26 - Kraftwerk - Tour de France Soundtracks


Esse foi um dos grandes lançamentos de 2003. O correto seria dizer relançamento já que o single data de 1983. Mas o Kraftwerk fez mais do que lançar essa obra-prima em CD. O grupo alemão, pai de tudo que se fez em termos de música eletrônica, conseguiu melhorar o que já era perfeito. Tour de France Soundtracks é um desbunde completo.

O single havia saído em CD, em 1998, com as canções originais e um clip promocional da canção-título com imagens da lendária prova de ciclismo. Mas para promover o centenário da “Volta da França”, o Kraftwerk fez mais do que simplesmente reproduzir o disco. Produziu novas canções e o resultado é o primeiro trabalho longo do grupo desde The Mix, de 1991, um disco em que remixaram os antigos clássicos. Na verdade, oúltimo lançamento do grupo havia sido o single Expo 2000, mas era muito mais um trabalho voltado para a feira do que um novo conceito. Por isso, a espera de 12 anos por novas faixas foi um acontecimento.

Tour de France de 1983 era composto de quatro faixas, todas com o mesmo nome e com versões diferentes. Aqui, nesse disco, o grupo fez algo insólito. Manteve a canção chave em um formato reduzido (5 minutos e 10 segundos contra os 16 minutos e 44 segundos da versão original) e introduziu temas que falam não da corrida, mas de toda a preparação e pequenos detalhes que fazem parte de um tema que abordam.

Por isso, “Tour de France Étape 1”, “Tour de France Étape 2” e “Tour de France Étape 3”, falam da ansiedade do início da prova e dos últimos ajustes. “Vitamin” lembra que uma boa dose extra de energia de cálcio, magnésio, adrenalinas e minerais é vital para os competidores; “Aéro Dinamik” discute as novas tecnologias destinadas às bikes; “Titanium”, fala do corpo da mesmas; “Elektro Kardiogramm” do batimento cardíaco dos ciclistas durante o longo trajeto.

Mas a grande faixa mesmo é “Tour de France” que encerra o disco. É impressionante como a canção ainda inspira e passa toda a tensão e agonia da disputa. As respirações dos competidores estão ainda mais altas, humanas e podem até incomodar um ouvinte que sofreu ou sofre de asma (que foi meu caso, quando criança). Você pode jurar que está lá com os competidores e não estranhe se um filete de suor sair de sua testa ao final do disco. Apesar da música ser eletrônica, consegue ao mesmo tempo ser extremamente orgânica (embora, uma coisa nunca tenha prejudicado a outra...). Vale ressaltar o excepcional trabalho gráfico do encarte e a forte imagem das letras, todas cantadas em francês, que os alemães promovem, ainda que não se saiba ler francês (o que é meu caso).

O grupo é um entusiasta do ciclismo, especialmente Ralf Hutter, um dos líderes e que já sofreu um sério acidente pedalando. O lançamento do disco era uma das grandes atenções da prova que comemorava 100 anos. Mas, como sempre, o grupo não conseguiu cumprir o organograma programado e disponibilizaram apenas a última faixa do disco para a prova.

Após passado o frisson dos 100 anos, é que Tour de France Soundtracks foi lançado, mostrando que os pais da onda eletrônica continuam mais em forma do que antes. O disco foi novamente produzido no ultra-moderno “Kling Klang”, o místico estúdio portátil da banda.

E a boa notícia é que saiu no Brasil e é ainda facilmente encontrável em sites de venda ou nas “boas casas do ramo”. Agora é torcer para que o grupo não volte ao seu casulo e deixe seus fãs mais 12 anos sem um novo trabalho, já que o Expo 2000 foi apenas um mero exercício de aquecimento.