96 - The Smiths - The Queen is Dead


A banda mais amada e odiada do planeta na década de 80 atravessou um período de extrema turbulência interna, em parte devido aos jogos que Morrissey e Marr arquitetavam com seus empresários e com a Rough Trade, que irritada, processou o grupo. A crise tomou conta quando os dois resolveram expulsar Andy Rourke por problemas com a heroína e convidaram Craig Gannon para seu lugar. O grupo partiu para a gravação do belo e maduro The Queen is Dead, e para as tumultuadas excursões pela América, especialmente à segunda, quando Johnny Marr começou a beber compulsivamente e escapou da morte, em um acidente de carro, por milagre. Veja como tudo isso aconteceu...


Eu sei que já falei desse disco anos atrás, mas como resolvi fazer uma biografia completa sobre os Smiths e aquele texto sempre me desagradou por ser muito tosco, faço, pela primeira vez, duas colunas sobre um mesmo disco, e desta vez, bem mais completo.

Após encerrada as sessões de Meat is Murder, os integrantes resolveram cuidar de seus afazeres pessoais. Enquanto Morrissey pouco saía, a não ser com Lloyd Cole, Howard Devoto ou visitava Sandie Shaw, Johnny levava uma vida totalmente diferente.

Amante de festas noturnas e de reuniões em sua casa, o guitarrista simplesmente adorava receber pessoas em sua casa e ser tratado como um herói por seus amigos ou pelos admiradores.

Mas Marr também resolveu cuidar de sua mãe, seguindo o exemplo do vocalista, e incentivou-a a abrir uma auto-escola, que foi batizada de FM (Frances Maher), na qual ele bancaria todos os custos iniciais para ela. Porém, os momentos de calmaria eram poucos e os problemas para os Smiths estavam longe de terminar, pelo contrário, só faziam aumentar. Primeiro foi Phil Cowie, ex-empresário da banda, e que organizou a primeira excursão do grupo européia, em 1984, a reclamar que os Smiths lhe deviam dinheiro.

Ironicamente, Marr disse que Phil é que deveria indenizá-los pela catástrofe que a mesma havia sido. Como Morrissey e Marr constantemente mudavam os números de telefones para escapar ao assédio dos fãs e dos jornalistas, Cowie acabou acionando o grupo judicialmente para receber sua grana, o que de fato, ocorreu.

Scott Piering, o atual empresário da banda, lamentou pelo ocorrido e comentou, irritado, que tudo poderia ter sido evitado se a dupla de compositores fosse mais flexível e descentralizasse mais as decisões. "O problema é que tanto Johnny como Morrissey simplesmente não quiseram fazer um acordo com Phil, e a coisa toda ficou fora de controle. Não havia um controle do dinheiro", desabafou Scott.

Mas essa era apenas a primeira pedra no caminho do grupo: um velho companheiro do grupo e grande incentivador da banda, Joe Moss, foi conversar com Johnny, com quem sempre mantivera uma relação quase paternal, sobre um débito. Joe alegava que havia gasto mais de 6 mil libras em amplificadores e equipamentos quando o grupo ainda engatinhava e que, passado três anos, tivera muito trabalho para saldar tais dívidas e gostaria de ser ressarcido.

Primeiro, Joe tentou falar com Marr, mas como não o achava, apelou para os diretores da Rough Trade, que simplesmente o ignoraram. Moss alegava que não queria nada a mais do ele que havia gasto. A pendenga acabou se arrastando e quando algumas pessoas viram que um novo processo poderia acontecer, Joe Moss simplesmente negou o fato, com uma explicação: "eu sempre tive muito carinho por Johnny que vivia me chamando de 'pai' e esperava que agora ele se dignasse a me atender e resolver algo tão simples. Tudo que ele precisava fazer era assinar um cheque com a quantia e tudo estaria resolvido. Quando alguns me diziam para procurar Morrissey, disse que não faria isso porque eu não tinha nenhuma ligação com ele. Fiquei muito chateado quando Johnny simplesmente começou a me evitar. Ele foi o vilão de tudo, e não Morrissey."

O que Moss estava tentando dizer e que já era mais ou menos explícito é que os problemas financeiros começavam a perturbar o grupo. Os dois até tentaram recrutar Moss novamente para trabalhar com os Smiths, mas ele recusou. Marr admite que o episódio manchou a amizade entre os dois, mas confessa que quando o grupo se separou, em 1987, ele pessoalmente procurou Joe para reparar o erro e pagou não apenas as 6 mil libras devidas, como também o custo de despesas no começo da carreira. "Era o mínimo que eu poderia fazer com quem nos ajudou tanto", confessa o guitarrista.

A dupla de compositores sempre foi extremamente fria e evasiva sobre questões financeiras, mesmo com os demais membros da banda, o baixista Andy Rourke e o baterista Mike Joyce. Marr havia combinado com os dois que eles receberiam um dinheiro extra sobre as canções, mesmo não assinando as composições, o que na verdade, não ocorria.

Marr alegava que eles não tinham feito todo o trabalho estressante de negociar com a gravadora e com os empresários e que quando encerravam suas partes nas gravações das canções iam embora tranqüilamente para casa, enquanto ele e Morrissey ainda ficavam horas e horas trabalhando sem parar. "Desde o início Mike e Andy sabiam que jamais receberiam 25%, cada um, dentro do grupo", argumentava, furioso.


Joyce alegou que era realmente ingênuo à época, a ponto de nunca sonhar em procurar um contador para saber como estavam as contas da banda e o que lhe era devido. "Na única vez em que fiz isso foi quando fui olhar meu saldo e vi que não havia quase dinheiro. Tentei me acalmar e pedi para uma pessoa contatar o departamento financeiro da gravadora e os contadores do grupo para saber o que estava se passando. Dois dias depois, Morrissey me ligou furioso perguntando o motivo de eu ter feito isso, me chamando de traidor, pois parecia que eu estava desconfiando dele e de Johnny. Tudo que queria era algum dinheiro, porque, eu trabalhava nas músicas tanto quanto eles, embora não assinasse como compositor."

Um exemplo disso foi a assinatura de Morrissey e Marr com a Sire Records, um selo do grupo Warner, sem avisar os demais integrantes ou mesmo a Rough Trade. "Eu fiquei furioso com aquilo porque nós quatro éramos os Smiths. Eu tocava na banda, ia às festas para receber os discos de ouro, mas na hora de assinar um contrato, legalmente eu e Andy não existíamos. Tudo girava em cima dos dois", explicou.

A relação com a gravadora já era tensa e piorou consideravelmente na mini-excursão européia que havia sido agendada para os Smiths. Ainda no aeroporto de Heathrow, em Londres, Morrissey discutiu com os diretores da Rough Trade avisando que não participaria de um programa televisivo na Itália, que, a muito custo, os diretores haviam conseguido. Mesmo assim, o grupo partiu para sua excursão e foram para a Itália, como havia sido planejado.

Participaram dos ensaios do programa sem nenhum incidente, mas minutos antes do programa começar anunciaram que não iriam ao ar, alegando que o mesmo era um show apelativo, de baixa qualidade e que se recusavam a fazer parte disso. O incidente caiu como uma bomba e os italianos prometeram que nunca mais um artista inglês seria chamado para o evento, causando um terrível problema para a Rough Trade.

Outro problema aconteceu em um show em San Sebastian, na Espanha. Quando a equipe chegou para verificar as condições técnicas para o show, descobriu que nada daquilo que havia sido pedido fora cumprido.

Para piorar, o empresário que havia fechado o contrato, estava bancando a babá para o New Order, ao invés de cuidar dos Smiths. O caos aumentou quando os fãs, que chegavam de várias partes da Europa, berravam e exigiam entrar no local do show. Alheios à tudo isso, o grupo permaneceu impassível no hotel, enquanto a confusão tomava conta do local.

Irritados com tanta displicência, a Rough Trade chamou Scott Piering e exigiu que o empresário tomasse alguma providência. Piering sabia que a tarefa seria quase impossível de ser contornada, pois Morrissey e Marr simplesmente não davam brechas.

A Warner, que havia feito um acordo com a Rough, exigia uma excursão pela América e um posicionamento sobre quais singles seriam lançados, mas eles mesmos não conseguiam uma resposta. "Tudo que Morrissey e Marr queriam era receber seu dinheiro e deixar a parte pesada comigo e com a gravadora. Quando falei da pressão da Warner, tudo que ouvi foi que a mantivesse longe deles."

Piering reclamava que era um empresário apenas no papel, já que não tinha liberdade de tomar decisões sobre nada: "eu não conseguia impor minhas vontades, marcar shows, não tinha nenhum poder de decisão comercial, não cuidava do dinheiro e nem era consultado sobre a parte de criação. Na verdade, eu era apenas um mero funcionário." Piering acabou largando tudo e Matthew Sztumpf, que cuidava de outra grade banda inglesa, Madness, foi contratado para seu lugar.


A primeira missão de Matthew, e que ele aceitou, foi agendar os shows da turnê pela América, mesmo sem assinar um contrato. "Minha política é primeiro ver o que pode ser feito, e se é viável. Acontecendo isso, coloco tudo no papel e assinamos um acordo", explicou quando foi anunciado como o novo encarregado de cuidar dos negócios da banda.

O primeiro show da banda aconteceu em Chicago, e nele Morrissey fez um pedido um tanto quanto estranho: exigia que o show de abertura fosse feito por um grupo de drag queens. O público se sentiu insultado com a idéia e começou a atirar latas em cima do palco e a idéia foi logo abortada, embora o cantor tenha se deliciado com a idéia em chocar a audiência. Os shows da Costa-Oeste foram abertos pelo conterrâneo Billy Bragg. Mas a banda ainda voltaria a aprontar...

Ao se apresentarem no Beacon Theater, em Nova York, Seymour Stein, presidente da Sire, foi avisado que o cantor havia retirado seu nome da lista de convidados e que ele não era benvindo ao show.

A turnê continou com excelente acolhida do público, e, em Los Angeles, Morrissey foi convidado pelo mesmo Stein para almoçar no luxuoso restaurante Ivy. O cantor aceitou o convite. No meio do almoço, Stein agarrou o cantor Paul Simon e o arrastou a mesa, para mostrá-lo ao "grande compositor inglês do momento". Morrissey gelou, pois odiava Simon e temeu ter que fazer um dueto ali mesmo. Stein, que sabia disso, se divertiu com a cena e sentiu-se vingado.


Angie Brown fuma um cigarro, ao lado de Johnny, dentro do ônibus da banda No mês de junho, Johnny acabou oficializando seu relacionamento com Angie Brown e os dois se casaram em São Francisco. No dia seguinte já estavam tocando em Oakland, continuando a série de apresentações pelos Estados Unidos.

A excursão terminou de maneira mais do que satisfatória e o grupo começou a preparar novas composições. Joyce, no entanto, ainda estava infeliz com a sua situação dentro da banda e conversou com Andy sobre tentarem um novo acordo, dentro da própria banda, sem envolver a gravadora. Mas tudo que ouviu novamente foi um "vocês não confiam em nós, acha que seríamos capazes de uma traição?", por parte de Morrissey, e recuou.

Na verdade, tanto ele como Andy temiam a posição claramente desfavorável que tinham dentro dos Smiths. Nessa parte já corriam rumores de que os Smiths deixariam a Rough Trade e assinariam com outro selo, o que era negado pelos dois lados. Mas a relação acabaria se complicando quando, mais uma vez, Morrissey negou-se a participar de outro programa de televisão, desta vez o Wagon, da BBC, mesmo o grupo tendo viajado para Londres apenas para o evento.

Para piorar, o cantor deu uma entrevista para o semanário Record Mirror dizendo que estava cansado de trabalhar 24 horas por dias, sete dias por semana e continuar pobre.

A Rough Trade acabou se revoltando porque o cantor obviamente estava distorcendo os fatos. Primeiro, eles recebiam 23% de royalties, enquanto que, se assinassem com um grande selo, o valor cairia para apenas 11%.

Além disso, o grupo e o selo haviam feito um acordo de dividirem ao meio os dividendos e tanto Morrissey, como Marr, possuíam vários imóveis e a situação financeira dos dois estava muito longe de ser ruim.

capa do compacto The Boy With The Thorn in His SidePara acalmar, o grupo lançou em agosto, um novo single com a canção "The Boy With The Thorn in His Side", que trazia uma foto do escritor Truman Capote na capa.

Apesar de ser uma canção extremamente pop e acessível, alcançou apenas a 23ª posição nas paradas. (vale ressaltar que a versão em 12 polegadas do mesmo foi o primeiro lançamento da banda no Brasil).


Logo depois, a banda partiu para alguns shows agendados na Escócia. A insatisfação dos Smiths com a Trade era evidente e após um show com os Easterhouse, em Glasgow, Marr conversou com o empresário dos Easterhouse, John Barratt, aconselhando-o a tomar muito cuidado com Geoff Travis e não assinar um contrato com a Rough Trade.

Quando Geoff soube do ocorrido, ficou furioso, mas esperou o momento certo. Após a banda terminar as gravações de um novo disco, Geoff avisou que o mesmo teria seu lançamento retardado e que estava entrando na justiça para impedir que o grupo rompesse o contrato e assinasse com qualquer outro selo. E a banda já havia se comprometido com outra gravadora, que depois revelariam ser a EMI...

Quando a Rough Trade anunciou o esfriamento das relações com a banda, Marr foi o que mais sentiu. O guitarrista mais uma vez tinha assumido o papel de produtor do disco The Queen Is Dead e a notícia o devastou: "fiquei dias em casa trancado, sentado, totalmente deprimido, sem ação. Emagreci, ficando muito magro e com uma aparência asquerosa. Por causa dos Smiths eu tinha me tornado uma pessoa hiperativa, e sempre fui o oposto disso."

Já que não podiam gravar nada e estavam parados, foram convidados por Billy Bragg a participarem da Red Wedge Tour. Os Smiths tocaram, mas sem nenhum entusiasmo. Na semana seguinte, a banda participaria de um evento em Manchester, ao lado do New Order e do The Fall em um festival chamado From Manchester With Love. Mas o desprezo deles era tão grande que nenhum membro dos Smiths sequer compareceu à entrevista coletiva.

A banda seguiu então para uma tour pela Irlanda, país que sempre teve grande adoração pelos Smiths.

As coisas começaram a pesar quando no show marcado para o National Stadium, em Dublin, perceberam que o baixista Andy Rourke estava muito mal. Apesar do grupo já tê-lo prevenido sobre uma possível demissão se insistisse com as drogas, Andy continuava a usá-las.

Mike Joyce lembra que o amigo estava completamente distraído durante as apresentações, além de comportar-se de uma forma um tanto rabugenta quando estavam juntos. "De repente ele ficava fora do tempo, esquecia as notas e quando tentávamos conversar, ele saía de perto."

Isso acabou piorando a situação para Marr, pois os dois eram amigos de longa data, desde quando tocavam no White Dice, por volta de 1980.

Marr conta que Andy simplesmente não tinha condições mais de tocar, por causa do abuso da heroína. E, com muita tristeza e mágoa, chamou Morrissey e combinaram que os dois dariam a notícia a Andy de que ele estava fora dos Smiths. O baixista levou um choque ao ser avisado, mas permaneceu calmo e aceitou com certa resignação.

Para contornar a situação, Marr saiu atrás de um baixista e acabou convidando um guitarrista chamado Craig Gannon, que já havia tocado com o Aztec Camera, Bluebells e estava no Colourfield. Craig recebeu o convite, mas foi avisado que, à princípio, seria o baixista. Todavia, Johnny tinha esperanças em poder contar com a volta de Andy e dar a Gannon o posto de segundo-guitarrista, o que daria mais poder às canções da banda.

Da esq. para a dir.: Morrissey, Andy, Johnny, Craig e Mike Uma semana depois, Andy foi preso por posse de heroína. Marr ficou convencido de que a melhor maneira de ajudar o amigo, seria reintegrá-lo ao grupo e tentar curá-lo da dependência química, afinal Rourke era um colega precioso e excelente músico.

O susto de ter sido demitido e a prisão fizeram Andy ver que uma cura era mais do necessária. Morrissey foi o que mais se mostrou receptivo e declarou: "muitos dizem que sou um cara frio, mas na verdade eu queria ajudá-lo. Não mandei ele cair fora e quando percebemos que demiti-lo não tinha sido a decisão correta, simplesmente oferecemos nossa ajuda." Com Andy e Gannon, os Smiths agora eram um quinteto e Marr poderia, finalmente, contar com um guitarrista-base.

Com esse problema resolvido, restava outro agora e maior: tentar uma reaproximação com a Rough Trade. O disco corria o risco de não ser lançado e uma longa e tenebrosa briga judicial avizinhava-se.

Travis mostrava-se duro com a banda, mas a situação começou a melhorar quando ele ofereceu um adiantamento financeiro e reduziu o tempo de contrato com os Smiths. Ao invés de dois discos, o grupo devia apenas mais um, desde que esse não fosse uma coletânea ou um gravado ao vivo, excetuando-se, obviamente The Queen Is Dead, que já estava pronto. Depois disso, estariam livres para juntarem-se ao cast da EMI. Após tudo acertado, Morrissey despediu Matthew Sztumpf, para surpresa do empresário e colocou Martha Defoe em seu lugar.

capa do compacto Bigmouth Strikes Again O meio do ano já chegava quando a banda resolveu que estava mais do que na hora de lançarem um novo single e assim soltam em maio, "Bigmouth Strikes Again".

A canção, cheia de imagens violentas, era (ainda que ele negasse) uma resposta à Thatcher. Como maior curiosidade, uma certa Ann Coats fazia um inesperado backing vocal. Na verdade, os backing foram feitos por Morrissey, que apenas inventou o nome. Veja a letra da canção...

Bigmouth Strikes Again

Sweetness, sweetness I was only joking
When I said I'd like to smash every tooth
In your head

Oh ... sweetness, sweetness, I was only joking
When I said by rights you should be
Bludgeoned in your bed

And now I know how Joan of Arc felt
Now I know how Joan of Arc felt
As the flames rose to her roman nose
And her Walkman started to melt
Oh ...

Bigmouth, la ... bigmouth, la ...
Bigmouth strikes again
And I've got no right to take my place
With the Human race

Oh, bigmouth, la ... bigmouth, la
Bigmouth strikes again
And I've got no right to take my place
With the Human race

And now I know how Joan of Arc felt
Now I know how Joan of Arc felt
As the flames rose to her roman nose
And her hearing aid started to melt

Bigmouth, la ... bigmouth, la ...
Bigmouth strikes again
And I've got no right to take my place
With the Human race
Oh ...

Bigmouth, oh ... bigmouth, la ...
Bigmouth strikes again
And I've got no right to take my place
With the Human race
Oh ...

Bigmouth, oh ... bigmouth, la ...
Bigmouth strikes again
And I've got no right to take my place
With the Human race
Oh ...

Bigmouth, oh ... bigmouth, la ...
Bigmouth strikes again
And I've got no right to take my place
With the Human race
Oh ...

capa de The Queen Is DeadNo mês seguinte, em junho, finalmente é lançado The Queen Is Dead.

O disco, que roubou o título do livro Last Exit to Brooklyn, de Hubert Shelby, era a prova da excelência. Considerado o mais maduro, trabalhado e com as letras mais cínicas que Morrissey até então produzira, atingiu o segundo lugar nas paradas, encobrindo a tímida repercussão de "Bigmouth..." nas paradas de single. Marr conta que Morrissey queria colocar a canção "Take Me Back to The Old Blightly" no disco, mas não tinha idéia de como fazer: "simplesmente coloquei um monte de feedback enquanto Mike tocava sua bateria. Andy começou então a dedilhar uma linha fantástica de baixo, a melhor que já fez em, minha opinião, e tudo parecia fluir como mágica. Quando mostrei ao pessoal, disse que queria fazer algumas alterações, mas eles estavam tão excitados com a canção, que mandaram não mexer."

O disco trazia os dois últimos singles da banda, "The Boy With The Thorn In His Side" e "Bigmouth Strikes Again" e a banda concordou em fazer vídeos para as mesmas. E, pelo menos, a de "Bigmouth..." possui uma certa importância histórica, pois é uma das raras imagens em que podemos ver o grupo como um quinteto, com Gannon na guitarra-base. O disco também trazia uma das canções mais tristes já escritas pelo grupo, "I Know It's Over".

Mas ainda havia grandes canções, como a sensacional "There Is A Light That Never Goes Out", uma exagerada história de amor e morte, lindamente ornadas por um arranjo de cordas orquestrado por Marr.

Veja a letra da música...

Take me out tonight
Where there's music and there's people
Who are young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one
Anymore

Take me out tonight
Because I want to see people and I
Want to see lights
Driving in your car
Oh, please don't drop me home
Because it's not my home, it's their
Home, and I'm welcome no more

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
the pleasure and the the privilege is mine

Take me out tonight
Take me anywhere, I don't care
And in the darkened underpass
I thought Oh God, my chance has come at last
(But then a strange fear gripped me and I
Just couldn't ask)

Take me out tonight
Oh, take me anywhere, I don't care
Just driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one, da ...
Oh, I haven't got one

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
such a heavenly way to die
And if a ten ton truck
Kills the both of us
To die by your side
the pleasure and the the privilege is mine

Oh, There Is A Light That Never Goes Out...



capa do compacto PanicO disco foi unanimente aclamado e escolhido entre os 100 mais importantes da história. Partiram para uma série de shows em Glasgow, Newcastle e Manchester, ao lado do Fall e New Order. A apresentação mais famosa era na cidade-natal da banda, onde ocorreu no "Festival Of The Tenth Summer", comemorando os 10 anos da explosão do movimento punk e que Vini Reilly, guitarrista e líder do Durutti Column dedicou ao falecido cantor Ian Curtis, da extinta banda Joy Division.

Nesse dia, Marr vomitou copiosamente, em parte pela presença do diretor Derek Jarman, de quem era fã e por estar terrivelmente estressado com os últimos incidentes envolvendo os Smiths. A banda então acabara de lançar um novo single, que curiosamente seria o maior sucesso da carreira da banda: "Panic".

A canção nasceu mais precisamente no dia 26 de abril quando Morrissey e Marr ouviam a Radio 1, da BBC, em busca de notícias sobre o acidente nuclear de Chernobyl e perceberam que o boletim da notícia tinha como "trilha sonora" I'm Your Man, do duo Wham!, ex-banda de George Michael. Os dois ficaram tão enojados com a situação que berraram que aquele DJ deveria ser enforcado. Nascia assim uma canção que seria, curiosamente, a mais vendida e a mais executada, embora alguns DJs se recusassem a colocar em suas programações. Eis a letra...

Panic

Panic on the streets of London
Panic on the streets of Birmingham
I wonder to myself
Could life ever be sane again
On the Leeds side-streets that you slip down
I wonder to myself
Hopes may rise on the Grasmeres
But Honey Pie, you're not safe here
So you run down
To the safety of the town
But there's Panic on the street of Carlisle
Dublin, Dundee, Humberside
I wonder to myself
Burn down the disco

Hang the blessed DJ
Because the music that they constantly play
IT SAYS NOTHING TO ME ABOUT MY LIFE
Hang the blessed DJ
Because the music they constantly play

On the Leeds side-streets that you slip down
Provincial towns you jog 'round
Hang the DJ, Hang the DJ, Hang the DJ
Hang the DJ, Hang the DJ, Hang the DJ
HANG THE DJ, HANG THE DJ, HANG THE DJ
HANG THE DJ, HANG THE DJ
HANG THE DJ, HANG THE DJ

No single de 12 polegadas (e que milagrosamente saiu aqui no Brasil!) havia uma instrumental chamada "The Draize Train", que um dos técnicos de Johnny conseguiu encorpar ao colocar no arranjo o som de duas guitarras Rickenbacker emprestadas por ninguém menos do que Pete Townshend, do The Who.

E para incrementar ainda mais o lançamento, Derek Jarman fez um curta-metragem, de 15 minutos, contendo três canções: "Panic", "The Queen Is Dead" e "There Is A Light That Never Goes Out". Usando colagens e imagens desorientadas e uma câmera frenética, obteve grande sucesso.

O grupo parte para sua segunda excursão pela América, com 27 apresentações agendadas pelo Canadá e Estados Unidos. O grupo acaba virando uma febre entre os jovens e a histeria sufoca os membros, especialmente Johnny Marr, que começa a beber em demasia.

Marr lembra que a pressão e o dia-a-dia eram tão tediosos e enervantes, que quando chegava ao hotel, desmaiava na cama, enquanto sua esposa Angie reclamava de que alguma coisa precisava ser feita para acabar com toda aquela loucura.


Um garoto divide os vocais com Morrissey durante uma apresentaçãoAlém do cansaço de Marr, que ameaçou uma vez até sair em meio à uma apresentação, Morrissey estava preocupado e pensando realmente se Craig era importante para a banda. Com seu jeito alegre, risonho, ele era uma espécie de contra-ponto dos demais. Além disso, o cantor não estava convencido de sua importância como músico para os Smiths.

A turnê acabou de forma abrupta, no dia 10 de setembro, em Tampa, mesmo tendo shows em Miami, Atlanta, Nashville e Nova York agendados. A gravadora enfrentava um dilema: apesar da excelente acolhida e shows lotados, as vendas tinham sido decepcionantes.

Mesmo assim, Morrissey e Marr apressaram-se em dizer para a Rough Trade que queriam deixá-la, pois eles haviam feito um bom dinheiro no último ano e queriam mudar para uma nova casa. Alegavam que a banda tinha ficado grande demais para a Rough Trade, que não estava conseguindo atender às expectativas da banda e do público. A banda disse que a EMI havia oferecido um excelente contrato e que eles iriam assinar, mas Geoff bateu o pé e os lembrou do compromisso que haviam firmado meses antes.

capa do compacto AskE durante as gravações de um novo single, Craig Gannon simplesmente abandonou o grupo.

O produtor John Porter foi chamar Craig e, em certo momento descobriu que ele havia ido embora, o que enfureceu Marr: "nós não fechamos as portas para ele, nós as abrimos, o recebemos bem e simplesmente ele pulou fora."

Porter já havia notado que Gannon era muito calado nas gravações, pouco participativo e que se limitava a tocar apenas aquilo que fora pedido. Nada mais, nada menos. Em outubro de 1986, é lançado então "Ask", uma canção bem mais pop e leve. Para surpresa dos fãs, até um vídeo foi realizado, embora ele não seja propriamente um dos pontos altos da carreira da banda...

Na versão de 12 polegadas de "Ask", aparece uma surpresa: o grupo gravava, pela primeira vez, uma cover. A escolhida era "Golden Lights" da cantora Twinkle.

A partida de Gannon se deveu, segundo o mesmo, de não ser querido pela banda e pelo fato de ser considerado mais um músico contratado do que um quinto membro dos Smiths.

"Eles não gostavam de mim, por isso saí.", resumiu. Mas se a saída de Craig foi sentida nos shows, já que cumpria brilhantemente a função de "cobrir os buracos", causou também outra briga. Ele alegava que Morrissey e Marr haviam prometido a ele 1000 libras esterlinas por cada apresentação e que não havia visto ainda a cor do dinheiro. Mas como não haviam assinado nada, Craig então passou a exigir royalties pela sua participação no single "Ask", o que deixou Marr extremamente furioso.

Mas quem mais estava preocupado com o futuro da banda era a esposa de Johhny, Angie. Ela via o marido beber sem parar, o dia inteiro e emagrecendo, já que quase não comia. Ela perguntava ao marido se havia lógica em continuar com os Smiths, já que Marr havia se tornado um alcoólatra e a vida doméstica, um inferno.

A situação piorou mais quando após uma noitada com Mike Joyce e sua namorada Tina, Johnny simplesmente destruiu seu carro e escapou por muito pouco de morrer. Ele ainda conseguiu chegar em casa, ileso, mas com muitas dores por todo o corpo. Foi então atendido em um hospital e um colar de gesso foi colocado em volta do seu pescoço.

Um concerto marcado para o dia 14 de novembro, no Royal Albert Hall, em Londres e no qua teriam a companhia do The Fall, em um evento que fazia parte de protestos contra o apartheid foi adiado e acabou acontecendo apenas no dia 12 de dezembro, no Brixton Academy.

Marr percebeu que deveria ir mais devagar com a bebida. O concerto, ironicamente abriu com "Ask" e tocaram cerca de seis músicas de The Queen Is Dead, encerrando a apresentação com a primeira canção que lançaram, "Hand In Glove". O ano de 1986 se encerrava para os Smiths, finalmente.

Discografia

The Smiths (1984)
Hatful of Hollow (1984)
Meat is Murder (1985)
The Queen is Dead (1986)
The World Won't Listen (1987)
Louder Than Bombs (1987)
"Strangeways, Here We Come" (1987)
"Rank" (1988)
The Best of The Smiths, Vol.1 (1992)
The Best of The Smiths, Vol.2 (1992)
Singles (1995)
The Very Best of The Smiths (2001)

 

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