Tente
imaginar a seguinte cena: estamos no ano de 1967, o auge do movimento
hippie e do rock psicodélico. Por toda a América
e pelo mundo, jovens andam de bata, cultivam paz e amor, tomam
LSD, fumam maconha, tudo ao embalo de bandas como Grateful Dead
(a mais expressiva de todas e de maior número de fãs),
Jefferson Airplane, Love, Jimi Hendrix Experience, Doors, Mamas
and the Papas, além de Bob Dylan, The Who, Beatles, Rolling
Stones, etc... Agora imagine uma versão totalmente radical
disso: uma banda em que os músicos, principalmente seu
líder, compõem uma ode à heroína,
arrancam sons horripilantes de suas guitarras, a ponto de espantar
qualquer engenheiro de som do estúdio, e letras que falam
de sadomasoquismo, drogas, sexo, submundo, caos e homossexualidade.
Acrescente uma turnê em pequenas casas, com performances
esquisitas, uma deslumbrante cantora húngara com um forte
sotaque e tudo isso dirigido por Andy Warhol. Só poderia
acontecer em Nova York. Só poderia ser um fracasso de venda.
Só poderia causar escândalo. Mas o que ninguém
previu na época é que esse grupo se tornaria um
dos mais importantes e influentes de todos os tempos. O nome?
Velvet Underground. Sabe de onde foi tirado tal nome? De um livro
underground pornô. Tá bom ou quer mais?
Durante uma entrevista nos
anos 80, um repórter perguntou, cuidadosamente para Lou
Reed, que tinha fama de ser agressivo com a mídia, qual
seria a definição sobre o primeiro álbum
do Velvet. Lou nem pensou: "é simplesmente o mais
importante disco da história do rock". Desconcertado
com a resposta, o repórter tentou argumentar se não
seria o Sgt. Pepper's dos Beatles. Lou não perdeu
a calma e fulminou: "eu disse o mais importante e não
o que mais vendeu. Se não está convencido, pergunte
para essa nova geração de onde eles tiram esse som."
Apesar da arrogância, Lou Reed estava certo. Mesmo com pouca
repercussão na época do lançamento, já
que ia tudo contra o que se gravava naquele tempo, o disco da
"banana" como ficou conhecido, está entre os
mais importantes já feitos. O que Lou esqueceu de dizer
é que não foi apenas a geração dos
anos 80 influenciada por ele, mas todo o movimento punk. Isso
se esquecermos o impacto que causou em alguns dos seus contemporâneos,
como David Bowie e Iggy Pop. Mas por que tanto sucesso para uma
banda obscura? Com a palavra, Iggy: "eu me lembro que fui
à casa de uma amiga. Entre um beijo aqui e ali, ela colocou
o disco do Velvet. Na hora eu parei, fiquei assustado, e depois
não parava de ouvir. Eu queria saber mais sobre aquelas
letras, aquela selvageria no som. Eu perguntei o que era e ela
riu na minha cara, falando que eu era muito careta. Pois foi isso
que me senti na hora: um careta! Como uma banda dessas existia
e eu não conhecia?"
Bowie não fica atrás:
"eu ouvi o disco em Londres pouco tempo depois do lançamento.
Não acreditava nos meus ouvidos. Era totalmente fora de
moda, agressivo, sujo, excitante. Ninguém concordava comigo
quando mostrava o disco e colocava para ouvir. As pessoas pediam
para eu desligar o aparelho de som, ficavam chocadas. Londres
apesar de ser uma das principais cidades da época em qualidade
de música, não estava preparada para agüentar
aquilo. Sinceramente, nem eu sabia como gostava. Só sabia
que pensava conhecer esse grupo."
David fez muito mais do que
conhecer o Velvet. Foi ele o principal responsável pela
volta de Lou Reed ao mundo do rock nos anos 70, quando ninguém
queria dar um contrato ao cantor, devido ao seu passado. Bowie
discorda: "eu não fiz nada por Lou. Apenas abri algumas
portas para que ele voltasse a compor. Fiquei muito honrado em
produzir Transformer, mas depois ele mostrou que tinha
muito a oferecer. Gosto de pensar que ajudei na sua volta, mas
o mérito depois de continuar e tornar-se o que é
até hoje é totalmente dele. E ele merece muito mais."
Vale registrar que no seu disco de 1971, Hunky Dory, Bowie
compôs "Queen Bitch" inspirado em Lou.
Mas o que fez do Velvet Underground
uma banda tão peculiar, a ponto de influenciar todo mundo,
mesmo depois de extinta? A mesma "febre" aconteceu com
os Doors de Jim Morrison, na época, a ponto de uma revista
colocar uma foto do cantor em uma capa com os seguintes dizeres:
“ele é quente, ele é bonito e ele está
morto”. Por que as duas bandas se tornaram maiores depois
de acabadas do que quando existiram? Uma das respostas pode ser
a postura dos dois grupos, especialmente de seus líderes:
tanto Jim como Lou eram inteligentes, agressivos, polêmicos,
carismáticos. A diferença é que Morrison
virou um símbolo sexual, mais admirado do que entendido
e que isso o irritava, a ponto de no final da banda, engordar
e fazer músicas mais complicadas para perder esse rótulo
que tanto o atormentava. Infelizmente teve a vida abreviada. Mas
um dia voltaremos ao fenômeno Doors. Por hora, falemos da
turma de Andy Warhol.
Lou já tinha experiência como compositor do pequeno
selo Pickwick Records. Havia gravado alguns compactos, em várias
bandas obscuras. Quando entrou para a Universidade de Syracuse,
era um dos DJs do local, tocando os mais diversos tipos de música.
Foi ali que começou a tocar junto de Sterling Morrison,
um garoto que ficava no campus da Universidade, embora não
fosse um aluno legalmente matriculado. Foi também quando
conheceu um de seus maiores influenciadores, se não o maior,
o poeta Delmore Schwartz, que morava lá.
"Quando conheci Delmore,
ele me disse que a pior coisa que poderia fazer para a minha carreira
era gastar meu tempo lendo James Joyce (escritor irlandês
e que ficou famoso pelo seu romance Ulisses). Comecei a
ler então Raymond Chandler, Burroughs, para poder começar
a escrever minha canções."
Schwartz , que morreu em
66, antes mesmo do grupo gravar o seu primeiro disco, foi decisivo
na carreira do compositor: "Nunca vou me esquecer um dia
em que estávamos em um bar, pouco antes de sua morte. Bebíamos
muito e eu estava tentando ler ao mesmo tempo preocupado em levá-lo
para a sua casa. Ele virou para mim e disse que quando morresse
iria para um lugar bem melhor e que de lá estaria observando
meus passos. Também falou para que eu nunca vendesse minha
arte, que não me submetesse a quem quer que fosse. E concluiu:
“se ninguém poderá te assombrar, lembre-se
que tenho esse poder sobre você”. Aquilo me deixou
muito impressionado e quando compus “European Son”,
coloquei no sub-título, 'para Delmore Schwartz'."
Lou continuou na pequena Pickwick escrevendo canções
e formando seus primeiros grupos. Montou uma banda chamada Primitives
e depois de compor "The Ostrich", que desagradou o selo,
programou um show para a banda. Nessa época conheceu John
Cale. Natural do País de Gales, na cidade de Garnant, pode
ser considerado o verdadeiro músico da banda, já
que por anos freqüentou escolas para desenvolver sua aptidão.
Dividido entre a paixão pelas canções folclóricas
e pelo rock and roll que chegava pela Rádio Luxemburgo,
Cale mudou ainda jovem para estudar na Golsdmith College of Art,
de Londres, e começou a escrever suas primeiras sinfonias.
Conseguiu uma bolsa para estudar composição moderna,
em Tanglewood, Massachusetts. No final do curso, ao invés
de investir na carreira de música clássica, viajou
para Nova York, encantando com o espírito de "vale
tudo" que a cidade oferecia e acabou se juntando ao grupo
minimalista de LaMonte Young, chamado Dream Syndicate. No grupo
começou a tocar viola, um instrumento incomum. Cale explicou
que optara pela viola quando estava na escola porque era o único
instrumento que tinha sobrado para ele. Agradou em cheio, pois
criou um tipo de blues, tipo de música que para LaMonte
todos os acordes deveriam ser tocados juntos, e isso acabou sendo
a base do som do Velvet. "A viola, quando amplificada, produzia
um zumbido e criava uma paisagem para improvisarmos à vontade".
Nessa época, Cale
queria encontrar alguém da Pickwick. Apareceu o violinista
Tony Conrad, do Dream, que marcou uma apresentação
conjunta com os Primitives. Durante o primeiro encontro com John
Cale, Lou mostrou umas novas canções que estava
compondo, entre elas "Heroin". Decidiram então
montar um novo grupo. Lou lembrou-se de Sterling e convidou para
trabalhar junto com os dois. Na bateria, foi chamado Angus MacLise,
que fazia parte do grupo de LaMonte e tinha profundo conhecimento
do submundo musical e cinéfilo da cidade. Sterling, que
tinha estudado trumpete até os 13 anos, abandonou o instrumento
e começou a aprender guitarra para poder entrar em uma
banda. Morrison vivia em Long Island e adorava o som das rádios,
especialmente o rock que o DJ Alan Freed, talvez o mais famoso
e importante do rock, colocava no ar. Ele lembra que todo aquele
som invadia o céu e que para um garoto da modesta Long
Island, Nova York era bem mais distante que Oz.
"O que mais gostei em
Lou é que nós dois não víamos o blues
como uma religião e não queríamos ser um
virtuose do instrumento e nem pretendíamos aprender cada
riff de guitarra. Eu gostava, por exemplo, da guitarra de Chuck
Berry, mas gostava muito mais de suas letras."
Com a formação
fechada, a banda escolheu o nome de Warlocks, que depois foi alterado
para Falling Spikes. O nome Velvet Undergound só foi adotado
quando Tony trouxe um livro de sadomasoquismo de Michael Leigh.
"Adoramos o nome, que soava legal e dava uma alusão
ao cinema underground da cidade. E já tínhamos composta
Venus in Furs, que caiu como uma luva no contexto. Não
havia nenhuma conotação bizarra sexual no nome que
escolhemos como as pessoas pensavam. Era apenas um exercício
literário."
Durante todo o ano de 1965,
o Velvet ensaiou sem parar no apartamento de John e fez suas primeiras
apresentações no Cinematheque da Rua Lafayette,
fazendo trilhas sonoras de filmes obscuros. Conrad começou
a gravar os tapes dessas sessões, que sedimentou o som
do Velvet. Em algumas delas, ouvia-se sons de carros e buzinas
da rua passando embaixo da janela aberta. O tape já tinha
canções como "Heroin", Venus in Furs",
"All Tomorrow Parties" e "I'm Waiting for The Man".
Nessas gravações ouvia-se apenas três integrantes
do que seria o Velvet, Sterling, Lou e John. Tony apenas gravava,
sem tocar nada.
"No início, tocávamos
para nós mesmos, sem maiores compromissos. Começamos
a achar então que talvez alguém se interessasse
pelo nosso som. Durante uma viagem para a Inglaterra, John pegou
uma fita (com "Heroin", "I'm Waiting for The Man"
e "Wrap Your Trouble in Dreams") e começou a
tentar mostrá-la, ainda que de forma amadora, até
chegar em Marianne Faithfull, que era empresariada por Andrew
Oldham, mesmo empresário de os Rolling Stones, lembra Sterling.
John ri quando lembra do
encontro com Marianne: "Eu cheguei para ela e disse que estávamos
querendo um contrato com uma gravadora e perguntei se Mick Jagger
poderia nos ajudar. Ela me olhou quase rindo e disse que iria
falar de nós para ele, fechando a porta na minha cara.
Eu dei também uma cópia para alguns amigos meus
da Goldsmith, na esperança que alguém pudesse nos
ajudar. Mas a coisa mais importante que trouxe quando voltei para
Nova York, foram os discos do Small Faces e do The Who, que já
começavam a colocar barulhos em suas composições.
Eu disse ao Lou que eles estavam tocando aquilo para nós,
afinal era o que fazíamos."
Ainda na Inglaterra, apesar
de pouca divulgação conseguida, o grupo chamou a
atenção do diretor Antonioni, que filmaria no ano
seguinte "Blow Up", um retrato da juventude londrina.
Sua banda favorita para aparecer na película era do The
Who, de Pete Townshend. Como não conseguiu chegar a um
acordo financeiro com eles, acabou assinando com o Yardbirds.
Mas mesmo antes de fechar com os Yardbirds, Antonioni gostou do
som do VU e tentou um contato, mas fracassou devido às
barreiras trabalhistas inglesas.
Ao voltar para Nova York,
chamaram a atenção do crítico musical Al
Aronowitz, que trabalhava para Bob Dylan, e na companhia do cantor
norte-americano, acabou conhecendo os Beatles e os Stones. Ele
se comprometeu a ajudar a banda, quando tiveram uma briga com
Angus MacLise. "Angus achou que estávamos violentando
nossa arte, ao comercializá-la. Ele nos dizia que éramos
artistas e deveríamos ser apenas isso. Nós falávamos
que estávamos morrendo, falidos, e que queríamos
ajuda. Ele não aceitou nossos argumentos, pediu demissão
e voltou para o submundo", fala Sterling Morrison.
Sem Angus, o grupo tinha
que achar um novo baterista. Foi chamada então Maureen
Tucker, uma apaixonada por Stones e Bo Diddley, além dos
ritmos africanos. Seu kit de bateria era o mais simples possível.
No dia 11 de novembro de 1965 fizeram o primeiro show, na Summit
High School, arranjado por Aronowitz. Era um show de três
bandas (além do Velvet, 40 Fingers e Myddle Class tocariam.
O Velvet era a banda do meio) e executaram apenas três canções:
"Heroin", "Venus in Furs" e "I'm Waiting
for The Man". Depois dessa apresentação, o
jornalista conseguiu em dezembro, um contrato para um show, no
Café Bizarre, pagando cinco dólares para cada membro.
Além das músicas próprias, o grupo complementava
o set-list, com três covers: ("Brights Light, Big City",
de Jimmy Reed, "Carol" e "Little Queenie, ambas
de Chuck Berry) . O Velvet acabaria sendo criticado e banido em
outros bares ao tocar uma nova composição, "Black
Angel's Death Song". Lou até concorda que mereciam
ser barrados: "Nossa idéia era de berrar as palavras
junto com o som, sem nenhum significado. Além da letra
pesada, John tocava a viola bem alto, que chocava com o som da
minha guitarra e de Sterling. Era realmente muito agressivo."
O Velvet começou a
mostrar então seu desprezo pelos clubes locais. Foram escalados
para tocar em um bar na noite de véspera de Natal e odiaram
a idéia. Para provocar o dono do local, tocaram "Black
Angel's..". Ele ordenou que a banda parasse com aquele barulho,
e por pura provocação, executaram de novo a canção.
Foram demitidos na hora, mas conseguiram um fã, Andy Warhol,
que estava na platéia e havia sido levado ao show por Gerard
Malanga, um estudante que morava nos estúdios Factory de
Andy e tinha visto o grupo tocar no Cinematheque. Warhol ficou
impressionado com o que viu e ouviu, perguntou se poderia integrar
a banda ao seu estúdio e começou a produzir o primeiro
disco do grupo, em maio de 1966.
Mas
Andy nunca havia produzido um disco antes e deixou que a banda
se sentisse à vontade no estúdio para tocar enquanto
gravava todas as sessões. Decidiu então colocar
a banda como principal atração do seu projeto multimídia,
"The Exploding Plastic Inevitable", que ficou conhecido
pela sigla E.P.I. Enquanto a banda ensaiava, bolou a famosa capa,
fazendo da banana um desenho fálico em rosa, tentando captar
a essência das letras de Reed, que abusava da palavra sexo
das mais estranhas maneiras.
O projeto incluía
o que se chama Light Show, ou seja, projeções
coloridas no fundo do palco enquanto alguma ação
está realizada no palco. Esta é a primeira vez que
um light show é levado em circuito. Mormente para ser usado
durante uma apresentação de uma banda de rock. "The
Exploding Plastic Inevitable" excursionou boa parte da América
onde o grupo teve a oportunidade de ser vaiado em lugares variados
como Texas, Novo México e em Los Angeles.
Warhol foi corajoso, se não
imprudente, mas apesar de toda má critica em relação
ao espetáculo apresentado, o jogo de luz (light show) acabou
sendo a primeira coisa absorvida pelo sistema. Pink Floyd é
uma banda que assumiu como obrigatório em todas as suas
apresentações. Bill Graham, ao inaugurar o Fillmore
East, contratou toda uma equipe chamado The Joshua Light Show,
para oferecer light shows durante as apresentações
de todas os grupos que lá tocaram.
Curiosamente, Warhol não
foi quem inventou o conceito de jogos de luz. Isto foi bolado
na década de 50 por dois beatniks em um hotel de Marrocos.
A criação desta arte é de Brion Gysin e Ian
Sommerville, e utilizaram primeiro em Paris com fitas gravadas
e projeções enquanto poetas recitavam seus poemas.
Começou a haver uma
interação entre a banda e Warhol. O grupo precisava
de alguém como Andy para estruturar sua vida, arranjar
shows, enquanto Andy tinha a banda só para ele e usando-a
nos seus mais variados projetos, em várias trilhas sonoras
(veja a lista no final do texto). De forma lenta, convenceu
o Velvet a aceitar uma cantora húngara, de sotaque carregado,
chamada Christa Paffgen, e conhecida como Nico. No seu currículo,
havia uma ponta no filme "La Dolce Vita", do cineasta
italiano Fellini, em 1960. Ela havia gravado um compacto lançado
na Inglaterra em 1965, que tem em seu lado B uma música
folk chamado "I'm Not Saying" com a particiapção
de Brian Jones nas guitarras e Backing Vocals. O lado A teria
a curiosa co-autoria de Olhdam-Page chamado "The Last Mile",
sem Jones, porém com um um músico brilhante, que
depois marcaria de forma definitiva o rock: nada menos que Jimmy
Page na guitarra. Igualmente responsável pela produção
do compacto, Page fazia parte do selo Immediate Records do empresário
dos Stones, Andrew Oldham.
O próximo trabalho de Andy era fazer Lou Reed compor alguma
música para a voz de Nico. Lou fez "Femme Fatale"
e "I'll be Your Mirror". O primeiro atrito entre Lou
e o pessoal da Factory foi com o diretor Paul Morrissey, um diretor
cult que conseguiu relativa fama com um filme de temática
homossexual chamado Flesh, estrelado por Joe Dallesandro.
Paul achava que Nico deveria cantar todas as músicas. Lou
não concordou. No final, além das duas canções
escritas para ela, seria a voz principal de "All Tomorrow's
Parties". Mas Nico começou a mostrar uma forte personalidade
e várias vezes se recusava a cantar. Ao mesmo tempo, virou
a estrela do "Exploding Plastic Inevitable", pela sua
beleza.
"Nessa época
criou-se um clima tenso entre nós, porque Lou queria tocar
e Nico muitas vezes não queria fazer. Ela não estava
nem aí para o que a banda achava. Os ânimos só
foram acalmados quando Lou fez as duas canções para
Nico, que ficou realmente comovida. Depois disso, os dois criaram
um vínculo tão forte, que acabou ajudando muito",
lembra Cale.
Tom Wilson foi contratado
para produzir o disco, que havia assinado com a Verve, uma subsidiária
da MGM. O disco estava pronto no final de 1966. O momento era
o melhor possível: a tour E.P.I. começava a causar
furor e o Velvet era a grande estrela. Quando pensavam que o disco
finalmente seria lançado, aconteceu um imprevisto: a gravadora
resolveu primeiro lançar um grupo chamado The Mothers of
Invention, liderado por Frank Zappa, alegando que também
era um tipo de som totalmente diferente do que se fazia na época.
As duas bandas eram realmente
originais, mas com propostas e atitudes totalmente antagônicas:
enquanto Zappa, que odiava a cultura hippie e a ideologia do flower
power que considerava estúpida, infantil e impraticável
na prática, além de desprezar as drogas, o Velvet
abusava da substâncias químicas em alta escala, com
letras muito mais agressivas, falando do submundo de Nova York.
Superado
o problema, finalmente foi lançado o disco intitulado The
Velvet Underground and Nico. A contra-capa do disco captura
a banda tocando ao vivo, tendo atrás o filme Chelsea Girls
projetado, que acabou causando um problema sério para a
MGM. O principal ator do filme, Eric Emerson, fora preso por posse
ilegal de ácido e processou a gravadora por uso indevido
da imagem. Na verdade, precisava do dinheiro para pagar o processo.
A gravadora chegou a um acordo com o ator, e em compensação,
fez uma má distribuição do LP. Quando a primeira
prensagem foi vendida, não foi feita outra imediatamente.
Finalmente, quando o disco voltou a ser comercializado, foi totalmente
ignorado, especialmente após o lançamento de Sgt.
Pepper's dos Beatles.
Depois do fiasco, o grupo
entrou em crise, já que voltara às suas origens,
ou seja, ao total esquecimento. Não havia mais ninguém
para discutir, polemizar, o Velvet simplesmente desaparecera do
cenário. Como "vingança", entraram novamente
em estúdio com a firme intenção de fazer
um disco altamente barulhento, denso, cheio de feedbacks. Começava
a nascer White Light/White Heat. Novos problemas começaram
a surgir: Tom Wilson roubara o posto de produtor que era de Andy
Warhol, que por sua vez, não sabia como lidar com a indústria
fonográfica. Além de tudo, Warhol não esperava
que o primeiro disco fosse tão ruim de venda. Insatisfeito,
se afastou da banda. "Foi um choque para nós, porque
Andy podia ter todos os defeitos, mas era um homem de palavra,
e tinha garantido que nos ajudaria até o fim.", disse
Reed. Andy argumentara que precisava fazer dinheiro para manter
seus projetos, e que não conseguiria manter o grupo apenas
com apresentações em galerias de arte. Além
da derrocada de Andy, Nico começou a ficar incontrolável
e pensava em abandonar o grupo e seguir para uma carreira solo.
Ela lentamente havia preparado o terreno ao conhecer um jovem
compositor chamado Jackson Browne, durante a E.P. I. e no mesmo
ano, lançou seu primeiro disco, Chelsea Girl.
"Foi muita coisa para
nós. Primeiro Andy, depois Nico. Nós ficamos totalmente
perdidos. A gota final foi quando ela chegou atrasada para o show
no Boston Tea Party, aparecendo apenas para cantar a última
música e nós não deixamos. Não havia
mais Velvet e Nico e não havia mais Andy", lembra
Tucker.
Mesmo assim, o grupo gravou
o segundo álbum. Mas as richas internas eram grandes e
no álbum seguinte The Velvet Underground foi a vez
de John Cale ser expulso por Lou Reed, por diferenças "ideológicas".
Depois disso, o grupo perdeu
Lou enquanto gravava o quarto disco Loaded. O Velvet ainda
existia quando Lou saiu, mas sem ele, John e Nico, obviamente
não significava mais nada. Eles voltaram a se encontrar
juntos, pela última vez, em alguns shows na França,
em 72. Depois disso, cada um seguiu carrreira solo. John e Lou
só voltariam a ser amigos em 1989, quando fizeram juntos
um emocionante disco chamado Songs for Drella, em homenagem
a Andy, que morrera anos antes. Drella era o apelido de Warhol,
uma mistura de Drácula com Cinderela e que ele odiava.
A banda ainda voltaria a se juntar, em 1993, fazendo uma turnê
vitoriosa pelo mundo. Foi o último suspiro da banda, que
gravou um disco ao vivo duplo e virou lenda, entrando anos depois
no Rock and Roll of Fame, introduzidos por uma velha amiga: Patti
Smith.
Só para ilustrar a
parceria de Andy Warhol e o grupo, vale citar as trilhas sonoras
em que a banda participou de filmes produzido por Andy.
Hedy (1965)
Direção:
Andy Warhol
Filmmakers Co-op
Trilha Sonora: Velvet Underground
Andy Warhol fez vários
filmes "alternativos" na segunda metade dos anos 60
sendo que os entre 65 e 66, geralmente continham música
incidental com Velvet Underground improvisando livremente.
The Chelsea Girls (1966,
drama, cor/p&b, 210 min.)
Direção:
Andy Warhol
Roteiro: Ronald Tavel
Filmmakers Co-op
Elenco e Participações: Ondine, Brigid Polk, Mary
Woronov, Nico, Eric
Emerson.
Trilha Sonora: Velvet Underground
Andy Warhol tenta nos apresentar
um pouco da boêmia nova-iorquina dos anos 60. Esse filme
é possivelmente o primeiro filme "underground"
dos 60's a ser parcialmente aceito pelo "sistema". Ele
chegou a ser um "hit" em New York, foi bem aceito em
Los Angeles e San Francisco mas foi banido em Chicago e Boston.
The Velvet Underground
& Nico (1966, documentário, p&b, 70 min.)
Direção
e produção: Andy Warhol
Filmmakers Co-op
Elenco e Participações: Velvet Underground e Nico
Documentário da banda
com sua formação original - Lou Reed, John Cale,
Sterling Morrison e Maureen Tucker - mais a modelo/cantora Nico.
Four Stars (1967, drama,
p&b, 1.500 min.)
Direção
e produção: Andy Warhol
Filmmakers Co-op
Elenco e Participações: Viva, Ondine, Nico, Patrick
Close, Brigid Polka, Taylor Mead, Edie Sedgwick, Alan Midgette,
The Velvet Underground.
Extravagância de Warhol
concluir um filme com duração de 25 horas. Ele mistura
cenas dando um efeito psicodélico, marca dos tempos. Voyerismo
com cenas de amor e de estupro, alem de situações
homossexuais. Uma versão de "apenas" 120 minutos
fora editado, porém muitos ainda assim poderão achar
o filme um pouco tedioso ou ofensivo. Parte do que ficou de fora
dessa edição se tornou o filme Lovers of Odine (1968).
Immitation of Christ (1967,
documentário, p&b, 70 min.)
Direção
e produção: Andy Warhol
Filmmakers Co-op
Elenco e Participações: Nico, Brigit Polka, Ondine,
Taylor Mead.
Warhol teria se inspirado
em textos medievais de "Thomas a Kempis". Rapaz procura
refletir sobre seu lugar no mundo. Nico é a empregada.
Este ultimo é o único não ter trilha sonora
do VU, embora tenha participação de Nico.
Antes de finalizar a coluna,
quero agradecer e muito a ajuda do honorável Creedance
Kiddo, da formidável coluna Pé de Página,
e que me deu vários toques no texto, além de corrigir
algumas informações equivocadas ou imprecisas que
me passaram despercebidas.
Vale citar uma curiosidade:
Zappa e Velvet nunca foram chegados, pelo contrário, todo
os integrantes do Velvet o odiavam. Mas os dois foram homenageados
pelo então novo presidente checo, Vaclav Havel, por sua
contribuição à música. Quando Zappa
morreu de câncer, nem assim foi perdoado por Lou, que fuzilou:
"Ainda bem que morreu. É um cretino a menos no mundo."
Com essa pequena história, deixo o tema aberto aos leitores
e com a letra de "Heroin". Um abraço!
Heroin
I don’t know just
where I’m going
but I’m gonna try for the kingdom
if I can, because it makes me feel like I’m a man
When I put a spike into my vein
then I tell you things aren’t quite the same,
When I’m rushing on my run
and I feel just like Jesus’son
and I guess that I just don’t konw
and I guess that I just don’t know
I have made a big decision
that I’m gonna try to nullify my life
because when the blood begins to flow
When it shoots off the droppers neck
When I’m closing in on death,
and you can’t help and not your guys
or all you silly girls with your sweet talk
you can all go take a walk,
and I guess that I just don’t know
and I guess that I just don’t know
I wish that I was born
a thousand years ago,
I wish that I’d sailed the darkened seas
on a great big clipper-ship,
going from this land here to that,
on a sailor’s suit and cap
away fom the big city
Where a man can not be free
of all the evils of this town
and of himself and those around,
and I guess that I just don’t know
and I guess that I just don’t know
Heroin, be death of me,
Heroin, it’s my wife and it’s my life
because a mainer to my vein
leads to a center in my head,
and then I’m better up and dead
because when the smack begins to flow
I really don’t care anymore
about all you Jim-Jims in the town
and all the politicians making greasy sounds
and everybody putting everybody else down
and the dead bodies piled up in sounds
Because when the smack
begins to flow
then I really don’t care anymore
Oh, when the heroin is in my blood
and the blood is in my heard
and than thank God, tha I’m good as dead
and thank your God, that I’m not aware
and thank God, that I just don’t know
Oh, and I guess I just don’t know
Discografia
The Velvet Underground and Nico (1967)
White Light/White Heat (1968)
The Velvet Underground (1969)
Loaded (1970)
Live at Max's Kansas City (1972)
Squeeze (1973)
1969: Velvet Underground Live vol.1 (1974)
1969: Velvet Underground Live vol.2 (1974)
VU (1985)
Another View (1986)
The Best of The Velvet Underground (1989)
Live MCMXCIII (1993)
What Goes On (1993)
Peel Slowly and See (1995)
20th Century Masters - The Millennium Collection: The Best of
the Velvet Underground (2000)
An Introduction to The Velvet Underground (2000)
Bootleg Series, Vol. 1: The Quine Tapes (2001)
Le Bataclan '72 - Lou Reed, John Cale & Nico (2003)
Gold (2005)
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