32 - Supercordas - entrevista

O rock brasileiro do Século XXI vai mostrando sua cara, que é das melhores. Grupos de vários estilos vão deixando sua marca em maior ou menor escala. Uma das boas novidades é essa inusitada banda que mistura Pink Floyd com Zé Ramalho, o Supercordas. Com uma discografia de dois discos, um EP e um single, o grupo conseguiu uma maturidade impressionante no excelente Seres Verdes Ao Redor (música para samabaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos), que remete ao clássico disco Paebiru, de Lula Cortês e Zé Ramalho, com generosas doses de psicodelismo e até Sá, Rodrix e Guarabyra, embora parece não concordarem muito com esse último. Após detalhadas audições do novo trabalho, resolvi pedir uma entrevista, prontamente atendido por Bonifrate. E a entrevista está toda aí...


Pergunta: - Olá, Bonifrate me conte como surgiu o Supercordas e o porquê do nome.
Bonifrate: -
Olá! Nos conhecemos puxando papo em bares por causa de camisetas do Spiritualized e do Spacemen 3 e quando acordamos de ressaca, tínhamos uma banda. O nome vem da última grande teoria da física, que postula que toda a matéria do universo é gerada pela vibração de cordas minúsculas e unidimensionais numa grande sinfonia cósmica.

Pergunta: - O som de vocês é uma referência curiosa a um som mais rural, algo que me lembra um som a Sá, Rodrix e Guarabyra e até a Lula Cortês e Zé Ramalho com o disco Paêbirú, misturado com elementos psicodélicos e folks. É isso mesmo?
Bonifrate: -
Sim e não. O Paêbirú pode ser sim uma influência constante por estar muito além do rock rural, eu costumo dizer de maneira safada que é o nosso Piper at the gates of dawn (disco de estréia do Pink Floyd). Mas Sá, Rodrix e Guarabyra, por exemplo, já não marcaram tanto a nossa vida musical. Eu só fui ouvir um disco deles depois que começaram a citar como nossa influência, o que é meio engraçado.

O folk e a psicodelia vão sempre estar presentes na nossa música, mas não vão ser sempre o aspecto predominante. Esse lance temático rural não estava nos nossos primeiros lançamentos e não estará nos próximos, pelo menos não de forma significativa. Nós somos expedicionários musicais, esse disco foi apenas mais um passeio.

Pergunta: - Vocês possuem nomes diferentes - Giraknob, Wakaplot. Por que?
Bonifrate: -
Eu poderia dizer que é uma incrível coincidência, porque todos já tínhamos pseudônimos quando nos conhecemos, mas coincidências só existem na medida em que confirmam a capacidade do acaso de gerar padrões a partir do caos. Todos temos esses nomes porque somos uma banda com um Propósito, seja ele qual for.

Pergunta: - O novo disco de vocês é excelente. Como foi a maturação dele?
Bonifrate: -
Obrigado. É um projeto imaginado já há muitos anos. Decidimos gravá-lo em 2006, juntanto canções muito antigas com outras muito recentes. Fizemos uma parte das bases nos estúdios da Trama em São Paulo, e o resto gravamos em casa, no Rio e em Parati, onde colhemos muitas ambiências da roça e ruídos de gambás andando no teto, esse tipo de coisa.

Pergunta: - Nas fotos que me mandaram eu vi uma grande referência ao Crosby, Stills, Nash & Young. Aliás, me lembrei demais do disco Dèja Vu...
Bonifrate: -
Talvez tenha sido induzido inconscientemente. Adoro o disco, mas prefiro o Crosby, Stills & Nash.

Pergunta: - A sonoridade de vocês é entremeada de flautas, violões, um clima mais bucólico e falam de temas bichos, mato. É essa a essência da "ruradelia"?
Bonifrate: -
Pode até ser, mas a ruraldelia foi só um nome que inventamos porque as pessoas gostam de rótulos. Tudo pra daqui a pouco ludibriarmos todo mundo com um disco futurista.

Pergunta: - Quais são as grandes influências?
Bonifrate: -
Temos todos um pé nos anos 60 e 70, tanto no Brasil quanto lá fora. Mas a meu ver, muitas coisas nos anos 90 e 00 evoluíram o espírito daquele som. Posso citar Olivia Tremor Control, Flaming Lips, Jupiter Maçã (e Apple), Gorky's Zygotic Mynci, Mercury Rev, etc...

Pergunta: - Quais são os cinco discos que mais gosta?
Bonifrate: -
Assim, improvisando: Black Foliage Animation do Olivia Tremor Control, Minas do Milton Nascimento, o já citado Paêbirú de Lula Cortês e Zé Ramalho, Piper at the gates of dawn do Pink Floyd e o Surf's up dos Beach Boys.

Pergunta: - Como vem sendo a repercussão desse trabalho? Há algum novo no forno? Muitos shows rolando?
Bonifrate: -
Tem sido ótimo. O disco foi muito elogiado na imprensa virtual e real. Nos rendeu viagens a todas as regiões do país (menos o Norte, por enquanto), temos tocado bastante, inclusive em grandes festivais, aparecemos na televisão algumas vezes e toda essa sorte de coisas. Devemos gravar o próximo no início do ano que vem, já temos umas duas dezenas de canções. Vai ser uma jornada sônica nunca dantes imaginada.

Pergunta: - Vocês, no momento, vivem de música ou precisam sobreviver com outros empregos?
Bonifrate: -
Precisamos sobreviver de outras formas, é muito difícil viver de música no Brasil sem ser filho de algum músico consagrado dos anos 70.

Pergunta: - Deixe uma mensagem pros fãs. Valeu pela chance. Um abraço!
Bonifrate: -
Obrigado, galera, por ouvir nossos discos, ir nos nossos shows e por ler essas entrevistas doidas! Fiquem ligados, que 2008 será um ano forte pros Supercordas. Abraços e rayos de psicodelia!

Discografia

A Pior das Alergias (2003)
Satélites no Bar (EP, 2005)
Ruradélica (Single, 2006)
Seres Verdes ao Redor (2006)