Esqueça
o papo de promessas. Eu prometi que não voltaria ao tema
aí do título, mas como bom ateu, não tenho
medo de ser punido e, além disso, serve como uma espécie
de acerto de contas comigo mesmo, já que ando muito amargo
nos últimos tempos. Sendo assim, um pouco de nostalgia
nesse site em que tudo cheira e lembra nostalgia. Canções
importantes - e você ainda achava que o tema não
seria revivido? Tolinho...
I
HAVE FORGIVEN JESUS (Morrissey) - Ah, o velho desbocado,
voltou em 2004 com o melhor disco do século XXI, de longe.
Vomitando toda sua raiva em uma produção luxuosa,
Morrissey nunca esteve tão contundente e afiado como nessa
clássica canção, em que aparece vestido de
padre. Só há um pequeno defeito: ele até
pode ter perdoado Jesus, mas, eu, jamais!
THE CONCEPT (Teenage
Fanclub) - Certas canções permanecem escondidas
na memória e é uma surpresa danada quando são
redescobertas. Isso vale para esse clássico do Teenage,
com seus mais de seis minutos, metade instrumental, lembrando
demais o velho e bom Neil Young. Uma dessas canções
que você ouve e não quer mais ouvir outra.
EVERYBODY
KNOWS THIS IS NOWHERE (Neil Young) - Faixa-título
do segundo disco-solo de Neil é uma canção
que traz todos os elementos essenciais de seu estilo. Uma música
que pode te deixar alegre e triste ao mesmo tempo. Inesquecível...
FRIENDS (Led Zeppelin)
- Quando minha irmã voltou dos Estados Unidos, no final
de 1988, trouxe na bagagem uma fita cassete de III.
Ela tinha detestado e acabou me dando. De todas as belas músicas
deste disco (meu favorito de toda a discografia do Led), está
essa bela balada acústica, extremamente cativante.
THE WEIGHT (The
Band) - Certamente uma das 10 melhores canções
da década de 60, o Band foram mestres em fazer arranjos
delicadíssimos, com vocais dobrados, e lindos arranjos.
Perdi a conta de quantas vezes andei pelas ruas de São
Paulo ouvindo essa maravilha...
KISS
(Prince) - Assim como Morrissey, Prince é um cara
que todos gostam de malhar: ambíguo sexualmente, convencido,
temperamental, baixinho, arrogante, e gênio! Dono de grandes
discos, Prince fez de "Kiss" uma das granções
canções dos anos 80 e de todos os tempos. Todo mundo
dançou e cantou, ainda que neguem de pés juntos.
E ainda ganhou uma versão para lá de divertida (e
cafona) de Tom Jones...
BREAK ON TROUGH
(The Doors) - Um dos meus discos ao vivo favoritos é
Absolutely Live, que nunca saiu com a capa original
em CD. E nesse antigo vinil duplo, eu era simplesmente fascinado
pela canção do primeiro disco deles, de 1967. Sabe-se
lá quantas vezes a ouvi bem alto, lá por 1986 ou
1987, muito antes dessa histeria imbecil que hoje assola a obra
dos Doors e me faz desistir de escrever uma coluna sobre eles.
Essa versão é mil vezes melhor que a de estúdio
e quase um grito primal.
THIS
IS WHAT SHE'S LIKE (Dexys Midnight Runners) - Kevin Rowland
é uma das pessoas mais estranhas do planeta. Criou o Dexys
Midnight Runners e mudou o grupo tantas vezes e em tantos estilos,
que chega a ser incrível que alguém consiga associar
um Dexys ao outro. Quando ele apareceu com o disco Don't
Stand Me Down, quase destruíu sua carreira. Mas
no meio de todas aquelas canções estranhas, havia
uma de 12 minutos, metade falada, metade cantada. Mas a metade
cantada... meu Deus (ops, falha de ateu!), que maravilha! Vocais
no limite, arranjos pomposos. Um bombom para poucos...
PAIN LIES ON THE
RIVERSIDE (Live) - Se você estiver procurando uma
canção para poder extravasar, berrar, pular, mas
não quer ouvir mais Sex Pistols, Clash, Ramones, eis uma
bela pedida...
SERÁ QUE
EU VOU VIRAR BOLOR? (Arnaldo Baptista) - Sempre que a
ouço, não consigo parar de me emocionar e odiar
mais ainda o que fizeram com ele no horrível Let
It Bed. Arnaldo em toda sua plenitude...
PRIMEIROS
ERROS (Kiko Zambianchi) - Ribeirão Preto fez algo
de bom para os anos 80, sim, e foi Kiko, apesar de muita gente
torcer o nariz. "Primeiros Erros" é, sem dúvida
alguma, uma das melhores músicas daquele período
e nem o Capital Inicial conseguiu estragá-la em seu acústico.
E ela faz parte de todo um imaginário meu, de dor e solidão,
especialmente quando o encontrava na noite da cidade.
STRANGERS WHEN
WE MEET (David Bowie) - Quando Bowie lançou Outsider,
o disco mostrava algumas boas idéias e alguma falta de
melodia. Talvez porque todas elas estivessem nessa pungente canção,
uma das mais tristes, elegantes e interessantes que ele já
produziu. E ela foi trilha-sonora durante muito tempo nos meus
anos de Folha de S. Paulo, ainda mais na versão ao vivo
de um pirata que até hoje conservo.
FEEL LIGHTER TONIGHT
(The Laybacks) - Minha canção secreta,
desconhecida e que me faz ser grato ao Peter Kowarsky por ter
me mandando uma coletânea de seu selo, Cumbersome. Infelizmente
tentei entrevistá-los quando ouvi essa perfeição
pop, mas a banda nem existia mais. E, ao que aparece, nem mais
o site. Uma pena, pois queria colocar uma foto deles. Que Oasis
o que! Isso sim, é clássico!
MONK'S
DREAM (Thelonious Monk) - O maior pianista do jazz em
um de seus sonhos particulares e que fez a cabeça de muita
gente, incluindo a minha. Com seu jeito extremamente pessoal de
tocar e uma filosofia única - "não toque o
que o público quer, toque o que você quer e deixe
que eles escolham as melhores entre estas" - Thelonious Monk
foi mais que um simples pianista: foi também um dos melhores
compositores da história e uma das grandes almas que esse
planeta já teve.
DIA ETERNO (Violeta
de Outono) - O Violeta tinha bala para ser uma excelente
banda pop, se Fabio quisesse. "Dia Eterno" é
uma eterna prova disso e um dos grandes momentos desse ex-trio,
hoje quarteto.
ALONE AGAIN OR
(Love) - Arthur Lee morreu recentemente, mas o Love deixou
algumas canções que entraram para o patrimônio
mundial. Uma delas é essa maravilhosa, que abre Forever
Changes, e mistura música mexicana, psicodélica,
pop, e com um arranjo vocal perfeito. Rest in peace,
Arthur...
WOULDN'T
IT BE NICE (Beach Boys) - Quando Brian Wilson resolveu
fazer música "séria", os Beach Boys naufragaram
nas paradas e muita gente torceu o nariz. Mas não há
como negar que a faixa de abertura de Pet Sounds
é das melhores canções já produzidas
na história. Outro maluco-beleza (mas esse ainda está
vivo) inesquecível.
FLORES (Titãs)
- Os anos entre 1986 e 1989 foram os melhores dos Titãs,
que lançaram três impecáveis discos de estúdio.
"Flores" faz parte de Õ Blésq
Blom, e conseguiu combinar bela poesia, com uma grande
melodia. Até o sax de Paulo Miklos escapa da cafonice,
numa boa. Grande momento de um grupo que não soube parar.
LE
FREAK (Chic) - "Good Times" e "Le Freak"
são dois momentos maravilhosos da era disco e pouca gente
resistiu ao ritmo produzido pelo guitarrista Nile Rodgers e sua
trupe. Se você quer saber de onde Duran Duran e muitos outros
tiraram aquela mistura de guitarras funk, com uma cozinha matadora
e um tremendo visual, precisa ouvir essas duas pérolas
correndo. Não foi por acaso, que Niles se tornou um grande
produtor nos anos 80, produzindo Bowie (fase Let's Dance),
entre outras preciosidades.
ICE
COLD ICE (Hüsker Dü) - Difícil escolher
apenas uma canção de Warehouse: Songs and
Stories. Esse (originalmente) álbum duplo é
o canto do cisne do Dü e mostrou Bob Mould mais inspirado
do que nunca. Junto com "Could You Be The One?" são
os dois grandes momentos de uma banda fundamental.
NO MORE LONELY
NIGHTS (Paul McCartney) - O velho baladeiro de plantão,
o grande mestre pop de todos os momentos em uma canção
que dispensa apresentações se você viveu nesse
planeta nos últimos 40 anos. É Paul McCartney! (precisa
dizer mais alguma coisa?)
FOLLOW
ME (Rory Gallagher) - Como sinto falta da minha coleção
completa de Mr. Gallagher! Por que me desfiz de tudo? "Follow
Me" é uma canção menor de um álbum
que pouca gente gosta - Stage Struck - porque
ele simplesmente deixa o blues de lado e resolve pegar pesado,
e tocar muito alto. E como toca. E que lindo solo em "Follow
Me". Ah, Rory, que saudades...
Encerro aqui essa coluna.
Não vou prometer que não farei uma Velhas Companheiras
parte 4 porque promessa de ateu não vale. E também
porque a saudade ainda bate na minha porta. Até a próxima...
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