308 - Artists United Against Apartheid - Sun City

A década de 80 foi pródiga em reuniões de artistas com causas políticas e sociais. Assim, nasceram projetos como We Are the World e o Band Aid. Mas nenhum deles foi tão político e panfletário como Sun City.


A idéia nasceu com o ex-guitarrista da E Street Band, que acompanhava Bruce Springsteen, Little Steven.

Steven van Zandt havia deixado a banda de apoio de Bruce logo após o cantor explodir com Born in the USA e ficou intrigado e perplexo com as notícias que lia da África do Sul e do apartheid.

E Steven ficou mais chocado ao descobrir que no meio de tanta opressão aos negros, que sequer podiam votar, havia um lugar chamado Sun City, uma espécie de resort onde os brancos se divertiam com apostas e desfrutando de todas as mordomias. O mais chocante é que Sun City fica encravada numas das regiões mais pobres do país.

Ao lado do jornalista, Danny Schechter, começou a escrever uma letra que faria paralelo com os nativos na América. A idéia era mostrar os abusos do governo sul-africano, que havia prendido Nelson Mandela anos atrás.

Schechter sugeriu que convidassem amigos para o projeto e sugeriu chamar Bruce Springsteen. Steven ficou com dedos. Assim, Schechter fez, ele mesmo, o convite para o Boss, que aceitou, de imediato. Schechter contatou outros músicos, como Miles Davis e logo tinham a seguinte lista:

Little Steven: vocais, guitarra, programação de bateria.
Kool DJ Herc, Peter Wolf, Kurtis Blow, Duke Bootee, David Ruffin, Eddie Kendricks, Joey Ramone, Jimmy Cliff, Daryl Hall, Lou Reed, Jackson Browne, Bob Dylan, Nona Hendryx, Kashif, Big Youth, Peter Garrett, Malopoets, Sonny Okosuns, Gil Scott-Heron, Afrika Bambaataa, Ruben Blades, Bono, George Clinton, Peter Gabriel, Linton Kwesi Johnson, Grandmaster Melle Mel, Bonnie Raitt, Run DMC, Bruce Springsteen, John Oates, Michael Monroe, Darlene Love, The Fat Boys: vocais.
Ray Barretto: vocais, conga.
Zak Starkey, Tony Williams, Ringo Starr baterias, Sonny Okosuns talking drums; Keith LeBlanc baterias, programação de bateria ; Benjamin Newman programação de bateria .
Pete Townshend, Stanley Jordan, Keith Richards, Ron Wood: guitarras.
L. Shankar: violino.
Clarence Clemons: saxofone.
Miles Davis: trumpete.
Herbie Hancock, Richard Scher, Robbie Kilgore, Zoe Yanakis: teclados.
Doug Wimbish: baixo.
Ron Carter: baixo acústico.
Jam Master Jay, DJ Cheese: scratches.
Daryl Hannah, B.J. Nelson, Lotti Golden, Tina B., Kevin McCormick, The Dunnes Stores Strikers, Annie Brody, Dutka e The I.D., Robert Gordon, Steve Walker: vocais de apoio.
Tony Wright: desenho da capa.

Animados, Keith LeBlanc e Danny Schechter vieram com uma colagem de vozes trazendo discursos feitos por Nelson Mandela e o Bispo Desmond Tutu falando dos absurdos praticados pelo governo da África do Sul para serem usados na faixa-título.

Um dos mais motivados com o projeto era o idealista Bono. O vocalista do U2 queria dar sua participação no projeto e junto com os guitarristas dos Rolling Stones, Keith Richards e Ron Wood escreveu "Silver and Gold".

Em míseras 48 horas nascia o primeiro blues escrito por Bono: “Silver and Gold”.

Bono explica um pouco como escreveu a letra: "é a primeira composição que eu escrevi sob o ponto de vista de uma outra pessoa. Também é a primeira canção que escrevi que foi influenciada pelo blues. Eu toquei guitarra com meus pés microfonados do jeito que os antigos bluesmen, como Robert Johnson, faziam. E eu ficava batucando no corpo da guitarra para manter o ritmo. A idéia surgiu com uma citação sobre um boxeador, com a imagem de um lutador no seu canto sendo repreendido pelo seu treinador. É um esporte que eu vinha acompanhando com certo interesse no passado. Considero vários aspectos do boxe muito sórdido, mas aquela imagem era realmente muito boa."

Depois de pronta e mixada, Bono pediu que Steven a utilizasse no disco Sun City. Steve agradeceu, mas avisou que o disco já estava finalizado e que as primeiras cópias já estavam sendo prensadas e que não teria como. Porém, Bono não desistiu e ela entrou, ainda que não constasse o nome da faixa, na contra-capa dos primeiros vinis por não ser possível mudar toda a arte do trabalho, o que posteriormente foi corrigido.

Enquanto o produtor Arthur Baker cuidava da produção, exasperado com tantas boas opções, Little Steven resolveu dar mais força ao projeto, indo até a ONU falar do projeto com o presidente do comitê anti-racismo e apartheid, Iqbal Akhund. Tudo pela causa.

Little Steven e Baker lembram de momentos mágicos: "Miles chegou e começou a tocar coisas fenomenais. A vontade era de fazer um disco só com ele, mas como não era possível, aproveitamos apenas 10 segundos na abertura da música.

A faixa-título era um coral de vozes, cantanda em blocos, enquanto mostravam os músicos gravando em estúdio, gente como Pete Townshend, Ringo Starr e seu filho Zak, entre outros.

No dia 7 de dezembro de 1985 é editado o LP Sun City - Artists United Against Apartheid, que trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. "Sun City" (Steven Van Zandt) – Artists Against Apartheid, featuring Zak Starkey, Ringo Starr - 7:26
2. "No More Apartheid" (Peter Gabriel) – Peter Gabriel and L. Shankar - 7:07
3. "Revolutionary Situation" - Rap Artists from Artists Against Apartheid, compiled and edited by Keith Le Blanc and The News Dissector – 6:07

Lado B

1. "Sun City (Version II)" – Artists Against Apartheid - 5:42
2. "Let Me See Your I.D." – Rap and Jazz Artists from Artists Against Apartheid, featuring Gil Scott-Heron, Miles Davis, Grandmaster Melle Mel, Peter Wolf, Sonny Okosuns, Malopoets, Duke Bootee, Ray Baretto, Peter Garrett - 7:29
3. "The Struggle Continues" – Jazz Artists from Artists Against Apartheid, featuring Miles Davis, Stanley Jordan, Herbie Hancock, Sonny Okosuns, Ron Carter, Tony Williams, Richard Scher - 7:01
*4. "Silver and Gold" (Bono) – Bono with Keith Richards and Ron Wood - 4:41

*Relembrando que por problemas industriais "Silver and Gold" não constava nos créditos nas primeiras edições do LP.

O disco ficou na 31ª posição nos EUA e iniciou um movimento na indústria musical que multava os artistas que tocassem na África do Sul, quebrando o boicote da classe contra as mazelas no país. Um pungente vídeo foi feito e razoavelmente veiculado.

Emocionado, Miles Davis gravou um excepcional disco em 1986, intitulado Tutu, em homenagem ao bispo que venceriam o Prêmio Nobel da Paz, em 1984. Sem papas na língua, Miles sempre afirmava: "a situação na África do Sul me faz vomitar."

Deixo vocês com a letra de "Sun City. Um abraço e até a próxima coluna.

We're rockers and rappers united and strong
We're here to talk about South Africa we don't like what's going on
It's time for some justice it's time for the truth
We've realized there's only one thing we can do

I ain't gonna play Sun City

Relocation to phony homelands
Separation of families I can't understand
23 million can't vote because they're black
We're stabbing our brothers and sisters in the back

I ain't gonna play Sun City

Our government tells us we're doing all we can
Constructive Engagement is Ronald Reagan's plan
Meanwhile people are dying and giving up hope
This quiet diplomacy ain't nothing but a joke

I ain't gonna play Sun City

Boputhuswana is far away
But we know it's in South Africa no matter what they say
You can't buy me I don't care what you pay
Don't ask me Sun City because I ain't gonna play

I ain't gonna play Sun City

It's time to accept our responsibility
Freedom is a privilege nobody rides for free
Look around the world baby it can't be denied
Why are we always on the wrong side

I ain't gonna play Sun City

Relocation to phony homelands
Separation of families I can't understand
23 million can't vote because they're black
We're stabbing our brothers and sisters in the back


 


 


 

Colunas