parceria com
Beatrix Algrave
Há algum
tempo, Beatrix fez uma bela coluna sobre a banda, mas devido à
importância do grupo, conversamos e resolvemos fazer uma
coluna em capítulos, da mesma maneira que os Smiths, Morrissey,
The Cure (ainda não finalizada) e outros artistas ganharam
neste espaço. Assim sendo, Siouxsie and the Banshees terá
sua vida mais esmiuçada, começando pelo disco de
estréia, um dos mais interessantes e particulares do movimento
punk e pós-punk: The Scream.
A
história do grupo está intimamente ligada ao movimento
punk, ainda em 1976. Não apenas porque o primeiro baterista
foi o, futuramente, baixista dos Sex Pistols, Sid Vicious, mas
simplesmente porque estiveram presente no primeiro festival que
marcou o começo de tudo.
O mundo começou
a ser chacoalhado por uma música alta, gritada e por jovens
vestindo roupas rasgadas, pretas, maquiagens pesdas e os mais
diversos tipos de cabelos e cuspindo palavras de ordem e ódio
e contra o governo britânico nos meses de setembro.
Nos dias 20 e 21, oito
bandas subiram ao palco do 100 Club, um reduto habituado a shows
de jazz, na Oxford Street. O evento ficou conhecido por 100 Club
Punk Festival e o os dois dias foram divididos pelos seguintes
grupos:
Segunda-feira,
20 de setembro
Subway Sect
Siouxsie & the Banshees
The Clash
Sex Pistols
Terça-feira, 21 de setembro
Stinky Toys
Chris Spedding & The Vibrators
The Damned
Buzzcocks
O evento nasceu quando
Ron Watt se reuniu com o empresário dos Sex Pistols, Malcolm
McLaren e convidou a banda para ser o principal nome do festival.
Logo, o Clash e o Damned, foram convidados, e também os
Buzzcoks, os principais nomes do novo estilo.
E os Banshees? Bem, eles
não tinham um grupo e Siouxsie era apenas uma integrante
do chamado Bromley Contingent, nome inventado pela jornalista
Caroline Coon, designando a região de Londres de onde havia
nascido as novas bandas. Ela se aproximou de Watt e implorou por
uma chance.
O
grupo Entre eles estavam Susan Dallion (voz) e o próprio
John Beverley (Sid Vicious que então tocava bateria), além
de Marco Pirroni (guitarra) e Steven Severin (baixo).
A banda foi apresentada
como Suzie and the Banshees e fizeram uma apresentação
sofrível, já que mal sabiam tocar e nem repertório
tinham.
Sobem ao palco e "tocam"
um tema do programa Captain Scarlet, uma cover de "She Loves
You", dos Beatles, e uma longa canção desconexa
- a primeira versão de "Lord's Prayer", inserindo
'Deutschland, Deutschland Uber Alles' e 'Twist and Shout'.
Um começo não
muito animador, mas um ponto de partida importante para Susan,
uma jovem garota de 19 anos e que sonhava em ser cantora, até
porque a vida não havia sido muita feliz até aquele
momento.
Filha de uma secretária
bilíngüe e um técnico de laboratório,
que morreu de alcoolismo quando ela tinha apenas 14 anos, era
uma apaixonada pelos ícones do glam rock, como Bowie, Marc
Bolan e o Roxy Music.
E foi em um show do ex-grupo
de Bryan Ferry, que conheceu um rapaz de nome Steven John Bailey,
que se apresentava como Steven Spunker ou Steven Havoc, até
adotar o sobrenome Severin, tirado da canção "Venus
in Furs", do primeiro LP do Velvet Underground.
Os dois seriam a espinha
dorsal do grupo e os grandes mentores da banda e após a
apresentação no festival, o grupo - já batizado
de Siouxsie and the Banshees - começa a ensaiar com Pete
Fenton (guitarra) e Kenny Morris (bateria).
Em
dezembro, participam do famoso e controvertido programa de televisão
de Bill Grundy, junto com os Sex Pistols, no dia 1º de dezembro
de 1976.
O acontecimento causaria
uma tremenda confusão em Londres. A banda escalada para
aquele dia era o Queen, de Freddie Mercury, mas na impossibilidade
de se estarem presente no programa Today, acabaram sendo
chamado os Sex Pistols.
Grundy não gostou
da mudança e ficou surpreso e irritado. Ao começar
o programa, Grundy estava alcoolizado e iniciou algumas ofensas
ao grupo, tentando ver até onde iriam. O grupo aceitou
as brincadeiras e Glen Matlock (baixista original dos Pistols)
respondia educadamente.
A confusão começou
quando Steve Jones deu uma resposta atravessada ao ser perguntado
o que tinham feito com as 40 mil libras esterlinas que haviam
recebido da gravadora. "Fuckin' spent it". Era a primeira
vez que a palavra "fuck" era dita na televisão
inglesa, ainda mais em um programa ao vivo.
Grundy
não se apercebeu do fato e continuou a provocar. Jones
disse outras vezes e Johnny Rotten completou, em voz baixa, com
a palavra "shit" (merda). Grundy o provocou dizendo
que ele não teria coragem de repeti-la, o que Rotten fez,
dessa vez aumentando o tom de sua voz.
O apresentador não
se fez de rogado e partiu para cima de Siouxsie Sioux, convidando
para um programa após o final do programa.
Steve Jones tomou à
frente e disse que ele um idiota e um velho imbecil. Grundy o
incitou a provocá-lo mais e Jones começou a xingá-lo
de "dirty fucker", para a alegria do apresentador.
A entrevista rendeu uma
confusão dos infernos, e a Thames Television recebeu diversos
telefonemas de espectadores furiosos com o apresentador e o programa.
No dia seguinte, o sensacionalista
jornal Daily Mirror aproveitou-se do ocorrido, dando
ampla cobertura com a manchete 'THE FILTH AND THE FURY!', dando
imensa publicidade gratuita para os Pistols, para a alegria de
McLaren. Grundy acabou suspenso por duas semanas da emissora e
o programa saiu do ar por dois meses.
Siouxsie
acompanharia os Sex Pistols também em um show na França,
onde foi agredida por usar uma faixa no braço com uma suástica
desenhada. O incidente a marcaria para sempre e como protesto
escreveria duas canções: "Metal Postcard (Mittageisen)"
e "Israel".
O incidente acabou dando
reputação para Siouxsie igualmente e o grupo acabou
abrindo os shows do Johnny Thunders & The Heartbreakers, em
Londres, no dia 24 de fevereiro de 1977.
No já famoso incidente
do Jubileu da Rainha, em 1977, Fenton daria lugar ao guitarrista
John McKay.
Mas Fenton participaria
da primeira demo do grupo, gravada no estúdio Riverside
vonde gravaram "Make Up to Break Up", uma crítica
aos cosméticos, invertendo o titulo de um antigo sucesso
do grupo Stylistics, "Break Up to Make Up", lançada
em 1973.
O grupo adorava estórias
de terror e macabras, tanto que o o nome banshees fazia referência
a um conto de Edgar Allan Poe (Cry of The Banshees).
Os banshees, na mitologia céltica, são entidades
femininas cuja voz bela e tenebrosa anuncia a proximidade da morte).
Segundo Siouxsie, McKay
conseguia traduzir esses climas na guitarra, fazendo que a banda
deixasse se distinguisse dos grupos punks, dando um ar mais teatral
e artístico nas composições.
Os
Banshees começam a formar um repertório próprio
e são convidados pelo produtor da BBC, John Walters para
uma apresentação ao lado do Slits, no Greyhound,
em Croydon. Walters viu potencial no grupo e que eles estavam
trabalhando com afinco.
Na primeira semana de dezembro,
aparecem no programa do legendário DJ, John Peel, ao mesmo
tempo em que Siouxsie é capa da revista Sounds,
onde aparece vestindo uma camiseta com um par de seios desenhados.
Quase que imediatamente se torna o ícone do movimento punk.
Na primeira sessão
com John Peel tocam quatro músicas: "Love in a Void",
"Mirage", "Metal Postcard" e "Suburban
Relapse".
Um segundo programa traria
"Hong Kong Garden", "Overground", "Carcass"
e uma cover dos Beatles, "Helter Skelter".
A essa ponto, o potencial
da cantora era inegável, ainda que as gravadoras não
o enxergassem para assinarem um contrato.
A primeira a se interessar
foi a EMI desde que "pudesse controlar as letras", algo
completamente fora de questão. Depois de algum tempo apareceu
a Polydor - futuramente gravadora do The Cure - no exato momento
em que a banda estava para assinar com a BBC Records para lançar
um single de Hong Kong Garden.
O
selo acaba assinando com eles no dia 9 de junho de 1978 e no dia
18 de agosto é lançado o single, pela nova casa.
A canção
foi inspirada em um encontro que ela e um colega tiveram com uma
gangue de skinheads em um restaurante chinês de mesmo nome
da canção em Chislehurst. "Eles iam lá
para aterrorizarem os chineses e eu tentei defendê-los.
Não gosto deles, desses fascistas de direita ofendendo
os imigrantes, só porque não são ingleses.
Eles são extremamente desagradáveis, me senti indefesa."
Mas, segundo Siouxsie,
a canção também fala do encontro de duas
culturas, a oriental e a ocidental. "Na verdade, fala da
cultura oriental sendo atacada e poluída pelos modos consumistas
e doentes do ocidente. É sempre triste vê-los sendo
dragados por toda essa cultura Disney."
A canção,
com um belo arranjo e ótima produção de Steve
Lillywhite chegou ao top 10 inglês entre os compactos, ficando
na sétima posição. O lado B trazia "Voices
(On The Air)".
Com um compacto nas paradas,
o grupo prepara o primeiro LP, The Scream, editado
em novembro do mesmo ano.
O
título foi inspirado em um filme de 1968, chamado The
Swimmer, estrelado por Burt Lancaster, que vive Neddy
Merrill, filme co-dirigido por Frank Perry e Sydney Pollack.
Na história, Neddy
é um homem de meia-idade em crise, que se afasta de todos
e reaparece quando um grupo de amigos está reunido na piscina
da casa de campo um deles.
Ele decide visitar todas
as casas da região, pulando de piscina em piscina, enquanto
vai interagindo com as pessoas e contando sua história.
Aos poucos, vai descobrindo mais sobre as pessoas e si mesmo,
numa busca solitária e desesperada.
The Scream teve uma boa
repercussão e críticas entusiasmadas. O crítico
Nick Kent, do New Musical Express, descreveu como um
cruzamento entre Velvet Underground e muito da ingenuidade de
Tago Mago do Can, que trazia um resultado surpreendente.
Para a Melody Maker, o som era abrasivo, forte, visceral
e constantemente inventivo, com forte ligações com
Velvet Underground, Pere Ubu, Wire e Can.
O disco chegou ao 12º
lugar na parada e trazia as seguintes canções:
Lado A
1. "Pure" (McKay,
Severin, Morris, Sioux)
2. "Jigsaw Feeling" (Severin, McKay)
3. "Overground" (Severin, McKay)
4. "Carcass" (Severin, Sioux, Fenton)
5. "Helter Skelter" (Lennon, McCartney)
Lado B
1. "Mirage"
(Severin, McKay)
2 . "Metal Postcard (Mittageisen)" (McKay, Sioux)
3 . "Nicotine Stain" (Severin, Sioux)
4 . "Suburban Relapse" (McKay, Sioux)
5 . "Switch" (McKay, Sioux)
Em 2005, o disco foi reeditado
em CD trazendo vários bônus:
Disco 1 - LP Original:
1. "Pure" (McKay, Severin, Morris,
Sioux)
2. "Jigsaw Feeling" (Severin, McKay)
3. "Overground" (Severin, McKay)
4. "Carcass" (Severin, Sioux, Fenton)
5. "Helter Skelter" (Lennon, McCartney)
6. "Mirage" (Severin, McKay)
7. "Metal Postcard (Mittageisen)" (McKay, Sioux)
8. "Nicotine Stain" (Severin, Sioux)
9. "Suburban Relapse" (McKay, Sioux)
10. "Switch" (McKay, Sioux)
Disco 2:
1. "Make Up to Break Up" (Riverside
Session)
2. "Love in a Void" (Peel Session 1)
3. "Mirage" (Peel Session 1)
4. "Metal Postcard (Mittageisen)(Peel Session 1)
5. "Suburban Relapse" (Peel Session 1)
6. "Hong Kong Garden" (Peel Session 2)
7. "Overground" (Peel Session 2)
8. "Carcass" (Peel Session 2)
9. "Helter Skelter (Peel Session 2)
10. "Metal Postcard" (Pathway Session)
11. "Suburban Relapse" (Pathway Session)
12. "The Staircase (Mystery)" (Pathway Session)
13. "Mirage" (Pathway Session)
14. "Nicotine Stain" (Pathway Session)
15. "Hong Kong Garden" (7" Single Version)
16. "The Staircase (Mystery)" (7" Single Version)
O disco trouxe grandes
clássicos e mostrou que a banda era fã dos Beatles,
já que regravou a polêmica "Helter Skelter"
para o disco, fazendo o mesmo com "Dear Prudence", em
1983, para o álbum Hyaena.
Após o lançamento,
mais dois singles foram editados: The
Staircase (Mystery) e Metal Postcard (Mittageisen).
A segunda canção foi inspirada no incidente com
a suástica em Paris e que quase resultou em seu estupro
por alguns jornalistas. A inspiração para a canção
foi a colagem feita pelo alemão Helmut Helmut Herzfeld,
que viria anglicizar seu nome para John Hearfield (1891-1968)
chamada Hurrah, die Butter
ist Alle! ("Hurray, The Butter is Finished!").
Sua luta contra o nazismo e os sentimentos anti-britânicos
foram uma das marcas de sua obra.
Os dois compactos tiveram
entradas modestas nas patadas, ficando em 24º e 28º
lugar, respectivamente.
Mas, o caminho para o Siouxsie
and the Banshees já estava pavimentado e o sucesso seria
apenas uma mera conseqüência. Mas a história
continua outro dia. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Singles
"Hong Kong Garden" (1978)
"The Staircase (Mystery)" (1978)
"Playground Twist" (1979)
"Mittageisen (Metal Postcard)" (1979)
'Happy House" (1980)
"Christine" (1980)
"Israel" (1980)
"Spellbound" (1981)
"Arabian Knights" (1981)
"Fireworks" (1982)
"Slowdive" (1982)
"Melt!" (1982)
"Dear Prudence" (1983)
"Swimming Horses" (1983)
"Dazzle" (1984)
"Overground" (1984)
"Cities in Dust" (1985)
"Candyman" (1986)
"This Wheel's on Fire" (1986)
"The Passenger" (1987)
"Song from the Edge of the World" (1987)
"Peek-a-Boo" (1988)
"The Killing Jar" (1988)
"The Last Beat of My Heart" (1988)
"Kiss Them for Me" (1991)
"Shadowtime" (1991)
"Fear (of the Unknown)" (1991)
"Face to Face" (1992)
"O Baby" (1995)
"Stargazer" (1995)
Discos e CDs
The Scream (1978)
Join Hands (1979)
Kaleidoscope (1980)
Juju (1981)
Once Upon a Time (1981)
A Kiss In The Dreamhouse (1982)
Nocturne (1983)
Hyaena (1984)
Tinderbox (1986)
Through The Looking Glass (1987)
Peepshow (1988)
Superstition (1991)
Peel Sessions (1991)
Twice Upon a Time (1992)
Rapture (1995)
The Best of Siouxsie and the Banshees (2002)
Seven Year Itch (2003)
Downside Up (Box, 2004)
At the BBC (2009) |