O rock brasileiro
do Século XXI vai mostrando sua cara, que é das
melhores. Grupos de vários estilos vão deixando
sua marca em maior ou menor escala. Uma das boas novidades é
essa inusitada banda que mistura Pink Floyd com Zé Ramalho,
o Supercordas. Com uma discografia de dois discos, um EP e um
single, o grupo conseguiu uma maturidade impressionante no excelente
Seres Verdes Ao Redor (música para samabaias, animais rastejantes
e anfíbios marcianos), que remete ao clássico disco
Paebiru, de Lula Cortês e Zé Ramalho, com generosas
doses de psicodelismo e até Sá, Rodrix e Guarabyra,
embora parece não concordarem muito com esse último.
Após detalhadas audições do novo trabalho,
resolvi pedir uma entrevista, prontamente atendido por Bonifrate.
E a entrevista está toda aí...
Pergunta:
- Olá, Bonifrate me conte como surgiu o Supercordas e o
porquê do nome.
Bonifrate: - Olá! Nos conhecemos puxando papo
em bares por causa de camisetas do Spiritualized e do Spacemen
3 e quando acordamos de ressaca, tínhamos uma banda. O
nome vem da última grande teoria da física, que
postula que toda a matéria do universo é gerada
pela vibração de cordas minúsculas e unidimensionais
numa grande sinfonia cósmica.
Pergunta: - O som
de vocês é uma referência curiosa a um som
mais rural, algo que me lembra um som a Sá, Rodrix e Guarabyra
e até a Lula Cortês e Zé Ramalho com o disco
Paêbirú, misturado com elementos psicodélicos e folks.
É isso mesmo?
Bonifrate: - Sim e não. O Paêbirú pode ser sim
uma influência constante por estar muito além do
rock rural, eu costumo dizer de maneira safada que é o
nosso Piper at the gates of dawn (disco de
estréia do Pink Floyd). Mas Sá, Rodrix e Guarabyra,
por exemplo, já não marcaram tanto a nossa vida
musical. Eu só fui ouvir um disco deles depois que começaram
a citar como nossa influência, o que é meio engraçado.
O folk e a psicodelia vão sempre estar presentes na nossa
música, mas não vão ser sempre o aspecto
predominante. Esse lance temático rural não estava
nos nossos primeiros lançamentos e não estará
nos próximos, pelo menos não de forma significativa.
Nós somos expedicionários musicais, esse disco foi
apenas mais um passeio.
Pergunta: - Vocês
possuem nomes diferentes - Giraknob, Wakaplot. Por que?
Bonifrate: - Eu poderia dizer que é uma incrível
coincidência, porque todos já tínhamos pseudônimos
quando nos conhecemos, mas coincidências só existem
na medida em que confirmam a capacidade do acaso de gerar padrões
a partir do caos. Todos temos esses nomes porque somos uma banda
com um Propósito, seja ele qual for.
Pergunta:
- O novo disco de vocês é excelente. Como foi a maturação
dele?
Bonifrate: - Obrigado. É um projeto imaginado
já há muitos anos. Decidimos gravá-lo em
2006, juntanto canções muito antigas com outras
muito recentes. Fizemos uma parte das bases nos estúdios
da Trama em São Paulo, e o resto gravamos em casa, no Rio
e em Parati, onde colhemos muitas ambiências da roça
e ruídos de gambás andando no teto, esse tipo de
coisa.
Pergunta:
- Nas fotos que me mandaram eu vi uma grande referência
ao Crosby, Stills, Nash & Young. Aliás, me lembrei
demais do disco Dèja Vu...
Bonifrate: - Talvez tenha sido induzido inconscientemente.
Adoro o disco, mas prefiro o Crosby, Stills & Nash.
Pergunta: - A sonoridade
de vocês é entremeada de flautas, violões,
um clima mais bucólico e falam de temas bichos, mato. É
essa a essência da "ruradelia"?
Bonifrate: - Pode até ser, mas a ruraldelia foi
só um nome que inventamos porque as pessoas gostam de rótulos.
Tudo pra daqui a pouco ludibriarmos todo mundo com um disco futurista.
Pergunta: - Quais
são as grandes influências?
Bonifrate: - Temos todos um pé nos anos 60 e 70, tanto
no Brasil quanto lá fora. Mas a meu ver, muitas coisas
nos anos 90 e 00 evoluíram o espírito daquele som.
Posso citar Olivia Tremor Control, Flaming Lips, Jupiter Maçã (e Apple), Gorky's Zygotic Mynci, Mercury Rev, etc...
Pergunta:
- Quais são os cinco discos que mais gosta?
Bonifrate: - Assim, improvisando: Black Foliage
Animation do Olivia Tremor Control, Minas
do Milton Nascimento, o já citado Paêbirú
de Lula Cortês e Zé Ramalho, Piper at the
gates of dawn do Pink Floyd e o Surf's up
dos Beach Boys.
Pergunta: - Como
vem sendo a repercussão desse trabalho? Há algum
novo no forno? Muitos shows rolando?
Bonifrate: - Tem sido ótimo. O disco foi muito
elogiado na imprensa virtual e real. Nos rendeu viagens a todas
as regiões do país (menos o Norte, por enquanto),
temos tocado bastante, inclusive em grandes festivais, aparecemos
na televisão algumas vezes e toda essa sorte de coisas.
Devemos gravar o próximo no início do ano que vem,
já temos umas duas dezenas de canções. Vai
ser uma jornada sônica nunca dantes imaginada.
Pergunta:
- Vocês, no momento, vivem de música ou precisam
sobreviver com outros empregos?
Bonifrate: - Precisamos sobreviver de outras formas,
é muito difícil viver de música no Brasil
sem ser filho de algum músico consagrado dos anos 70.
Pergunta: - Deixe
uma mensagem pros fãs. Valeu pela chance. Um abraço!
Bonifrate: - Obrigado, galera, por ouvir nossos discos,
ir nos nossos shows e por ler essas entrevistas doidas! Fiquem
ligados, que 2008 será um ano forte pros Supercordas. Abraços
e rayos de psicodelia!
Discografia
A Pior das Alergias (2003)
Satélites no Bar (EP, 2005)
Ruradélica (Single, 2006)
Seres Verdes ao Redor (2006)
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