Um dos mais
belos exemplos de como uma banda "cabeça" pode
produzir um belo disco pop de inegável classe. Essa poderia
ser uma breve explicação de Little Creatures, disco
lançado pelos Talking Heads, em 1985. Após o filme-documentário-trilha
sonora Stop Making Sense, o grupo voltou a um formato mais simples,
fazendo história com três vídeos belíssimos
e canções inesquecíveis. Um dos grandes momentos
da carreira de David Byrne e companhia.
Ser
apenas uma banda pop. Parece que era a idéia inicial de
David Byrne, Chris Frantz, Tina Weymouth e Jerry Harrison após
a exaustiva e aplaudida excursão que resultou em Stop
Making Sense, em 1984.
O grupo pretendia voltar
à simplicidade e produzir um disco leve, com momentos alegres
e de fácil digestão e quase sem músicos convidados.
"Stop Making
Sense havia sido um projeto muito desgastante e por isso
preferimos fazer músicas mais relaxadas, em um clima menos
tenso", lembra Tina, talvez a pessoa que mais se chocava
com a personalidade dominadora e centralizadora de David Byrne.
Byrne, aliás, havia
acabado de lançar seu novo disco-solo, Music for
"The Knee Plays", trilha-sonora feita sobre
uma ópera de Robert Wilson que falava da Guerra Civil.
Era a segunda experiência nesse campo. A anterior havia
sido The Catherine Wheel, de 1981.
Assim, a banda resolveu
se trancar nos estúdios por quase cinco meses - de outubro
de 1984 a março de 1985, até saírem de lá
com Little Creatures.
Para
quem esperava um disco mais conceitual, foi uma surpresa.
Little Creatures
era o LP mais acessível, mais pop, explorando mais os ritmos
americanos e com pelo menos três canções inesquecíveis:
"And She Was", "Road to Nowhere" e "The
Lady Don't Mind".
O disco tinha a capa feita
por Howard Finster, um artista que eles desconheciam, mas que
também desenhou as capas do compactos.
Em uma entrevista Jerry
comentou sobre os desenhos: "não o conheço,
mas aposto que ele deve ter sonhos lindos quando dorme, pois todos
os desenhos são leves e bem humorados." Até
a foto da contra-capa mostra uma leveza incrível, com os
integrantes sendo retratados sorridentes e em roupas coloridas.
Para o álbum, David
inovou em outra faceta, tomando conta da direção
dos vídeos das três canções escolhidas
para serem compactos. Dois deles - "And She Was" e "Road
to Nowhere" acabaram sendo incorporados ao Museu de Artes
de Nova York. David conta que quase morreu de tanto trabalhar,
especialmente no vídeo de "Road to Nowhere".
O LP trazia as seguintes
faixas. Todas são de autoria de Byrne, exceto as indicadas:
Lado A
1. "And She Was"
– 3:36
2. "Give Me Back My Name" – 3:20
3. "Creatures of Love" – 4:12
4. "The Lady Don't Mind" (David Byrne/Chris Frantz/Jerry
Harrison/Tina Weymouth) – 4:03
5. "Perfect World" (David Byrne/Chris Frantz) –
4:26
Lado B
6. "Stay Up Late"
– 3:51
7. "Walk It Down" – 4:42
8. "Television Man" – 6:10
9. "Road to Nowhere" – 4:19
O
disco abre com a belíssima "And She Was", que
falava de uma antiga conhecida que costumava tomar LSD perto de
uma fábrica, em Baltimore.
A canção
não emplacou na América, mas alcançou a 17ª
posição no Reino Unido.
De cara, percebe-se um
grupo bem mais calmo, o que de fato aconteceu. As lendárias
brigas nas gravações foram deixadas de lado a favor
da harmonia.
Little Creatures
segue com duas faixas normais, até entrar em "The
Lady Don't Mind", uma das mais belas já feitas pelo
grupo. Ela até ganhou uma curiosa versão do extinto
grupo paulistano Gueto, que conseguiu não estragar a canção
original.
A seguir, vem "Perfect
World", com a participação do percussionista
brasileiro Naná Vasconcelos. O grupo satiriza o homem moderno
em "Television Man" e encerra o disco com a mais inspirada
composição do disco, "Road to Nowhere".
Lançado
em compacto, alcançou apenas o 25º lugar na América
e o 6º no Reino Unido. O vídeo foi premiado - justamente
- como o melhor do ano pela MTV e começa com um belo coral
de vozes - David confessa que fez isso para quebrar a monotomia
da música.
Little Creatures
teve uma extensa lista de músicos convidados e conseguiu
fazer bonito nas paradas, ficando em 20º nos Estados Unidos
e ficando entre os 10 mais do Reino Unido.
Mas, na verdade, o disco
era apenas um experimento para David Byrne, que chamaria atenção
em 1986 com o filme e LP True Stories. Mas isso
é papo para outro dia. Um abraço e até a
próxima coluna.
Discografia
Talking Heads: 77 (1977)
More Songs About Building And Food (1978)
Fear of Music (1979)
Remain In Light (1980)
The Name of This Band is Talking Heads (1982)
Speaking In Tongues (1983)
Stop Making Sense (1984, versão quase na íntegra,
1999)
Little Creatures (1985)
True Stories (1986)
Naked (1988)
The Best Of: Once In a Lifetime (1991)
Popular Favorites: Sand in the Vaseline (1991)
Once in a Lifetime - The Best of Talking Heads (1992)
12 x 12 Original Remixes (1999)
Once In a Lifetime (Box com 3 Cds, 2003)
The Best of Talking Heads (2004)
Talking Heads Dual Disc Brick (caixa com 8 cds, 2005)
Bonus Rarities and Outtakes (2006)
Talking Heads: The Collection (2007)
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