Essa segunda parte tratará
basicamente da carreira do Them, carreira essa para lá
de tumultuada. Afinal, o grupo se dividiu em dois, com as duas
partes apresentando-se com o mesmo nome, mas obviamente sendo
a mais famosa com o Van Morrison, que, segundo alguns, não
era o Them verdadeiro. Aqui, tentarei - pois contar essa história
da maneira correta é quase impossível - explicar
a complicadíssima discografia da banda e o imbróglio
que se seguiu ao longo dos anos, com brigas judiciais que atrasaram
até os lançamentos dos discos do grupo em CD. Como
uma banda com tão pouco tempo de vida conseguiu tanta confusão
é o tema dessa parte final. E o desdobramento de Van Morrison
sozinho é tema para um outro dia...
1
- Indo para Londres
O recém-formado
Them estava empolgado com as possibilidades dos novos grupos britânicos
e resolveram tentar também a sorte, iniciando em Belfast,
que começava a ter uma forte cena local.
Rory Gallagher, então
um jovem músico que tocava no trio Taste, dizia que a capital
da Irlanda do Norte era a grande opção para quem
queria tocar blues e jazz. "Dublin sempre foi mais aberta
ao pop e ao soul, mas Belfast era o local para quem amava uma
música de raiz". E o local mais importante de Belfast
viria a ser o club Maritime, imortalizado por Rory com uma faixa
de mesmo nome em seu disco Irish Tour e também
uma maneira de agradecer pelo apoio nos bicudos anos de iniciante.
O Them estreou no Maritime
no dia 17 de abril de 1964 e logo de cara virou uma grande febre.
Com a formação contando com Billy Harrison (guitarra
e voz), Alan Henderson (baixo), Ronnie Millings (bateria), Eric
Wrixon (teclado) e Van Morrison (sax, voz e harmônica),
o grupo começou a mostrar todo seu talento bruto.
Billy lembra bem dos primeiros
shows: "acho que no primeiro teve perto de 60 pessoas; na
semana seguinte umas 100 e no terceiro show foi uma loucura. O
lugar estava lotado e o público havia saído de seu
dia de trabalho e às 18 horas lotavam e berravam pela gente.
A apresentação só aconteceria às 19h30.
O Them havia virado uma grande sensação local e
em poucos meses tínhamos uma grande reputação."
O destaque do grupo já
era Van Morrison com sua postura mais do que selvagem em cena.
O grupo mostrava uma energia incrível em cena e eram considerados
mais carismáticos do que os Rolling Stones pelos fãs.
"Nessa época,
éramos a maior banda do Maritime. Nossas apresentações
sempre lotavam e tínhamos uma energia bruta que cativava
o público. Eu apenas lamento que nunca pudemos captar aquilo
tudo em uma gravação, porque na época não
havia gravações ao vivo", lembra Van.
E logo o grupo começou
a procurar uma maneira de gravar um disco. Acabaram conhecendo
Peter Lloyd, proprietário de um pequeno estúdio.
Peter era engenheiro de som na Decca Records e assim o grupo conseguiu
chegar até a gravadora com uma fita contendo as músicas
"Stormy Monday", "I Got My Mojo Working" e
"Turn On Your Lovelight" e mostrou para Dick Rowe.
E
Peter Lloyd conseguiu fazer com que a banda soasse exatamente
dessa maneira em estúdio. "Van estava absolutamente
excitado com a idéia de gravar. Ele era inacreditável
no palco do Maritime."
Peter tocou a fita para
Rowe e este adorou o som do grupo e logo ligou para a firma Solomon
and Peres para ajudar os meninos com os detalhes burocráticos.
Mervyn Solomon, filho de Morris, ouviu a fita gostou, quis conferir
uma apresentação do Them ao vivo e saiu impressionado
com o que viu.
Mervyn rapidamente ligou
para seu irmão Phil, que morava em Londres para ajudar
a banda na Inglaterra e para ser o empresário do grupo.
Mas, Phil teria muitos problemas com aquele bando de irlandeses
temperamentais e que não gostaram das maneiras dele.
Billy lembra o primeiro
contacto com Phil: "era uma sexta-feira quando Mervyn e Dick
Rowe trouxeram Phil para nos conhecer. Eu acho que eles não
estavam interessados no nosso tipo de som, mas eles não
queriam mais perder tempo após a explosão dos Beatles.
Nós não gostamos de Phil, mas Dick havia gostado
muito de nós e queria nos produzir imediatamente, mas não
abria mão de termos um empresário e assim aceitamos
Phil."
Um dos primeiros problemas
de Phil com o Them foi não entender o som da banda. Assim,
como primeira medida em Londres colocou o grupo para tocar em
bares irlandeses "pois são um bando de irlandeses!",
fato que deixou todos os integrantes enfurecidos.
"Não
fazemos música irlandesa, fazemos r&b!", berrou
certa vez Van Morrison. Mesmo assim, Phil levou o grupo aos estúdios
da Decca, em junho, para produzir as primeiras demos. Dick Rowe
oferece então um contrato padrão de dois anos com
a gravadora, e foi preciso conseguir a assinatura dos pais para
fechar a questão. Depois disso, pegou os garotos e os enfiou
dentro do estúdio. E aí acontece a primeira baixa
na banda, saindo Eric Wrixon - que tinha exames na escola - e
entra Patrick "John" McAuley.
No estúdio 2 da
Decca, o grupo gravou no dia 5 de julho as seguintes canções:
"Groovin'", "You Can't Judge A Book By
It's Cover", "Turn On Your Lovelight", "Don't
Start Crying Now", "One Two Brown Eyes", "Philosophy"
e "Gloria". As gravações já mostravam
o potencial do grupo, mas também o temperamento difícil
que possuía Van Morrison.
Em 4 de setembro é
lançado o primeiro compacto do grupo com as canções
"Don't Start Crying Now" e "One Two Brown Eyes",
que não fez muito sucesso. Em outubro a banda entra novamente
em estúdio para gravar um novo compacto. Uma das canções
seria "Baby, Please Don't Go", que contaria com a participação
de um jovem músico: Jimmy Page. E aí começa
uma confusa histórica.
O riff da canção
é creditado a ele, mas Billy jura que Page fez apenas a
base rítmica da canção: "aquele riff
foi invenção minha. Eu já o fazia muito antes
de entrarmos em estúdio e quando apareceram dois músicos
de estúdio para as gravações (além
de Jimmy, o baterista Bobby Graham havia sido chamado), ficamos
descontentes, porque não precisávamos de ajuda.
Eu sei que a história registrará que foi ele e não
eu o autor daquele riff, mas a verdade é essa."
Assim, no dia 6 de novembro
sai o segundo compacto que mudaria a vida do Them, contendo as
canções "Baby Please Don't Go" e... "Gloria".
2 - Gloria
Não há como
deixar de falar em rock dos anos 60 sem passar por esse hino garageiro,
lindamente sujo e que foi interpretada depois por Doors, Patti
Smith, David Bowie, U2, etc...
Porque "Gloria"
não é apenas uma bela canção básica,
suja e com a voz rasgada de Van Morrison. "Gloria" foi
um dos maiores azarões da história da música,
um lado B de compacto que ganhou vida própria e virou um
clássico do nível de "My Generation",
"(I Can't Get No) Satisfaction" ou "Yesterday".
Sem essa canção, boa parte da história do
rock que se seguiu sequer teria existido...
Nessa época, o Them
sofrera a segunda baixa: o baterista Ronnie Millings precisou
deixar o Them e voltar para Belfast, já que era casado,
tinha filhos e não tinha mais como mandar dinheiro a eles.
Dessa maneira, o McAuley trocou os teclados pela bateria e por
um curto período o Them se virou como quarteto até
a volta de Eric Wrixon, quando McAuley foi efetivado no posto
de baterista.
O
sucesso do compacto foi algo assustador, alcançando o segundo
lugar na Irlanda e quinto na Inglaterra.
E mais assustador foi quando
descobriram que o lado B, exatamente o lado de "Gloria",
havia sido mais executada que "Baby Please Don't Go".
E foi nessa época
que acabaram conhecendo uma pessoa que marcaria intimamente a
vida da banda e, em especial, os primeiros anos de Van Morrison,
quando já tentava a vida sozinho: Bert Berns.
Berns era um músico
norte-americano e que havia sido chamado para produzir a canção
"Baby Please Don't Go" e "Here Comes the Night",
sendo esta úiltima escrita por ele. Bert viera de Nova
York e tinha se encantado com a versão feita pelo Them.
Berns também alegava ser um dos autores (não-creditado)
da imortal "Twist and Shout" e encantou a todos, por
sua simpatia e por ser um ótimo produtor.
Porém,
um fato quase estragou a lua-de-mel entre os meninos e Berns:
um dos executivos da Decca o havia trazido para Londres desde
que esse ajudasse outros artistas do selo a gravarem sucessos.
E assim, a cantora pop
Lulu também gravou "Baby Please Don't Go" simultaneamente,
fato que irritou a banda.
A irritação
só não foi maior porque a versão pop foi
rapidamente esquecida. Van jura que Berns havia gravado a canção
primeiro com ela e depois com o grupo.
O grande acontecimento
daquele final de ano foi a participação da banda
no programa televiso Ready Steady Go, que mostrou aos
britânicos o som do Them pela primeira vez, na televisão.
Eles abririam para os Rolling
Stones, a atração principal e ficaram eufóricos
quando descobriram que “Baby Please Don’t Go”,
seria usada como tema de abertura do programa regularmente, substituindo
“54321”, do Manfred Mann.
Com
o sucesso, o Them vivia então uma situação
típica de estrelas: apresentações, gravações,
correria e entrevistas. E nas entrevistas o grupo começou
a fazer uma má fama.
Constantemente chamados
de arrogantes, mal-educados, a banda retrucava que tinha pouco
tempo livre e reclamava das perguntas idiotas. “Os jornalistas
me perguntavam qual era minha cor favorita. O que isso poderia
interessar?”, reclamava Van Morrison.
Em dezembro é relançado
o primeiro compacto, “Don't Start Crying Now” / “One,
Two Brown Eyes”, na tentativa de vender mais após
o sucesso de “Baby Please Don’t Go”, mas nada
acontece e Phil aconselha o grupo a voltar para Belfast por alguns
meses.
Essa fase é marcada
pelo fim dos shows no Maritime. Também marca a entrada
do irmão de Patrick John McAuley, Jackie no grupo, em lugar
de Wrixon.
O
ano de 1965 começa com a firme disposição
de voltarem para Londres e gravarem um disco, mas antes disso
Peter Doherty - encarregado de agendar apresentações
para o grupo – começa a marcar o maior número
de shows para o Them.
Em fevereiro a banda lança
um EP apenas com o nome Them, com as canções
“Philosophy”, “Baby Please Don’t Go”,
“One Two Brown Eyes” e “Don’t Start Crying
Now”.
O Them continua a angariar
a antipatia da imprensa escrita. Ora se recusavam a responder
perguntas simples ou então Billy poderia começar
a tocar guitarra durante a entrevista como prova de que estava
irritado com o jornalista. Os meninos não sabiam como lidar
com a pressão.
Em seguida – 5 de
março - lançam o terceiro compacto com as canções
“Here Comes The Night” e "All For By Myself",
que chegou ao segundo posto da parada inglesa e 24º nos Estados
Unidos.
A pressão da vida
na estrada, no entanto, começou a causar rachas internos.
Van Morrison mostrava-se cada vez mais fechado, triste e quase
não falava com os demais companheiros. Billy Harrison era
obrigado a gastar horas e horas tentando convencer Van a não
desistir do grupo e voltar ao trabalho. “Van era extremamente
temperamental e, em certos momentos, agia como um menino mimado.
Ele causava uma tensão desnecessária”, lembra
Billy.
No dia 11 de abril participam
de uma entrega dos melhores da revista New Musical Express,
no Wembley Arena. Essa apresentação acabaria sendo
histórica, pois foi o único show da banda gravado.
Três dias depois,
Jackie McAuley é expulso da banda após uma briga
com o baixista Alan Henderson e novamente Eric Wrixon volta por
um breve período – seis semanas – sendo logo
substituído novamente pelo ex-baterista Ronnie Millings.
Mas Ronnie ficou menos de um mês e acabou saindo para a
entrada do tecladista Peter Bardens, que causou uma nova fissão
interna.
Bardens havia sido recrutado
do The Cheynes e era um completo desconhecido para os demais.
Mesmo assim, em maio o grupo começou a realizar mais ensaios
para o prometido primeiro LP.
3 – Os raivosos
Com
produção dividida entre Berns e Dick Rowe, Them
é lançado em junho de 1965 e teve seu nome mudado
para The "Angry" Young Them. Os seus
14 temas mostram um grupo feroz, tocando um rock básico,
muito bem executado e trazendo clássicos como “Gloria”,
além de “Mystic Eyes” e “Bright Lights,
Big City”, de Jimmy Reed, entre outras canções.
O disco teve ótima
recepção por parte de crítica e público,
alcançando o primeiro lugar na Irlanda, o oitavo posto
na Inglaterra e a 54ª posição nos Estados Unidos.
Em seguida sai um novo compacto, One More Time / How Long
Baby.
Mas, apesar do sucesso,
o grupo dava claros sinais de que não duraria muito tempo.
“Phil marcava um show atrás do outro apenas com a
intenção de ganhar dinheiro em cima da gente. A
Decca exigia que gravássemos mais para lucrarem mais ainda.
Todo mundo queria nos explorar e fazíamos apresentações
atrás de apresentações, sem nenhuma orientação
ou organização”, lembra Billy.
E
atormentar a vida dos jornalistas parecia ser uma das maneiras
de extravasar a raiva. Inquirido como havia escrito “One
More Time” em uma entrevista, Van foi rude: “peguei
uma caneta e escrevi em um papel!”
Cabia a Billy Harrison o papel de tentar articular uma conversa
com Phil, a Decca e os demais músicos. “Não
conseguíamos chegar a um acordo sobre quais músicas
deveriam ser usadas em compactos. Sempre que escolhíamos
uma, eles queriam outra. Mas Phil era uma pessoa tirana e a ele
interessava um racha na banda, pois assim ficaria mais fácil
comandar. Ele tinha o pernicioso hábito de pegar cada um
de nós e conversar individualmente tentando ganhar simpatia
e quando começávamos a brigar jogava um contra os
outros. Ele se aproveitou muito de nossa imaturidade”, lembra
Billy.
Mas Phil conseguiu seus
objetivos e Billy acabou deixando o grupo após uma briga
com Van. “Eu não queria sair do gurpo, mas a verdade
é que eu estava exausto demais para continuar. Tínhamos
um disco de sucesso, íamos viajar em breve para a América
e Phil ficava dizendo que nunca mais iríamos tocar juntos,
que nunca faríamos sucesso. Nós já tínhamos
sucesso, mas ele tinha jogado a banda contra mim.”
Sem Billy, o grupo recruta
Joe Boni para seu lugar e Van assume o papel de porta-voz da banda,
aumentando ainda mais a tensão. “Van quase não
conseguia se expressar e suas idéias eram sempre confusas.
Por causa disso, muitos não aceitavam a idéia de
que ele fosse o líder e imediatamente Van botava fogo pelos
olhos”, lembra Peter Bardens.
Patrick “John”
McAuley é o próximo a deixar o grupo, entrando Terry
None em seu lugar e em agosto é lançado um novo
compacto com as canções “It Won't Hurt Half
As Much” e “I'm Gonna Dress In Black”, mas que
havia sido gravado ainda com Henderson e McAuley. A nova formação
com Boni e None durou poucas semanas e jamais chegou a gravar
algo.
4 – Dois
Them
No
dia 16 de agosto anuncia a prometida viagem de cinco semanas para
a América (que é adiada) e Van e Alan Henderson
resolvem expulsar os demais membros do grupo.
A formação
nessa época consistia em Alan Henderson, Van Morrison,
Eric Wrixon (novamente), Jim Armstrong (guitarra), Ray Elliot
(sax) e John Wilson (bateria), que logo deixaria a banda entrando
Dave Harvey.
Jim lembra que foi convidado
por Mervyn Solomon para entrar na banda enquanto tocava em um
clube de jazz de Belfast e vivia como bancário. Nessa época
existia praticamente dois Them – um que saía fazendo
shows e outro montando pelos irmãos Solomon, que ficavam
em estúdio.
E a situação
ficou mais confusa quando Billy Harrison e John McAuley anunciaram
que iriam sair tocando com o nome Them, que nunca havia sido registrado
oficialmente e que iriam lançar um disco em breve com o
mesmo nome. Eles se juntariam a Nick Wyner e Skip Allen e chegaram
a fazer alguns shows.
Com essa nova formação,
o Them (de Van Morrison) deixou seu rock básico e rumava
mais para o jazz, mas quando Jim precisou operar de apendicite
no final do ano, os empresários ligaram para que Billy
voltasse ao grupo: “eu já estava tocando com o Pretty
Things, em Londres e vi que a banda estava se desintegrando. Ainda
assim, eu voltei para cumprir algumas datas na Inglaterra, Escandinávia
e França. Mas eu já estava cansado daquela tensão,
havia acabado de casar e queria algo estável para mim.”
Jim Armstrong logo se recuperou,
mas descobriu que o grupo não iria durar muito tempo. “Naqueles
dias eu cuidava da parte financeira do grupo e dava sempre 35%
do que ganhávamos para Phil. Além disso, Alan e
Ray começaram a beber em demasia.”
O grupo já havia
então gravado as músicas para o segundo disco, no
mês de novembro, mas que só seria lançado
em 1966.
No dia 12 de janeiro sai
Them Again, o segundo LP, que mostrava novos
rumos. O grupo agora fazia um som mais frio e a imagem de rebeldes
era agora muito mais fingida do que verdadeira. O som também
mostrava um grande controle da banda pelas mãos do produtor
Tommy Scott. Apesar disso, haviam ainda grandes canções
como “Could You Would You”, além da tocante
versão de “It’s All Over Now Baby Blue”,
de Bob Dylan, que até virou compacto póstumo, na
Europa, anos depois.
Para completar ainda mais
o caos, os dois irmãos McAuley resolveram formar um grupo
também batizado de Them e o caso chegou até a esfera
judicial.
Em
março, lançam um novo compacto com as canções
“Call My Name” e “Bring 'Em On In” e em
maio sai o oitavo compacto com “Richard Cory” e “Don’t
You Know”, mesmo mês em que o Them desembarca na América.
E lá experimentam
um sucesso que não imaginavam possuir, tendo bandas iniciantes
como os Doors, o Buffalo Springfield (primeira banda de Neil Young)
e o Captain Beefheart abrindo suas apresentações.
Seria nessa época que Van conheceria sua futura esposa,
Janet Planet.
No dia 30 de maio em um
show no Whiskey-A-Go-Go um jovem músico sobe ao palco para
tocar com eles: Frank Zappa. Era uma das 24 apresentações
que deram no local, deixando marcas profundas nas demais bandas.
“Foi vendo Van agindo
como um maluco no palco, que Jim aprendeu a se apresentar. Van
era muito mais selvagem que Jim, principalmente quando bebia e
começava a cantar com grande emoção. Era
impossível tirar os olhos deles”, lembra John Desmore,
baterista dos Doors, que lembra uma performance conjunta dos dois
grupos cantando “Gloria”.
5 – Van Morrison
deixa o grupo
A excursão também
marcou o fim da banda. Van Morrison começou a ser assediado
pela Warner que o queria como artista-solo, apostando em seu talento
e carisma.
Em
agosto Van e Alan Henderson retornam para Londres para resolverem
problemas legais da banda, deixando Jim, Ray Elliot e Dave Harvey
em Los Angeles.
A volta marcaria o fim
do Them com Van Morrison, após não conseguirem um
acerto financeiro e legal com os Solomons, que ficavam com boa
parte do dinheiro. E ainda havia a questão judicial envolvendo
o nome do grupo.
Sem Van, o que sobrou da
banda resolveu juntar os pedaços. Alan Henderson, o único
membro original do grupo, assumiu a posse do nome enquanto a justiça
não dava um parecer e gravou vários discos com o
nome Them entre os anos de 1968 e 1971.
Um compacto chegou a ser
lançado com o nome de Gloria's Dream,
de autoria de Belfast Gypsies, na tentativa de angariar simpatia
com os antigos fãs. Mas foi em vão.
Eram músicos contratados
e que atiraram em várias direções –
do pop ao psicodelismo – maculando o nome que haviam feito
em dois anos de carreira. “Já não havia mais
o Them e eu quis apenas manter a lenda que eu havia ajudado a
construir. Mas já era tarde”, recorda-se Alan.
Houve até uma volta
com Billy Harrison em 1975. “Nós até chegamos
a gravar um disco com o nome Them na Alemanha, naquele ano, mas
logo nos separamos. E, no ano seguinte, voltei lá para
tentar gravar um disco-solo.”
Billy disse que os anos
com o Them foram duros, especialmente pela total inexperiência
e falta de quem os aconselhassem: “tivemos um ótimo
começo, grandes músicas, mas fomos engolidos por
essa sede de sucesso e explorados. Se você ouvir atentamente
o segundo disco perceberá nitidamente as diferenças
com o primeiro disco.”
“O
grupo já tinha perdido a espontaneidade e os empresários
e a gravadora tentavam vender algo que não existia mais.
O som está mais
polido, mais contido e mesmo os momentos mais ferozes já
não soam tão verdadeiros. O Them poderia ter sido
bem maior, mas o que importa é que deixamos algumas grandes
canções.”
A banda só resolveu
suas pendências jurídicas anos depois, quando todos
conseguiram chegar a um acordo financeiro e permitiram que os
dois discos saíssem em CD, assim como várias coletâneas
que abordam todo o legado do Them.
Apesar da curta duração e das inúmeras brigas,
o seu som continua sendo obrigatório para quem gosta dos
anos 60 e para quem quer conhecer as origens do rock britânico.
Com “Gloria”,
eles foram batizados de “proto punk” e abriram as
portas do mundo para um estilo mais feroz, junto com “You
Really Got Me”, dos Kinks, além do Who, Animals,
e logicamente Rolling Stones.
Van seguiu depois uma tumultuada
carreira-solo, mas isso é tema para ser falado depois,
com calma. Deixo vocês com a discografia da banda e espero
ter ajudado a compreender um pouco a carreira mais do que turbulenta
dessa fantástica banda. Um abraço e até a
próxima coluna.
Discografia
Don't Start Crying Now b/w One, Two Brown Eyes (1964)*
Them (EP, 1965)
Baby Please Don't Go b/w Gloria (1965)*
Here Comes The Night b/w All For Myself (1965)*
One More Time b/w How Long Baby (1965)*
It Won't Hurt Half As Much b/w I'm Gonna Dress In Black (1965)*
The "Angry" Young Them (1965)
Them (edição norte-americana, 1965)
Mystic Eyes b/w If You And I Could Be As Two (1966)*
Call My Name b/w Bring 'Em On In (1966)*
I Can Only Give You Everything b/w Don't Start Cryin' Now (1966)*
Richard Cory b/w Don't You Know (1966)*
People! Let's Freak Out b/w The Shadow Chasers (as Freaks Of Nature)
(1966)*
Them Again (1966)
Gloria's Dream b/w Secret Police (as The Belfast Gypsies) (1967)*
Belfast Gypsies (1967)
Now And Them (edição norte-americana, 1967)
Time In! Time Out! For Them! (1968)
Portland Town (1968)*
The World Of Them (1970)
In Reality (1971)
Them Featuring Van Morrison (edição norte-americana,
1972)
The Story Of Them (1977)
Shut Your Mouth! (Live) (1979)
The Story of Them featuring Van Morrison (1997)
* compactos
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