306 - The Who - Who's Next

O que era para ser um novo projeito conceitual - Lifehouse - virou o mais sólido disco de estúdio do Who. Who's Next é mais conhecido pelos clássicos "Baba O'Riley" e "Won't Get Fooled Again", canção que serve como um tapa na cara na geração "flower power". Pete Townshend atravessava um período de pessimismo, apesar do ótimo momento em sua carreira.


Nenhum grupo de rock era tão falado como o The Who entre 1970 e 1971. Enquanto as cinzas de Tommy ainda ardiam nas mentes dos fãs e nos integrantes do grupo, Pete Townshend começava a criar ago novo.

Pete tinha a idéia de um novo trabalho conceitual, de nome Lifehouse. E Lifehouse era muito mais ambicioso, mas que por alguns motivos não deram certo. Um deles, segundo Pete, é que parecia "um avião Brabazon, dos anos 50: conceitualmente magnífico, mas muito pesado para deixar o solo."

Para piorar, Pete sofreria uma baixa importante: Kit Lambert. Parceiros de longa data, a amizade dos dois sofreu um imenso abalo quando Kit Lambert e Chris Stamp convidaram Townshend para um jantar. Durante a refeição, os dois mostraram a ele um roteiro para o cinema sobre Tommy, que estavam trabalhando secretamente. Irritado, o compositor nem abriu, claramente com ciúmes de alguém mais ter a ousadia de mexer em algo que era tão caro a ele. A recusa em sequer ler o que haviam escrito calou quieto no coração de Lambert, que considerou o ato como um rompimento da amizade entre eles. E Pete temeu pelo fim da amizade e da parceria.

Segundo ele, os dois se completavam perfeitamente como dois "serenos gênios wagnerianos". E Pete sabia que sem ele, Lifehouse não seria possível.

O guitarrista estava trabalhando em um roteiro para o cinema sobre seu novo projeto e havia mostrado a Kit e Chris, que pareceram interessados. Quando Pete viu que Lambert daria pouca força em sua nova idéia por estar ocupado em escrever um roteiro de Tommy, Pete se sentiu também traído. Lifehouse era um roteiro um tanto ingênuo sobre como o rock and roll salvaria o mundo. E caro, pois Pete desejava um álbum duplo e toda pompa que achasse necessária.

Para piorar, Frank Dulop, diretor do The Young Vic Theatre e que estava ajudando-o com a idéia, confessou estar confuso quando Pete falou de Lifehouse em uma coletiva à imprensa em janeiro de 1971, no teatro, já que Kit havia dito a ele que o projeto era sobre Tommy e não Lifehouse. Para piorar, ele não conseguia expressar exatamente o que queria por causa do excessivo abuso de drogas, especialmente da heroína, que consumia ainda em doses menores.

Pete havia dito, entre outras coisas, que Lifehouse teria 20 novas canções, um roteiro para o cinema produzido pela Universal Pictures e residência fixa no Young Vic, começando no dia 15 de fevereiro, quando se apresentariam em três segundas-feiras consecutivas. Pete estava ciente de que Lifehouse seria algo inesquecível, com 400 pessoas na produção, com ênfase em computadores, eletrônica e que seria o primeiro "filme real de rock e feito sem concessões". O problema é que ele não havia avisado ninguém sobre tudo isso. Talvez, nem ele mesmo soubesse o que estava dizendo.

A banda começou, no dia 4 de janeiro de 1971, alguns ensaios no Vic Theatre nas novas composições. O Who trabalhou duro, mas a magia não estava lá.

Após a confusão na coletiva, Pete deixou a bola passar e dias depois foi convidado pelo mesmo Lambert para ir até Nova York para descansar duas semanas e gravar algo com ele e banda no Record Plant Studios, em março. Pete topou, ainda que pessimista, embora pudesse trabalhar novamente com o excelente engenheiro Jack Adams.

A banda então se mandou para Nova York e fizeram boas gravações, apesar de Pete estar bebendo em excesso e Kit abusando da heroína. Mas as gravações eram selvagens e Pete logo percebeu que Keith Moon também estava abusando das drogas.

Os dias em Nova York foram divididos em duas etapas: os dois primeiros dias foram passados no Estúdio Dois, com Felix Pappalardi cuidando da produção e com a ajuda do guitarrista Leslie West. Os outros quatro dias foram passados no novíssimo e revolucionário Estúdio Um, com Jack Adams tomando conta da mesa. Nesse dias foram feitos as primeiras versões de "Won't Get Fooled Again".

Após uma violenta discussão, Pete entrou no seu quarto, abriu a janela do hotel com a intenção de se jogar do décimo andar, fato esse não consumado pela ajuda da assistente de Lambert, Anja Butler.

De volta à Londres, Pete requisitou os serviços de Glyn Johns para começar a gravar um novo disco. E Townshend percebeu que Lifehouse não tinha ainda uma idéia correta e resolveu levar ao The Who às suas origens: uma banda de rock.

Em entrevistas, Pete dizia que desejava que o sucessor de Tommy fosse o melhor disco que pudessem realizar e que fosse, talvez, a melhor coisa que o rock fosse capaz de produzir. Mas ele sabia que seria difícil realizar tais desejos.

Ao lado de Glyn Johns, a banda começou a olhar para as composições escritas, até que Dunlop teve a idéia de marcar um concerto para convidados, no dia 26 de abril, no teatro. Nesse concerto, o grupo mostrou 14 novas composições. Esse concerto seria gravado no Rolling Stones Mobile e guardado.

Aos poucos, o produtor foi convencendo Pete que as músicas não possuiam um fio condutor, mas que poderiam resultar em um grande álbum de músicas soltas.

capa do compacto Won't Get Fooled AgainEntre todas as canções, a mais importante era "Won't Get Fooled Again". Ela foi também uma das que mais trabalhou deu a banda, com arranjos variados. A letra falava da falsa de esperança do compositor em novos líderes revolucionários e funcionava como um tapa na cara de todo papo de "paz e amor" dos anos 60.

Ela era uma das canções chaves de Lifehouse e Pete gastou muita energia em seu arranjo. A canção ficou famosa pela abertura de teclados, um solo selvagem de Pete na guitarra e um dos gritos mais assustadores já ouvidos no rock, cortesia de Roger Daltrey. Era uma canção de raiva, antes de tudo. Ao ser lançada em compacto, em 25 de junho, chegou ao 9º posto no Reino Unido e em 10º, nos EUA.

Seis semanas de trabalho duro resultaram em Who's Next, o novo disco do grupo. Inicialmente, Pete não gostou do resultado: "era para ser um disco com um propósito e sentia que parte de um grande conceito e que isso não havia funcionada. Mas, os fãs não concordaram com ele e deu o único número 1 na parada britânica da banda, apesar de ter ficado em quarto lugar, nos Estados Unidos.

A capa trazia uma curiosa foto do grupo, abotoando as calças após urinarem em uma figura de concreto. A figura em questão era um monolito achando nos arredores de Sheffield e que simbolizava a alienação e a uniformidade da vida moderna. E sobre essa alienação, o grupo mostrou seu desprezo, urinando. Há uma outra versão em que o fotógrafo Ethan A. Russell afirmou que alguns deles não conseguiam urinar e que usaram água de chuva dentro de uma caneca para darem o efeito necessário. Havia também outra idéia abortada para a capa, em que Keith Moon usava um espartilho e trazia um chicote em uma das mãos. A idéia era perguntar quem seria o próximo a encará-lo.

Glyn Johns fez um trabalho admirável e, em termos técnicos e sonoros, o disco é muito superior a Tommy. E, se Lifehouse era um projeto pessoal de Pete, Who's Next foi concebido como um trabalho do Who. Apenas John Entwistle colaborou com uma canção - "My Wife" -, mas Roger mostrou-se mais solto do que nunca enquanto Keith Moon mostrava sua precisão e técnica incomparáveis.

O disco foi lançado em 31 de julho, na América e no dia 21 de agosto, no Reino Unido e saiu com as seguintes canções:

Lado 1

1. "Baba O'Riley" – 5:00
2. "Bargain" – 5:33
3. "Love Ain't for Keeping" – 2:12
4. "My Wife" (Entwistle) – 3:41
5. "The Song Is Over" – 6:16

Lado 2

6. "Getting In Tune" – 4:50
7. "Going Mobile" – 3:42
8. "Behind Blue Eyes" – 3:42
9. "Won't Get Fooled Again" – 8:32

Townshend estava apaixonado com as possibilidades que os primeiros sintetizadores ofereciam e o VCS3 e o Arp eram usados para dar mais "corpo" aos arranjos. Assim, nascia outra música emblemática, "Baba O'Riley". O título homenageava dois homens fundamentais para Pete: Meher Baba e Terry Riley. O "O'" foi apenas para dar um ar irlandês. Segundo Pete, a canção falava das pessoas que chegavam até ele e reclamavam de tudo, mas que nada fazia para mudar a situação.

Em 29 de julho, o Who inicia uma gigantesca turnê pela América por Nova York, sob o título The World’s Greatest Live Rock’n’Roll Band. Em outubro, é a vez de uma tour pelo Reino Unido.

capa do disco Meaty Beaty Big and BouncyAproveitando o grande momento, é lançado a coletânea Meaty Beaty Big and Bouncy, inicialmente apenas na América, chegando ao 11ª posição.

Lado A

1. "I Can't Explain" – 2:05
2. "The Kids Are Alright" – 2:45
3. "Happy Jack" – 2:12
4. "I Can See for Miles" – 4:06
5. "Pictures of Lily" – 2:43
6. "My Generation" – 3:18
7. "The Seeker" – 3:11

Lado B

1. "Anyway, Anyhow, Anywhere" (Daltrey-Townsend) – 2:42
2. "Pinball Wizard" – 2:59
3. "A Legal Matter" – 2:48
4. "Boris the Spider" (Entwistle) – 2:28
5. "Magic Bus" – 3:21, 4:33 on 2007 Japanese rerelease
6. "Substitute" – 3:49
7. "I'm a Boy" (Extended Version) – 3:41

O ano de 1972 começa com Pete fazendo uma peregrinação até a Índia, para o santuário de Meher Baba. No dia 15 de outubro, é lançado o single Let's See Action, que ficou em 16º lugar no Reino Unido.

Who's Next se tornou um dos álbuns chaves da década de 70 e mereceu uma bela versão remasterizada no Século XXI. Em 2003, foi editado um cd duplo trazendo o antológico show do Young Vic e mais faixas bônus.

A nova versão trazia as seguintes faixas:

Disco 1

1. "Baba O'Riley" – 5:01
2. "Bargain" – 5:33
3. "Love Ain't for Keeping" – 2:10
4. "My Wife" – 3:35
5. "The Song Is Over" – 6:17
6. "Getting in Tune" – 4:49
7. "Going Mobile" – 3:43
8. "Behind Blue Eyes" – 3:42
9. "Won't Get Fooled Again" – 8:35
10. "Baby Don't You Do It" – 8:21
* same version featured on the 1995 CD, but longer.
11. "Getting in Tune" – 6:36
* Unreleased alternate version.
12. "Pure and Easy" – 4:33
* Same as the 1995 CD, albeit in an alternate mix.
13. "Love Ain't for Keeping" – 4:06
* Electric version previously featured on the 1998 reissue of Odds & Sods.
14. "Behind Blue Eyes" – 3:30
* Alternate with Al Kooper on organ previously featured on the 1995 CD.
15. "Won't Get Fooled Again" – 8:48
* Original New York sessions version.

Disco 2

Gravado ao vivo no the Young Vic Theatre, London, on April 26, 1971.

1. "Love Ain't for Keeping" – 2:57
2. "Pure and Easy" – 6:00
3. "Young Man Blues" – 4:47
4. "Time Is Passing" – 3:59
5. "Behind Blue Eyes" – 4:49
6. "I Don't Even Know Myself" – 5:42
7. "Too Much of Anything" – 4:20
8. "Getting in Tune" – 6:42
9. "Bargain" – 5:46
10. "Water" – 8:19
11. "My Generation" – 2:58
12. "(I'm A) Road Runner" – 3:14
13. "Naked Eye" – 6:21
14. "Won't Get Fooled Again" – 8:50

Essa é uma edição que recomendo a todos que puderem adquiri-la. Um dos mais preciosos documentos de uma grande banda. Deixo vocês com a discografia do grupo. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Discos

My Generation (1965)
Quick One (1966)
The Who Sell Out (1967)
Magic Bus: The Who on Tour (1968)
Tommy (1969)
Live at Leeds (1970)
Who's Next (1971)
Meaty Beaty Big and Bouncy (1971)
Quadrophenia (1973)
Odds and Sods (1974)
The Who By Numbers (1975)
Tommy - Original Soundtrack (1975)
The Story Of The Who (1976)
Who Are You (1978)
The Kids Are Alright (1979)
Quadrophenia - Original Soundtrack (1979)
Face Dances (1981)
Hooligans (1981)
Phases (1981)
It's Hard (1982)
Who's Last (1982)
Join Together (1982)
Who's Greatest Hits (1983)
Who's Missing (1985)
Two's Missing (1987)
Who's Better Who's Best (1988)
Thirty Years Of Maximum R & B (1994)
My Generation - The Very Best of (caixa de 4 CDs, 1996)
Live At The Isle Of Wight Festival 1970 (1996)
20th Century Masters - The Millenium Collection: The Who (1999)
Live at the Royal Albert Hall (2000)
The BBC Sessions (2000)
The Who: Then and Now (2004)
Endless Wire (2006)

Singles

1964 - I'm the Face / Zoot Suit / (como The High Numbers)
1965 - I Can't Explain / Bald Headed Woman
1965 - Anyway, Anyhow, Anywhere / Daddy Rolling Stone (UK B-Side) / Anytime You Want Me (US B-Side)
1965 - My Generation / Shout and Shimmy
1966 - Circles / Instant Party (Unreleased single)
1966 - Substitute / Circles (UK B-Side) / Waltz for a Pig (US B-Side)
1966 - A Legal Matter / Instant Party
1966 - The Kids Are Alright / The Ox
1966 - I'm a Boy / In the City
1966 - La La La Lies / The Good's Gone
1966 - Happy Jack / I've Been Away (UK B-Side) / Whiskey Man (US B-Side)
1967 - Pictures of Lily / Doctor, Doctor
1967 - The Last Time / Under My Thumb
1967 - I Can See For Miles / Someone's Coming (UK B-Side) / Mary-Anne with Shakey Hands (US B-Side)
1968 - Dogs / Call Me Lightning
1968 - Magic Bus / Dr. Jekyll and Mr. Hyde
1969 - Pinball Wizard / Dogs Part II
1970 - The Seeker / Here for More
1970 - Summertime Blues / Heaven And Hell
1970 - See Me, Feel Me / Overture
1971 - Won't Get Fooled Again / I Don't Even Know Myself
1971 - Let's See Action / When I Was a Boy
1972 - Join Together / Baby Don't You Do It
1972 - Relay / Waspman
1973 - 5:15 / Water
1975 - Overture / See Me, Feel Me/Listening to You (from Tommy film)
1975 - Squeeze Box / Success Story
1978 - Who Are You / Had Enough
1981 - You Better You Bet / The Quiet One
1981 - Don't Let Go the Coat / You
1982 - Athena / A Man Is a Man
1984 - Twist & Shout (Live) / I Can't Explain (Live)
2004 - Real Good Looking Boy / Old Red Wine
2006 - Wire & Glass / Mirror Door
2006 - It's Not Enough – iTunes Download Single
2006 - Tea & Theatre – iTunes Download Single

 


 

Colunas