O primeiro EP, de 1979 (e que me
traz tristes lembranças, quando finalmente após
anos de busca consegui achar em um leilão que venci e não
pude comprar por falta de dinheiro...), e o lançamento
de Boy, no ano seguinte, começam a formar um culto imenso
sobre o U2, ao menos na Irlanda. Algumas revistas mais animadas
consideram a estréia em vinil do grupo como um fato tão
relevante quanto o primeiro do Velvet Undeground ou Clash, para
delírio dos quatro jovens roqueiros. Saiba como foi o concurso
que escolheu a ordem das músicas que entrariam no U2 Three
(o tal disquinho que me escapou...), a inusitada maneira de distribuição
do mesmo, as sessões com Martin Hannett, produtor do Joy
Division, a escolha de Steve Lillywhite, a concretização
das imagens de Bono em letras de música, as tensões
entre a religião e o mundo do rock. Sem contar as capinhas
de todos os compactos do grupo da época da CBS e que vocês
poderão caçar em lojas virtuais e de leilões.
Isso e muito mais a partir de agora...
Antes de começar
esse texto, um aviso aos navegantes: mais uma vez (e por razões
que desconheço totalmente), Fernando P. Silva e Márcio
Ribeiro farão as traduções das letras de
Boy. E o acordo é ainda mais enriquecedor,
pois todos os discos do U2 serão devidamente traduzidos
e o link das letras estarão sempre no final das colunas.
Por isso, se você é fã da banda e sente dificuldade
em entender algumas letras, preparem a impressora e o cartucho
de tinta, pois estarão aqui devidamente mastigadinhas.
Também gostaria
de agradecer à enxurrada de emails que recebi por causa
das duas primeiras partes da biografia da banda. Esperava alguma
repercussão, mas não tanto, especialmente do público
feminino que até me mandou alguns beijinhos (será
que elas repararam na minha cara de bandido na foto que encerra
essa coluna? Acho que não...)
Agradecimentos feitos,
vamos a mais um capítulo da saga dos meninos de Dublin...
1 – Larry
pensa em deixar o grupo
A
morte de Maureen atingiu duramente o já recluso e introspectivo
Larry. A perda de sua melhor amiga, confidente e incentivadora
simplesmente destruiu a vida do jovem baterista. Por muito tempo
Larry ficou sem conversar com alguém, mostrando um semblante
triste e desolado. E Larry teria deixado o U2 ainda no começo,
se Bono não tivesse tentando uma aproximação.
O vocalista, mais do que ninguém compartilhava e entendia
a dor, pois havia perdido sua mãe em condições
também surpreendentes e chocantes, e porque tinha uma ligação
tão forte com sua mãe, da mesma maneira que Larry
com Maureen.
“Você não
pode deixar a banda. Faça isso por si e pela sua mãe,
que tanto te apoiou. Não nos deixe, afinal somos sua família
também, Larry”. Essa frase repetida um sem-número
de vezes por Bono acabou tocando o baterista, que resolveu continuar
com o grupo, para alívio de todos.
Superado momentaneamente
o drama, Paul McGuinness começou a rodar por toda Dublin
com a fita demo nas mãos atrás de alguma promoção.
As primeiras investidas foram desastrosas. Ninguém parecia
interessado no U2. Paul também tentou em Londres, com resultados
igualmente desanimadores.
A solução
era fazer com que a banda se apresentasse cada vez mais para que
conquistasse novos fãs. Em fevereiro de 1979, tocaram no
Dark Space Festival, um festival de 24 horas ininterruptas com
novas bandas e que tinha como atração principal
os londrinos Mekons.
2 – U2 Three
Em março, Paul fez
um contato com Jackie Hayden, da CBS. Junto com Ian Wilson, os
três bolaram uma idéia diferente: “que tal
lançarmos um compacto de 12 polegadas com uma música
no lado A, duas no lado B e que sejam escolhidas por ouvintes
em um programa de rádio?”
Hayden adorou a idéia e chamaram Chas de Whalley para produzir
o que primeiro seria uma nova demo com as três músicas:
“Out of Control”, “Boy/Girl” e “Stories
for Boys”.
Em junho o grupo foi uma
das atrações de um festival no McGonagles, chamado
“Xmas in June, the Jingle Balls”.
A banda acabou aceitando
então um acordo com a CBS para comercializar o single apenas
na Irlanda, já que a pressão em cima dos integrantes
e de Paul era grande. Não havia dinheiro para se manterem
apenas tocando e Larry e Edge sofriam pressão por parte
dos pais, especialmente o baterista, que havia largado o emprego.
O acordo foi feito e em setembro de 1979 é lançado
U2 Three (ou U23 ou ainda U2-3
como seria também conhecido).
Sobre o disco, Hayden explica
o processo e a histeria que ele causa nos fãs até
hoje: "Eu jamais sonhei que aquele pequeno trabalho que realizei
virasse um fato histórico. Como poderia imaginar que aquelas
1000 cópias numeradas do primeiro single de uma banda chamada
U2 fosse virar um artigo de colecionador e tão disputado?
Eu apenas estava contente por fazer algo tão diferente,
tão criativo e por ser um fã deles desde o começo.
Lembro de sentir uma grande excitação por fazer
parte de todo o processo de criação do lançamento,
mas nunca, nunca mesmo, esperava que eles virassem a maior banda
de rock do mundo.”
Hayden relembra de toda
a aventura: "Nós combinamos com o Dave que ele tocaria
as três canções em seu programa noturno, durante
uma semana e que os fãs votariam em qual delas sairia no
lado A. Foi uma jogada comercial brilhante para a CBS, porque
nós promovíamos o grupo criando um single numerado,
de uma banda que nunca havia lançado algo anteriormente.
Além de ser algo totalmente inusitado, dava um charme todo
especial. Era simplesmente parte de um plano em dizer que essa
não era uma banda qualquer com um disco qualquer e sim
o primeiro passo para criar uma identidade especial para o U2.
A única situação parecida aconteceu quando
os Beatles lançaram o The Beatles (também
conhecido como White Album) numerados, mas não
era em uma edição limitada”.
Após uma semana de execução, os ouvintes
acabaram escolhendo "Out of Control" como o lado A,
e "Boy/Girl" e "Stories For Boys" no lado
B. Para quem gosta de memorabilia, mais um dado: o U2
Three é o número 12-7951 do catálogo
da gravadora. Desde o início, o single de 12 polegadas
foi numerado com a clara idéia de tornar-se um item para
colecionadores, o que de fato aconteceu.
Para garantir uma maior
identidade, Hayden, junto com alguns funcionários da CBS,
cuidaram para que o disquinho chegasse às lojas.
"Penso que fomos bem
espertos usando com muita habilidade essa edição
numerada. Doamos umas poucas cópias para as estações
de rádio colocarem em concursos. Então, tentamos
vender alguns números especiais para as lojas. Se a loja
pegasse o exemplar 500, por exemplo, poderia ficar com 12 cópias.
Se pegasse o número 999, ficaria com seis. E em dois dias
todas as mil cópias foram vendidas. Sei que para os padrões
americanos, é um número ínfimo, mas aqui
na Irlanda era uma vendagem expressiva, ainda mais sendo um grupo
novo e desconhecido e toda a operação foi considerada
espetacular, embora alguns executivos da CBS tenham achado irrelevante
o feito. Mas me senti bem quando vi que todo o plano original
foi executado à perfeição”.
Além
de Chas de Whalley, o grupo também assinou a produção.
O disco também saiu no formato de 7 polegadas. E tome mais
memorabilia: a numeração do disco de 7 é
UKTM No.B81 8091.
Uma curiosidade é
que o som do disco é o mesmo gravado na tal demo por Chas,
o que significa algumas limitações sonoras. Mas
o impacto foi grande e para personalizar ainda mais aparecia na
capa a foto de um menino que ficaria famoso mais tarde emprestando
seu rosto nas capas dos discos Boy e
War: o garoto era Peter Rowen, irmão mais novo
de Guggi, e que tinha o estranho apelido de Radar. Peter contava
apenas com seis anos na ocasião.
A idéia de incluí-lo
na capa foi de Bono que considerava Radar “um menino esperto
e inteligente”.
A grande canção
do disco é mesmo “Out of Control”, que Bono
compôs no dia em que comemorou seus 18 anos. “Ela
fala sobre a sensação que tive nesse dia e percebi
que aos 18 anos eu não tinha nada a ver com as duas decisões
mais importantes da minha vida – estar vivo ou morto”,
explicou o cantor em uma entrevista à Hot Press, em 1979.
E se você quer morrer correndo atrás de outra curiosidade,
saiba que a canção saiu numa compilação
chamada Irish A-Z of Rock Compilation, e que
“Stories for Boys” está na compilação
chamada Just for Kicks, com um texto de Fanning.
Caso não ache o
EP ou os compactos, não se mate: as duas primeiras canções
foram regravadas em Boy. Já “Boy/Girl”, existe
uma versão... ao vivo e no lado B, do single “I Will
Follow” (que eu tenho...). ok, podem se matar agora...
Eis a letra de “Out
of Control”...
Out of Control
Monday morning
Eighteen years dawning
I said how long.
Say how long.
It was one dull
morning
I woke the world with bawling
I was so sad
They were so glad.
I had the feeling
it was out of control
I was of the opinion it was out of control.
Boys and girls
to school
And girls they make children
Not like this one.
I had the feeling
it was out of control
I was of the opinion it was out of control.
I was of the feeling
it was out of control
I had the opinion it was out of control.
I fought fate
There's blood at the garden gate
The man said childhood
It's in his childhood
One day I'll die
The choice will not be mine
Will it be too late?
You can't fight fate.
I had the feeling
it was out of control
I was of the opinion it was out of control
Nessa época, Bono
criou uma presença teatral de palco, inspirado no ídolo
David Bowie. Bono se intitulava como “The Boy and the Fool”,
uma referência à sua postura um tanto quanto ingênua
e nervosa em palco, já que mostrava sinais de que adorava
falar sem parar ao microfone enquanto fazia mímicas ou
tentava dançar de forma totalmente desarticulada.
3 – Fracasso
em Londres
Com o disco lançado,
Paul conseguiu um empréstimo de 3 mil libras para custear
uma pequena incursão aos palcos londrinos. Mas Bryan Morrison,
que havia feito o empréstimo, deu para trás dias
antes o que fez a banda montar uma operação de emergência
para levantar o dinheiro. Foi um corre-corre dos diabos. Paul
conseguiu algum dinheiro junto a dois velhos amigos; Larry conseguiu
convencer seu pai a emprestar 100 libras, assim como os pais de
The Edge e até Bobby Hewson, que jurou nunca ajudar Bono
com dinheiro, abriu a carteira vendo tamanha dedicação
do filho. Apenas Adam não conseguia arrancar dinheiro de
sua mãe. A única coisa que Jo Clayton aceitou emprestar
para Adam foi o novo veículo da família para que
ele e The Edge fossem a um ensaio. Miseravelmente Adam bateu o
carro em um caminhão e Edge, para proteger o rosto, já
que estava sem o cinto de segurança, colocou a mão
na frente. O resultado foi um pequeno corte na mão, para
desespero ainda maior de Paul, Bono e Larry. Por sorte, não
foi necessário dar pontos. Um curativo solucionou o problema
e a banda embarcou para Londres sem saber onde e como tocaria
em clubes.
Os shows foram um pesadelo
para o grupo, em parte pelo nervosismo de tocarem em Londres,
parte pela frieza do púbico e também pela dor que
The Edge sentia em sua mão machucada. Uma das poucas apresentações
relevantes foram os shows que realizaram com os Talking Heads
e com o OMD, em Londres.
Ao voltarem para Dublin,
Paul percebeu que sem uma boa retaguarda técnica não
seria possível produzir um bom show. Os fiascos em Londres
acabaram melando um possível acordo com a gravadora A&R.
Pensando nisso, Paul ligou para um sujeito baixinho que tinha
deixado boa impressão nele quando o U2 tocara em Cork:
Joe O’ Herlily.
4 – Banda
do ano na Irlanda
Em janeiro de 1980 a banda teve ótimas notícias
ao saber que havia vencido em cinco categorias na eleição
anual da revista Hot Press. Apesar dos prêmios, o grupo
vivia dias de angústia, pois o sucesso acontecia apenas
na Irlanda. Para tentar ganhar algum dinheiro, o grupo gravou
mais um single e partiu para uma nova excursão dentro do
país.
Another Day
era o novo single. Lançado em fevereiro, o compacto trazia
“Twilight” no lado B e foi descrito por Dermot Stokes,
da mesma Hot Press como um disco que prova que o U2 tinha tudo
para ser uma banda distinta das outras, exalando amor nas duas
faixas. Bono disse que o segundo compacto foi inspirado em Low
de David Bowie e nas idéias de The Edge: “The
Edge estava usando um pouco de eco na guitarra e dizendo para
fazermos o mesmo pois nos levaria a outro lugar, para fora do
concreto e dentro do abstrato. Eu acho o uso da atmosfera muito
interessante porque a estética punk é incrivelmente
limitada, não apenas musicalmente, mas em termos de códigos,
como se houvesse uma cartilha. E nessa época eu ouvia os
discos do Joy Division e gostei muito exatamente pela atmosfera.
Era como se fosse um filho de Bowie e isso nos levou a esse caminho.”
Another Day
foi igualmente lançado pela CBS, mas apenas no formato
de 7 polegadas. O disco inicial trazia uma foto da banda, em preto
e branco, na capa, e um desenho de Bono na contra-capa, com uma
versão “demo” de Twilight no lado B. Bono então
conseguiu uma nova capa para o disco, desenhando dois balões,
um preto e outro branco, e escrevendo algumas linhas agradecendo
a Elsie e ao Lypton Village. Steve Averill acabou dando uma limpada
no desenho do vocalista. Vale dizer que as faces dentro dos balões
são inspiradas no antológico filme “The Cabinet
of Dr. Caligari”, e que Chas de Whalley produziu o trabalho.
Por ser uma canção
inédita em discos, coletâneas ou qualquer lançamento
oficial, deixo aqui a letra da música...
Another Day
Wake up, the dawn
of another dull day.
Take up your dreams and on your way.
Oh, oh, oh.
Daylight, mother
stands in the hall.
Last night, head against the wall.
Oh, oh, oh.
When night turns
to day
And the children come out to play
Another day.
Stop, shout.
They come my way.
Oh, oh, oh, oh.
Boy, salute in
a street uniform
Toy, soldier ripped and torn
Oh, oh, oh.
When night turns
to day
And the children come out to play
Another day.
Stop, shout.
They come my way.
Oh, oh, oh, oh
No show de encerramento da turnê, no dia 26 de fevereiro,
em show realizado no Estádio Nacional de Boxe, Bono anunciou
que o U2 não ficaria muito tempo com a CBS, pois haviam
conseguido um acordo com o selo Island, por intermédio
de Bill Scout. A excursão foi a primeira a contar com o
apoio de Joe O’Herlihy na parte técnica E McGuinness
ficou particularmente ansioso com a presença de Bill no
concerto, pois temia não ter outra chance de conseguir
um contrato para o grupo. O encontro com Bill antes de subirem
ao palco foi fechado nos seguintes termos: seria um contrato de
longa duração, para quatro discos de material inédito
que a Island aceitaria sem interferir na produção
artística dos discos. Também teriam dinheiro para
excursionarem pelo Reino Unido, Europa e América. Além
disso, a CBS poderia continuar a distribuição na
Irlanda, se o U2 assim quisesse.
5 – Martin
Hannett e Steve Lillywhite
Em
maio de 1980 lançam o primeiro disco pela nova casa, 11
O’ Clock Tick Tock. A canção é
um marco na carreira do grupo por vários motivos, a saber:
é o primeiro disco a ser gravado no estúdio Windmill
Lane, “casa oficial” da banda até os dias de
hoje; foi o primeiro lançamento do grupo por todo Reino
Unido; foi eleita como a melhor canção da banda
por seus primeiros fãs e a única vez em que trabalharam
com um sujeito excêntrico e conhecido por sua incrível
habilidade musical, o produtor Martin Hannett, o maestro dos discos
Unknown Pleasures e Closer,
ambos do Joy Division, banda que tanto encantara Bono.
A idéia para construírem
a base rítmica veio após um show em que abriram
para o Orchestral Manoeuvres in the Dark e os Talking Heads, no
Camden’s Electric em 1979. O grupo queria compor algo contra
a estética tribal que dominava a cena e para isso The Edge
e Adam tentaram construir uma massa sonora em seus instrumentos.
A inspiração para o nome da canção
veio de um bilhete que Gavin Friday deixou à porta da casa
de Bono quando o vocalista esqueceu o horário de um compromisso.
Inicialmente, a canção se chamava “Silver
Lining” e foi apresentada pela primeira vez em agosto de
1979, em um concerto no Howth Youth Club. Seria a primeira vez
que Edge usaria uma máquina de eco chamada Memory Man.
O
disco é extremamente bem produzido por Martin, que leva
suas idéias desenvolvidas com o Joy Division para o U2,
colocando um clima meio lúgubre e até cavernoso
para o trabalho. Bono diria anos depois que Martin havia virado
o produtor da moda e que sentiu que a gravação do
disco havia sido apenas um passatempo para Hannett, sem, no entanto,
negar que aprenderam muito com ele.
Veja a letra da canção…
11 O'Clock Tick
Tock
It's cold outside
It gets so hot in here
The boys and girls collide
To the music in my ear.
I hear the children
crying
And I know it's time to go
I hear the children crying
Take me home.
A painted face
And I know we haven't long
We thought that we had the answers
It was the questions we had wrong.
I hear the children
crying
And I know it's time to go
I hear the children crying
Take me home.
Say so, say so
Say so, say so
Com um lançamento
no mercado britânico, o grupo partiu para uma nova investida
pela Inglaterra. Enquanto Paul McGuinness tentava fazer com que
Joe integrasse a caravana da banda com a função
de engenheiro de som, Bono, The Edge e Larry aprofundavam os estudos
sobre a Bíblia em um grupo chamado Shalom. Além
dos três, Ali, Maeve, Pod, Guggi e Gavin faziam parte do
grupo. Influenciados pela doutrina do Shalom que afirmava que
a não ser que você nascesse novamente através
da água e do espírito não seria aceito no
reino do paraíso, o grupo se reunia duas vezes por semana,
com reuniões que podiam durar até três horas.
Para Larry, a reunião era uma maneira bastante satisfatória
para diminuir a saudade que sentia de sua mãe e encontrar
paz interior. Sem saber, o U2 estava criando uma relação
muito mais forte entre seus integrantes, apesar de Adam Clayton
não participar de tais reuniões.
Enquanto isso, McGuinness
começava a tratar de uma nova estratégia para melhor
gerenciar o grupo. Cansado de ser passado para trás por
várias pessoas do meio e sonhando colocar a banda em palcos
da América, Paul resolveu seguir o conselho de Chris Blackwell,
capo da Island e contactar Frank Barsalona, da agência Premier
Talent, em Nova York. Blackwell fez o primeiro telefonema para
Frank e ficou acertado que McGuinness viajaria para Nova York,
em agosto, com uma fita da banda para passar a Barsalona. Paul
viajou, ligou para Frank agendou uma reunião, mas não
apareceu, pois no mesmo dia, seu pai, Philip morrera de um ataque
cardíaco fulminante, obrigando Paul a voltar para Dublin.
Nesse mesmo mês, a banda entraria em estúdio para
gravar outro compacto. A Day Without Me é
a primeira parceria da banda com o produtor Steve Lillywhite.
Steve era conhecido por ter trabalhando anteriormente com Ultravox,
Siouxsie and the Banshees e Peter Gabriel. Steve era um dos cotados
para produzir o que seria o primeiro disco da banda, principalmente
depois que Martin resolveu se afastar dos estúdios, chocado
com o suicídio de Ian Curtis, do Joy Division. Para ver
como fluiria o trabalho, concordaram em trabalhar em um compacto.
Totalmente diferente do
single, anterior A Day Without Me é uma
canção com muito mais volume sonoro, tanto na guitarra
quanto na bateria. O tema abordado é o mesmo de “Out
of Control”: a visão juvenil do conceito de vida
e morte, além do suicídio. O disco acabou sendo
votado como a segunda melhor música de 1980 pelos leitores
da Hot Press. O lado B trazia “Things To Make and Do”.
Uma curiosidade: na prensagem irlandesa, consta ainda o selo CBS
e o grupo é chamado de U-2. Isso eu sei, porque tenho uma
cópia do compacto...
Ela
foi também o cartão de visitas da banda na América,
quando o DJ Alan Carter de uma rádio de Boston comprou
o disco, gostou tanto que passou a incluí-la em seu programa.
Foi a primeira canção do grupo a ser veiculada nas
rádios norte-americanas.
Steve Lillywhite confessa
que não gostou da música quando a ouviu pela primeira
vez, mas simpatizou com a banda e por isso aceitou a tarefa.
“Quando começamos
a gravar ‘A Day Without Me’ achávamos que ela
estava boa, mas quando ouvimos depois, me parecia ingênua.
Mas o grupo tinha uma grande determinação e essa
ingenuidade era uma marca forte deles. Por isso, mesmo não
sendo minha canção favorita, resolvi não
mexer muito no que havíamos gravado.”
No
mês seguinte, soltam um novo single I Will Follow.
A canção que ficou famosa pelo riff hipnótico
é um dos grandes clássicos da banda. Nela existem
alguns ruídos estranhos. Steve conta como foram gravados:
“Todos os barulhos estranhos na canção no
meio da seção foram feitos por mim e Bono...ah,
sempre vou me lembrar disso...Bono estava quebrando garrafas nos
fundos e eu estava com uma bicicleta de cabeça pra baixo,
girando as rodas e passando um garfo pelos alto falantes”
A canção
trazia novamente “Radar” na capa. No lado B, uma versão
de “Boy/Girl”, gravado ao vivo no Marquee Club, em
Londres. A letra mais uma vez fala de morte, solidão...
I Will Follow
I was on the outside
when you said
You needed me
I was looking at myself
I was blind, I could not see.
A boy tries hard
to be a man
His mother takes him by the hand
If he stops to think, he starts to cry
Oh why?
If you walk away,
walk away
I walk away, walk away
I will follow.
If you walk away, walk away
I walk away, walk away
I will follow.
I will follow.
I was on the inside
When they pulled the four walls down
I was looking through the window
I was lost, I am found.
If you walk away,
walk away
I walk away, walk away
I will follow.
If you walk away, walk away
I walk away, walk away
I will follow.
I will follow.
Your eyes make
a circle
I see you when I go in there
Your eyes, your eyes
Your eyes, your eyes.
If you walk away,
walk away
I walk away, walk away
I will follow.
If you walk away, walk away
I walk away, walk away
I will follow.
I will follow
E já era mais do
que tempo de lançarem um LP. E isso aconteceu com…
6 – Boy
“Boy
fez um retrospecto dos dois anos como U2; o final de nossa adolescência.
O que queríamos com o disco era encontrar um som cinematográfico,
com texturas ricas como se fosse uma grande tela de cinema”.
A frase de Bono exemplifica os sonhos da banda.
Para sua estréia
em vinil, o grupo não queria apenas registrar canções
soltas. Queria exprimir toda a paixão e angústia
que tomava conta dos quatro meninos. Lançado em outubro,
trazia novamente Peter “Radar” Rowen na capa, mas
com uma abordagem totalmente diferente. Na capa do disco não
havia nenhuma referência ao nome da banda ou título,
apenas a foto do garoto com os braços cruzados atrás
da cabeça. A concepção da capa foi realizada
por Steve Averill, o mesmo que havia idealizado a capa do single
Another Day.
Mas
para desespero da banda, a Warner, que distribuía o disco
na América, não gostou da capa por um estranho motivo:
a foto de Peter poderia induzir que o grupo era simpático
à pedofilia! A solução foi colocar uma foto
da banda esticada e distorcida.
Se
alguém tinha alguma dúvida sobre as qualidades da
banda, elas sumiram ao ouvirem o disco. Três canções
antigas acabaram sendo regravadas (“Stories for Boys”,
“Twilight” e “Out of Control”), além
das duas produzidas por Steve (“A Day Without Me”
e “I Will Follow”). O que mais impressionava no álbum
era o peculiar estilo da guitarra de The Edge e as interpretações
apaixonadas de Bono. E Steve soube muito bem trabalhar o baixo
de Adam e a bateria de Larry, criando uma massa sonora consistente
e orgânica. A voz de Bono exprime toda a vulnerabilidade
de um jovem atormentado com seus problemas e medos. Boy
obteve elogios enormes na Irlanda e na Inglaterra e não
foi surpresa quando ganhou três prêmios na eleição
da Hot Press: melhor álbum, melhor álbum de banda
estreante e melhor capa. Quando Boy recebeu elogios
imensos e foi comparado às estréias antológicas
do Velvet Underground e Clash, a banda não acreditou. Bono
era fã ardoroso de Lou Reed, assim como Edge de Joe Strummer.
O maior momento do disco
talvez seja a furiosa “The Electric Co.”, onde The
Edge costumava dar mais poder quando a tocava ao vivo. Para comemorar
o lançamento, o grupo saiu, finalmente, em uma excursão
de 10 dias pelos Estados Unidos e desta vez levando Joe O’Herlihy.
Joe havia gostado muito do grupo e de Paul McGuinness e estava
particularmente enamorado pelo som que The Edge produzia. E Joe
sabia o que era um bom som de guitarra, pois havia trabalhado
por quase uma década com o maior guitarrista irlandês
de todos os tempos, Rory Gallagher, que era o maior ídolo
de Edge. Joe estava obcecado em tentar encontrar a melhor equalização
para aquele som tão particular que The Edge produzia.
7 – “Vocês
vão vencer aqui na América!”
O grupo então fez
sua primeira viagem para Nova York. A estréia aconteceu
no dia 5 de dezembro no Ritz. O local não podia ser menos
apropriado, já que o Ritz era um local para dança.
E, para aumentar o problema, a qualidade sonora do local era lamentável.
O clube havia sido arranjado por Frank Barsalona, que conhecia
o proprietário e pediu uma chance para o grupo. Ele sabia
que o Ritz não era o local adequado e muito menos a platéia
certa, mas era o que podia oferecer no momento. Paul olhou para
a banda, que estava visivelmente tensa. Enquanto o grupo controlava
os intestinos, Paul conversava com Frank, dizendo que o U2 faria
o público dançar, se fosse necessário.
Joe conseguiu a muito custo
prover o grupo com um som razoável. O U2 pisou no palco
e começou a tocar. Bono falava para a platéia tentando
ganhar a simpatia, até que o cantor fez algo que quase
causou um enfarte em McGuinness: simplesmente mandou o grupo parar
de tocar. “Nós estamos aqui e vamos tocar para vocês.
Por isso tirem seus traseiros gordos da cadeira e venham dançar,
porque é o que farão agora.”
O
grupo começou então uma performance apaixonada e
aos poucos, toda a platéia estava junto ao palco dançando
com aquele exótico grupo irlandês. Barsalona não
acreditava no que via e ficou admirado com o carisma de Bono.
Ao final do show, correu para os camarins e abraçou os
meninos prometendo que eles iriam acontecer nos Estados Unidos,
em breve. E prometeu que estaria à disposição
para o que necessitassem. “Vocês farão história
na América, escrevam o que eu digo. O caminho será
duro, com vários obstáculos, mas vocês irão
vencer aqui...”
Barsalona estava certo.
O que ele não poderia imaginar (assim como Jackie Hayden
não imaginava ao lançar o primeiro EP), era o quão
grande o U2 seria na América...
Para
ler as letras traduzidas de Boy, clique aqui.
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