106 - U2 - 1981 e 1982

O U2 já era uma grande banda na Irlanda quando lançou seu segundo disco, October. Também gozavam de uma boa reputação na Inglaterra, mas o foco central dos sonhos do quarteto - a América - era ainda um imenso terreno baldio a ser explorado. Nos primeiros shows, o grupo fez o chamado circuito das bandas de terceira divisão. Foram também os anos mais difíceis para o grupo, já que The Edge quase abandonou o U2. E não foi só Edge que quase largou tudo: Adam Clayton cada vez mais se sentia desconfortável com o rótulo de “banda cristã” que o U2 começava a ganhar, mas um gesto inesperado, o fez repensar e continuar. De quebra, fotos de vários singles, inclusive de uma canção que virou compacto, logo depois foi retirada e virou raridade. Isso está parecendo uma revista de fofocas, não é? Pelo menos não são fofocas globais... Vamos aos fatos então...


 

Mais uma vez começo com um aviso: Márcio Ribeiro, o mundialmente famoso Creedance traduziu as letras de October, assim como Fernando havia feito com as de Boy. Por isso, se quiser entender as letras do disco com maior cunho religioso do U2, vá até o link na final da página. Recado dado, vamos aos fatos...

1 - Rock x religião: o aumento das tensões

O U2 começou o ano de 1981 faturando mais prêmios na eleição da Hot Press. Foram nove, no total. O grupo aproveitou o bom momento e partiu para uma excursão pela Inglaterra, com vários shows esgotados. Como o dinheiro era curto, a solução era improvisar, e para isso todos viajavam em uma van, com Paul McGuinness ao volante, a banda no banco de trás, tendo Joe O'Herlihy ao lado. A pouca grana era destinada para dormirem em lugares razoáveis e gastar com boa comida. As apresentações corriam bem, sempre com lotação completa. Bono crescia como cantor e The Edge, Adam e Larry cada vez mais se entrosavam.

Se o problema não era no palco, nas viagens é que a tensão ia crescendo. Enquanto Bono, Adam e Edge passavam horas e horas discutindo a Bíblia e seus ensinamentos, Adam ficava isolado dos demais, causando a compaixão de McGuinness, que secretamente se sentia incomodado com a atitude dos três.

E as tensões iriam aumentar quando Gavin Friday deixou Shalom irritado com as limitações que eram impostas, principalmente ao Virgin Prunes. "Quer dizer que para atraírem mais jovens nós e o U2 prestamos, mas as nossas vidas, roupas e costumes, não servem? Nós somos aceitos ou estamos sendo usados?", bradou, antes de sair definitivamente. O fato mexeu com todos, especialmente Bono, grande amigo de Gavin e que não esboçou reação alguma, de início. Bono sentia a atração pelos dois lados de sua vida e não sabia ainda como conciliar. Edge e Larry tinham posturas diferentes. O baterista sentia um grande conforto após cada reunião enquanto o guitarrista conseguia separar bem os dois lados.


Enquanto isso, a banda precisava começar a trabalhar em novas canções para um novo disco. E partiram para uma série de apresentações nos Estados Unidos. Os primeiros shows foram no dia três de março, com duas apresentações no Bayou, em Washigton. Nessa viagem ganharam a companhia de Ellen Darst, mandada pela gravadora Warner com uma função delicada: verificar os modos e hábitos do grupo para saber se a gravadora daria mais dinheiro para a turnê e a gravação do disco. Darst gostou dos meninos e viu que eram extremamente sérios e discipliandos. Não havia drogas, bebidas, mulheres, apenas um comprometimento total com a música.

A vida na América era totalmente diferente da que viviam na Irlanda. Lá eram uma banda fazendo o que os americanos chamavam de "circuito de bandas de terceira divisão". Mesmo assim, o U2 se saía muito bem, ganhando fãs em suas apresentações cheias de energia e emoção. Ao final da excursão a banda viajou para Nassau, nas Bahamas para encontrar Steve Lillywhite. Os dez dias que lá ficaram tinham apenas um objetivo, discutir as gravações do novo disco, que começariam em seis semanas. E essa foi uma das reuniões mais traumáticas para o grupo por culpa de Bono...

2 - "Cadê as letras, Bono?"


O cantor havia feito algo impensável e que causou uma crise entre todos: havia conseguindo perder sua pasta onde guardara as letras para o próximo disco. O grupo iria começar a gravar em seis semanas e Bono não tinha nada para mostrar. Steve ficou apreensivo e os demais integrantes tentaram disfarçar a raiva. Bono ficou simplesmente arrasado.

Quem conseguiu contornar melhor a situação foi Adam Clayton. O baixista chegou perto do cantor e disse que ele se acalmasse e tentasse escrever novas letras: "não é hora para entrar em desespero, você vai sentar e reescrevê-las, mesmo que seja dentro do estúdio.". Adam queria, na verdade, se aproximar de Bono e diminuir a tensão que ele sentia por não ser um cristão. Ele estava irritado com o rótulo de "grupo cristão", pois nunca pensou que o U2 iria se tornar uma banda com tal característica. E Clayton havia lutado tanto para fazer o U2 crescer quanto os demais. O isolamento não fazia bem ao baixista.


A banda entrou em estúdio Windmill Lane com Bono tendo quase nenhuma letra ou clara idéia. O cantor lembra da tensão que viveu: "eu me lembro até hoje da maneira desesperada como escrevia tendo o microfone em minhas mãos. Nós estávamos gastando 50 libras por cada hora em estúdio e eu perdendo tempo tentando arrumar as imagens. Steve ficava passeando pelo estúdio pacientemente, ele realmente foi um cavalheiro. E o mais gozado é que apesar disso, a paz lá era grande, ainda que houvesse essa pressão em cima de mim."

E em junho é editado o novo single, Fire. O single havia sido gravado em Nassau, nos estúdios da Island, em abril, durante a parada de 10 dias do grupo por lá. Foi também editado em uma versão limitada, contendo outras cinco canções: "J. Swallow", "11 O' Clock Tick Tock", "The Ocean", "Cry" e "The Electric Co", todas gravadas no dia 6 de março, em Boston, no Paradise Theatre. Essa edição ficou conhecida como U2 R.O.K. e eu tive essa edição, mas a vendi. Mas para minha sorte conservo até hoje um vinil pirata dessa apresentação em Boston, que ficou famosa com o nome de Two Sides Live e que circulou pelo Brasil. A canção havia sido tocada pela primeira vez em New Haven, Connecticut, no dia 27 de março, quando Bono anunciou que seria o novo single do grupo e que nunca a tinham tocado antes.

A letra era uma mostra do que viria pela frente, com a fé de Bono se mostrando confusa. O lado B trazia uma canção chamada "J. Swallow", que era mais uma colagem de idéias e sons do que uma canção. Steve ainda caminhava atrás do som do grupo. Uma de suas preocupações era poder dar mais peso ao baixo de Adam Clayton, talvez o melhor amigo do produtor dentro da banda e que já se sentia um peixe fora d'água dentro da nova diretriz que Bono dava ao U2. Para aumentar a estima de Clayton, Lillywhite resolveu ajudá-lo com arranjos mais potentes.


Show em Slane Castle O grupo acabou a gravação do novo disco e partiu para alguns shows e um desses ficou famoso na história: uma apresentação no Slane Castle abrindo para o Thin Lizzy, de Phil Lynott. Phil era um ídolo para o grupo, em particular para Clayton e aceitaram ter o U2 abrindo sua apresentação além de rachar o lucro da bilheteria naquela gigantesca praça de show. Foi a primeira apresentação do novo repertório que haviam recém-gravado. A apresentação foi um tremendo sucesso.

Veja a letra do single...

Fire

Calling, calling the sun is burning black
Calling, calling, it's beating on my back
With a fire
With a fire.

 

Adam, Bono e Lynnot, em uma festa da Hot Press, em 1983Calling, calling, the moon is running red
Calling, calling, it's pulling me instead
With a fire, fire.

But there's a fire inside
And I'm falling over
There's a fire in me
When I call out
You built a fire, fire
I'm going home.

Calling, calling, the stars are falling down
Calling, calling, they knock me to the ground
With a fire, fire.

But there's a fire inside
And I'm falling over
There's a fire inside
When I call out
There's a fire inside
When I'm falling over
You built a fire, fire
I'm going home


3 - Outubro

Em novembro de 1981 é finalmente lançado o disco October. Originalmente intitulado "Scarlet", uma das faixas do disco, ganhou esse título segundo Bono por remeter muito ao clima daqueles anos "frios e duros". O disco ia em uma direção totalmente diferente de Boy. As letras eram muito mais religiosas, e algumas pessoas não conseguiam identificar a mesma banda de um ano antes.


"Muitas pessoas que gostavam de Boy ficaram desapontadas com October, mas conheci muitas pessoas que gostaram dele e não gostavam do nosso primeiro LP. Nossos discos nunca foram fáceis na primeira audição, mas sempre achei que esse disco foi muito importante em nossa vida". A frase de The Edge exemplifica bem o que muitos pensaram. As letras mudaram radicalmente e ao invés das angústias juvenis de Bono, apareciam questões ligadas a Deus, fé e o desespero. Muito disso aconteceu porque o cantor teve que reescrever as letras às pressas e acabou falando do medo que sentia naquele momento. Por tudo isso, foi o disco mais complicado de se produzir na carreira do quarteto.

O grupo estava entre uma breve parada entre duas turnês na América e havia pouco tempo para gravar um novo disco. Bono recorda que quando ouviu o disco ficou fascinado e assustado: "acho October um disco grandioso e quando o ouvi pela primeira vez não acreditei que eu havia feito parte de tudo aquilo tudo. Eu perguntei para o Steve se aquela voz era a minha e ele dizia, rindo, que sim. Até hoje não sei como consegui gravar todas aquelas canções."



Neil McCormick, da Hot Press, considerou o trabalho "um disco apaixonante e que mostra o crescimento musical e espiritual do grupo." Dave McCullough, da Sounds, afirmava que o U2 havia chegado para ficar de vez. Musicalmente o disco apontava em novas direções: a voz de Bono estava mais poderosa, mais alta. A guitarra de Edge ainda era o instrumento principal, mas o som do baixo de Adam e da bateria de Larry estavam mais encorpados. O disco abre com um dos maiores clássicos do grupo, "Gloria". A melhor definição para a canção é chamá-la de hino, pois foi dessa forma que Bono a trabalhou. Bono exulta a Deus e oferece tudo que tem a Ele. O cantor havia estudado um livro de cantos gregorianos e as imagens ficaram impregnadas em sua mente.

"Gloria" acabou sendo o novo single do disco "cristão", pecha que tanto incomodava a banda. "Não somos um grupo cristão, mas apenas jovens que têm fé", afirmou Bono em uma entrevista. "'Gloria' é tratada como um hino de igreja, mas não foi essa minha intenção. Eu quis falar do poder do amor. Com 'Rejoice' eu quis simplesmente abordar um tema em que as pessoas parecem sofrer um bloqueio mental. Considero a palavra muito poderosa e acho que o disco explora muitas áreas que outros grupos ignoram.". O cantor confessa que levou meses para poder assimilar o que ele próprio havia gravado.

Uma das canções mais emotivas do disco é "Tomorrow", onde Bono relembra sua mãe nos versos "Você voltará amanhã?/ Você voltará amanhã?/ Posso dormir esta noite?/ Há alguém lá fora/ alguém batendo na porta/ e um carro preto estacionado do outro lado da rua".

O disco acabou alcançando o número 11 nas paradas britânicas, mas ficou longe dos 100 primeiros na América. Mesmo com resultados tão modestos na paradas, o U2 saiu em uma nova excursão. Era hora de mostrar as novas canções ao vivo e dar novo sentido a elas. Mas antes disso, uma nova crise se instalou no grupo...


"4 - Nós vamos desistir do U2, Paul...”

Quando os Bono, The Edge e Larry entraram no escritório do empresário Paul McGuinness e pediram para conversar, jamais ele imaginaria o que ouviria. Os três estavam comunicando que não poderiam mais continuar a conciliar o rock com a fé e iriam acabar com o U2. Bono argumentou que ele não poderia mais conciliar sua fé com as excursões, especialmente a nova turnê, que consumiria quase um ano na estrada.

Paul engoliu seco e teve vontade de partir para cima do vocalista. Ao invés disso, pediu algumas horas para pensar a respeito e perguntou se poderia ligar depois. Os três concordaram e horas depois foram chamados por McGuinness. "Eu entendo perfeitamente a posição de vocês e a respeito profundamente. Mas também temos enormes responsabilidades aqui, meninos. Veja, um monte de gente está comprometida conosco. Frank Barsalona já agendou mais de 20 shows para vocês. Joe O'Herlihy está contando com o trabalho e com o dinheiro porque agora é pai. A gravadora e Chris Blackwell estão apostando em vocês e colocaram muito dinheiro nisso. Há muita gente envolvida. Por isso, se querem terminar com o U2, eu concordo, mas ao menos vamos fazer essa turnê e depois vocês dissolvem a banda. Fazer isso agora só traria problemas e dívidas para todos nós".

O argumento de Paul era desesperado, mas mesmo assim tentou manter-se neutro. O que mais chamou a atenção é que talvez Adam Clayton nem soubesse que essa reunião estivesse acontecendo. E sentiu um grande alívio quando os três concordaram com seus argumentos e disseram que fariam a turnê. "Mas depois tudo se encerra, Paul", disse Bono. "OK Bono, que assim seja se é o que desejam..." McGuinness sabia que havia ganhado tempo e que os palcos não deixaram o U2 acabar.

O grupo partiu então para uma série de apresentações. Para McGuinness ficou uma missão indigesta: mostrar para a Warner que October era o disco a ser trabalhado. A gravadora alegava que seria muito difícil de vender, que não era exatamente o que eles tinham em mente. Paul apenas ria, dizia que entendia, mas que era o tinha a oferecer.

Enquanto isso, o grupo começava a conquistar novos fãs e entraram o ano de 1982 excursionando. E durante um novo intervalo entraram novamente em um estúdio.


5 - O single misterioso

Em março é lançado um novo single com duas músicas, "A Celebration" e "Trash, Trampoline and The Party Girl". Esse single merece ter sua história melhor contada. Comecemos pela segunda canção...

Todos conhecem "Party Girl", que faz parte do disco ao vivo Under a Blood Red Sky. Pois é essa a canção, que teve apenas o nome reduzido. A faixa saiu no cd bônus da coletânea U2 - The Best of 1980 - 1990, com sua gravação original, exatamente igual a que aparece aqui e é impressionante como foi remodelada nos palcos. Em estúdio é uma canção curta, cheia de sons e com uma voz frágil de Bono, bem distante da gravação imortalizada.

Mas e essa outra música, "A Celebration"? Bem, essa é uma música que nunca apareceu em disco nenhum do grupo, nem mesmo nessa coletânea de singles. A única edição em que saiu, anos mais tarde, foi na Rare Rock Collection - Rock Against AIDS em 1987, uma compilação lançada pela 98KZEW para arrecadar fundos contra a Aids.

"A Celebration" é uma canção que ficou alguns dias na parada inglesa e curiosamente sumiu do mapa e em seis meses foi excluída do catálogo da banda. Uma canção que raramente tocavam, mas em uma dessas vezes, um amigo meu encontrou na internet um show, com ela encerrando a apresentação. Foi no Hammersmith Palais, de Londres, e não sei se foi em 1982 ou 1983 porque abriram com algumas canções de War, que pelos dizeres de Bono parecia não ter sido lançado. Como não a conhecia e ele ficava berrando "shake!" coloquei esse nome nela. E dias atrás, a encontrei novamente pela internet. A gravação desse compacto foi apenas um mero passatempo e a primeira vez que a tocaram ao vivo foi no dia 25 de fevereiro, no Uptown Theatre, em Kansas.

Vejam as letras das duas músicas...

A Celebration

I gotta go!
I believe in a celebration
I believe we can be free.
I believe you can loose these chains
I believe you can dance with me, dance with me.
Shake! Shake!
Shake! Shake!

I believe in the Third World War
I believe in the atomic bomb.
I believe in the powers-that-be
But they won't overpower me.

And you can go there too,
And you can go, go, go, go!
Shake! Shake!
Shake! Shake!

And we don't have the time
And everything goes round and round
And we don't have the time
To watch the world go tumbling down.

I believe in the bells of Christchurch
Ringing for this land.
I believe in the cells of Mountjoy
There’s an honest man.

And you can go there too, etc.

I believe in the walls of Jericho
I believe they're coming down.
I believe in this city's children
I believe the trumpet's sound.

And you can go there too, etc

Trash, Trampoline and The Party Girl
I know a girl
A girl called Party, Party Girl
I know she wants more than a party, Party Girl
And she won't tell me her name

I know a boy
A boy called Trash, Trash Can
I know he does all that he can, wham bam
And she won't tell me his name

When I was three
I thought the world revolved around me
I was wrong
But you can sing, sing along
And if you dance
Then dance with me

I know a girl
A girl called Party, Party Girl
I know she wants more than a party, Party Girl

I know a boy
A boy called Trampoline
You know what I mean
I think you know what he wants
I think he knows what he wants
I think he knows what he wants


6 - Abrindo para J. Geils Band

No começo de 1982, o grupo fez um show em Dublin para 5 mil pessoas, enquanto a segunda parte da tour norte-americana não começava. O U2 já era uma espécie de herói nacional. Quando retornaram para a América, a Premier Talent, de Barsalona fez uma proposta arriscada ao grupo: que tal abrirem um shows para a J Geils Band? Você deve estar perguntando quem é essa banda. Bem, eles tiveram um certo sucesso com uma canção chamada "Centerfold" e eram um dos grupos do momento e queriam aproveitar a chance, já que desde 1967 estavam na estrada. A proposta era simples: eles iriam abrir em arenas para 10 ou 15 mil pessoas. McGuinness tremeu por dois motivos: sabia que o grupo principal trataria o U2 com desprezo e teriam toda uma audiência que não era deles. Mas o problema é que era uma grande chance que estavam recebendo e não podiam simplesmente negar. O impasse estava formado.



Foi aí que apareceu toda a astúcia de Joe O'Herlihy. Rodado com anos e anos de estrada com Rory Gallagher sabia como o U2 seria massacrado e não poderia deixar isso acontecer. No dia anterior ao primeiro show, o pequeno irlandês começou a ver todos os aparatos técnicos que teriam à disposição. Nada muito animador. Em sua cabeça havia a preocupação de arranjar um bom som para a guitarra de The Edge e para Bono, o que mais atormentava. A tarefa não seria mole, mas Joe contava com sua fama de sujeito simpático e velho amigo de Rory. Na primeira noite pediu para Mike Stall, um velho amigo seu e responsável pelo som do J. Geils Band se podia emprestar uma pequena câmera de eco para usar na voz de Bono. Mike concordou em fazer esse pequeno favor ao velho chapa. E isso mudou tudo.

Quando a banda entrou na arena de hóquei em Fort Myers, na Flórida, parecia ser formada por quatro animais famintos. A audiência não conhecia o U2, o local estava lotado com mais de 15 mil pessoas e começaram a tocar, sem falar com o público e caíram matando. O barulho foi tão grande que os integrantes da banda principal vieram ver o que estava acontecendo. E o que estava acontecendo era o U2 roubando a cena. E Joe ria a valer.

7 - Bono casa com Ali e The Edge ameça deixar o grupo

A fama de grupo cristão ainda incomodava Bono que tentou explicar a fé do U2 novamente em uma entrevista: "Eu acho que a força espiritual da banda é essencial para o grupo, e imagino que cada um deve encontrar o seu caminho. Eu não estou levantando uma bandeira ou dizendo para que os outros caminhem até Deus. Tanto na igreja católica como na protestante existem mentiras e coisas absurdas e não sou eu que vou defendê-las ou explicá-las. Quando me pergunta em que acredito, digo que falo disso nas letras."

E cada vez mais o lado messiânico começava a incomodar Adam Clayton, que continuava se sentindo à margem do grupo. A única coisa que aliviava o baixista eram os shows que eram numerosos. Mas mesmo os shows estavam tornando-se complexos cada vez mais. E a razão era simples: falta de estrutura.

Paul McGuinness continuava comandando os negócios do grupo dentro de sua casa. Não tinha um escritório e, pior, sentia que faltava uma pessoa que pudesse ajudá-lo na preparação das turnês. O único nome novo em sua equipe era de Steve Iredale, que ficava com uma parte mais artística. Paul começou a procurar alguém até que foi sugerido que procurasse uma outra figura famosa: Dennis Sheehan. Dennis havia sido durante 10 anos o responsável pelas turnês da banda mais famosa, rica e polêmica dos anos 70, Led Zeppelin. Dennis só deixou o grupo após a morte do baterista John Bonham, em 1980 e depois trabalhou para diversos artistas como Patti Smith. Ele era uma pessoa que poderia fazer muita diferença na organização.



Em abril, após o lançamento do single A Celebration, surgiram rumores que o grupo não iria mais trabalhar com Steve Lillywhite. E outros boatos davam conta que o U2 estava compondo novas músicas com o produtor Sandy Pearlman, responsável pelo segundo disco do The Clash, Give' Em Enough Rope.

Era fato que o U2 trabalhou com Sandy e que gostaram da maneira calma e prática do produtor, mas o grupo ainda nao havia se decidido. Enquanto isso, o grupo abriu um show para o Police, em julho. A rotina de shows seguia interminável. Mas ela sofreu um recesso no mês de agosto para um acontecimento importante: o casamento de Bono com Alison, no dia 21 de agosto, na igreja Guinness, em Raheny. E para selar a paz interna dentro da banda, Bono convidou Adam para ser seu padrinho, atitude que surpreendeu o baixista. A atitude de Bono mostrou a Adam que ele era importante dentro de todo o contexto do U2 e amarrou ainda mais a amizade interna.


Mas se Adam e Bono finalmente tinham conseguido resolver duas diferenças, Larry e The Edge estavam confusos. O baterista havia decidido largar o Shalom, infeliz com os rumos que o grupo havia tomado. E coube a The Edge instaurar outra crise. Logo após a chegada de Bono da Jamaica, onde passara sua lua-de-mel, o guitarrista avisou que estava fora do grupo, de forma definitiva. Bono entrou em choque e durante uma semana ficou enlouquecido com a decisão e só ficou mais calmo quando o guitarrista disse que continuaria com a banda.


Com o quarteto calmo, resolveram convidar novamente Steve Lillywhite para a produção de um novo disco. Lillywhite podia não ser o melhor produtor do mundo, mas conhecia bem como trabalhar com o grupo estava disposto a acertar nesse terceiro disco. "O primeiro ficou marcado pela inexperiência de todos; o segundo foi prejudicado com o sumiço das letras de Bono. Então sentamos e perguntei se não podíamos ter outra chance. E o que ajudou muito foi o fato de the Edge estava mais inspirado do que nunca antes e compondo uma nova melodia.”

Essa nova melodia seria, em poucos meses, a canção-símbolo da banda durante anos e anos e o disco seguinte ganharia o apelido de "The Edge Orchestra" dos críticos. A letra viria depois e falaria de um certo domingo. O caminho rumo ao estrelato estava cada vez mais perto...

Para ler as letras traduzidas de October, clique aqui.


 

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