O que era para
ser um novo projeito conceitual - Lifehouse - virou o mais sólido
disco de estúdio do Who. Who's Next é mais conhecido
pelos clássicos "Baba O'Riley" e "Won't
Get Fooled Again", canção que serve como um
tapa na cara na geração "flower power".
Pete Townshend atravessava um período de pessimismo, apesar
do ótimo momento em sua carreira.
Nenhum
grupo de rock era tão falado como o The Who entre 1970
e 1971. Enquanto as cinzas de Tommy ainda ardiam
nas mentes dos fãs e nos integrantes do grupo, Pete Townshend
começava a criar ago novo.
Pete tinha a idéia
de um novo trabalho conceitual, de nome Lifehouse. E Lifehouse
era muito mais ambicioso, mas que por alguns motivos não
deram certo. Um deles, segundo Pete, é que parecia "um
avião Brabazon, dos anos 50: conceitualmente magnífico,
mas muito pesado para deixar o solo."
Para piorar, Pete sofreria
uma baixa importante: Kit Lambert. Parceiros de longa data, a
amizade dos dois sofreu um imenso abalo quando Kit Lambert e Chris
Stamp convidaram Townshend para um jantar. Durante a refeição,
os dois mostraram a ele um roteiro para o cinema sobre
Tommy, que estavam trabalhando secretamente. Irritado,
o compositor nem abriu, claramente com ciúmes de alguém
mais ter a ousadia de mexer em algo que era tão caro a
ele. A recusa em sequer ler o que haviam escrito calou quieto
no coração de Lambert, que considerou o ato como
um rompimento da amizade entre eles. E Pete temeu pelo fim da
amizade e da parceria.
Segundo ele, os dois se
completavam perfeitamente como dois "serenos gênios
wagnerianos". E Pete sabia que sem ele, Lifehouse não
seria possível.
O guitarrista estava trabalhando
em um roteiro para o cinema sobre seu novo projeto e havia mostrado
a Kit e Chris, que pareceram interessados. Quando Pete viu que
Lambert daria pouca força em sua nova idéia por
estar ocupado em escrever um roteiro de Tommy,
Pete se sentiu também traído. Lifehouse era um roteiro
um tanto ingênuo sobre como o rock and roll salvaria o mundo.
E caro, pois Pete desejava um álbum duplo e toda pompa
que achasse necessária.
Para piorar, Frank Dulop,
diretor do The Young Vic Theatre e que estava ajudando-o com a
idéia, confessou estar confuso quando Pete falou de Lifehouse
em uma coletiva à imprensa em janeiro de 1971, no teatro,
já que Kit havia dito a ele que o projeto era sobre Tommy
e não Lifehouse. Para piorar, ele não conseguia
expressar exatamente o que queria por causa do excessivo abuso
de drogas, especialmente da heroína, que consumia ainda
em doses menores.
Pete havia dito, entre
outras coisas, que Lifehouse teria 20 novas canções,
um roteiro para o cinema produzido pela Universal Pictures e residência
fixa no Young Vic, começando no dia 15 de fevereiro, quando
se apresentariam em três segundas-feiras consecutivas. Pete
estava ciente de que Lifehouse seria algo inesquecível,
com 400 pessoas na produção, com ênfase em
computadores, eletrônica e que seria o primeiro "filme
real de rock e feito sem concessões". O problema é
que ele não havia avisado ninguém sobre tudo isso.
Talvez, nem ele mesmo soubesse o que estava dizendo.
A banda começou,
no dia 4 de janeiro de 1971, alguns ensaios no Vic Theatre nas
novas composições. O Who trabalhou duro, mas a magia
não estava lá.
Após
a confusão na coletiva, Pete deixou a bola passar e dias
depois foi convidado pelo mesmo Lambert para ir até Nova
York para descansar duas semanas e gravar algo com ele e banda
no Record Plant Studios, em março. Pete topou, ainda que
pessimista, embora pudesse trabalhar novamente com o excelente
engenheiro Jack Adams.
A banda então se
mandou para Nova York e fizeram boas gravações,
apesar de Pete estar bebendo em excesso e Kit abusando da heroína.
Mas as gravações eram selvagens e Pete logo percebeu
que Keith Moon também estava abusando das drogas.
Os dias em Nova York foram
divididos em duas etapas: os dois primeiros dias foram passados
no Estúdio Dois, com Felix Pappalardi cuidando da produção
e com a ajuda do guitarrista Leslie West. Os outros quatro dias
foram passados no novíssimo e revolucionário Estúdio
Um, com Jack Adams tomando conta da mesa. Nesse dias foram feitos
as primeiras versões de "Won't Get Fooled Again".
Após uma violenta
discussão, Pete entrou no seu quarto, abriu a janela do
hotel com a intenção de se jogar do décimo
andar, fato esse não consumado pela ajuda da assistente
de Lambert, Anja Butler.
De volta à Londres,
Pete requisitou os serviços de Glyn Johns para começar
a gravar um novo disco. E Townshend percebeu que Lifehouse não
tinha ainda uma idéia correta e resolveu levar ao The Who
às suas origens: uma banda de rock.
Em entrevistas, Pete dizia
que desejava que o sucessor de Tommy fosse o melhor disco que
pudessem realizar e que fosse, talvez, a melhor coisa que o rock
fosse capaz de produzir. Mas ele sabia que seria difícil
realizar tais desejos.
Ao
lado de Glyn Johns, a banda começou a olhar para as composições
escritas, até que Dunlop teve a idéia de marcar
um concerto para convidados, no dia 26 de abril, no teatro. Nesse
concerto, o grupo mostrou 14 novas composições.
Esse concerto seria gravado no Rolling Stones Mobile e guardado.
Aos poucos, o produtor
foi convencendo Pete que as músicas não possuiam
um fio condutor, mas que poderiam resultar em um grande álbum
de músicas soltas.
Entre
todas as canções, a mais importante era "Won't
Get Fooled Again". Ela foi também uma das que mais
trabalhou deu a banda, com arranjos variados. A letra falava da
falsa de esperança do compositor em novos líderes
revolucionários e funcionava como um tapa na cara de todo
papo de "paz e amor" dos anos 60.
Ela era uma das canções
chaves de Lifehouse e Pete gastou muita energia em seu arranjo.
A canção ficou famosa pela abertura de teclados,
um solo selvagem de Pete na guitarra e um dos gritos mais assustadores
já ouvidos no rock, cortesia de Roger Daltrey. Era uma
canção de raiva, antes de tudo. Ao ser lançada
em compacto, em 25 de junho, chegou ao 9º posto no Reino
Unido e em 10º, nos EUA.
Seis
semanas de trabalho duro resultaram em Who's Next,
o novo disco do grupo. Inicialmente, Pete não gostou do
resultado: "era para ser um disco com um propósito
e sentia que parte de um grande conceito e que isso não
havia funcionada. Mas, os fãs não concordaram com
ele e deu o único número 1 na parada britânica
da banda, apesar de ter ficado em quarto lugar, nos Estados Unidos.
A capa trazia uma curiosa
foto do grupo, abotoando as calças após urinarem
em uma figura de concreto. A figura em questão era um monolito
achando nos arredores de Sheffield e que simbolizava a alienação
e a uniformidade da vida moderna. E sobre essa alienação,
o grupo mostrou seu desprezo, urinando. Há uma outra versão
em que o fotógrafo Ethan A. Russell afirmou que alguns
deles não conseguiam urinar e que usaram água de
chuva dentro de uma caneca para darem o efeito necessário.
Havia também outra idéia abortada para a capa, em
que Keith Moon usava um espartilho e trazia um chicote em uma
das mãos. A idéia era perguntar quem seria o próximo
a encará-lo.
Glyn Johns fez um trabalho
admirável e, em termos técnicos e sonoros, o disco
é muito superior a Tommy. E, se Lifehouse
era um projeto pessoal de Pete, Who's Next foi
concebido como um trabalho do Who. Apenas John Entwistle colaborou
com uma canção - "My Wife" -, mas Roger
mostrou-se mais solto do que nunca enquanto Keith Moon mostrava
sua precisão e técnica incomparáveis.
O disco foi lançado
em 31 de julho, na América e no dia 21 de agosto, no Reino
Unido e saiu com as seguintes canções:
Lado 1
1. "Baba O'Riley"
– 5:00
2. "Bargain" – 5:33
3. "Love Ain't for Keeping" – 2:12
4. "My Wife" (Entwistle) – 3:41
5. "The Song Is Over" – 6:16
Lado 2
6. "Getting In Tune"
– 4:50
7. "Going Mobile" – 3:42
8. "Behind Blue Eyes" – 3:42
9. "Won't Get Fooled Again" – 8:32
Townshend estava apaixonado
com as possibilidades que os primeiros sintetizadores ofereciam
e o VCS3 e o Arp eram usados para dar mais "corpo" aos
arranjos. Assim, nascia outra música emblemática,
"Baba O'Riley". O título homenageava dois homens
fundamentais para Pete: Meher Baba e Terry Riley. O "O'"
foi apenas para dar um ar irlandês. Segundo Pete, a canção
falava das pessoas que chegavam até ele e reclamavam de
tudo, mas que nada fazia para mudar a situação.
Em 29 de julho, o Who inicia
uma gigantesca turnê pela América por Nova York,
sob o título The World’s Greatest Live Rock’n’Roll
Band. Em outubro, é a vez de uma
tour pelo Reino Unido.
Aproveitando
o grande momento, é lançado a coletânea Meaty
Beaty Big and Bouncy, inicialmente apenas na América,
chegando ao 11ª posição.
Lado A
1. "I Can't Explain"
– 2:05
2. "The Kids Are Alright" – 2:45
3. "Happy Jack" – 2:12
4. "I Can See for Miles" – 4:06
5. "Pictures of Lily" – 2:43
6. "My Generation" – 3:18
7. "The Seeker" – 3:11
Lado B
1. "Anyway, Anyhow,
Anywhere" (Daltrey-Townsend) – 2:42
2. "Pinball Wizard" – 2:59
3. "A Legal Matter" – 2:48
4. "Boris the Spider" (Entwistle) – 2:28
5. "Magic Bus" – 3:21, 4:33 on 2007 Japanese rerelease
6. "Substitute" – 3:49
7. "I'm a Boy" (Extended Version) – 3:41
O
ano de 1972 começa com Pete fazendo uma peregrinação
até a Índia, para o santuário de Meher Baba.
No dia 15 de outubro, é lançado o single Let's
See Action, que ficou em 16º lugar no Reino Unido.
Who's Next
se tornou um dos álbuns chaves da década de 70 e
mereceu uma bela versão remasterizada no Século
XXI. Em 2003, foi editado um cd duplo trazendo o antológico
show do Young Vic e mais faixas bônus.
A nova versão trazia
as seguintes faixas:
Disco 1
1. "Baba O'Riley"
– 5:01
2. "Bargain" – 5:33
3. "Love Ain't for Keeping" – 2:10
4. "My Wife" – 3:35
5. "The Song Is Over" – 6:17
6. "Getting in Tune" – 4:49
7. "Going Mobile" – 3:43
8. "Behind Blue Eyes" – 3:42
9. "Won't Get Fooled Again" – 8:35
10. "Baby Don't You Do It" – 8:21
* same version featured on the 1995 CD, but longer.
11. "Getting in Tune" – 6:36
* Unreleased alternate version.
12. "Pure and Easy" – 4:33
* Same as the 1995 CD, albeit in an alternate mix.
13. "Love Ain't for Keeping" – 4:06
* Electric version previously featured on the 1998 reissue of
Odds & Sods.
14. "Behind Blue Eyes" – 3:30
* Alternate with Al Kooper on organ previously featured on the
1995 CD.
15. "Won't Get Fooled Again" – 8:48
* Original New York sessions version.
Disco
2
Gravado ao vivo no the
Young Vic Theatre, London, on April 26, 1971.
1. "Love Ain't for
Keeping" – 2:57
2. "Pure and Easy" – 6:00
3. "Young Man Blues" – 4:47
4. "Time Is Passing" – 3:59
5. "Behind Blue Eyes" – 4:49
6. "I Don't Even Know Myself" – 5:42
7. "Too Much of Anything" – 4:20
8. "Getting in Tune" – 6:42
9. "Bargain" – 5:46
10. "Water" – 8:19
11. "My Generation" – 2:58
12. "(I'm A) Road Runner" – 3:14
13. "Naked Eye" – 6:21
14. "Won't Get Fooled Again" – 8:50
Essa é uma edição
que recomendo a todos que puderem adquiri-la. Um dos mais preciosos
documentos de uma grande banda. Deixo vocês com a discografia
do grupo. Um abraço e até a próxima coluna.
Discografia
Discos
My Generation (1965)
Quick One (1966)
The Who Sell Out (1967)
Magic Bus: The Who on Tour (1968)
Tommy (1969)
Live at Leeds (1970)
Who's Next (1971)
Meaty Beaty Big and Bouncy (1971)
Quadrophenia (1973)
Odds and Sods (1974)
The Who By Numbers (1975)
Tommy - Original Soundtrack (1975)
The Story Of The Who (1976)
Who Are You (1978)
The Kids Are Alright (1979)
Quadrophenia - Original Soundtrack (1979)
Face Dances (1981)
Hooligans (1981)
Phases (1981)
It's Hard (1982)
Who's Last (1982)
Join Together (1982)
Who's Greatest Hits (1983)
Who's Missing (1985)
Two's Missing (1987)
Who's Better Who's Best (1988)
Thirty Years Of Maximum R & B (1994)
My Generation - The Very Best of (caixa de 4 CDs, 1996)
Live At The Isle Of Wight Festival 1970 (1996)
20th Century Masters - The Millenium Collection: The Who (1999)
Live at the Royal Albert Hall (2000)
The BBC Sessions (2000)
The Who: Then and Now (2004)
Endless Wire (2006)
Singles
1964 - I'm the Face / Zoot
Suit / (como The High Numbers)
1965 - I Can't Explain / Bald Headed Woman
1965 - Anyway, Anyhow, Anywhere / Daddy Rolling Stone (UK B-Side)
/ Anytime You Want Me (US B-Side)
1965 - My Generation / Shout and Shimmy
1966 - Circles / Instant Party (Unreleased single)
1966 - Substitute / Circles (UK B-Side) / Waltz for a Pig (US
B-Side)
1966 - A Legal Matter / Instant Party
1966 - The Kids Are Alright / The Ox
1966 - I'm a Boy / In the City
1966 - La La La Lies / The Good's Gone
1966 - Happy Jack / I've Been Away (UK B-Side) / Whiskey Man (US
B-Side)
1967 - Pictures of Lily / Doctor, Doctor
1967 - The Last Time / Under My Thumb
1967 - I Can See For Miles / Someone's Coming (UK B-Side) / Mary-Anne
with Shakey Hands (US B-Side)
1968 - Dogs / Call Me Lightning
1968 - Magic Bus / Dr. Jekyll and Mr. Hyde
1969 - Pinball Wizard / Dogs Part II
1970 - The Seeker / Here for More
1970 - Summertime Blues / Heaven And Hell
1970 - See Me, Feel Me / Overture
1971 - Won't Get Fooled Again / I Don't Even Know Myself
1971 - Let's See Action / When I Was a Boy
1972 - Join Together / Baby Don't You Do It
1972 - Relay / Waspman
1973 - 5:15 / Water
1975 - Overture / See Me, Feel Me/Listening to You (from Tommy
film)
1975 - Squeeze Box / Success Story
1978 - Who Are You / Had Enough
1981 - You Better You Bet / The Quiet One
1981 - Don't Let Go the Coat / You
1982 - Athena / A Man Is a Man
1984 - Twist & Shout (Live) / I Can't Explain (Live)
2004 - Real Good Looking Boy / Old Red Wine
2006 - Wire & Glass / Mirror Door
2006 - It's Not Enough – iTunes Download Single
2006 - Tea & Theatre – iTunes Download Single
|