291 - Talking Heads - Little Creatures

Um dos mais belos exemplos de como uma banda "cabeça" pode produzir um belo disco pop de inegável classe. Essa poderia ser uma breve explicação de Little Creatures, disco lançado pelos Talking Heads, em 1985. Após o filme-documentário-trilha sonora Stop Making Sense, o grupo voltou a um formato mais simples, fazendo história com três vídeos belíssimos e canções inesquecíveis. Um dos grandes momentos da carreira de David Byrne e companhia.


Ser apenas uma banda pop. Parece que era a idéia inicial de David Byrne, Chris Frantz, Tina Weymouth e Jerry Harrison após a exaustiva e aplaudida excursão que resultou em Stop Making Sense, em 1984.

O grupo pretendia voltar à simplicidade e produzir um disco leve, com momentos alegres e de fácil digestão e quase sem músicos convidados.

"Stop Making Sense havia sido um projeto muito desgastante e por isso preferimos fazer músicas mais relaxadas, em um clima menos tenso", lembra Tina, talvez a pessoa que mais se chocava com a personalidade dominadora e centralizadora de David Byrne.

Byrne, aliás, havia acabado de lançar seu novo disco-solo, Music for "The Knee Plays", trilha-sonora feita sobre uma ópera de Robert Wilson que falava da Guerra Civil. Era a segunda experiência nesse campo. A anterior havia sido The Catherine Wheel, de 1981.

Assim, a banda resolveu se trancar nos estúdios por quase cinco meses - de outubro de 1984 a março de 1985, até saírem de lá com Little Creatures.

Para quem esperava um disco mais conceitual, foi uma surpresa.

Little Creatures era o LP mais acessível, mais pop, explorando mais os ritmos americanos e com pelo menos três canções inesquecíveis: "And She Was", "Road to Nowhere" e "The Lady Don't Mind".

O disco tinha a capa feita por Howard Finster, um artista que eles desconheciam, mas que também desenhou as capas do compactos.

Em uma entrevista Jerry comentou sobre os desenhos: "não o conheço, mas aposto que ele deve ter sonhos lindos quando dorme, pois todos os desenhos são leves e bem humorados." Até a foto da contra-capa mostra uma leveza incrível, com os integrantes sendo retratados sorridentes e em roupas coloridas.

Para o álbum, David inovou em outra faceta, tomando conta da direção dos vídeos das três canções escolhidas para serem compactos. Dois deles - "And She Was" e "Road to Nowhere" acabaram sendo incorporados ao Museu de Artes de Nova York. David conta que quase morreu de tanto trabalhar, especialmente no vídeo de "Road to Nowhere".

contra-capa do disco

O LP trazia as seguintes faixas. Todas são de autoria de Byrne, exceto as indicadas:

Lado A

1. "And She Was" – 3:36
2. "Give Me Back My Name" – 3:20
3. "Creatures of Love" – 4:12
4. "The Lady Don't Mind" (David Byrne/Chris Frantz/Jerry Harrison/Tina Weymouth) – 4:03
5. "Perfect World" (David Byrne/Chris Frantz) – 4:26

Lado B

6. "Stay Up Late" – 3:51
7. "Walk It Down" – 4:42
8. "Television Man" – 6:10
9. "Road to Nowhere" – 4:19

O disco abre com a belíssima "And She Was", que falava de uma antiga conhecida que costumava tomar LSD perto de uma fábrica, em Baltimore.

A canção não emplacou na América, mas alcançou a 17ª posição no Reino Unido.

De cara, percebe-se um grupo bem mais calmo, o que de fato aconteceu. As lendárias brigas nas gravações foram deixadas de lado a favor da harmonia.

Little Creatures segue com duas faixas normais, até entrar em "The Lady Don't Mind", uma das mais belas já feitas pelo grupo. Ela até ganhou uma curiosa versão do extinto grupo paulistano Gueto, que conseguiu não estragar a canção original.

A seguir, vem "Perfect World", com a participação do percussionista brasileiro Naná Vasconcelos. O grupo satiriza o homem moderno em "Television Man" e encerra o disco com a mais inspirada composição do disco, "Road to Nowhere".

capa do compacto Road to NowhereLançado em compacto, alcançou apenas o 25º lugar na América e o 6º no Reino Unido. O vídeo foi premiado - justamente - como o melhor do ano pela MTV e começa com um belo coral de vozes - David confessa que fez isso para quebrar a monotomia da música.

Little Creatures teve uma extensa lista de músicos convidados e conseguiu fazer bonito nas paradas, ficando em 20º nos Estados Unidos e ficando entre os 10 mais do Reino Unido.

Mas, na verdade, o disco era apenas um experimento para David Byrne, que chamaria atenção em 1986 com o filme e LP True Stories. Mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Talking Heads: 77 (1977)
More Songs About Building And Food (1978)
Fear of Music (1979)
Remain In Light (1980)
The Name of This Band is Talking Heads (1982)
Speaking In Tongues (1983)
Stop Making Sense (1984, versão quase na íntegra, 1999)
Little Creatures (1985)
True Stories (1986)
Naked (1988)
The Best Of: Once In a Lifetime (1991)
Popular Favorites: Sand in the Vaseline (1991)
Once in a Lifetime - The Best of Talking Heads (1992)
12 x 12 Original Remixes (1999)
Once In a Lifetime (Box com 3 Cds, 2003)
The Best of Talking Heads (2004)
Talking Heads Dual Disc Brick (caixa com 8 cds, 2005)
Bonus Rarities and Outtakes (2006)
Talking Heads: The Collection (2007)

 


 

 

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