grupo e em agosto lançam um segundo compacto, Glittering Prize e o novo disco, New Gold Dream (81-82-83-84), no mês seguinte.

Glittering Prize acabou chegando ao 16º posto da parada de compactos e o disco se alojou na 3ª posição na parada de LPs em pouco tempo.

Feliz com o sucesso, a gravadora Virgin tratou logo de procurar a antiga gravadora do Simple Minds, a Arista, e comprar todo seu catálogo.

capa do disco CelebrationUm dos motivos para isso é que em fevereiro de 1982, ela havia lançado uma coletânea oportunista em cima dos três primeiros discos gravados pelo grupo, chamada Celebration. Foi uma jogada inteligente da Virgin, pois a Arista não tinha ainda tirado os discos antigos de catálogo e quando ela os relançou nem precisou gastar dinheiro em promovê-los, pois ainda eram possíveis de serem encontrados.

Livres totalmente e vivendo um ótimo momento, Jim começou a explicar o conceito do disco, iniciando pelo título, uma referência implícita ao livro 1984, de George Orwell, uma obra que virou um clássico mundial e que falava de uma sociedade totalmente reprimida por um regime autoritário e que se iniciaria, segundo o autor, no ano de 1984. Assim, quando começou a década de 1980, a cada ano as pessoas achavam que a obra fictícia de Orwell viraria uma realidade e todos temiam o futuro. Menos o Simple Minds: "não temos medo de olhar para a frente como outras pessoas", disse Jim.

Outra coisa que chamou a atenção foi a arte da capa, com uma cruz, ao lado de traços heráldicos e uma transcrição medieval. "Usamos porque gostei da imagem, ela me agradou. Eu costumava usar o martelo e a foice dos comunistas não porque eu seja um, mas porque eu gosto das formas", disse Kerr.

O grupo ficou até surpreso com o sucesso do disco, pois a escolha de Jim Walsh como produtor não parecia muito promissora, já que ele tinha pouca experiência. Mas, no final, isso acabou trabalhando a favor do grupo, não pressionando o quinteto a seguir um caminho que eles não desejavam.

Outro ponto interessante é que, pela primeira vez, as músicas eram assinadas como "Simple Minds" e não mais "Jim Kerr/Simple Minds". Isso, segundo o vocalista, ajudou a criar uma unidade maior, e foi considerado por Jim uma vitória contra seu complexo de inferioridade por pouco ajudar nas melodias. Jim sempre se sentiu inferiorizado por não tocar nenhum instrumento.

O disco acabou rendendo o primeiro disco de ouro ao Simple Minds, na Inglaterra, e Charlie o descreveu, como "uma grande jam cheia de clássicos", um comentário bem-humorado e, ao mesmo tempo, imodesto, já que sabia que o grupo havia conseguido um grande feito.

Com isso, era mais do que natural que saíssem pelo mundo promovendo o novo trabalho e todos se sentiram muito bem com isso, pois o Simple Minds sempre foi um grupo muito contudente ao vivo. Pela primeira vez o grupo começou a tocar em lugares maiores - ginásios, festivais e estádios. E nesse aspecto sempre se sentiram bem mais confortáveis do que as bandas pops, que tinham dificuldades em lotar seus shows, pela pouca presença de palco e também por serem músicos limitados.

"Nós fomos crescendo aos poucos, lenta, mas progressivamente. Nosso sucesso veio com as apresentações, não com sucessos radiofônicos. Aliás, somos um dos piores grupos que existem em rádio, nossa música soa estranha. Por isso, tivemos que construir uma reputação ao vivo, com a platéia. Esse é um dos motivos pelo qual nossos fãs são tão conectados conosco e pelo qual muitas bandas novas não conseguem prosseguir na carreira. Eles não sabem o que fazer quando encaram um grande número de pessoas."

Jim salientava que apesar disso, ainda não se sentiam uma superbanda. "não acho que fizemos algo tão notável assim. Nascemos como um grupo modesto e ainda acho que podemos tirar mais força de nós mesmos."

E Kerr estava certo. Os dois próximos discos dariam, pela primeira vez, o número 1 não apenas na Inglaterra, mas também na América. Seria o amadurecimento (e para muitos) a morte do Simple Minds. Mas isso é papo para outra coluna. Deixo vocês com a discografia da banda.

Discografia

Singles

como Johnny And The Self Abusers
Saints And Sinners (1977)

Singles

Life In A Day (1979)
Chelsea Girl (1979)
Changeling (1980)
I Travel (1980)
Celebrate (1981)
The American (1981)
Love Song (1981)
Sweat In Bullet (1981)
I Travel (1982)
Promised You A Miracle (1982)
Glittering Prize (1982)
Someone Somewhere (In Summertime) (1983)
I Travel (1983)
Waterfront (1983)
Speed Your Love To Me (1984)
Up On The Catwalk (1984)
Don't You (Forget About Me) (1985)
Alive And Kicking (1985)
Sanctify Yourself (1986)
All The Things She Said (1986)
Ghost Dancing (1986)
Promised You A Miracle Live (1987)
Ballad Of The Streets EP (1989)
This Is Your Land (1989)
Kick It In (1989)
The Amsterdam EP (1989)
Let There Be Love (1991)
See The Lights (1991)
Stand By Love (1991)
Real Life (1991)
Love Song/Alive And Kicking (1992)
She's A River (1995)
Hypnotised (1995)
Glitterball (1998)
War Babies (1998)
Dancing Barefoot EP (2001)
Homosapien (2001)
Cry (2002)
Spaceface (2002)
Home (2005)

Discos

Life In A Day (1979)
Real to Real Cacophony (1979)
Empires and Dance (1980)
Sons and Fascination (1981)
Sister Feelings Call (1981)
Celebration (1982)
New Gold Dream (81-82-83-84) (1982)
Sparkle In The Rain (1984)
Once Upon a Time (1985)
Live In The City of Light (1987)
Street Fighting Years (1989)
Ballad Of The Streets EP Box (1989)
Real Life (1991)
Let There Be Love Box Set (1991)
Glittering Prize: Simple Minds 81/92 (1992)
Good News from the Next World (1995)
Hypnotised Box Set (1995)
Néapolis (1998)
Promised Night (1998)
Original Gold (2000)
Neon Lights (2001)
The Best of Simple Minds (2002)
Cry (2002)
Early Gold (2003)
Our Secrets Are The Same (2003)
Live & Rare (2003)
Silver Box (caixa com cinco cds)
Black & White 050505 (2005)
Simple Minds Live Volume One (2007)
Simple Minds Live Volume Two (2007)
Gift Pack (2007)


 


 

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