Eles
foram um dos maiores fenômenos da música pop. A dupla
Morrissey/Marr foi uma das mais perfeitas e produziram grandes
momentos. Apesar da curta existência, os Smiths podem ser
considerados como um dos grupo mais importantes da história.
David Bowie considera Morrissey um mestre em pegar pequenas causas
e tratá-las com pompa. Mick Jones, ex-Clash, considera
o vocalista e letrista dos Smiths um dos poucos nomes respeitáveis
da década. Além disso, foram a banda mais cultuada
dos anos 80. Levaram seus fãs à histeria e a um
comprometimento com o grupo que beiravam a loucura. O mais incrível
é que sempre odiaram todos os meios possíveis de
promoção (vídeos, entrevistas...).
Seu líder, Morrissey,
descia a lenha na monarquia, nos djs ingleses, na mediocridade
reinante. Gravavam por uma independente e venderam milhões.
Quando o guitarrista Johnny Marr anunciou o final do grupo, muitos
seguidores, desesperados, se suicidaram. Nada mal para um grupo
que durou apenas cinco anos.
Esse
é um breve resumo dos Smiths. Liderados pelo vocalista
Stephen Morrissey e pelo talentoso guitarrista Johnny Marr, foram
a banda mais importante de Manchester, cidade que já havia
dado grupos como Joy Division/New Order, Buzzcocks, Magazine,
The Fall, Durutti Column, entre outros.
Mas o que fez desta banda
tão especial? Talvez a maior
razão seja o envolvimento de Morrissey com o grupo. Adolescente
tímido e desajeitado, voraz leitor de revistas de música
e obcecado por Oscar Wilde, Morrissey falava aos fãs tudo
aquilo que outros não conseguiam resumir. Apaixonado pelas
cantoras pop dos anos, como Cilla Black e pelo rock inglês
dos anos 70, de David Bowie, Roxy Music, T. Rex e outros, resolveu
montar um grupo em que pudesse extravasar sua timidez e raiva.
Aliado ao guitarrista Johnny Marr, dono de um timbre ímpar,
formaram a melhor dupla de compositores dos anos 80. Produzindo
um clássico em cima do outro e com uma velocidade estonteante,
não demoraram para conseguir um fiel público, em
82.
Disputados por várias
gravadoras, optaram pela pequena Rough Trade. Lançaram
o primeiro compacto ("Hand in Glove"), em maio de 83.
Em 84, sai o álbum
intitulado apenas The Smiths. O disco foi aclamado por
crítica e público. Ainda em 84, vem o segundo,
Hatful of Hollow, feito ao vivo em programas de rádio.
Em 85, lançaram Meat Is Murder. Ao mesmo tempo,
Morrissey era eleito pelos fãs como o melhor ser humano
do planeta, nas votações das revistas inglesas.
Sem contar o prêmio de melhor grupo, vocalista, guitarrista,
disco, etc...
Foi
neste contexto que surgiu The Queen is Dead. A banda atravessava
um momento delicado.
O baixista Andy Rourke havia
sido preso com heroína. Logo depois, deixou a banda e foi
substituído por Craig Gannon. Voltaria em seguida e ficaram
um tempo como quinteto. Haviam feito shows para o Partido Trabalhista,
ao lado de Billy Bragg, apesar de serem contra política.
O grupo estava também discutindo a renovação
de contrato com a Rough Trade, com quem ficaram oito meses brigando
na justiça. Morrissey e Marr tinham propostas das majors,
em especial a EMI. A banda esperava finalmente conseguir conquistar
o público norte-americano, pouco receptivo ao som do grupo
e ao perfil "gay'' da banda.
Para
fazer o quarto disco, terceiro de material inédito, os
Smiths resolveram atacar a monarquia de maneira mais direta. O
disco abre com "Take Me Back To Dear Old Blightly",
extraída do filme The L Shaped Room. Logo em seguida,
uma guitarra distorcida entra. "The Queen is Dead" começa.
Morrissey inicia um ataque contra a monarquia, avisando que a
rainha está morta.
Depois disso, o disco segue
com "Franky, Mr. Shankly". "I Know It's Over"
é uma das baladas mais amargas já escritas. A letra
já diz tudo: "Se você se considera tão
inteligente, porque está sozinho esta noite?"
"The Boy With The Thorn
in His Side" é o hit instantâneo, mas "Bigmouth
Strikes Again" pode ser considerada a canção
do disco. A letra tem várias lendas: uma delas é
que foi feita como um pedido de desculpas após atacarem
Margareth Tatcher, a então Dama de Ferro do Governo Inglês.
Versos como, "Querida, eu estava bricando quando disse que
queria esmagar sua cabeça", era uma forte ironia do
grupo.
"Eu me senti como Joana
D'Arc após toda polêmica e por isso coloquei essa
metáfora na canção. As críticas vinham
de todos os lados", lembra Morrissey.
O vídeo, mostrando
a banda tocando em um palco, vale ser visto por uma curiosidade:
é um dos poucos registros como quinteto, afinal Gannon
entrou somente após a gravação do LP. Nos
créditos, permanece a formação original.
O disco tem ainda uma grande
canção, intitulada "There Is A Light That Never
Goes Out". Uma delicada canção de amor e desespero,
que traduzia o espírito de Morrissey. Eis a letra:
Me leve para fora onde
há musica e
onde há pessoas jovens e vivas
Dentro do seu carro eu não quero voltar para casa
pois não tenho casa
Me leve para passear porque quero ver luzes e ver pessoas
Dentro do seu carro,
oh, por favor, não me jogue para fora
Por que aquela não é minha casa, é a casa
deles,
e não sou mais bem vindo
E se um ônibus de dois andares nos esmagar
Morrer ao seu lado será uma linda maneira de morrer
E se um caminhão de dez toneladas nos matar
Morrer ao seu lado será um prazer e um privilégio
meu
Leve-me para passear onde quiser, eu não me importo
Eu pensei, Ó Deus, minha chance finalmente apareceu
(mas um estranho medo me atacou e não pude perguntar)
Leve me pare fora, vamos para qualquer parte, eu não me
importo
Apenas estando no seu carro, eu não quero voltar para casa
Eu não quero voltar para casa, porque não tenho
uma
Morrissey sempre prestou
homenagem a escritora Shelagh Delaney, que aos 19 anos, escreveu
uma peça de teatro chamada A Taste of Honey, que
influenciou muito a juventude inglesa no final dos anos 50 e confessa
que mais da metade do que escreveu se deve a ela. A estória
de uma jovem inglesa que fica grávida de um marinheiro
negro e vai morar com um homossexual até a criança
ser nascida fez a cabeça de vários jovens ingleses
e ganhou muitos prêmios. Em 1960, foi feito um filme homônimo,
dirigido por Tony Richardson. O livro pode ser encontrado em alguns
sites da internet. Já o filme está fora de catálogo
e em apenas alguns sites que vendem filmes raros pode ser adquirido.
Com o fim da banda, em 87,
após o disco Strangeways, Here We Come, os integrantes
nunca mais conseguiram ser os mesmos. Morrissey fez uma boa carreira
solo, em especial no primeiro álbum, Viva Hate,
em que Vini Reilly do Durutti substituía Marr. O cantor
continuou produzindo muito, lançando vários compactos
e discos, mas sem a mesma classe de antes. Johnny Marr tocou com
Keith Richards, Bryan Ferry, Pretenders, Talking Heads, formou
o Electronic com Bernard Sumner, do New Order, foi para o The
The e nunca mais se achou. Andy Rourke e Mike Joyce tocaram com
Sinéad O´ Connor, Adult Net (banda de Brix E. Smith,
esposa, de Mark E. Smith, do Fall). Em 98, Rourke e Joyce ganharam
um processo contra Morrissey e Marr, para receberem mais direitos
autorais sobre vendas e toda obra da banda. Cada um só
tinha direito a 10%, ficando 80% para a dupla de compositores.
Apesar de durarem apenas
cinco anos, os Smiths marcaram profundamente a música da
década. E espero que NÃO VOLTEM. Afinal, dificilmente
conseguiriam manter a qualidade de antes. Uma grande banda que
jamais teve um período de baixa.
Discografia
The Smiths (1984)
Hatful of Hollow (1984)
Meat is Murder (1985)
The Queen is Dead (1986)
The World Won't Listen (1987)
Louder Than Bombs (1987)
"Strangeways, Here We Come" (1987)
"Rank" (1988)
The Best of The Smiths, Vol.1 (1992)
The Best of The Smiths, Vol.2 (1992)
Singles (1995)
The Very Best of The Smiths (2001)
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