Uma das duplas mais curiosas surgidas nos
anos 80, o Tears for Fears conseguiu um feito inédito:
deu mais dinheiro ao escritor Arthur Janov do que John Lennon.
A história é simples: a dupla britânica, assim
como o ex-líder dos Beatles, era adepto da teoria do Grito
Primal desenvolvida por Janov. E o escritor confessou ficar admirado
quando viu sua conta receber generosas somas de dinheiro de direitos
autorais. Só por isso, o Tears for Fears já merecia
uma matéria. Mas além disso, eles fizeram grandes
músicas, especialmente nos dois primeiros discos, quando
emplacaram sucessos como "Pale Shelter" e "Shout".
O sucesso ficou ainda maior quando explodiram com o disco The
Seeds of Love, que também rendeu inúmeras críticas
e gozações por plagiarem os próprios Beatles.
Reza a lenda que até Paul McCartney entrou na brincadeira,
pedindo co-autoria para ele e Lennon nas músicas. Conheça
um pouco das "tias fofinhas", que continuam na ativa
e que odiaram o apelido que ganharam aqui.
Uma
banda que utiliza conceitos tão estranhos como o Tears
for Fears usou é algo raro na história do rock.
E o próprio nome é tirado da filosofia do Grito
Primal - "trocar medos por lágrimas.
O duo formado por Curt
Smith e Roland Orzabal sempre teve uma postura séria até
demais para um duo pop e que calcou suas músicas nas neuroses
e até por isso foram meio ridicularizados.
Aliás, no Brasil,
o nome foi abrasileirado para "tias fofinhas", o que
provocou caretas na dupla quando vieram para cá e souberam
qual seria a tradução de "tias fofinhas"
em inglês: "fluffy aunt? que merda é essa?",
perguntou Roland, à época.
Roland Jaime Orzabal de
la Quintana conheceu Curt Smith por volta de 1975, em Bath, onde
os dois nasceram, em 1975, através de um amigo em comum,
Paul. Logo ficaram amigos e inseparáveis. Certa vez, Curt
presentou Roland no Natal com três violinos que havia roubado
da escola. Para não deixar o amigo magoado, Roland resolveu
aprender a tocar o instrumento.
Roland resolveu então
montar um dupla folk com um colega chamado Busar, e depois convenceu
Curt a entrarem em outra banda chamada Neon, já que ele
gostava da voz de seu melhor amigo. Em 1979 resolveram montar
um outro grupo, The Graduate.
The
Graduate era um quinteto com John Baker, Andy Marsden e Steve
Buck. Com um visual copiado dos Beatles do início de carreira
e títulos ingênuos como "Elvis should play Ska",
o Graduate lançou o LP Acting My Age e
não fez sucesso algum. Por muito tempo, Curt e Roland preferiam
não falar de seu passado. Ao menos, o título premonitório,
"agindo conforme minha idade", fazia sentindo, com garotos
que tinham idade média entre 17 e 19 anos.
Logo, Curt e Roland resolveram
mudar de vida. Nessa época, Roland fazia terapia inspirada
no Grito Primal de Janov e surgiu daí toda a influência
para montar o grupo.
Em
1981 conheceram o baterista Manny Elias e o tecladista Ian Stanley.
Assim, nascia o Tears for Fears.
O grupo começou
a fazer pequenos shows e mandar demos até conseguir um
contrato com a Mercury.
Em 1982, assinam contrato
para a gravação de seu primeiro disco. Com músicas
assinadas apenas por Roland Orzabal, o grupo lança The
Hurting, que fez um enorme sucesso, em 1983.
Três canções
do disco bateram no Top 10 inglês: "Mad World",
"Change" e a clássica "Pale Shelter."
O
disco já trazia elementos da influência de Janov,
especialmente na canção "Idea As Opiates".
Para a capa do disco escolheram
um pequeno garoto de Bath, conhecido como Gebby.
Roland lembra que a gravação
do disco foi extremamente tensa para os integrantes: "nós
o gravamos basicamente nos estúdios Abbey Road e trabalhávamos
sete dias por semana até duas ou três da manhã.
Foi um disco difícil e que gerou muita tensão. Tivemos
sorte que o primeiro single, 'Mad World' vendeu bem e isso ajudou
muito. Ele foi muito inspirado em Arthur Janov e na sua terapia
do Grito Primal. De fato, 'Ideas As Opiates' e 'The Prisoner',
foram roubados de alguns capítulos do seu livro."
The Hurting colocou
o Tears no meio de um mundo de bandas new wave, que faziam um
uso imenso de sintetizadores, baterias eletrônicas. Logo,
a banda começou a fazer show seguidos pelo país.
E, em meio a uma imensa
turnê, os dois começaram a escrever, em conjunto,
as músicas do novo disco. Curiosamente, embora nos créditos
o grupo fosse formado por quatro pessoas, nas capas e shows os
destaques eram apenas Curt e Roland.
E as pressões aumentavam,
como lembra Roland: "conforme o sucesso ia sendo maior, o
número de apresentações era maior e não
tínhamos tempos para parar e pensar um novo disco. Apenas
tínhamos que fazê-lo. Para piorar, os executivos
da gravadora pediram que diminuíssemos nosso purismo com
eletrônica e adicionássemos mais elementos de rock
em nossas canções. Aceitamos o pedido e lançamos
um disco mais simples.
Ao
mesmo tempo que fizeram um disco mais simples, fizeram também
um trabalho que conquistou os dois cantos do Atlântico.
Songs from the Big Chair, lançado em 1985,
foi um clássico dos anos 80 e rendeu inúmeros sucessos,
como "Shout", "Head Over Heels", "Mother's
Talk" e "Everybody Wants to Rule the World", a
primeira canção do grupo a ser número um
na Europa e nos Estados Unidos.
O título do disco
foi tirado do livro Sybil, que depois rendeu um filme televiso
estrelando Sally Field, como uma mulher que tem personalidade
múltipla e só se sente à vontade na cadeira
de seu analista, que ela chama de big chair. O grupo lançou
uma canção no lado B do single de "Shout",
chamada "Big Chair", onde fazem música para trechos
do filme, contendo a voz da atriz.
A
década de 80 foi pródiga em ter várias duplas
- Soft Cell e Eurythmics talvez duas das mais relevantes. Mas
Roland e Curt ficavam furiosos quando comparavam o sucesso de
sua banda com o de outra dupla inglesa - o Wham!, estrelado por
George Michael.
"É um absurdo
sermos catalogados igual ao Wham! Eles fazem música descartável,
horrenda, para as adolescentes ficarem berrando. Eles representam
o lixo. Nosso trabalho é sério, nossas letras falam
de neuroses, de problemas. Eles são muito mais bonitos
e ganham mais dinheiro do que nós, mas não me importo
com isso. Eu quero que minha música deixe uma mensagem
aos fãs", berrava Roland Orzabal.
Foi entre 1985 e 1986 que
Janov chegou até a procurar a dupla para agradecer o reforço
orçamentário. Janov que já havia inspirado
a John Lennon - a canção "Mother" é
fortemente influenciada pelo trabalho do psiquiatra - disse que
ficou surpreso com tamanho dinheiro. Em Songs from the Big Chair,
a canção mais ligada a Janov é o sucesso
"Shout", com a frase "Grite/Grite/Ponha tudo para
fora/Vamos lá/Estou falando com você...".
E
entre 1985 a 1988 a banda não fez outra coisa do que excursionar
e ganharem milhões de prêmios de fãs. Roland
conta que foi muito difícil lidar com a pressão
nesse período.
Nós não estávamos
preparados para tamanho sucesso e para a histeria que aconteceu.
Eram pessoas nos seguindo, centenas, milhares de entrevistas com
as mesmas perguntas. Tocar todas aquelas canções
durante aquele período foi quase uma tortura. Eu e Curt
precisávamos de um tempo para que pudéssemos reavaliar
nossa vida e nossa carreira."
E durante três anos,
Roland fez psicoterapia, explorando seu passado e escrevendo canções
totalmente diferentes dos dois discos anteriores. "Eu não
queria mais soar como uma banda que utilizava a eletrônica,
eu queria romper com tudo isso, romper com o próprio culto
sobre nós. Resolvi resgatar antigos discos dos Beatles,
Steely Dan, Pink Floyd e tentei fazer algo bem ambicioso, grandioso."
O
resultado de tudo isso foi The Seeds Of Love,
um disco que fez mais sucesso que Songs from the Big Chair.
Roland e Curt caíram
de boca no passado dos Beatles e pagaram caro por isso. O disco
trazia grandes sucessos, como as faixas "Sowing the Seeds
of Love" e "Woman in Chain", estrelando a cantora
Oleta Adams, que fez tanto sucesso que seguiu uma carreira independente.
Mas o disco foi duramente
criticado por se aproveitar de idéias alheias, particularmente
dos Beatles da fase Sgt. Pepper's.
A gozação
ficou tão séria que até Paul McCartney brincou
com isso, dizendo que estava tentando reatar a amizade com Yoko
Ono, para que os dois pedissem a Curt e Roland uma co-autoria
nas canções para ele e John Lennon.
Além
das duas canções acima citadas, rendeu um outro
sucesso com "Advice For The Young At Heart". Mas a pressão
foi tão grande que acabou resultando na saída de
Curt Smith da banda, em 1990.
Curt não aguentava
mais os problemas decorrentes do sucesso e resolveu mudar para
Nova York por um tempo.
"Tudo se tornou um
enorme sucesso e a pressão sobre nós era desumana.
Eu estava infeliz e saí por pura infelicidade. Meu casamento
estava acabando e queria fugir da Inglaterra e escolhi morar em
Nova York, um ótimo lugar porque ninguém esta aí
para ninguém e você pode viver uma vida anônima.
Foi lá que tinha conhecido uma nova mulher, tinha me apaixonado
e por isso quis me mudar. Basicamente, eu queria ter uma outra
vida. E, dessa maneira, o Tears for Fears não poderia continuar.
Uma curiosidade: no meio
de "Sowing the Seeds of Love", o grupo berra "Kick
out the Style! Bring back the Jam!". A referência se
faz a Paul Weller. Weller era o líder do The Jam, um grupo
nascido na safra punk e que se notabilizou pelo cunho político.
Em 1982, após lançarem o disco The Gift,
Weller dissolveu o trio e formou, com o desconhecido tecladista,
uma dupla (vejam só...) chamada The Style Council, que
falava das mesmas coisas, mas ao som de jazz, soul e até
bossa nova. Muitos fãs jamais perdoaram Weller por matar
o Jam e criar o Style. E, ao que parece, Curt e Roland faziam
parte dessa legião.
A última apresentação
dos dois juntos foi em 1990, no Kneboworth, em 30 de junho de
1990, um show para arrecadar fundos.
Assim, os dois se separam,
mas Roland conseguiu manter o nome em seu poder.
Em
1992 a gravadora resolveu lançar uma coletânea chamada
Tears Roll Down: Greatest Hits 1982-1992 e no
ano seguinte Roland se junta a Alan Griffiths e lança Elemental,
quarto disco do Tears for Fears. Roland tentou evitar de qualquer
maneira a superprodução do disco anterior e conseguiu
ir bem nas paradas com "Break It Down Again".
Em 1995, Roland lança
o disco Raoul And The Kings of Spain, segundo
ele mesmo afirma, seu disco favorito. Ele confessa que esse seria
o título do disco Seeds Of Love, o que
só não aconteceu por causa do single "Sowing
the Seeds of Love". Raoul é nome de um de seus filhos
e a canção já era tocada dentro de "Sowing..."
em shows.
Em 1996 é a vez
de Saturnine Martial & Lunatic, que não
fez sucesso algum. E foi por causa desse disco que Roland resolveu
acabar com o Tears, após um show na Colômbia. Estávamos
excursionando e não fazíamos sucesso no país
desde 1983 e por isso fui obrigado a cantar músicas do
primeiro de The Hurting. Fiquei tão humilhado
que após a turnê pela América do Sul, resolvei
encerrar o grupo.
Nesse mesmo ano, Curt casa
pela segunda vez e monta um novo grupo, Mayfield, que lança
um disco com o mesmo nome, em 1997, pelo selo Zerodisc.
Em
2000, os dois voltam a se encontrar e anunciam que pensam em voltar
ao Tears for Fears. Enquanto isso não acontece, Roland
lança um disco solo chamado Tomcats Screaming Outside.
E, em 2004, os dois anunciam
o retorno com um novo disco, Everybody Loves a Happy Ending,
que segundo eles, seria a continuação de The
Seeds of Love.
Curt
conta que a volta foi lenta, mas era inevitável: "eu
não estava feliz com minha vida profissional. Tinha feito
um disco sozinho, que eu odeio, e quando reencontrei Roland, começamos
a conversar. Quando saí da banda foi mais por uma atitude
de mostrar que eu podia viver sem ele do que outra coisa, afinal
estávamos juntos há mais de 15 anos. Como sempre
tivemos negócios ligado à banda, ainda nos víamos,
até que resolvemos conversar e ver o que poderia acontecer.
A banda segue firme e tocando
por aí. Agora é esperar e torcer (outra vez...)
para que eles venham por aqui. E caso eles apareçam nada
de perguntar pela tia deles, certo?
Fiquem com três letras
- "Pale Shelter", "Shout" e "Everybody
Wants to Rule The World" e a discografia. Um abraço
e até a próxima coluna.
Pale Shelter
How can I be sure?
When your intrusion is my illusion
How can I be sure?
When all the time you changed my mind
I asked for more and more
How can I be sure?
When you don't give me love
You gave me Pale shelter
You don't give me love
You give me cold hands
And I can't operate on this failure
When all I want to be is
Completely in command
How can I be sure?
For all you say you keep me waiting
How can I be sure?
When all you do is see me through
I asked for more and more
How can I be sure?
I've been here before
There is no why, no need to try
I thought you had it all
I'm calling you, I'm calling you
I ask for more and more
How can I be sure?
Shout
Shout
Shout
Let it all out
These are things I can do without
Come On
I'm talking to you
Come on
In violent times
You shouldn't have to sell your soul
In black and white
They really really ought to know
Those one track minds
That took you for a working boy
Kiss them goodbye
You shouldn't have to jump for joy
Shout
They gave you life
And in return you gave them them hell
As cold as ice
I hope we live to tell the tale
Shout
And when you've taken down your guard
If I could change your mind
I'd really love to break your heart
Shout
Everybody Wants
To Rule The World
Welcome to your
life
There's no turning back
Even while sleep
We will find you
Acting on your best behaviour
Turn your back on mother nature
Everybody wants to rule the world
It's my own design
It's my own remorse
Help me to decide
Help make the most
Of freedom and of pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world
There's a room where the light won't find you
Holding hands while the walls come tumbling down
When they do I'll be right behind you
So glad we've almost made it
So sad they had fade it
Everybody wants to rule the world
I can't stand this indecision
Married with a lack of vision
Everybody wants to rule the world
Say that you'll never never never need it
One headline why believe it ?
Everybody wants to rule the world
All for freedom and for pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world
Discografia
The Hurting (1983)
Songs from the Big Chair (1985)
The Seeds Of Love (1989)
Tears Roll Down: Greatest Hits 1982-1992 (1992)
Elemental (1993)
Raoul and the Kings of Spain (1995)
Saturnine Martial & Lunatic (1996)
20th Century Masters - The Millennium Collection: The Best of
Tears for Fears (2000)
Universal Masters Collection (2001)
Shout: The Very Best of Tears for Fears (2001)
Collection (2003)
Ultimate Collection (2003)
Everybody Loves a Happy Ending (2004)
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