213 - Velhas Companheiras 3

Esqueça o papo de promessas. Eu prometi que não voltaria ao tema aí do título, mas como bom ateu, não tenho medo de ser punido e, além disso, serve como uma espécie de acerto de contas comigo mesmo, já que ando muito amargo nos últimos tempos. Sendo assim, um pouco de nostalgia nesse site em que tudo cheira e lembra nostalgia. Canções importantes - e você ainda achava que o tema não seria revivido? Tolinho...


I HAVE FORGIVEN JESUS (Morrissey) - Ah, o velho desbocado, voltou em 2004 com o melhor disco do século XXI, de longe. Vomitando toda sua raiva em uma produção luxuosa, Morrissey nunca esteve tão contundente e afiado como nessa clássica canção, em que aparece vestido de padre. Só há um pequeno defeito: ele até pode ter perdoado Jesus, mas, eu, jamais!

THE CONCEPT (Teenage Fanclub) - Certas canções permanecem escondidas na memória e é uma surpresa danada quando são redescobertas. Isso vale para esse clássico do Teenage, com seus mais de seis minutos, metade instrumental, lembrando demais o velho e bom Neil Young. Uma dessas canções que você ouve e não quer mais ouvir outra.

EVERYBODY KNOWS THIS IS NOWHERE (Neil Young) - Faixa-título do segundo disco-solo de Neil é uma canção que traz todos os elementos essenciais de seu estilo. Uma música que pode te deixar alegre e triste ao mesmo tempo. Inesquecível...

FRIENDS (Led Zeppelin) - Quando minha irmã voltou dos Estados Unidos, no final de 1988, trouxe na bagagem uma fita cassete de III. Ela tinha detestado e acabou me dando. De todas as belas músicas deste disco (meu favorito de toda a discografia do Led), está essa bela balada acústica, extremamente cativante.

THE WEIGHT (The Band) - Certamente uma das 10 melhores canções da década de 60, o Band foram mestres em fazer arranjos delicadíssimos, com vocais dobrados, e lindos arranjos. Perdi a conta de quantas vezes andei pelas ruas de São Paulo ouvindo essa maravilha...

KISS (Prince) - Assim como Morrissey, Prince é um cara que todos gostam de malhar: ambíguo sexualmente, convencido, temperamental, baixinho, arrogante, e gênio! Dono de grandes discos, Prince fez de "Kiss" uma das granções canções dos anos 80 e de todos os tempos. Todo mundo dançou e cantou, ainda que neguem de pés juntos. E ainda ganhou uma versão para lá de divertida (e cafona) de Tom Jones...

BREAK ON TROUGH (The Doors) - Um dos meus discos ao vivo favoritos é Absolutely Live, que nunca saiu com a capa original em CD. E nesse antigo vinil duplo, eu era simplesmente fascinado pela canção do primeiro disco deles, de 1967. Sabe-se lá quantas vezes a ouvi bem alto, lá por 1986 ou 1987, muito antes dessa histeria imbecil que hoje assola a obra dos Doors e me faz desistir de escrever uma coluna sobre eles. Essa versão é mil vezes melhor que a de estúdio e quase um grito primal.

THIS IS WHAT SHE'S LIKE (Dexys Midnight Runners) - Kevin Rowland é uma das pessoas mais estranhas do planeta. Criou o Dexys Midnight Runners e mudou o grupo tantas vezes e em tantos estilos, que chega a ser incrível que alguém consiga associar um Dexys ao outro. Quando ele apareceu com o disco Don't Stand Me Down, quase destruíu sua carreira. Mas no meio de todas aquelas canções estranhas, havia uma de 12 minutos, metade falada, metade cantada. Mas a metade cantada... meu Deus (ops, falha de ateu!), que maravilha! Vocais no limite, arranjos pomposos. Um bombom para poucos...

PAIN LIES ON THE RIVERSIDE (Live) - Se você estiver procurando uma canção para poder extravasar, berrar, pular, mas não quer ouvir mais Sex Pistols, Clash, Ramones, eis uma bela pedida...

SERÁ QUE EU VOU VIRAR BOLOR? (Arnaldo Baptista) - Sempre que a ouço, não consigo parar de me emocionar e odiar mais ainda o que fizeram com ele no horrível Let It Bed. Arnaldo em toda sua plenitude...

PRIMEIROS ERROS (Kiko Zambianchi) - Ribeirão Preto fez algo de bom para os anos 80, sim, e foi Kiko, apesar de muita gente torcer o nariz. "Primeiros Erros" é, sem dúvida alguma, uma das melhores músicas daquele período e nem o Capital Inicial conseguiu estragá-la em seu acústico. E ela faz parte de todo um imaginário meu, de dor e solidão, especialmente quando o encontrava na noite da cidade.

STRANGERS WHEN WE MEET (David Bowie) - Quando Bowie lançou Outsider, o disco mostrava algumas boas idéias e alguma falta de melodia. Talvez porque todas elas estivessem nessa pungente canção, uma das mais tristes, elegantes e interessantes que ele já produziu. E ela foi trilha-sonora durante muito tempo nos meus anos de Folha de S. Paulo, ainda mais na versão ao vivo de um pirata que até hoje conservo.

FEEL LIGHTER TONIGHT (The Laybacks) - Minha canção secreta, desconhecida e que me faz ser grato ao Peter Kowarsky por ter me mandando uma coletânea de seu selo, Cumbersome. Infelizmente tentei entrevistá-los quando ouvi essa perfeição pop, mas a banda nem existia mais. E, ao que aparece, nem mais o site. Uma pena, pois queria colocar uma foto deles. Que Oasis o que! Isso sim, é clássico!

MONK'S DREAM (Thelonious Monk) - O maior pianista do jazz em um de seus sonhos particulares e que fez a cabeça de muita gente, incluindo a minha. Com seu jeito extremamente pessoal de tocar e uma filosofia única - "não toque o que o público quer, toque o que você quer e deixe que eles escolham as melhores entre estas" - Thelonious Monk foi mais que um simples pianista: foi também um dos melhores compositores da história e uma das grandes almas que esse planeta já teve.

 

DIA ETERNO (Violeta de Outono) - O Violeta tinha bala para ser uma excelente banda pop, se Fabio quisesse. "Dia Eterno" é uma eterna prova disso e um dos grandes momentos desse ex-trio, hoje quarteto.

ALONE AGAIN OR (Love) - Arthur Lee morreu recentemente, mas o Love deixou algumas canções que entraram para o patrimônio mundial. Uma delas é essa maravilhosa, que abre Forever Changes, e mistura música mexicana, psicodélica, pop, e com um arranjo vocal perfeito. Rest in peace, Arthur...

WOULDN'T IT BE NICE (Beach Boys) - Quando Brian Wilson resolveu fazer música "séria", os Beach Boys naufragaram nas paradas e muita gente torceu o nariz. Mas não há como negar que a faixa de abertura de Pet Sounds é das melhores canções já produzidas na história. Outro maluco-beleza (mas esse ainda está vivo) inesquecível.

FLORES (Titãs) - Os anos entre 1986 e 1989 foram os melhores dos Titãs, que lançaram três impecáveis discos de estúdio. "Flores" faz parte de Õ Blésq Blom, e conseguiu combinar bela poesia, com uma grande melodia. Até o sax de Paulo Miklos escapa da cafonice, numa boa. Grande momento de um grupo que não soube parar.

LE FREAK (Chic) - "Good Times" e "Le Freak" são dois momentos maravilhosos da era disco e pouca gente resistiu ao ritmo produzido pelo guitarrista Nile Rodgers e sua trupe. Se você quer saber de onde Duran Duran e muitos outros tiraram aquela mistura de guitarras funk, com uma cozinha matadora e um tremendo visual, precisa ouvir essas duas pérolas correndo. Não foi por acaso, que Niles se tornou um grande produtor nos anos 80, produzindo Bowie (fase Let's Dance), entre outras preciosidades.

ICE COLD ICE (Hüsker Dü) - Difícil escolher apenas uma canção de Warehouse: Songs and Stories. Esse (originalmente) álbum duplo é o canto do cisne do Dü e mostrou Bob Mould mais inspirado do que nunca. Junto com "Could You Be The One?" são os dois grandes momentos de uma banda fundamental.

NO MORE LONELY NIGHTS (Paul McCartney) - O velho baladeiro de plantão, o grande mestre pop de todos os momentos em uma canção que dispensa apresentações se você viveu nesse planeta nos últimos 40 anos. É Paul McCartney! (precisa dizer mais alguma coisa?)

FOLLOW ME (Rory Gallagher) - Como sinto falta da minha coleção completa de Mr. Gallagher! Por que me desfiz de tudo? "Follow Me" é uma canção menor de um álbum que pouca gente gosta - Stage Struck - porque ele simplesmente deixa o blues de lado e resolve pegar pesado, e tocar muito alto. E como toca. E que lindo solo em "Follow Me". Ah, Rory, que saudades...

Encerro aqui essa coluna. Não vou prometer que não farei uma Velhas Companheiras parte 4 porque promessa de ateu não vale. E também porque a saudade ainda bate na minha porta. Até a próxima...

 

 

 


 

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