241 - T. Rex - parte 1

Marc Bolan. T. Rex. Duas lendas do rock britânico, expoentes do glitter rock. Para os fãs, a única definição possível de Bolan é chamá-lo de Deus. Dono de um talentoso imenso, guitarrista de mão cheia, modelo para as futuras gerações, Bolan teve uma vida cheia de acidentes e uma morte trágica, em 1977, em um acidente de carro. Uma de suas últimas apresentações ao vivo tinha sido dias antes com o velho amigo e fã David Bowie, em um especial para a televisão britânica. Um artista tão grande merece uma bio mais detalhada, por isso farei em quatro partes: falando do início de sua carreira até o Tyrannosaurus Rex e depois, propriamente, do T. Rex, quando conhece o sucesso e sua morte. Bolan nos deixou um legado imenso de grandes canções, riffs clássicos e um carisma pouco igualado até hoje.


Quando, no dia 16 de setembro, Marc Bolan morreu em um acidente de carro pilotado por sua esposa Gloria, duas semanas antes de completar 30 anos, já não era mais simplesmente um músico. Havia atingido o status de lenda e foi colocado no mesmo patamar de John Lennon, Bob Dylan etc. Exagero? Nem um pouco.

Filho do casal judeu, Simeon e Phyllis Feld, Mark nasceu no Hackney General Hospital em Londres e sempre se considerou um gênio desde pequeno.

"Quando criança me sentia um ser humano superior aos demais e não conseguia me relacionar com outras pessoas." Isso causou imensa confusão nas escolas, já que chutava os demais colegas sem a menor cerimônia e integrou uma gangue chamada Sharks. Orgulhava-se de ter sido esfaqueado uma vez.

Mark era extremamente criativo e vivia um mundo particular e um apaixonado por cinema, especialmente os de ficção científica e de terror. Também adorava ficar horas e horas ouvindo os discos da família, especialmente a música "The Ballad of Davey Crockett", de Bill Hayes. E seria seu velho, Simeon, que marcaria a vida do filho de forma definitiva. Ao sair para comprar um novo disco de Bill Hayes, trouxe, por acaso "Rock Around the Clock", de Bill Haley. Nunca mais o pequeno Marc seria o mesmo.

O amor pela música foi tanto que aos 8 anos improvisou uma guitarra e pediu um kit de bateria pros pais. Aos nove, conseguiu um violão de 16 libras, praticamente o mesmo salário que seu velho recebia. O mundo da música o esperava.

Mark começou a fazer toda sorte de bicos para levantar uma grana e montar sua coleção de discos. Aos 12 anos, montou um trio chamado Susie and The Hula Hoops, onde era baixista. A cantora era Helen Shapiro, que meses depois deixou o grupo e emplacou duas músicas em primeiro lugar na parada britânica. Apesar de negar no futuro, o sucesso da antiga colega foi um sinal que seu futuro poderia ser igualmente brilhante.

Mark, que tanto sonhava entrar pro mundo artístico, teve sua primeira grande chance quando ficou amigo das garotas que faziam parte do show televisivo Oh, Boy, que era gravado no Hackney Empire.

E foi lá que Mark se encontrou com um de seus ídolos, Eddie Cochran. E não só o encontrou, como o garoto de 13 anos teve a sorte de carregar a guitarra de seu ídolo até a limousine que o esperava. O jovem futuro candidato à astro contaria essa história até o dia de sua morte. Seria também na tour britânica que Cochran teria sua carreira precocemente interrompida, quando morreu ao lado de seu amigo Gene Vincent e de sua namorada Sharon Sheely ao caminho do aeroporto de Londres, após furar o pneu do táxi onde estavam. O carro derrapou e acabou se chocando com um poste e Eddie morreu no dia 17 de abril. Um prenúncio???

Aos 13 Mark se apaixonou pelo estilo de vida dos mods, se tornando um deles. Aos 15 virou modelo fotográfico e virou um "JohnTemple Boy". Mas ele ainda sonhava com o mundo musical e aos 17 anos, inspirado em Bob Dylan e Donovan, tentou a carreira de folk singer. Ele tinha agora um nome artístico: Toby Tyler.

Toby conheceu um ator chamado Allan Warren que se ofereceu para ser seu empresário e fez o jovem cantor gravar versões para "Blowin' In The Wind", de Dylan e "You're No Good", de Betty Everett, que o próprio Dylan havia gravado em seu disco de estréia. Essa última, inclusive, foi levada até à EMI, que não se interessou. Toby Tyler morria e Mark voltaria a usar seu nome de batizado, Mark Feld. Logo, adotaria Marc, com "c".

Após uma viagem à França, Marc voltou à Inglaterra, disposto a ser uma estrela de rock e se trancou por meses escrevendo e compondo sem parar. Uma dessas canções, era "The Wizard", que com a ajuda do produtor Jim Economedies, o rendeu um contrato com a Decca. Quando recebeu as primeiras cópias, levou um choque. Achando que Feld não era um nome adequado e sem consultá-lo, a Decca o rebatizou de Marc Bowland. O fato fez com que proibisse o selo de lançar algo sem consultá-lo antes. No entanto, Marc gostou da mudança em novembro de 1965 resolveu encurtar o nome: nascia assim, Marc Bolan.

A Decca investiu na carreira do jovem astro, mas Bolan começou a ver que a vida artística seria bem difícil. Marc lançou um novo single, "The Third Degree", igualmente um fracasso. E ainda um outro, "Jasper C. Debussy", até ter seu contrato expirado e se mudar para a Columbia.

Na Columbia, conheceu o produtor Simon Napier-Bell. Com seu jeito confiante disse que seria o próximo grande rock star do planeta. Bell pediu para ouvir uma demo. Marc disse que não tinha, mas que poderia tocar algumas músicas para ele ali mesmo. Segundo Simon, Marc tocou vários números, suficientes para encherem quatro discos. Após ouvi-lo, pegou o telefone e tentou agendar algumas horas em estúdio para o jovem candidato à estrela.

Simon descobria, no entanto, que Marc era difícil de se conviver. Ele recusava todas as idéias e achava que apenas sua foto em um pôster seria suficiente para vendê-lo. Finalmente conseguiu convencê-lo a colocar um pouco de cordas na música "Hippy Gumbo" e ofereceu às gravadoras. Nenhuma se interessou.

Simon conseguiu com que a própria Columbia lançasse pelo selo Parlophone, em dezembro de 1966. O disco foi massacrado, mas ainda assim conseguiu aparecer no programa Ready, Steady, Go! e viu um jovem guitarrista negro chamado Jimi Hendrix roubar a cena.

Enquanto tentava ajeitar a carreira de Bolan. Simon Napier-Bell, foi ser produtor de duas bandas: os Yardbirds, já com o comando do novato Jimmy Page e o John's Children.

John's Children havia assinado com a Track, selo de propriedade do The Who e comandado pelo empresário Kit Lambert.

Após demitirem o guitarrista Geoff McClelland, Lambert insistiu para ter Bolan em seu lugar. Simon teve então um cuidadoso papo explicando ao seu pupilo que se a carreira solo não estava ainda emplacando, entrar em uma banda poderia ser uma boa opção para amadurecer ainda mais seu talento. Além disso, era o mesmo selo de Jimi Hendrix, a quem tanto admirava.

A vida com a banda não foi fácil. Sempre tímido e recluso, Marc pouco se socializava com os demais. Enquanto caíam de boca nas drogas e orgias, Marc, no máximo, tomava um pouco de vinho e ficava compondo. Outra coisa que o irritava é que ele não decidia os rumos musicais do grupo. Assim, após três compactos, deixou o grupo.

Logo após deixar o grupo, colocou anúncios recrutando músicos para sua banda. O primeiro a responder foi o baterista de 18 anos, Steve Turner, que foi convencido a mudar seu nome para Steve Peregrine Took. Após Steve, Marc convidou um guitarrista de 28 anos chamado Ben, que sofria de úlcera estomacal. Havia também outros dois músicos, sendo um deles que fumava um cachimbo sem parar, mas ninguém consegue se lembrar de quem eram e não há documentos sobre ele. Até o tal "Ben" é pouco lembrado.

Marc começou então a pensar num nome para sua banda. Após pensar em nomes de ficção científica, achou que seria uma ótima idéia de batizar o grupo com o dinossauro mais perigoso e mortal que o mundo havia conhecido, Tyrannosaurus Rex.

O primeiro show do grupo no Covent Garden foi um desastre após poucos ensaios. Os músicos eram horríveis e não se entendiam. Para piorar, a Track ainda era dona dos instrumentos que Marc possuía, levando embora sua guitarra e amplificador. E para não morrer de fome, Steve vendeu sua bateria e comprou um par de bongôs. O grupo era então o duo, com Marc num violão e Steve nos tais bongôs. E eles teriam morrido aí se não fosse a dedicação de um fã, o DJ John Peel.

Peel os levou para tocar no Middle Earth onde era o DJ e quando conseguiu um emprego na Radio One os levou várias vezes ao seu programa e chegaram inclusive a tocar no primeiro Hyde Park festival, em 1968.

E tudo começaria a melhorar com a entrada do produtor Tony Visconti. Mas isso é papo para outra coluna. Um abraço e até a próxima!

Discografia

como Marc Bolan

The Wizard/Beyond The Rising Sun. (novembro de 1965)
The Third Degree/San Francisco Poet. (junho de 1966)
Hippy Gumbo/Misfit. (dezembro de 1966)

com o John's Children

Desdemona/Remember Thomas A Beckett. (maio de 1967)
Midsummer's Night Scene/Sara Crazy Child. (julho de 1967)
Come And Play With Me In The Garden/Sara Crazy Child (agosto de 1967)

 


 

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