04 - Paul Westerberg - Stereo

Esse rapaz com hoje 42 anos foi líder de um excepcional grupo norte-americano que misturava punk e hardocore com blues e country: The Replacements . Após o término, Paul acabou seguindo uma boa carreira solo, mantendo a qualidade anterior. E é uma grande surpresa que seu mais novo trabalho, o duplo Stereo, tenha sido lançado no Brasil este ano, pela independente Sum Records, e por um preço bem acessível. Confirmando a fama de ser um país de contrastes, está havendo um enxurrada impressionante de bons lançamentos no país de grupos ou artistas dos anos 80 que só eram encontrados com muito sacrifício e a preços para lá de salgados. Por isso aproveitem a onda, porque nunca saberemos até quando durará.


Voltando ao trabalho, lançado ao final de 2002, Paul fez dois álbuns bem distintos: um elétrico e outro mais acústico. O próprio explica a criação no encarte : “o que você ouvirá são canções escritas e gravadas em casa durante dois anos. Um período marcado por apresentações ao vivo, viagens e muito pensamento... Amador? Talvez? Real? Sem dúvida nenhuma. Uma boa referência (embora não a mais correta) é lembrar de Neil Young em sua fase Rust Never Sleeps e Live Rust. Embora a comparação possa parecer infeliz, há uma certa relação. No primeiro, Young apresentava lindas canções com uma formação acústica, e no posterior, ensandecido, microfonou tudo. Stereo pode ser considerado um filho bastardo. A diferença é que o disco 1 é o elétrico, deixando a calmaria para o segundo. Mas só conseguirá ouvir a tranqüilidade, se conseguir tirar o primeiro do aparelho, o que será bem difícil de acontecer.

A seguir, alguns comentários sobre os dois discos.

Disco 1

“Isto é rock and roll gravado de forma precária. Tocado rapidamente, com mãos cheias de suor e sem uma razão específica. Como ele soa, o que ele diz, quem toca o que é irrelevante. Te faz sentir bem. Este é meu sangue.”

Com um texto desses já dá para imaginar o que te aguarda nas onze faixas que variam de 2 minutos a 30 segundos até 3 minutos e 50 segundos. Música emergente, urgente, incendiária, distorcida, divertida. Tudo aquilo que o rock and roll sempre foi. Sem frescuras, solos intermináveis. Destaques? Todos os segundos dos 35 minutos. Típico disco que pode colocar no aparelho, clicar na tecla repeat e ficar ouvindo por horas e horas, sem enjoar ou cansar.

Disco 2

Depois de divertir-se com a primeira parte, é aconselhável relaxar ao sofá ouvindo o lado “calmo” do rapaz. Com sua voz apunkalhada e letras interessantes, é outro convite para ficar ouvindo seguidamente, sem se preocupar com nada. Destaque para a canção tradicional “Mr. Rabbit”, com um belo arranjo de Westerberg. Mas não há um ponto baixo e nem um alto. A linearidade e consistência são as marcas registradas de todo o trabalho. Depois disso, só saindo de casa e correr atrás dos outros trabalhos solos ou dos discos do Replacements, cuja obra-prima Pleased to Meet Me, de 1987, foi lançada aqui no ano seguinte em vinil e merece ser caçado em qualquer sebo do planeta.