165 - Them - 1964 a 1971


Essa segunda parte tratará basicamente da carreira do Them, carreira essa para lá de tumultuada. Afinal, o grupo se dividiu em dois, com as duas partes apresentando-se com o mesmo nome, mas obviamente sendo a mais famosa com o Van Morrison, que, segundo alguns, não era o Them verdadeiro. Aqui, tentarei - pois contar essa história da maneira correta é quase impossível - explicar a complicadíssima discografia da banda e o imbróglio que se seguiu ao longo dos anos, com brigas judiciais que atrasaram até os lançamentos dos discos do grupo em CD. Como uma banda com tão pouco tempo de vida conseguiu tanta confusão é o tema dessa parte final. E o desdobramento de Van Morrison sozinho é tema para um outro dia...


1 - Indo para Londres

O recém-formado Them estava empolgado com as possibilidades dos novos grupos britânicos e resolveram tentar também a sorte, iniciando em Belfast, que começava a ter uma forte cena local.

Rory Gallagher, então um jovem músico que tocava no trio Taste, dizia que a capital da Irlanda do Norte era a grande opção para quem queria tocar blues e jazz. "Dublin sempre foi mais aberta ao pop e ao soul, mas Belfast era o local para quem amava uma música de raiz". E o local mais importante de Belfast viria a ser o club Maritime, imortalizado por Rory com uma faixa de mesmo nome em seu disco Irish Tour e também uma maneira de agradecer pelo apoio nos bicudos anos de iniciante.

O Them estreou no Maritime no dia 17 de abril de 1964 e logo de cara virou uma grande febre. Com a formação contando com Billy Harrison (guitarra e voz), Alan Henderson (baixo), Ronnie Millings (bateria), Eric Wrixon (teclado) e Van Morrison (sax, voz e harmônica), o grupo começou a mostrar todo seu talento bruto.

Billy lembra bem dos primeiros shows: "acho que no primeiro teve perto de 60 pessoas; na semana seguinte umas 100 e no terceiro show foi uma loucura. O lugar estava lotado e o público havia saído de seu dia de trabalho e às 18 horas lotavam e berravam pela gente. A apresentação só aconteceria às 19h30. O Them havia virado uma grande sensação local e em poucos meses tínhamos uma grande reputação."

O destaque do grupo já era Van Morrison com sua postura mais do que selvagem em cena. O grupo mostrava uma energia incrível em cena e eram considerados mais carismáticos do que os Rolling Stones pelos fãs.

"Nessa época, éramos a maior banda do Maritime. Nossas apresentações sempre lotavam e tínhamos uma energia bruta que cativava o público. Eu apenas lamento que nunca pudemos captar aquilo tudo em uma gravação, porque na época não havia gravações ao vivo", lembra Van.

E logo o grupo começou a procurar uma maneira de gravar um disco. Acabaram conhecendo Peter Lloyd, proprietário de um pequeno estúdio. Peter era engenheiro de som na Decca Records e assim o grupo conseguiu chegar até a gravadora com uma fita contendo as músicas "Stormy Monday", "I Got My Mojo Working" e "Turn On Your Lovelight" e mostrou para Dick Rowe.

E Peter Lloyd conseguiu fazer com que a banda soasse exatamente dessa maneira em estúdio. "Van estava absolutamente excitado com a idéia de gravar. Ele era inacreditável no palco do Maritime."

Peter tocou a fita para Rowe e este adorou o som do grupo e logo ligou para a firma Solomon and Peres para ajudar os meninos com os detalhes burocráticos. Mervyn Solomon, filho de Morris, ouviu a fita gostou, quis conferir uma apresentação do Them ao vivo e saiu impressionado com o que viu.

Mervyn rapidamente ligou para seu irmão Phil, que morava em Londres para ajudar a banda na Inglaterra e para ser o empresário do grupo. Mas, Phil teria muitos problemas com aquele bando de irlandeses temperamentais e que não gostaram das maneiras dele.

Billy lembra o primeiro contacto com Phil: "era uma sexta-feira quando Mervyn e Dick Rowe trouxeram Phil para nos conhecer. Eu acho que eles não estavam interessados no nosso tipo de som, mas eles não queriam mais perder tempo após a explosão dos Beatles. Nós não gostamos de Phil, mas Dick havia gostado muito de nós e queria nos produzir imediatamente, mas não abria mão de termos um empresário e assim aceitamos Phil."

Um dos primeiros problemas de Phil com o Them foi não entender o som da banda. Assim, como primeira medida em Londres colocou o grupo para tocar em bares irlandeses "pois são um bando de irlandeses!", fato que deixou todos os integrantes enfurecidos.

"Não fazemos música irlandesa, fazemos r&b!", berrou certa vez Van Morrison. Mesmo assim, Phil levou o grupo aos estúdios da Decca, em junho, para produzir as primeiras demos. Dick Rowe oferece então um contrato padrão de dois anos com a gravadora, e foi preciso conseguir a assinatura dos pais para fechar a questão. Depois disso, pegou os garotos e os enfiou dentro do estúdio. E aí acontece a primeira baixa na banda, saindo Eric Wrixon - que tinha exames na escola - e entra Patrick "John" McAuley.

No estúdio 2 da Decca, o grupo gravou no dia 5 de julho as seguintes canções: "Groovin'", "You Can't Judge A Book By
It's Cover", "Turn On Your Lovelight", "Don't Start Crying Now", "One Two Brown Eyes", "Philosophy" e "Gloria". As gravações já mostravam o potencial do grupo, mas também o temperamento difícil que possuía Van Morrison.

Em 4 de setembro é lançado o primeiro compacto do grupo com as canções "Don't Start Crying Now" e "One Two Brown Eyes", que não fez muito sucesso. Em outubro a banda entra novamente em estúdio para gravar um novo compacto. Uma das canções seria "Baby, Please Don't Go", que contaria com a participação de um jovem músico: Jimmy Page. E aí começa uma confusa histórica.

O riff da canção é creditado a ele, mas Billy jura que Page fez apenas a base rítmica da canção: "aquele riff foi invenção minha. Eu já o fazia muito antes de entrarmos em estúdio e quando apareceram dois músicos de estúdio para as gravações (além de Jimmy, o baterista Bobby Graham havia sido chamado), ficamos descontentes, porque não precisávamos de ajuda. Eu sei que a história registrará que foi ele e não eu o autor daquele riff, mas a verdade é essa."

Assim, no dia 6 de novembro sai o segundo compacto que mudaria a vida do Them, contendo as canções "Baby Please Don't Go" e... "Gloria".

2 - Gloria

uma das capas do compacto Baby Please Don't Go e Gloriaoutra capa do compacto

Não há como deixar de falar em rock dos anos 60 sem passar por esse hino garageiro, lindamente sujo e que foi interpretada depois por Doors, Patti Smith, David Bowie, U2, etc...

Porque "Gloria" não é apenas uma bela canção básica, suja e com a voz rasgada de Van Morrison. "Gloria" foi um dos maiores azarões da história da música, um lado B de compacto que ganhou vida própria e virou um clássico do nível de "My Generation", "(I Can't Get No) Satisfaction" ou "Yesterday". Sem essa canção, boa parte da história do rock que se seguiu sequer teria existido...

Nessa época, o Them sofrera a segunda baixa: o baterista Ronnie Millings precisou deixar o Them e voltar para Belfast, já que era casado, tinha filhos e não tinha mais como mandar dinheiro a eles. Dessa maneira, o McAuley trocou os teclados pela bateria e por um curto período o Them se virou como quarteto até a volta de Eric Wrixon, quando McAuley foi efetivado no posto de baterista.

da esquerda para a direita: Jeff Barry, Bert Berns, Van Morrison, Janet Planet (futura esposa de Van) e Carmine "Wassel" DeNola em foto tirada em 1967, em Nova YorkO sucesso do compacto foi algo assustador, alcançando o segundo lugar na Irlanda e quinto na Inglaterra.

E mais assustador foi quando descobriram que o lado B, exatamente o lado de "Gloria", havia sido mais executada que "Baby Please Don't Go".

E foi nessa época que acabaram conhecendo uma pessoa que marcaria intimamente a vida da banda e, em especial, os primeiros anos de Van Morrison, quando já tentava a vida sozinho: Bert Berns.

Berns era um músico norte-americano e que havia sido chamado para produzir a canção "Baby Please Don't Go" e "Here Comes the Night", sendo esta úiltima escrita por ele. Bert viera de Nova York e tinha se encantado com a versão feita pelo Them. Berns também alegava ser um dos autores (não-creditado) da imortal "Twist and Shout" e encantou a todos, por sua simpatia e por ser um ótimo produtor.

Them no Ready Steady Go!Porém, um fato quase estragou a lua-de-mel entre os meninos e Berns: um dos executivos da Decca o havia trazido para Londres desde que esse ajudasse outros artistas do selo a gravarem sucessos.

E assim, a cantora pop Lulu também gravou "Baby Please Don't Go" simultaneamente, fato que irritou a banda.

A irritação só não foi maior porque a versão pop foi rapidamente esquecida. Van jura que Berns havia gravado a canção primeiro com ela e depois com o grupo.

O grande acontecimento daquele final de ano foi a participação da banda no programa televiso Ready Steady Go, que mostrou aos britânicos o som do Them pela primeira vez, na televisão.

Eles abririam para os Rolling Stones, a atração principal e ficaram eufóricos quando descobriram que “Baby Please Don’t Go”, seria usada como tema de abertura do programa regularmente, substituindo “54321”, do Manfred Mann.

Com o sucesso, o Them vivia então uma situação típica de estrelas: apresentações, gravações, correria e entrevistas. E nas entrevistas o grupo começou a fazer uma má fama.

Constantemente chamados de arrogantes, mal-educados, a banda retrucava que tinha pouco tempo livre e reclamava das perguntas idiotas. “Os jornalistas me perguntavam qual era minha cor favorita. O que isso poderia interessar?”, reclamava Van Morrison.

Em dezembro é relançado o primeiro compacto, “Don't Start Crying Now” / “One, Two Brown Eyes”, na tentativa de vender mais após o sucesso de “Baby Please Don’t Go”, mas nada acontece e Phil aconselha o grupo a voltar para Belfast por alguns meses.

Essa fase é marcada pelo fim dos shows no Maritime. Também marca a entrada do irmão de Patrick John McAuley, Jackie no grupo, em lugar de Wrixon.

capa do EP ThemO ano de 1965 começa com a firme disposição de voltarem para Londres e gravarem um disco, mas antes disso Peter Doherty - encarregado de agendar apresentações para o grupo – começa a marcar o maior número de shows para o Them.

Em fevereiro a banda lança um EP apenas com o nome Them, com as canções “Philosophy”, “Baby Please Don’t Go”, “One Two Brown Eyes” e “Don’t Start Crying Now”.

O Them continua a angariar a antipatia da imprensa escrita. Ora se recusavam a responder perguntas simples ou então Billy poderia começar a tocar guitarra durante a entrevista como prova de que estava irritado com o jornalista. Os meninos não sabiam como lidar com a pressão.

uma das capas do compacto Here Comes The Nightuma das capas do compacto Here Comes The Night

Em seguida – 5 de março - lançam o terceiro compacto com as canções “Here Comes The Night” e "All For By Myself", que chegou ao segundo posto da parada inglesa e 24º nos Estados Unidos.

A pressão da vida na estrada, no entanto, começou a causar rachas internos. Van Morrison mostrava-se cada vez mais fechado, triste e quase não falava com os demais companheiros. Billy Harrison era obrigado a gastar horas e horas tentando convencer Van a não desistir do grupo e voltar ao trabalho. “Van era extremamente temperamental e, em certos momentos, agia como um menino mimado. Ele causava uma tensão desnecessária”, lembra Billy.

No dia 11 de abril participam de uma entrega dos melhores da revista New Musical Express, no Wembley Arena. Essa apresentação acabaria sendo histórica, pois foi o único show da banda gravado.

Três dias depois, Jackie McAuley é expulso da banda após uma briga com o baixista Alan Henderson e novamente Eric Wrixon volta por um breve período – seis semanas – sendo logo substituído novamente pelo ex-baterista Ronnie Millings. Mas Ronnie ficou menos de um mês e acabou saindo para a entrada do tecladista Peter Bardens, que causou uma nova fissão interna.

Bardens havia sido recrutado do The Cheynes e era um completo desconhecido para os demais. Mesmo assim, em maio o grupo começou a realizar mais ensaios para o prometido primeiro LP.

3 – Os raivosos

capa do LP ThemCom produção dividida entre Berns e Dick Rowe, Them é lançado em junho de 1965 e teve seu nome mudado para The "Angry" Young Them. Os seus 14 temas mostram um grupo feroz, tocando um rock básico, muito bem executado e trazendo clássicos como “Gloria”, além de “Mystic Eyes” e “Bright Lights, Big City”, de Jimmy Reed, entre outras canções.

O disco teve ótima recepção por parte de crítica e público, alcançando o primeiro lugar na Irlanda, o oitavo posto na Inglaterra e a 54ª posição nos Estados Unidos. Em seguida sai um novo compacto, One More Time / How Long Baby.

Mas, apesar do sucesso, o grupo dava claros sinais de que não duraria muito tempo. “Phil marcava um show atrás do outro apenas com a intenção de ganhar dinheiro em cima da gente. A Decca exigia que gravássemos mais para lucrarem mais ainda. Todo mundo queria nos explorar e fazíamos apresentações atrás de apresentações, sem nenhuma orientação ou organização”, lembra Billy.

capa de uma coletânea póstumaE atormentar a vida dos jornalistas parecia ser uma das maneiras de extravasar a raiva. Inquirido como havia escrito “One More Time” em uma entrevista, Van foi rude: “peguei uma caneta e escrevi em um papel!”

Cabia a Billy Harrison o papel de tentar articular uma conversa com Phil, a Decca e os demais músicos. “Não conseguíamos chegar a um acordo sobre quais músicas deveriam ser usadas em compactos. Sempre que escolhíamos uma, eles queriam outra. Mas Phil era uma pessoa tirana e a ele interessava um racha na banda, pois assim ficaria mais fácil comandar. Ele tinha o pernicioso hábito de pegar cada um de nós e conversar individualmente tentando ganhar simpatia e quando começávamos a brigar jogava um contra os outros. Ele se aproveitou muito de nossa imaturidade”, lembra Billy.

Mas Phil conseguiu seus objetivos e Billy acabou deixando o grupo após uma briga com Van. “Eu não queria sair do gurpo, mas a verdade é que eu estava exausto demais para continuar. Tínhamos um disco de sucesso, íamos viajar em breve para a América e Phil ficava dizendo que nunca mais iríamos tocar juntos, que nunca faríamos sucesso. Nós já tínhamos sucesso, mas ele tinha jogado a banda contra mim.”

Sem Billy, o grupo recruta Joe Boni para seu lugar e Van assume o papel de porta-voz da banda, aumentando ainda mais a tensão. “Van quase não conseguia se expressar e suas idéias eram sempre confusas. Por causa disso, muitos não aceitavam a idéia de que ele fosse o líder e imediatamente Van botava fogo pelos olhos”, lembra Peter Bardens.

Patrick “John” McAuley é o próximo a deixar o grupo, entrando Terry None em seu lugar e em agosto é lançado um novo compacto com as canções “It Won't Hurt Half As Much” e “I'm Gonna Dress In Black”, mas que havia sido gravado ainda com Henderson e McAuley. A nova formação com Boni e None durou poucas semanas e jamais chegou a gravar algo.

4 – Dois Them

No dia 16 de agosto anuncia a prometida viagem de cinco semanas para a América (que é adiada) e Van e Alan Henderson resolvem expulsar os demais membros do grupo.

A formação nessa época consistia em Alan Henderson, Van Morrison, Eric Wrixon (novamente), Jim Armstrong (guitarra), Ray Elliot (sax) e John Wilson (bateria), que logo deixaria a banda entrando Dave Harvey.

Jim lembra que foi convidado por Mervyn Solomon para entrar na banda enquanto tocava em um clube de jazz de Belfast e vivia como bancário. Nessa época existia praticamente dois Them – um que saía fazendo shows e outro montando pelos irmãos Solomon, que ficavam em estúdio.

E a situação ficou mais confusa quando Billy Harrison e John McAuley anunciaram que iriam sair tocando com o nome Them, que nunca havia sido registrado oficialmente e que iriam lançar um disco em breve com o mesmo nome. Eles se juntariam a Nick Wyner e Skip Allen e chegaram a fazer alguns shows.

Com essa nova formação, o Them (de Van Morrison) deixou seu rock básico e rumava mais para o jazz, mas quando Jim precisou operar de apendicite no final do ano, os empresários ligaram para que Billy voltasse ao grupo: “eu já estava tocando com o Pretty Things, em Londres e vi que a banda estava se desintegrando. Ainda assim, eu voltei para cumprir algumas datas na Inglaterra, Escandinávia e França. Mas eu já estava cansado daquela tensão, havia acabado de casar e queria algo estável para mim.”

Jim Armstrong logo se recuperou, mas descobriu que o grupo não iria durar muito tempo. “Naqueles dias eu cuidava da parte financeira do grupo e dava sempre 35% do que ganhávamos para Phil. Além disso, Alan e Ray começaram a beber em demasia.”

O grupo já havia então gravado as músicas para o segundo disco, no mês de novembro, mas que só seria lançado em 1966.

capa do disco Them Againcapa do compacto It's All Over Now, Baby Blue

No dia 12 de janeiro sai Them Again, o segundo LP, que mostrava novos rumos. O grupo agora fazia um som mais frio e a imagem de rebeldes era agora muito mais fingida do que verdadeira. O som também mostrava um grande controle da banda pelas mãos do produtor Tommy Scott. Apesar disso, haviam ainda grandes canções como “Could You Would You”, além da tocante versão de “It’s All Over Now Baby Blue”, de Bob Dylan, que até virou compacto póstumo, na Europa, anos depois.

Para completar ainda mais o caos, os dois irmãos McAuley resolveram formar um grupo também batizado de Them e o caso chegou até a esfera judicial.

capa do compacto Call My NameEm março, lançam um novo compacto com as canções “Call My Name” e “Bring 'Em On In” e em maio sai o oitavo compacto com “Richard Cory” e “Don’t You Know”, mesmo mês em que o Them desembarca na América.

E lá experimentam um sucesso que não imaginavam possuir, tendo bandas iniciantes como os Doors, o Buffalo Springfield (primeira banda de Neil Young) e o Captain Beefheart abrindo suas apresentações. Seria nessa época que Van conheceria sua futura esposa, Janet Planet.

No dia 30 de maio em um show no Whiskey-A-Go-Go um jovem músico sobe ao palco para tocar com eles: Frank Zappa. Era uma das 24 apresentações que deram no local, deixando marcas profundas nas demais bandas.

“Foi vendo Van agindo como um maluco no palco, que Jim aprendeu a se apresentar. Van era muito mais selvagem que Jim, principalmente quando bebia e começava a cantar com grande emoção. Era impossível tirar os olhos deles”, lembra John Desmore, baterista dos Doors, que lembra uma performance conjunta dos dois grupos cantando “Gloria”.

5 – Van Morrison deixa o grupo

A excursão também marcou o fim da banda. Van Morrison começou a ser assediado pela Warner que o queria como artista-solo, apostando em seu talento e carisma.

capa do compacto Gloria's DreamEm agosto Van e Alan Henderson retornam para Londres para resolverem problemas legais da banda, deixando Jim, Ray Elliot e Dave Harvey em Los Angeles.

A volta marcaria o fim do Them com Van Morrison, após não conseguirem um acerto financeiro e legal com os Solomons, que ficavam com boa parte do dinheiro. E ainda havia a questão judicial envolvendo o nome do grupo.

Sem Van, o que sobrou da banda resolveu juntar os pedaços. Alan Henderson, o único membro original do grupo, assumiu a posse do nome enquanto a justiça não dava um parecer e gravou vários discos com o nome Them entre os anos de 1968 e 1971.

Um compacto chegou a ser lançado com o nome de Gloria's Dream, de autoria de Belfast Gypsies, na tentativa de angariar simpatia com os antigos fãs. Mas foi em vão.

Eram músicos contratados e que atiraram em várias direções – do pop ao psicodelismo – maculando o nome que haviam feito em dois anos de carreira. “Já não havia mais o Them e eu quis apenas manter a lenda que eu havia ajudado a construir. Mas já era tarde”, recorda-se Alan.

capas do disco Belfast Gypsiescapa do disco Now and Them

Houve até uma volta com Billy Harrison em 1975. “Nós até chegamos a gravar um disco com o nome Them na Alemanha, naquele ano, mas logo nos separamos. E, no ano seguinte, voltei lá para tentar gravar um disco-solo.”

capa do disco In Realitycapa do compacto Portland Town

Billy disse que os anos com o Them foram duros, especialmente pela total inexperiência e falta de quem os aconselhassem: “tivemos um ótimo começo, grandes músicas, mas fomos engolidos por essa sede de sucesso e explorados. Se você ouvir atentamente o segundo disco perceberá nitidamente as diferenças com o primeiro disco.”

capa do disco Time In! Time Out! For Them!capa da coletânea Them Featuring Van Morrison“O grupo já tinha perdido a espontaneidade e os empresários e a gravadora tentavam vender algo que não existia mais.

O som está mais polido, mais contido e mesmo os momentos mais ferozes já não soam tão verdadeiros. O Them poderia ter sido bem maior, mas o que importa é que deixamos algumas grandes canções.”

A banda só resolveu suas pendências jurídicas anos depois, quando todos conseguiram chegar a um acordo financeiro e permitiram que os dois discos saíssem em CD, assim como várias coletâneas que abordam todo o legado do Them.

Apesar da curta duração e das inúmeras brigas, o seu som continua sendo obrigatório para quem gosta dos anos 60 e para quem quer conhecer as origens do rock britânico.

Com “Gloria”, eles foram batizados de “proto punk” e abriram as portas do mundo para um estilo mais feroz, junto com “You Really Got Me”, dos Kinks, além do Who, Animals, e logicamente Rolling Stones.

Van seguiu depois uma tumultuada carreira-solo, mas isso é tema para ser falado depois, com calma. Deixo vocês com a discografia da banda e espero ter ajudado a compreender um pouco a carreira mais do que turbulenta dessa fantástica banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Don't Start Crying Now b/w One, Two Brown Eyes (1964)*
Them (EP, 1965)
Baby Please Don't Go b/w Gloria (1965)*
Here Comes The Night b/w All For Myself (1965)*
One More Time b/w How Long Baby (1965)*
It Won't Hurt Half As Much b/w I'm Gonna Dress In Black (1965)*
The "Angry" Young Them (1965)
Them (edição norte-americana, 1965)
Mystic Eyes b/w If You And I Could Be As Two (1966)*
Call My Name b/w Bring 'Em On In (1966)*
I Can Only Give You Everything b/w Don't Start Cryin' Now (1966)*
Richard Cory b/w Don't You Know (1966)*
People! Let's Freak Out b/w The Shadow Chasers (as Freaks Of Nature) (1966)*
Them Again (1966)
Gloria's Dream b/w Secret Police (as The Belfast Gypsies) (1967)*
Belfast Gypsies (1967)
Now And Them (edição norte-americana, 1967)
Time In! Time Out! For Them! (1968)
Portland Town (1968)*
The World Of Them (1970)
In Reality (1971)
Them Featuring Van Morrison (edição norte-americana, 1972)
The Story Of Them (1977)
Shut Your Mouth! (Live) (1979)
The Story of Them featuring Van Morrison (1997)

* compactos

 

 

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