O
U2 já era uma grande banda na Irlanda quando lançou
seu segundo disco, October. Também gozavam de uma boa reputação
na Inglaterra, mas o foco central dos sonhos do quarteto - a América
- era ainda um imenso terreno baldio a ser explorado. Nos primeiros
shows, o grupo fez o chamado circuito das bandas de terceira divisão.
Foram também os anos mais difíceis para o grupo,
já que The Edge quase abandonou o U2. E não foi
só Edge que quase largou tudo: Adam Clayton cada vez mais
se sentia desconfortável com o rótulo de “banda
cristã” que o U2 começava a ganhar, mas um
gesto inesperado, o fez repensar e continuar. De quebra, fotos
de vários singles, inclusive de uma canção
que virou compacto, logo depois foi retirada e virou raridade.
Isso está parecendo uma revista de fofocas, não
é? Pelo menos não são fofocas globais...
Vamos aos fatos então...
Mais uma vez começo
com um aviso: Márcio Ribeiro, o mundialmente famoso Creedance
traduziu as letras de October, assim como Fernando
havia feito com as de Boy. Por isso, se quiser
entender as letras do disco com maior cunho religioso do U2, vá
até o link na final da página. Recado dado, vamos
aos fatos...
1
- Rock x religião: o aumento das tensões
O U2 começou o ano
de 1981 faturando mais prêmios na eleição
da Hot Press. Foram nove, no total. O grupo aproveitou o bom momento
e partiu para uma excursão pela Inglaterra, com vários
shows esgotados. Como o dinheiro era curto, a solução
era improvisar, e para isso todos viajavam em uma van, com Paul
McGuinness ao volante, a banda no banco de trás, tendo
Joe O'Herlihy ao lado. A pouca grana era destinada para dormirem
em lugares razoáveis e gastar com boa comida. As apresentações
corriam bem, sempre com lotação completa. Bono crescia
como cantor e The Edge, Adam e Larry cada vez mais se entrosavam.
Se o problema não
era no palco, nas viagens é que a tensão ia crescendo.
Enquanto Bono, Adam e Edge passavam horas e horas discutindo a
Bíblia e seus ensinamentos, Adam ficava isolado dos demais,
causando a compaixão de McGuinness, que secretamente se
sentia incomodado com a atitude dos três.
E as tensões iriam
aumentar quando Gavin Friday deixou Shalom irritado com as limitações
que eram impostas, principalmente ao Virgin Prunes. "Quer
dizer que para atraírem mais jovens nós e o U2 prestamos,
mas as nossas vidas, roupas e costumes, não servem? Nós
somos aceitos ou estamos sendo usados?", bradou, antes de
sair definitivamente. O fato mexeu com todos, especialmente Bono,
grande amigo de Gavin e que não esboçou reação
alguma, de início. Bono sentia a atração
pelos dois lados de sua vida e não sabia ainda como conciliar.
Edge e Larry tinham posturas diferentes. O baterista sentia um
grande conforto após cada reunião enquanto o guitarrista
conseguia separar bem os dois lados.
Enquanto
isso, a banda precisava começar a trabalhar em novas canções
para um novo disco. E partiram para uma série de apresentações
nos Estados Unidos. Os primeiros shows foram no dia três
de março, com duas apresentações no Bayou,
em Washigton. Nessa viagem ganharam a companhia de Ellen Darst,
mandada pela gravadora Warner com uma função delicada:
verificar os modos e hábitos do grupo para saber se a gravadora
daria mais dinheiro para a turnê e a gravação
do disco. Darst gostou dos meninos e viu que eram extremamente
sérios e discipliandos. Não havia drogas, bebidas,
mulheres, apenas um comprometimento total com a música.
A vida na América
era totalmente diferente da que viviam na Irlanda. Lá eram
uma banda fazendo o que os americanos chamavam de "circuito
de bandas de terceira divisão". Mesmo assim, o U2
se saía muito bem, ganhando fãs em suas apresentações
cheias de energia e emoção. Ao final da excursão
a banda viajou para Nassau, nas Bahamas para encontrar Steve Lillywhite.
Os dez dias que lá ficaram tinham apenas um objetivo, discutir
as gravações do novo disco, que começariam
em seis semanas. E essa foi uma das reuniões mais traumáticas
para o grupo por culpa de Bono...
2 - "Cadê
as letras, Bono?"
O cantor havia feito algo impensável e que causou uma crise
entre todos: havia conseguindo perder sua pasta onde guardara
as letras para o próximo disco. O grupo iria começar
a gravar em seis semanas e Bono não tinha nada para mostrar.
Steve ficou apreensivo e os demais integrantes tentaram disfarçar
a raiva. Bono ficou simplesmente arrasado.
Quem conseguiu contornar
melhor a situação foi Adam Clayton. O baixista chegou
perto do cantor e disse que ele se acalmasse e tentasse escrever
novas letras: "não é hora para entrar em desespero,
você vai sentar e reescrevê-las, mesmo que seja dentro
do estúdio.". Adam queria, na verdade, se aproximar
de Bono e diminuir a tensão que ele sentia por não
ser um cristão. Ele estava irritado com o rótulo
de "grupo cristão", pois nunca pensou que o U2
iria se tornar uma banda com tal característica. E Clayton
havia lutado tanto para fazer o U2 crescer quanto os demais. O
isolamento não fazia bem ao baixista.
A banda entrou em estúdio Windmill Lane com Bono tendo
quase nenhuma letra ou clara idéia. O cantor lembra da
tensão que viveu: "eu me lembro até hoje da
maneira desesperada como escrevia tendo o microfone em minhas
mãos. Nós estávamos gastando 50 libras por
cada hora em estúdio e eu perdendo tempo tentando arrumar
as imagens. Steve ficava passeando pelo estúdio pacientemente,
ele realmente foi um cavalheiro. E o mais gozado é que
apesar disso, a paz lá era grande, ainda que houvesse essa
pressão em cima de mim."
E
em junho é editado o novo single, Fire. O single havia
sido gravado em Nassau, nos estúdios da Island, em abril,
durante a parada de 10 dias do grupo por lá. Foi também
editado em uma versão limitada, contendo outras cinco canções:
"J. Swallow", "11 O' Clock Tick Tock", "The
Ocean", "Cry" e "The Electric Co", todas
gravadas no dia 6 de março, em Boston, no Paradise Theatre.
Essa edição ficou conhecida como U2 R.O.K.
e eu tive essa edição, mas a vendi. Mas para minha
sorte conservo até hoje um vinil pirata dessa apresentação
em Boston, que ficou famosa com o nome de Two Sides Live
e que circulou pelo Brasil. A canção havia sido
tocada pela primeira vez em New Haven, Connecticut, no dia 27
de março, quando Bono anunciou que seria o novo single
do grupo e que nunca a tinham tocado antes.
A letra era uma mostra
do que viria pela frente, com a fé de Bono se mostrando
confusa. O lado B trazia uma canção chamada "J.
Swallow", que era mais uma colagem de idéias e sons
do que uma canção. Steve ainda caminhava atrás
do som do grupo. Uma de suas preocupações era poder
dar mais peso ao baixo de Adam Clayton, talvez o melhor amigo
do produtor dentro da banda e que já se sentia um peixe
fora d'água dentro da nova diretriz que Bono dava ao U2.
Para aumentar a estima de Clayton, Lillywhite resolveu ajudá-lo
com arranjos mais potentes.
O grupo acabou a gravação do novo disco e partiu
para alguns shows e um desses ficou famoso na história:
uma apresentação no Slane Castle abrindo para o
Thin Lizzy, de Phil Lynott. Phil era um ídolo para o grupo,
em particular para Clayton e aceitaram ter o U2 abrindo sua apresentação
além de rachar o lucro da bilheteria naquela gigantesca
praça de show. Foi a primeira apresentação
do novo repertório que haviam recém-gravado. A apresentação
foi um tremendo sucesso.
Veja a letra do single...
Fire
Calling, calling
the sun is burning black
Calling, calling, it's beating on my back
With a fire
With a fire.
Calling,
calling, the moon is running red
Calling, calling, it's pulling me instead
With a fire, fire.
But there's a fire
inside
And I'm falling over
There's a fire in me
When I call out
You built a fire, fire
I'm going home.
Calling, calling,
the stars are falling down
Calling, calling, they knock me to the ground
With a fire, fire.
But there's a fire
inside
And I'm falling over
There's a fire inside
When I call out
There's a fire inside
When I'm falling over
You built a fire, fire
I'm going home
3 - Outubro
Em
novembro de 1981 é finalmente lançado o disco October.
Originalmente intitulado "Scarlet", uma das faixas do
disco, ganhou esse título segundo Bono por remeter muito
ao clima daqueles anos "frios e duros". O disco ia em
uma direção totalmente diferente de Boy.
As letras eram muito mais religiosas, e algumas pessoas não
conseguiam identificar a mesma banda de um ano antes.
"Muitas pessoas que gostavam de Boy ficaram desapontadas
com October, mas conheci muitas pessoas que gostaram
dele e não gostavam do nosso primeiro LP. Nossos discos
nunca foram fáceis na primeira audição, mas
sempre achei que esse disco foi muito importante em nossa vida".
A frase de The Edge exemplifica bem o que muitos pensaram. As
letras mudaram radicalmente e ao invés das angústias
juvenis de Bono, apareciam questões ligadas a Deus, fé
e o desespero. Muito disso aconteceu porque o cantor teve que
reescrever as letras às pressas e acabou falando do medo
que sentia naquele momento. Por tudo isso, foi o disco mais complicado
de se produzir na carreira do quarteto.
O grupo estava entre uma
breve parada entre duas turnês na América e havia
pouco tempo para gravar um novo disco. Bono recorda que quando
ouviu o disco ficou fascinado e assustado: "acho October
um disco grandioso e quando o ouvi pela primeira vez não
acreditei que eu havia feito parte de tudo aquilo tudo. Eu perguntei
para o Steve se aquela voz era a minha e ele dizia, rindo, que
sim. Até hoje não sei como consegui gravar todas
aquelas canções."
Neil
McCormick, da Hot Press, considerou o trabalho "um disco
apaixonante e que mostra o crescimento musical e espiritual do
grupo." Dave McCullough, da Sounds, afirmava que o U2 havia
chegado para ficar de vez. Musicalmente o disco apontava em novas
direções: a voz de Bono estava mais poderosa, mais
alta. A guitarra de Edge ainda era o instrumento principal, mas
o som do baixo de Adam e da bateria de Larry estavam mais encorpados.
O disco abre com um dos maiores clássicos do grupo, "Gloria".
A melhor definição para a canção é
chamá-la de hino, pois foi dessa forma que Bono a trabalhou.
Bono exulta a Deus e oferece tudo que tem a Ele. O cantor havia
estudado um livro de cantos gregorianos e as imagens ficaram impregnadas
em sua mente.
"Gloria" acabou
sendo o novo single do disco "cristão", pecha
que tanto incomodava a banda. "Não somos um grupo
cristão, mas apenas jovens que têm fé",
afirmou Bono em uma entrevista. "'Gloria' é tratada
como um hino de igreja, mas não foi essa minha intenção.
Eu quis falar do poder do amor. Com 'Rejoice' eu quis simplesmente
abordar um tema em que as pessoas parecem sofrer um bloqueio mental.
Considero a palavra muito poderosa e acho que o disco explora
muitas áreas que outros grupos ignoram.". O cantor
confessa que levou meses para poder assimilar o que ele próprio
havia gravado.
Uma das canções
mais emotivas do disco é "Tomorrow", onde Bono
relembra sua mãe nos versos "Você voltará
amanhã?/ Você voltará amanhã?/ Posso
dormir esta noite?/ Há alguém lá fora/ alguém
batendo na porta/ e um carro preto estacionado do outro lado da
rua".
O disco acabou alcançando
o número 11 nas paradas britânicas, mas ficou longe
dos 100 primeiros na América. Mesmo com resultados tão
modestos na paradas, o U2 saiu em uma nova excursão. Era
hora de mostrar as novas canções ao vivo e dar novo
sentido a elas. Mas antes disso, uma nova crise se instalou no
grupo...
"4
- Nós vamos desistir do U2, Paul...”
Quando os Bono, The Edge
e Larry entraram no escritório do empresário Paul
McGuinness e pediram para conversar, jamais ele imaginaria o que
ouviria. Os três estavam comunicando que não poderiam
mais continuar a conciliar o rock com a fé e iriam acabar
com o U2. Bono argumentou que ele não poderia mais conciliar
sua fé com as excursões, especialmente a nova turnê,
que consumiria quase um ano na estrada.
Paul engoliu seco e teve
vontade de partir para cima do vocalista. Ao invés disso,
pediu algumas horas para pensar a respeito e perguntou se poderia
ligar depois. Os três concordaram e horas depois foram chamados
por McGuinness. "Eu entendo perfeitamente a posição
de vocês e a respeito profundamente. Mas também temos
enormes responsabilidades aqui, meninos. Veja, um monte de gente
está comprometida conosco. Frank Barsalona já agendou
mais de 20 shows para vocês. Joe O'Herlihy está contando
com o trabalho e com o dinheiro porque agora é pai. A gravadora
e Chris Blackwell estão apostando em vocês e colocaram
muito dinheiro nisso. Há muita gente envolvida. Por isso,
se querem terminar com o U2, eu concordo, mas ao menos vamos fazer
essa turnê e depois vocês dissolvem a banda. Fazer
isso agora só traria problemas e dívidas para todos
nós".
O argumento de Paul era
desesperado, mas mesmo assim tentou manter-se neutro. O que mais
chamou a atenção é que talvez Adam Clayton
nem soubesse que essa reunião estivesse acontecendo. E
sentiu um grande alívio quando os três concordaram
com seus argumentos e disseram que fariam a turnê. "Mas
depois tudo se encerra, Paul", disse Bono. "OK Bono,
que assim seja se é o que desejam..." McGuinness sabia
que havia ganhado tempo e que os palcos não deixaram o
U2 acabar.
O grupo partiu então
para uma série de apresentações. Para McGuinness
ficou uma missão indigesta: mostrar para a Warner que October
era o disco a ser trabalhado. A gravadora alegava que seria muito
difícil de vender, que não era exatamente o que
eles tinham em mente. Paul apenas ria, dizia que entendia, mas
que era o tinha a oferecer.
Enquanto isso, o grupo
começava a conquistar novos fãs e entraram o ano
de 1982 excursionando. E durante um novo intervalo entraram novamente
em um estúdio.
5 - O single misterioso
Em
março é lançado um novo single com duas músicas,
"A Celebration" e "Trash, Trampoline and The Party
Girl". Esse single merece ter sua história melhor
contada. Comecemos pela segunda canção...
Todos conhecem "Party
Girl", que faz parte do disco ao vivo Under a Blood
Red Sky. Pois é essa a canção,
que teve apenas o nome reduzido. A faixa saiu no cd bônus
da coletânea U2 - The Best of 1980 - 1990,
com sua gravação original, exatamente igual a que
aparece aqui e é impressionante como foi remodelada nos
palcos. Em estúdio é uma canção curta,
cheia de sons e com uma voz frágil de Bono, bem distante
da gravação imortalizada.
Mas e essa outra música,
"A Celebration"? Bem, essa é uma música
que nunca apareceu em disco nenhum do grupo, nem mesmo nessa coletânea
de singles. A única edição em que saiu, anos
mais tarde, foi na Rare Rock Collection - Rock Against
AIDS em 1987, uma compilação lançada
pela 98KZEW para arrecadar fundos contra a Aids.
"A Celebration"
é uma canção que ficou alguns dias na parada
inglesa e curiosamente sumiu do mapa e em seis meses foi excluída
do catálogo da banda. Uma canção que raramente
tocavam, mas em uma dessas vezes, um amigo meu encontrou na internet
um show, com ela encerrando a apresentação. Foi
no Hammersmith Palais, de Londres, e não sei se foi em
1982 ou 1983 porque abriram com algumas canções
de War, que pelos dizeres de Bono parecia não
ter sido lançado. Como não a conhecia e ele ficava
berrando "shake!" coloquei esse nome nela. E dias atrás,
a encontrei novamente pela internet. A gravação
desse compacto foi apenas um mero passatempo e a primeira vez
que a tocaram ao vivo foi no dia 25 de fevereiro, no Uptown Theatre,
em Kansas.
Vejam as letras das duas
músicas...
A Celebration
I gotta go!
I believe in a celebration
I believe we can be free.
I believe you can loose these chains
I believe you can dance with me, dance with me.
Shake! Shake!
Shake! Shake!
I believe in the
Third World War
I believe in the atomic bomb.
I believe in the powers-that-be
But they won't overpower me.
And you can go
there too,
And you can go, go, go, go!
Shake! Shake!
Shake! Shake!
And we don't have
the time
And everything goes round and round
And we don't have the time
To watch the world go tumbling down.
I believe in the
bells of Christchurch
Ringing for this land.
I believe in the cells of Mountjoy
There’s an honest man.
And you can go
there too, etc.
I believe in the
walls of Jericho
I believe they're coming down.
I believe in this city's children
I believe the trumpet's sound.
And you can go
there too, etc
Trash, Trampoline
and The Party Girl
I know a girl
A girl called Party, Party Girl
I know she wants more than a party, Party Girl
And she won't tell me her name
I know a boy
A boy called Trash, Trash Can
I know he does all that he can, wham bam
And she won't tell me his name
When I was three
I thought the world revolved around me
I was wrong
But you can sing, sing along
And if you dance
Then dance with me
I know a girl
A girl called Party, Party Girl
I know she wants more than a party, Party Girl
I know a boy
A boy called Trampoline
You know what I mean
I think you know what he wants
I think he knows what he wants
I think he knows what he wants
6 - Abrindo para J. Geils Band
No
começo de 1982, o grupo fez um show em Dublin para 5 mil
pessoas, enquanto a segunda parte da tour norte-americana não
começava. O U2 já era uma espécie de herói
nacional. Quando retornaram para a América, a Premier Talent,
de Barsalona fez uma proposta arriscada ao grupo: que tal abrirem
um shows para a J Geils Band? Você deve estar perguntando
quem é essa banda. Bem, eles tiveram um certo sucesso com
uma canção chamada "Centerfold" e eram
um dos grupos do momento e queriam aproveitar a chance, já
que desde 1967 estavam na estrada. A proposta era simples: eles
iriam abrir em arenas para 10 ou 15 mil pessoas. McGuinness tremeu
por dois motivos: sabia que o grupo principal trataria o U2 com
desprezo e teriam toda uma audiência que não era
deles. Mas o problema é que era uma grande chance que estavam
recebendo e não podiam simplesmente negar. O impasse estava
formado.
Foi
aí que apareceu toda a astúcia de Joe O'Herlihy.
Rodado com anos e anos de estrada com Rory Gallagher sabia como
o U2 seria massacrado e não poderia deixar isso acontecer.
No dia anterior ao primeiro show, o pequeno irlandês começou
a ver todos os aparatos técnicos que teriam à disposição.
Nada muito animador. Em sua cabeça havia a preocupação
de arranjar um bom som para a guitarra de The Edge e para Bono,
o que mais atormentava. A tarefa não seria mole, mas Joe
contava com sua fama de sujeito simpático e velho amigo
de Rory. Na primeira noite pediu para Mike Stall, um velho amigo
seu e responsável pelo som do J. Geils Band se podia emprestar
uma pequena câmera de eco para usar na voz de Bono. Mike
concordou em fazer esse pequeno favor ao velho chapa. E isso mudou
tudo.
Quando a banda entrou na
arena de hóquei em Fort Myers, na Flórida, parecia
ser formada por quatro animais famintos. A audiência não
conhecia o U2, o local estava lotado com mais de 15 mil pessoas
e começaram a tocar, sem falar com o público e caíram
matando. O barulho foi tão grande que os integrantes da
banda principal vieram ver o que estava acontecendo. E o que estava
acontecendo era o U2 roubando a cena. E Joe ria a valer.
7 - Bono casa com
Ali e The Edge ameça deixar o grupo
A fama de grupo cristão
ainda incomodava Bono que tentou explicar a fé do U2 novamente
em uma entrevista: "Eu acho que a força espiritual
da banda é essencial para o grupo, e imagino que cada um
deve encontrar o seu caminho. Eu não estou levantando uma
bandeira ou dizendo para que os outros caminhem até Deus.
Tanto na igreja católica como na protestante existem mentiras
e coisas absurdas e não sou eu que vou defendê-las
ou explicá-las. Quando me pergunta em que acredito, digo
que falo disso nas letras."
E cada vez mais o lado
messiânico começava a incomodar Adam Clayton, que
continuava se sentindo à margem do grupo. A única
coisa que aliviava o baixista eram os shows que eram numerosos.
Mas mesmo os shows estavam tornando-se complexos cada vez mais.
E a razão era simples: falta de estrutura.
Paul McGuinness continuava
comandando os negócios do grupo dentro de sua casa. Não
tinha um escritório e, pior, sentia que faltava uma pessoa
que pudesse ajudá-lo na preparação das turnês.
O único nome novo em sua equipe era de Steve Iredale, que
ficava com uma parte mais artística. Paul começou
a procurar alguém até que foi sugerido que procurasse
uma outra figura famosa: Dennis Sheehan. Dennis havia sido durante
10 anos o responsável pelas turnês da banda mais
famosa, rica e polêmica dos anos 70, Led Zeppelin. Dennis
só deixou o grupo após a morte do baterista John
Bonham, em 1980 e depois trabalhou para diversos artistas como
Patti Smith. Ele era uma pessoa que poderia fazer muita diferença
na organização.
Em
abril, após o lançamento do single A Celebration,
surgiram rumores que o grupo não iria mais trabalhar com
Steve Lillywhite. E outros boatos davam conta que o U2 estava
compondo novas músicas com o produtor Sandy Pearlman, responsável
pelo segundo disco do The Clash, Give' Em Enough Rope.
Era fato que o U2 trabalhou
com Sandy e que gostaram da maneira calma e prática do
produtor, mas o grupo ainda nao havia se decidido. Enquanto isso,
o grupo abriu um show para o Police, em julho. A rotina de shows
seguia interminável. Mas ela sofreu um recesso no mês
de agosto para um acontecimento importante: o casamento de Bono
com Alison, no dia 21 de agosto, na igreja Guinness, em Raheny.
E para selar a paz interna dentro da banda, Bono convidou Adam
para ser seu padrinho, atitude que surpreendeu o baixista. A atitude
de Bono mostrou a Adam que ele era importante dentro de todo o
contexto do U2 e amarrou ainda mais a amizade interna.
Mas
se Adam e Bono finalmente tinham conseguido resolver duas diferenças,
Larry e The Edge estavam confusos. O baterista havia decidido
largar o Shalom, infeliz com os rumos que o grupo havia tomado.
E coube a The Edge instaurar outra crise. Logo após a chegada
de Bono da Jamaica, onde passara sua lua-de-mel, o guitarrista
avisou que estava fora do grupo, de forma definitiva. Bono entrou
em choque e durante uma semana ficou enlouquecido com a decisão
e só ficou mais calmo quando o guitarrista disse que continuaria
com a banda.
Com
o quarteto calmo, resolveram convidar novamente Steve Lillywhite
para a produção de um novo disco. Lillywhite podia
não ser o melhor produtor do mundo, mas conhecia bem como
trabalhar com o grupo estava disposto a acertar nesse terceiro
disco. "O primeiro ficou marcado pela inexperiência
de todos; o segundo foi prejudicado com o sumiço das letras
de Bono. Então sentamos e perguntei se não podíamos
ter outra chance. E o que ajudou muito foi o fato de the Edge
estava mais inspirado do que nunca antes e compondo uma nova melodia.”
Essa nova melodia seria,
em poucos meses, a canção-símbolo da banda
durante anos e anos e o disco seguinte ganharia o apelido de "The
Edge Orchestra" dos críticos. A letra viria depois
e falaria de um certo domingo. O caminho rumo ao estrelato estava
cada vez mais perto...
Para
ler as letras traduzidas de October, clique aqui.
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