100 - U2 - 1960 a 1976


Podem reclamar, urrar e negar, mas fatos são fatos: se os Beatles dominaram completamente os anos 60, ninguém foi maior nos anos 80 e 90 do que esse quarteto de Dublin. Não tem para Nirvana, Smiths, R.E.M., Oasis e quem mais você quiser listar. Fique à vontade... Bono é um cara que muitas vezes deveria ficar com a boca fechada? The Edge toca sempre os mesmos acordes e Larry Mullen Jr. e Adam Clayton formam uma cozinha eficiente, mas sem grande brilho? Sim, sim... mas os Beatles também não eram isso? Um baterista meia-boca, além de um guitarrista limitado, apesar de todo charme místico que tinha (George Harrison)? É claro que a força residia em Paul e John, dois dos maiores gênios da música contemporânea e que jamais terão outra dupla como sombra à altura deles. Mas o U2, como todo grande jogador em uma final, chamou para si o jogo quando todo mundo só malhava a cena rock dos anos 80 e reinventaram o grupo e toda uma audiência sedenta por uma luz-guia. Desde o início ingênuo, passando pelo rock de arena de Rattle and Hum, até deixarem meio mundo de queixo caído com Achtung Baby e Zooropa, eles nunca perderam a majestade e o cetro que herdaram. Se foram herdeiros dignos é uma outra história, mas já que ninguém quis segurar o rojão...

 


Essa é uma coluna especial. Especial, porque tentarei contar a história da banda que mais ouvi em toda minha vida, desde o início e em vários e longos capítulos, que (acreditem) não defini quantos serão ou como terminarei. Mas é mais especial por um motivo puramente egoísta: essa é a centésima coluna Mofo. Sim, você leu bem: eu pentelhei vocês, pobres leitores exatamente 100 vezes nesse espaço, ao mandar o texto, pedir para arrumarem um erro pequeno ou grande que cometi, entre outras atrocidades. Nesses quase 4 anos dentro deste cantinho cativo e que foi a primeira coluna do site, troquei milhares de e-mails com leitores, de todos os tipos: elogios, farpas, pedidos de textos, comentários, sugestões, indicações. Sem falar nos emails que troquei com o João Paulo, Creed e todo os que fazem do Whiplash! o lugar mais bacana que eu poderia ter encontrado. Assim sendo, agradeço a todos pelo incentivo e pelo carinho e que tenham paciência com as próximas 100 colunas que pretendo publicar.

Elogios e agradecimentos feitos (embora insuficientes), essa primeira parte abordará a origem do U2, os famosos anos de anonimato, fazendo uma pequena bio de Bono, Edge, Larry e Adam e a luta que tiveram para começar o grupo. Fotos e fontes de pesquisas serão retiradas do fantástico site oficial da banda, que aconselho a visitarem e das várias biografias que tenho do grupo.

Espere que meus cativos leitores não me abandonem em mais essa missão. E o primeiro capítulo começa com...

1 – Os garotos Paul, Larry, Adam e Dave

a - Paul

Que o U2 nasceu devido a um cartaz que o baterista Larry Mullen Jr. colocou no mural da escola, em 1976, todo fã está careca de saber. Mas como foram os primeiros ensaios e quais eram suas vidas antes de se conhecerem? Quantos eram, de fato, irlandeses de nascimento? Essas e algumas outras curiosidades serão agora comentadas. Vamos começar a viagem com um breve resumo de seu mais famoso membro, Bono.


Bono bebêBono é, de fato, um dos irlandeses originais da banda. É também o mais intranqüilo e delinqüente desde garoto. Nascido no dia 10 de maio de 1960, no hospital Rotunda, em Dublin, Paul Hewson, era o segundo filho do casal Bobby e Iris Hewson. Antes dele, o casal já tinha o primogênito Norman, com sete anos. Mais do que irlandeses, os pais do jovem Paul eram dublinenses e haviam passado toda sua vida na cidade.

Fatos contam que Paul era um chorão de marca maior e que os pais só tinham silêncio quando o pequeno ia para cama, quase desmaiando de tanto berrar. Mas nem dormindo dava silêncio já que tinha uma certa tendência para roncar. Quando acordava e começava a urrar, Norman pegava o caçula para dar umas voltas pelo quarteirão, na tentativa de atenuar o trabalho de sua mãe.

Mesmo mais velho, Paul não cessava de chorar. Preocupada, Iris levou-o para um médico, já desesperada. O médico examinou a criança de dois anos. Não encontrou nada, mas por precaução pediu que a mãe o deixasse no hospital
durante uma semana para ser observado. Ao final desse período, Iris foi buscá-lo e soube que nada havia de errado com o garoto. Aliás, havia sim: Paul chorava quando as enfermeiras não davam atenção para ele. Resumindo: era um garoto extremamente mimado. A situação chegou a tal ponto que seu pai só conseguia ler o jornal, após chegar do trabalho, dentro de seu carro, já que silêncio para tal seria impossível com o caçula acordado.



Bobby e Iris em um café de Dublin, em 1948 Aos três anos, Paul sossegou um pouco e começou a formular suas primeiras frases. Ao invés de berrar passava horas conversando com amigos imaginários no jardim de casa ou mesmo com seu irmão ou com sua mãe. Mas conseguiu pregar bons sustos. Certa vez, seu pai viu o garoto com uma abelha em sua mão e começou a berrar para que Paul se livrasse dela ou poderia ser picado. "Está tudo bem, papai, nós fizemos amizades e estamos apenas conversando", disse o pequeno, com um sorriso no rosto. O pequeno adorava ficar se metendo na vida dos pais, e para conseguirem um pouco de paz, resolveram colocá-lo em uma escola. Matricularam-no na Glasnevin National School, onde começou a viver um dilema. Bobby era católico e Norman tinha sido criado assim. Mas Iris era protestante e pediu que Paul fosse criado sobre sua ótica, o que foi aceito pelo marido. Glasnevin era uma boa escola protestante primária. Nesse tempo, a separação entre as duas religiões na Irlanda estava começando a ficar mais acentuada, mas isso não existia na casa dos Hewson. A melhor amiga de Iris, Onagh Byrne, era católica. Iris e Bobby nunca discutiam sobre religião dentro do lar. Essa proximidade religiosa com a mãe fez de Iris a melhor amiga de seu filho e a única pessoa com quem, de fato, se sentia à vontade. Norman era muito mais velho e seus gostos e amigos totalmente opostos, além de serem completamente distintos em personalidade. Norman era calado, obediente, sério e metódico, enquanto Paul totalmente imprevisível, irônico, desleixado.

Paul não se sentia confortável com as crianças protestantes e isso ficava mais nítido quando ia com Iris aos cultos de domingo. De certa forma se sentia um católico entre todos e acabou aumentando ainda mais sua confusão e causando mais problemas. Aos sete anos, Paul conheceu Derek Rowen e logo viraram grandes amigos. Os dois compartilhavam algumas idéias em comum e possuíam forte independência e personalidade. Derek e Paul adoravam pintar, atividade que faziam na garagem da casa dos Hewson. Mas o auge acontecia quando Clive, irmão mais velho de Derek, pegava os dois e bancava o monitor em aventuras pela vizinhança. Tanta amizade fez que a casa de Derek fosse praticamente seu segundo lar, ainda que fosse pequena e os Rowen tivessem onze filhos.

Paul foi se distanciado de sua família, em especial de seu pai e de seu irmão maior. Norman, nessa época, já tinha um emprego e depois das aulas ia para o trabalho para ajudar nas despesas de casa. Paul era simplesmente visto como o garoto que ainda ia para a escola e que deveria apenas cuidar de seus deveres escolares e não pertubar a mãe durante o dia. Iris sabia que havia essa diferença em casa e tratava de cuidar para que o equilíbrio fosse mantido. Ela tinha uma grande paixão pelos três e era a única que observava e dava atenção para o filho menor. Era Iris quem conversava com Paul, que queria saber dos seus desejos, problemas e frustrações. Aos 11 anos, Paul começou a dar novas dores de cabeça. Ele havia ido para uma nova escola, St. Patrick's Secondary School, o que o desagradou. Paul reclamou para seu pai que queria ir para a mesma instituição em que seu irmão havia estudado. Bobby disse que não seria possível, pois era uma escola muito cara e que Norman tinha conseguido uma bolsa de estudos por sua excelência escolar. E assim foi decidido que ele iria para onde fosse mandado. Mas Paul não era um aluno ruim, pelo contrário. Quando saiu de Glasnevin, era o segundo melhor aluno de sua classe e tinha fama de ser bem comportado, atento, embora um tanto inquieto. O que ele mais gostava realmente eram os passeios que ele fazia pelo parque Griffith, onde ia olhar as garotas e conversar sobre música. Aliás, a única coisa que Paul "aproveitava" de Norman era o seu apurado gosto musical, já que seu irmão tinha em casa discos de Jimi Hendrix, The Who, Rolling Stones e Beatles. Mesmo pequeno, Paul gostava de se juntar aos mais velhos e conversar de "igual para igual" sobre o tema.

Paul odiou a nova escola, a postura com a qual tratavam os protestantes. Como tinha um bom porte físico tentou entrar no time de futebol e de rúgbi, mas acabou optando por jogar xadrez e fez seu pai ensinar os rudimentos do jogo. Revelou-se um jogador talentoso e jogando pelo seu bairro, Ballymun, acabou como vice-campeão em um torneio comunitário com jovens de todos os cantos da Irlanda. Acabou entrando em um clube da cidade, o que aumentou mais sua angústia, já que era preciso atravessar a cidade inteira para treinar e não podia ficar mais com seus amigos. E o ódio à escola ainda era o mesmo. O bom aluno virou um péssimo aluno, que cabulava aulas e era displicente. Ele queria sair de lá, mas não sabia como, até ouvir falar de uma instituição nova que estava sendo inaugurada em Dublin, a Mount Temple. A nova escola causou um frisson ao abolir certas normas do país, já que permitiria que católicos e protestantes estudassem juntos, assim como meninos e meninas. Não haveria uma doutrina específica e eles propunham que tanto crianças de lares humildes como dos mais abastados fossem educados da mesma maneira e até que dividissem carteiras. À princípio, Bobby não concordou em matricular Paul na nova escola, mas acabou sendo convencido por Iris e pelo próprio filho. E Paul amou a nova escola, que era completamente diferente das demais e cheia de possibilidades. Em primeiro lugar, não havia uniforme. Também não havia um grande rigor interno e nas aulas era possível debater idéias com os professores. Paul acabou se tornando um aluno brilhante, especialmente em Inglês, História e em Música. Aproveitava para utilizar todo seu charme, inteligência e arsenal de piadas para conquistar colegas e professores. O local preferido dos alunos nos intervalos era um grande corredor da escola, batizado pelos alunos de "The Mall". Lá era o local onde realmente tudo acontecia, ao menos pelos olhos de Paul. Ali estavam as garotas a serem conquistadas, idéias debatidas e principalmente, o local para que pudesse mostrar todas as suas habilidades. Seu melhor amigo era Reggie Manuel, um menino boa pinta, e que namorava uma garota pela qual Paul tinha verdadeira loucura, Zandra. Paul já tinha sua namorada, Cheryl, mas o que queria mesmo era conquistar a namorada do amigo. Uma de suas melhores idéias para isso foi a de inaugurar um local para que todos dançassem. Paul pensou em uma antiga escola e conseguiu que o reverendo Laing, responsável pelo local, desse sua aprovação. Paul era o principal DJ e em breve Zandra abandonou Reggie para ficar com ele, a quem não considerava tão bonito quanto seu ex-namorado e nem tão interessante. Coisas do coração...

Mas logo ele se cansou de Zandra quando viu a nova garota da escola, Maeve, que de cara odiou o menino, por considerá-lo apenas um agitador. Entretanto, Maeve gostou de seus amigos, e tentou usá-lo para entrar naquela turma. A sorte voltou a brilhar para o menino, já que em algumas aulas estudavam na mesma classe e Maeve começou a reparar que Paul era mais brilhante e articulado do que ela imaginava. A amizade dos dois começou a crescer, as conversas aumentavam e os dois se identificavam muito em suas angústias, em suas esperanças. Logo começaram a namorar seriamente.

Com 14 anos e na nova escola, a vida não poderia ser melhor para o jovem Paul. Na escola certa, com a garota certa, e não sentia mais o medo de ser considerado um peixe fora d'água. Nada poderia atrapalhar sua vida. No verão de 1974, seus pais viajaram para Roma, de férias, e Paul foi para um acampamento de verão em Criccieth, Gales, conhecido como "Bee Dees". Paul foi junto com os irmãos Rowen, Derek e Trevor, seus melhores amigos. Lá, começaram a participar dos estudos dominicais na Associação para Jovens Cristãos, o popular YMCA...



Paul de cara feia ao lado de sua mãe, seu pai e seu irmão Norman, durante férias O bom do local é que após as lições, poderiam passar o resto do dia nas praias e lá, Paul conheceu uma garota chamada Mandy, na qual teve um típico romance de férias.

Em setembro daquele ano, Iris e Bobby foram participar das comemorações de 50 anos de casamento do pai de Iris. O que era para ser uma grande festa virou uma tragédia familiar de proporções imensas. No dia seguinte, o pai de Iris não acordava e o descobriram morto. Seu corpo foi enterrado e cremado no Cemitério Militar em Blackhorse. A tragédia ficaria ainda maior quando Iris passou mal no local e desmaiou. Levaram-na correndo ao hospital quando descobriram que Iris sofrera um derrame cerebral. O prognóstico não era nada animador, e no dia 10 de setembro, Iris morreu. Paul, que tanto rezara em casa e tinha certeza que não perderia sua melhor amiga, ficou completamente arrasado. No dia do enterro, Paul trancou-se em seu quarto, chorando e tocando seu violão. Como poderia viver com seu pai e seu irmão, pessoas com quem pouco tinha convivência, sem a mãe por perto? Mas não foi só Paul que sentiu a perda. Tanto seu pai como Norman ficaram dias mudos e deixaram as tarefas de casa com Paul, já que os dois trabalhavam. Paul agora tinha que lavar, esfregar, passar aspirador de pó, descobrir como a máquina de lavar funcionava, entre outras coisas. Sua vida, em questão de dias, virara completamente do avesso. O mundo parecia que voltava a conspirar contra ele...

b - Larry Mullen Jr.

Larry é o segundo irlandês original do grupo. E o último. É também o mais novo, o fundador do grupo e aquele que, em aspectos emocionais e pessoais, mais se distancia e se aproxima de Bono. Vejamos como...

 

Os pais Larry Senior e Maureen posam com os filhos Larry, Cecília e Mary Larry Mullen Jr. nasceu no dia 31 de outubro de 1961. Larry tinha uma irmã mais velha, Cecília, e anos depois nasceria a terceira criança da prole, Mary e que faria parte de uma seqüência trágica na vida do jovem baterista.

Larry era uma criança calma, comportada, tímida e fechada. Assim como Paul, sua melhor amiga era sua mãe, Maureen. Sua irmã mais velha, Cecilia, também era sua grande protetora e muito ligada a ele. Após ficar um ano em uma escola do bairro, Larry foi transferido para a Scoil Colmcille, e toda manhã seu pai o levava até lá, de trem, completando o restante do percurso a pé. O trabalho de buscá-lo ficava para sua mãe, que fazia todas as vontades de seus filhos e do marido. Maureen era uma mulher extremamente dedicada ao lar e à família. Larry tornou-se um escoteiro, para alegria dos pais e aos oito anos resolveu aprender piano na mesma escola em que Cecilia tomava aulas. Ficou lá durante um ano, mas sua inabilidade para o instrumento acabou frustrando-o. Um dia, Larry viu alguém tocando um pequeno kit de bateria e ficou encantado. Pediu aos pais, que concordaram, desde que ele "pagasse" com tarefas domésticas o custo das aulas para tocar o instrumento, de aproximadamente 9 libras irlandesas mensais. Larry começou a ter aulas com Joe Bonnie, um renomado baterista local e que também era professor. Larry gostava das aulas e do estilo de Joe, mas odiava ter que ler livros técnicos. Ele sempre foi um aluno regular, sem nenhum brilho acadêmico. Fazia apenas o necessário para conseguir boas notas, e na escola, apesar de se destacar por ser um menino extremamente bonito, evitava contatos com outras crianças. Joe deu ao aluno um par de baquetas de borracha para que pudesse praticar alguns exercícios em casa. Larry passou a ficar o dia todo em casa fazendo os movimentos. Certo dia, Larry tomou um susto: sua irmã Cecilia havia feito uma surpresa para o irmão caçula e dado a ele um kit de bateria, que ela havia comprado de um rapaz, por 17 libras. Larry não acreditou no presente e cada centavo que ganhava ou economizava foi gasto em melhorar sua bateria, com pratos, peles e todos os acessórios que queria. Larry também adorava ouvir a coleção de discos de sua irmã, especialmente os LPs de David Bowie e Roxy Music. Nessa mesma época, a irmã caçula de Larry, Mary, morre, em 1973, fato que o baterista nunca gostou de comentar. Meses mais tarde, seria a vez de seu professor, Joe, falecer. Sua filha Monica tornou-se a professora, mas Larry não simpatizou com ela e nem seus métodos e resolveu deixar a escola.



Larry tinha confiança em seu estilo de tocar, apesar de não ter muita técnica, e resolveu praticar por conta própria. Nesse mesmo ano, entrou para a Mount Temple, por decisão de seu pai, que viu naquela instituição vários cursos diferenciados e que poderiam proporcionar uma profissão ao garoto, que não era um entusiasta dos livros. Como Larry adorava tocar e a Mount tinha um curso de música, pensou que seria uma idéia desenvolver essa habilidade de seu filho. Após a morte de Joe, Larry entrou na Artane Boys' Band, mas logo saiu, depois que exigiram que cortasse seus longos cabelos loiros. Larry disse que o faria, mas nunca mais voltou. Desde garoto mostrava uma personalidade muito forte e apesar de sua quietude, sabia exatamente o que desejava. Em seguida conseguiu uma vaga na banda dos empregados das agências de correios. Larry ficou por dois felizes anos, já que o grupo participou de inúmeros festivais, além de tocar todos os estilos musicais, desde músicas folclóricas até as mais tocadas nas emissoras de rádio. O ponto alto para Larry foi o desfile no dia de St. Patrick, mais precisamente na data de 17 de março de 1975.

Aos poucos ele ia criando sua própria música e não suportava mais ter alguém dizendo ou ensinando como deveria tocar. E Larry resolveu que deveria fazer algo a esse respeito. E o algo, encorajado pelo seu tutor Colm McKenzie, era montar uma banda. Mas montar como? Colm sugeriu que ele colocasse um cartaz na escola. Larry aceitou o conselho, mas o fez da maneira mais tímida possível. Apenas dizia que tinha uma bateria e procurava outros músicos para começarem algo. Mas ninguém respondeu de imediato. Até que...

c - Adam Clayton

Oficialmente foi um certo Dave Evans quem primeiro procurou Larry para saber do que se tratava o cartaz, mas o primeiro garoto que realmente foi convidado pelo jovem baterista foi Adam Clayton. Adam era um rapaz totalmente diferente dos que circulavam por Mount Temple. Primeiro pelo seu sotaque britânico, já que Adam nasceu em Chinnor, Oxfordshire, Inglaterra, no dia 13 de março de 1960. O outro motivo era que Adam vestia-se e comportava-se como um hippie, usando lenços, cabelos encaracolados e óculos escuros. Era um garoto extremamente rebelde, mas ao contrário de Paul, sabia como levar seus professores à loucura, sem nunca perder o estilo britânico ou alterar a voz. Uma das coisas que mais gostava de fazer em sala de aula e que provocava risadas de seus colegas e desespero aos mestres, era colocar uma garrafa de café em sua carteira e ficar bebendo, sem parar. Nessas horas, quando os professores, irritados, perguntavam o que ele estava fazendo, polidamente respondia, "estou tomando uma xícara de café, senhor". Outra manobra que utilizava quando não fazia as suas lições de casa era responder da seguinte forma: "veja senhor, eu estou terrivelmente envergonhado sobre isso, mas simplesmente não entendi o assunto. Sei que isso é um tanto estranho e realmente lamento, mas não há nada que eu possa fazer."

Tanta petulância e audácia fez de Adam um nome muito famoso no "The Mall", onde um certo Paul Hewson, vivia zanzando. Várias coisas eram ditas sobre o tal Clayton e as mais comuns eram que sua família era rica e que ele possuía um baixo elétrico. Foi através desses boatos que Larry foi atrás de Adam. "Olá, ouvir dizer que você tem um baixo e estou formando um grupo, toco bateria e coloquei um cartaz na escola. Você teria interesse em se juntar a mim?", foi mais ou menos a pergunta que Larry fez. Adam adorou a proposta, mas como achou que fosse alguma atividade oficial da escola e não um convite que nada tinha a ver com os estudos, ignorou no início.



O pequeno Adam ao lado do pai, Brian Adam era filho de um piloto das Forças Armadas Britânicas, Brian, e sua mãe, Jo, havia desistido de ser aeromoça. Quando Adam tinha cinco anos, a família resolveu abandonar a Inglaterra e ir morar em Dublin. Brian recebera um convite para ser piloto comercial da Aer Lingus, e aceitou já que o salário era muito superior. Assim, Adam partiu com seus pais e sua irmã menor, Sarah Jane, que ele chamava de Sindy.

Os Claytons moravam no mesmo bairro dos Mullens, Malahide, uma comunidade basicamente protestante. Quando fez oito anos, Adam foi enviado para a escola Castle Park, no outro extremo de Dublin. Os pais relutaram no início, por acharem que passariam boa parte do tempo sem seu filho, mas no final, acharam que seria o melhor para a educação de Adam. Castle era um internato e os meninos ficavam em dormitórios governados por alunos mais velhos. Adam não gostou nada de ter deixado sua casa para ir morar em Castle, já que voltaria para a casa de seus pais apenas nos finais de semana. O grande pesadelo para Adam eram as tardes de domingo, quando sua mãe preparava um agradável chá para o filho. Adam sabia que após a refeição deveria voltar para a escola. Às cinco horas, após dar adeus para Jo e Sindy, entrava no carro junto com seu pai e viajavam por cinqüenta minutos até o odiado lugar. Adam detestava as regras da escola, como usar sapatos marrons dentro do dormitório e pretos fora dele. Além disso, era proibido ver televisão ou ouvir músicas, pois eram consideradas coisas decadentes. Os meninos eram obrigados a gostar de praticar esportes, a ser entusiastas das práticas físicas ou não poderiam ser considerados uma pessoa da fraternidade. Adam recusava tudo isso e fazia uso de seu charme e inteligência para se esquivar de tais leis. Adam era definido como um bom aluno, embora um pouco descuidado. Seu único amigo era Phillip Thursby, filhos de paquistaneses, com quem adorava conversar, ouvir pássaros cantando e iam sempre à Sociedade Gramophone para ouvir discos de música clássica. Mau comportamento na escola era severamente punido com surra ou sessões de ginástica, aplicadas pelos alunos mais velhos. Adam conseguia de alguma forma ou outra, não ser muito perseguido, até que com 13 anos, deixou claro que não toleraria mais isso. Adam era um garoto educado, paciente, gentil, mas não era servil e isso todos sabiam.



Adam, com o uniforme da Castle, ao lado de sua irmã Sindy Sua agressividade começou a aflorar perto dos 15 anos. Ele acabou sendo escalado para jogar críquete e se recusou, mas mesmo assim foi obrigado a integrar o time. Adam foi escalado, jogou, mas claramente prejudicou o time. Após o final da partida, foi chamado pelo treinador que começou a chamá-lo de imbecil, incompetente. Adam retrucou dizendo que o jogo era imbecil e não ele.

Ao final do ano, Adam foi mandado para outra escola, St. Columba. A instituição não fazia parte da idéia inicial de seus pais, que queriam enviar o menino a uma instituição mais prestigiosa na Inglaterra, mas Adam se revelou um aluno apenas regular. Um outro ponto também agravaria a vida do garoto. Seu pai havia sido transferido temporariamente para Singapura, e a escola, novamente um regime de internato, era a única solução. As coisas pouco mudaram e quando os pais perceberam que o filho estava decaindo em suas notas, entraram em desespero. Enquanto isso, Adam começou a fazer amigos, em especial com John Lesley, amante de rock e grupos como Grateful Dead, Cream e Crosby, Stills, Nash & Young. John tinha um violão e Adam ficava fascinado com as fitas de seu colega e com o som que tirava de seu instrumento. Quando um aluno mais velho conseguiu autorização da escola para converter uma sala abandonada em um local para os alunos ouvirem e tocarem música, Adam nem pensou muito. Começou a aprender alguns acordes e comprou uma guitarra usada, por 12 libras. John então persuadiu o amigo a comprar um baixo elétrico e montarem um grupo. Adam ficou em dúvida. Apesar de gostar de música, não se considerava muito musical e sabia que John era muito melhor instrumentista do que ele. Depois de pensar na idéia, resolveu aceitar a sugestão. Ligou então para sua mãe e pediu que ela lhe desse o instrumento. Jo aceitou de imediato a oferta do filho, e pagou 52 libras em um baixo para Adam. Mesmo pagando caro pelo instrumento, Jo ficou feliz ao ver o filho realmente empenhado e entusiasmado com alguma coisa, e porque, de certa forma, Adam começou a melhorar suas notas na escola. Entretanto Adam mais gostava de olhar para o instrumento do que propriamente tocá-lo. E Adam quase não tocava, esperando que algo ou alguma coisa o inspirasse. No verão de 1975, Adam foi visitar os pais, que acolheram o filho com muito carinho. Mas ele continuava a ter sérios problemas dentro da escola e várias vezes foi punido por rebeldia ou insolência. A situação chegou a um ponto tal, que Jo teve que ligar para o diretor da escola, quando soube que seu filho havia sido expulso da instituição por várias faltas. Adam se tornava uma criança problemática e seus pais resolveram, irritados, que o colocariam em uma escola pública, e economizariam o dinheiro com a educação de Adam. E assim, foi mandando para a Mount Temple. Adam reclamou que os dois estavam interrompendo sua carreira musical ao lado do amigo John, mas foi voto vencido. Adam obedeceu, mas resolveu que de agora em diante, não se curvaria mais às leis e normas de qualquer instituição e que aquela seria a última vez. Adam estava muito irritado com sua vida e com seus pais...

d - Dave Evans

Se The Edge é considerado o cérebro da banda, o responsável por dar forma às idéias do grupo, não é por acaso. Desde criança, Dave Evans sempre foi uma criança muito atenta, inteligente e apesar de parecer dispersivo ou aéreo, sempre se manteve atento com aquilo que realmente o interessava. Sempre foi considerado entre os membros do U2 como o mais brilhante intelectualmente e o mais tenaz de todos. Possui a confiança de Larry, a vivacidade de Bono, a polidez de Adam e algo a mais. Assim como Adam, Dave é inglês. Nasceu no dia 8 de agosto de 1961, em Londres, na maternidade Barking. Sua família mudou-se para a Irlanda quando o pequeno Dave contava com um ano. Apesar de ter nascido inglês, era filho de um casal galês. Garvin e Gwenda Evans eram pessoas que haviam nascido em Llanelli, cidade conhecida pelos times de rúgbis e pelos corais de mineiros, uma das maiores tradições musicais daquele país. Garvin e Gwenda eram de origem protestante e por coincidência, ambas as famílias foram para a Inglaterra em busca de uma vida melhor. Se encontraram na escola e juntos foram para a Universidade e casaram logo após a formatura. Garvin diplomou-se como engenheiro e Gwenda como professora. Depois de dois anos de serviço obrigatório no exército, Garvin pediu transferência para seu país de origem, mas para sua surpresa e choque foi transferido para a Irlanda do Norte. Mas acabaram gostando do lugar e quando teve nova chance de transferência poderia optar entre Dublin ou Wigan, norte da Inglaterra. O casal escolheu a capital do Eire e, nessa época, já contavam com dois filhos. Além de Dave, havia Dick, com três anos. A mais nova, Gill, nasceria já em solo irlandês.



Gwenda com os filhos Dick, a pequenina Gill no colo, e um sério DaveA família Evans mudou-se então para Malahide mesmo bairro dos Claytons e dos Mullens. Era uma família normal, muito educada e muito popular na vizinhança. Garvin começa a prosperar trabalhando como consultor, por conta própria. Era assíduo freqüentador da igreja presbiteriana e fundador do Coral Masculino dos Galeses de Dublin, além de grande apaixonado pela seleção de rúgbi de seu país natal. Gwenda era igualmente ativa e integrava a Sociedade Musical de Malahide. O jovem casal amava música e tocavam piano em casa. Gwenda tocava músicas para os filhos pequenos.

Dos quatros futuros integrantes do U2, foi o Dave o que teve a infância mais feliz, menos atribulada e mais segura. Na escola, apesar de tímido e quieto, mostrava-se um aluno brilhante, obediente e participativo. Fora dela, era uma criança feliz, com muitos amigos e divertido. A única coisa que o incomodava um pouco era seu sotaque carregado, influência de seus pais. E nada mais.


Dick e Dave. Reparem nas orelhas... Dave foi parar na Mount Temple por influência de seu melhor amigo, Shane Fogarty. Shane vivia dizendo a ele o quanto a nova escola era agradável, divertida e que tinha um garoto excêntrico chamado Paul Hewson que vivia aprontando das suas. Dave acabou mudando para lá, mas não gostou do ambiente. Dave era uma criança que gostava de discrição, de não chamar atenção. Como nunca foi bonito e muito tímido, pouco se arriscava a conquistar as belas meninas da escola, embora se sentisse, ocasionalmente atraído por algumas. O resultado é que acabou se aprofundando nos estudos, e de fato, nos primeiros anos, Dave vivia praticamente só dentro da instituição. Era uma situação ambígua, pois Dave gostava de fazer amigos. Nas poucas oportunidades em que deixava a inibição de lado, se mostrava um garoto com uma inteligência aguçada, ótimo papo e uma companhia agradável. Mas esses momentos eram raros. Dave, seguindo o exemplo dos pais, adorava as aulas de música, e, em especial, tocar violão. Sua primeira paixão foi a música flamenca e a espanhola, em geral. Também aprendeu algumas noções de piano e demonstrava um excelente ouvido para a música. Junto com seu irmão Dick, começou a tirar canções dos Beatles. Dick havia ganho o instrumento de sua mãe que achou em uma loja por apenas 1 libra, mas sem cordas. Após ajeitar o instrumento acabou dando a seu filho mais velho.

Dick foi uma importante influência na vida de seu irmão. Como o pai, era apaixonado por eletrônica e escrevia artigos para a Everyday Electronics, uma revista que ensinava como as pessoas poderiam construir aparelhos eletrônicos de maneira fácil. Um dia, Dick viu na capa da mesma revista, dicas de como construir uma guitarra em casa. Trancou-se em casa com seu amigo Barry O'Connell, tendo o irmão menor ao seu lado. Dave acompanhava silenciosamente o trabalho de seu irmão, fascinado. E acabou descobrindo que a música seria sua profissão.

2 - O primeiro encontro

Após ter conversado com Adam, Larry foi perguntar para Dave se ele gostaria de começar um grupo. Dave topou, mas com a condição de que pudesse levar seu irmão junto. Larry aceitou. Era a chance dos irmãos Evans estrear a nova guitarra, toda amarela, mas que produzia uns sons estranhos. Os dois encontraram então um jovem cabeludo com óculos escuros no ponto de ônibus. Era Adam Clayton, que carregava seu baixo embaixo do braço e um amplificador no outro. Os Evans olharam para Adam admirados e percorreram todo o caminho até a casa de Larry conversando e estabelecendo uma amizade. Adam encantou os dois falando milhões de gírias do mundo do rock. "Esse cara manja muito", pensaram os irmãos. Mas eles não foram os únicos que caminharam até a avenida Rosemount. Vindo de outro lado, Paul Hewson resolveu conferir o convite daquele jovem baterista que tanto o impressionara na escola, pela sua beleza e timidez. Mas Paul não foi sozinho e acabou carregando Ivan McCormick junto.

Quando Larry olhou para aqueles cincos garotos, levou um susto. Ele havia procurado um baixista e um guitarrista e de repente, apareceram um baixista e QUATRO guitarristas! "Bem, e quem cuidará dos vocais?" perguntou Larry. Ninguém se habilitou.

Apesar de todos freqüentarem a mesma escola, nunca haviam ficado juntos ou sequer conversado. Os gostos musicais batiam em poucas coisas. Todos gostavam de Beatles, Stones e Bowie. Larry amava as bandas glitters como o Sweet. Dave adorava o som da guitarra de Rory Gallagher, fosse com seu grupo Taste ou solo, e até de Yes. Paul gostava de Elvis e estava antenado com o novo movimento que invadia o mundo, chamado punk rock. Adam conhecia tudo sobre a cena de San Francisco dos anos 60. Apenas Dick e Ivan não tinham gostos claros ou não quiseram comentar. O primeiro trabalho para Larry era acomodar seis pessoas em um espaço exíguo dentro de sua casa. O único local que parecia possível seria a cozinha e para lá foram. Larry precisou abrir a porta de trás para abrigar sua bateria. De maneira desordenada, começaram a tocar canções dos Stones, como "Brown Sugar". Mas a balbúrdia agregada ao som horroroso que faziam chamaram atenção de toda a vizinhança. Logo, o quintal estava cercado de curiosos, que riam. Irritado, o baterista ligou a mangueira de água em cima de sua primeira "platéia" e espantou os curiosos.

O primeiro encontro deixou claro alguns pontos: Larry e Dave sabiam tocar, assim como Dick, embora sua guitarra desafinasse clamorosamente. Ivan desistou e nunca mais voltou. Paul não era bom guitarrista, mas tinha atitude e queria tentar. E a maior decepção acabou sendo Adam, que após tanta pose, gíria, seu próprio amplificador e atitude, mostrou que não sabia tocar nada. Mas Adam tinha tanta vontade e atitude quanto Paul. Bem, e quem faria o quê? Estava claro que Paul era um guitarrista medíocre, se tanto, e que ele gostava muito mais de falar do que de tocar, e que tentava chamar toda a atenção para ele da mesma maneira que agia em casa ou na escola. Adam viu isso e tentou tomar a frente dizendo que eles poderiam começar a ensaiar e até arriscar algumas apresentações, já que Adam jurava conhecer algumas pessoas do meio. Mas depois de verem como manejava seu baixo, todos pensaram se aquilo não seria apenas outra bravata. Ok, eles iam tentar. E qual seria o nome do novo conjunto? A escolha acabou sendo Feedback, uma referência ao som distorcido que saía dos amplificadores de Adam. Dick poderia fazer parte da banda, se sua guitarra assim permitisse. E o som começou para os cinco jovens. Mas nada seria muito fácil...

 




 

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