Esse
foi um dos grandes lançamentos de 2003. O correto seria
dizer relançamento já que o single data de 1983.
Mas o Kraftwerk fez mais do que lançar essa obra-prima
em CD. O grupo alemão, pai de tudo que se fez em termos
de música eletrônica, conseguiu melhorar o que já
era perfeito. Tour de France Soundtracks é
um desbunde completo.
O single havia saído
em CD, em 1998, com as canções originais e um clip
promocional da canção-título com imagens
da lendária prova de ciclismo. Mas para promover o centenário
da “Volta da França”, o Kraftwerk fez mais
do que simplesmente reproduzir o disco. Produziu novas canções
e o resultado é o primeiro trabalho longo do grupo desde
The Mix, de 1991, um disco em que remixaram os
antigos clássicos. Na verdade, oúltimo lançamento
do grupo havia sido o single Expo 2000, mas era
muito mais um trabalho voltado para a feira do que um novo conceito.
Por isso, a espera de 12 anos por novas faixas foi um acontecimento.
Tour de France
de 1983 era composto de quatro faixas, todas com o mesmo nome
e com versões diferentes. Aqui, nesse disco, o grupo fez
algo insólito. Manteve a canção chave em
um formato reduzido (5 minutos e 10 segundos contra os 16 minutos
e 44 segundos da versão original) e introduziu temas que
falam não da corrida, mas de toda a preparação
e pequenos detalhes que fazem parte de um tema que abordam.
Por isso, “Tour de
France Étape 1”, “Tour de France Étape
2” e “Tour de France Étape 3”, falam
da ansiedade do início da prova e dos últimos ajustes.
“Vitamin” lembra que uma boa dose extra de energia
de cálcio, magnésio, adrenalinas e minerais é
vital para os competidores; “Aéro Dinamik”
discute as novas tecnologias destinadas às bikes; “Titanium”,
fala do corpo da mesmas; “Elektro Kardiogramm” do
batimento cardíaco dos ciclistas durante o longo trajeto.
Mas a grande faixa mesmo
é “Tour de France” que encerra o disco. É
impressionante como a canção ainda inspira e passa
toda a tensão e agonia da disputa. As respirações
dos competidores estão ainda mais altas, humanas e podem
até incomodar um ouvinte que sofreu ou sofre de asma (que
foi meu caso, quando criança). Você pode jurar que
está lá com os competidores e não estranhe
se um filete de suor sair de sua testa ao final do disco. Apesar
da música ser eletrônica, consegue ao mesmo tempo
ser extremamente orgânica (embora, uma coisa nunca tenha
prejudicado a outra...). Vale ressaltar o excepcional trabalho
gráfico do encarte e a forte imagem das letras, todas cantadas
em francês, que os alemães promovem, ainda que não
se saiba ler francês (o que é meu caso).
O grupo é um entusiasta
do ciclismo, especialmente Ralf Hutter, um dos líderes
e que já sofreu um sério acidente pedalando. O lançamento
do disco era uma das grandes atenções da prova que
comemorava 100 anos. Mas, como sempre, o grupo não conseguiu
cumprir o organograma programado e disponibilizaram apenas a última
faixa do disco para a prova.
Após passado o frisson
dos 100 anos, é que Tour de France Soundtracks
foi lançado, mostrando que os pais da onda eletrônica
continuam mais em forma do que antes. O disco foi novamente produzido
no ultra-moderno “Kling Klang”, o místico estúdio
portátil da banda.
E a boa notícia
é que saiu no Brasil e é ainda facilmente encontrável
em sites de venda ou nas “boas casas do ramo”. Agora
é torcer para que o grupo não volte ao seu casulo
e deixe seus fãs mais 12 anos sem um novo trabalho, já
que o Expo 2000 foi apenas um mero exercício
de aquecimento.
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