79 - Violeta de Outono - Volume 7

"Há muitos anos sonho com esse disco."

Foi assim que Fabio Golfetti, voz, guitarra, produtor e líder do (agora quarteto) Violeta de Outono definiu o novo disco do grupo, Volume 7.

Apesar de ser considerado o sétimo disco do grupo, Fabio considera-o como se fosse o segundo, já que em sua visão apenas o primeiro disco pela extinta Plug (Violeta de Outono) foi pensado como um disco. "Até o Em Toda Parte já foi meio fragmentado, pois aproveitamos composições antigas. Esse disco novo foi ensaiado durante bastante tempo e gravado de uma maneira ideal", completa.

E, para essa resenha, eu resolvi inovar. Ao invés de publicar nova entrevista na seção correspondente, optei em colocá-la junta à esse texto para que o leitor e fã do grupo possa ter uma idéia mais clara do que Fabio e o grupo pensaram na confecção do novo trabalho. Assim, primeiro, você ficam com o meu ponto de vista e depois as explicações de Fabio. Sendo assim..

Resenha

A primeira constatação é que o Violeta não é o mesmo. Saiu a formação clássica de trio entrando um quarteto. Com a volta do baterista Claudio Souza e das entradas do baixista Gabriel Costa e do tecladista Fernando Cardoso, o grupo deu uma guinada ao rock progressivo, especialmente o de "Canterbury", a grande influência de Fabio.

Essa influência pode ser notada logo na capa: a foto-montagem é uma brincadeira com a capa do primeiro álbum do Soft Machine; a cor é tirada do Third, disco também do Soft; o número "7" é influencia direta do Fourth, do mesmo grupo; mas o som está mais para Caravan e Camel.

Mas nem todo ele: o disco abre com "Além do Sol", uma pequena variação de "Línguas de Gato em Gelatina" e com um belíssimo solo de guitarra no final, que remete um pouco a Santana. Fabio disse que esse solo foi construído a partir de um pequeno tema inspirado na guitarra durante os ensaios.

A partir da faixa 2, destacam-se os lentos e bonitos solos de Hammond e o grupo mostra uma incrível coesão. A diferença para o disco anterior, Ilhas, é latente. Enquanto o trabalho anterior foi feito aos pedaços, juntando várias gravações e tendo pouco tempo para gravar a bateria, por exemplo, 7 foi gravado cuidadosamente ao vivo em dois dias no estúdio Mosh - 11 e 12 de abril. "Nós só deixamos meus vocais e alguns sons de piano para depois, mais para acertar os timbres", conta Fabio.

Assim, "Caravana", a faixa 2, é um tributo ao grupo inglês Caravan. A seguir duas faixas compostas pelo guitarrista Fernando Alge (não confundir com o tecladista Fernando Cardoso): "Broken Legs" e "Eyes Like Butterflies", que está presente no DVD do grupo gravado com a Orquestra Sinfônica da USP.

A quinta faixa "Em Cada Instante", parceria de Fabio com Fernando Cardoso mostra climas envolventes. A sexta, "Pequenos Seres Errantes" é quase uma longa suíte instrumental soturna, com vocais esparsos de Fabio, que a dedicou à seu mentor, Daevid Allen.

"Ponto de Transição" é a faixa mais curta e talvez "pop" do disco. "Sete é o retorno/ Segue o curso do céu", canta Fabio. O disco se encerra com a longa "Fronteira", a que mais possui influência do Soft Machine. Longa improvisação no teclado, mudanças no andamento e belo entrosamento entre os membros.

O disco é outro lançamento da Voiceprint e também pode ser adquirido pelo site do grupo.

Entrevista

da esquerda para a direita: Fabio Golfetti, Claudio Souza, Gabriel Costa e Fernando CardosoPergunta: - Vamos lá, Fabio. Você já me disse várias vezes que o Volume 7 é o disco que sempre quis fazer e que apenas ele, o EP da Wop-Bop e o primeiro pela Plug foram feitos de maneira adequada. É isso mesmo?
Fabio Golfetti:
- É verdade, estamos muito satisfeitos com a música que estamos fazendo, e fizemos o máximo para poder registrar o disco nas condições ideais possíveis. O primeiro passo foi compor um repertório novo e ensaiar, como uma banda deve fazer. Retomamos o conceito original do Violeta para gravar, ou seja, entramos no estúdio para registrar o que tocamos ao vivo, captar a energia, o feeling da banda, e o resultado foi esse, gravamos ao vivo no Mosh Studios em São Paulo, que tem um equipamento vintage epermite este tipo de projeto. O disco não tem overdubs, apenas alguns pianos e os vocais foram gravados separadamente.

Pergunta: - Foi uma maneira totalmente diferente daquela que você gravou Ilhas, por exemplo.
Fabio Golfetti: - Certamente. O disco Ilhas foi gravado ao longo de três anos numa fase de transformação do Violeta. Em 2000 a banda teve uma formação mais inusitada, com o Sandro Garcia (Continental Combo) no baixo e o Gregor Izidro (FuzzFaces) na bateria, uma sonoridade mais pré-psicodélica e, depois de uma série de shows, eu queria registrar algo novo com eles. Porém, logo depois, o Sandro saiu e o Angelo retornou à banda. Entramos num estúdio em São Paulo e gravamos algumas bases do repertório que vinha sendo tocado em shows. Esse material acabou ficando em arquivo, num período que estávamos tocando menos, até que eu e o Angelo resolvemos terminar tudo, gravando as partes de guitarras, vocais e efeitos em meu home studio. No final, mixamos e finalizamos o disco que também inclui algumas participações como a do Fabio Ribeiro nos teclados, o João Parahyba na percussão e a Naide Patapas em alguns vocais.

Pergunta: - Aliás, Claudio Souza é o baterista ideal do Violeta mesmo...
Fabio Golfetti:
- Nós dois somos os criadores do conceito da banda. Viemos da mesma geração e ouvimos as mesmas coisas desde a adolescência, o que foi um fator decisivo para podermos criar a banda. É difícil falar em baterista ideal para o Violeta, mas acredito que o estilo dele definiu a sonoridade da banda. O Gregor é um grande músico, também de um conceito muito coerente, foi muito prazeroso tocar com ele, que agregou um espírito mais "garagem" durante o período entre 2000 e 2003.

Pergunta: - O som de vocês se distanciou bastante do início...
Fabio Golfetti
: - Com a entrada do teclado e a banda se tornando um quarteto e definitivamente nos distanciamos do pop. Uma das razões é bem simples: nossos grandes heróis sempre foram os mestres dos anos 70; Soft Machine, Caravan, Pink Floyd, bandas que tem a base de órgão e piano muito presente, e que se distanciaram da musica pop completamente (exceto o Pink Floyd que acabou voltando para o pop). A primeira tentativa que fizemos nesta direção foi durante 1996-1997 com a participação quase efetiva do tecladista Fabio Ribeiro que está registrada no CD Live At Rio Artrock Festival 1997. Hoje, com o total descompromisso com gravadoras, estamos à vontade em fazer o som que realmente gostamos e sem ter que abandonar nosso ideal.

Pergunta: - Você gravaram uma cover de "Let the Childen Play" do Santana, que está na página do My Space de vocês...
Fabio Golfetti: - No ano passado fomos convidados pela gravadora italiana Mellow Records a participar de uma coletânea tributo ao Santana. Ficamos pensando em qual música interpretar, ouvimos as psicodélicas, mas o Gabriel no trouxe a idéia de "Let The Children Play", que é um mantra latino que se encaixou muito bem no nosso estilo. A utilização do órgão Hammond ajudou a definir a sonoridade que estávamos buscando e também direcionou o Volume 7.

Pergunta: - Eu falo isso porque gostei muito do seu solo de guitarra em "Além do Sol" porque me lembrou Santana.
Fabio Golfetti:
- Legal, obrigado... Na verdade não havia pensado em Santana, talvez subliminarmente pelo fato de termos gravado a música do Santana nas mesmas condições alguns meses antes, talvez... mas o núcleo da composição surgiu de uma seqüência harmônica na guitarra que estrutura toda a música e termina em dois solos (órgão e guitarra) num crescendo envolvente. Os solos foram "escritos" nota por nota, mas interpretados de maneira livre na sessão de gravação.

Pergunta: - Vocês estão fazendo muitos shows, não?
Fabio Golfetti:
- Estamos fazendo vários shows para marcar este novo disco, tocando quase todas as semanas como no inicio de carreira. Estamos realmente empolgados com este novo disco que certamente irá se frutificar em novas composições nesta linha.

Pergunta: - E como estão sendo essas apresentações?
Fabio Golfetti:
- Estamos tocando basicamente o disco inteiro com poucas músicas do antigo repertório e a receptividade está sendo boa. Como temos tocando com frequência, podemos variar em alguns shows, incluir alguma música diferente não usual no repertório.

Pergunta: - Mas as pessoas não reclamam?
Fabio Golfetti:
- Aqui em São Paulo, onde tocamos toda semana, eu acredito que nosso público está interessado em ouvir as novidades. Dependendo da ocasião incluímos mais musicas antigas, como foi o caso do arquivo do rock realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som). Temos também tocado as vezes outros projetos como o Tributo a Syd Barrett, e mesmo o Invisible Opera Company. O público que vai aos nossos shows hoje, não têm a referencia do que fazíamos há 20 anos, então acho que estruturar o show com nosso repertório antigo, só se justifica em locais onde raramente passamos e tocamos. O espírito da nossa nova música é outro. Comparo com a maioria das bandas nos anos 70, que faziam um álbum conceitual e saiam em tour promovendo aquele álbum, e eventualmente tocavam algo anterior, pelo menos na fase de divulgação. Isso nos ajuda a deixar a nossa música "viva", orgânica e reinventada a cada show.

Pergunta: - Sem revival, então?
Fabio Golfetti:
- Fizemos shows "memória" durante vários anos, principalmente porque nos restringíamos às poucas aparições no final dos anos 90. Nosso momento agora é outro, com o quarteto e um novo leque de possibilidades sonoras, queremos recomeçar e trazer a banda para uma nova e melhor forma.

Pergunta: - Agora que você conseguiu gravar um disco que sempre quis, pensa no Volume 8?
Fabio Golfetti:
- Nesse momento queremos tocar muito o Volume 7, fazer shows e divulgar este novo Violeta. Claro que durante a produção deste disco já surgiu a idéia para o próximo. A última faixa, "Fronteira", representa o limite no velho Violeta e nosso caminho futuro, repleto de passagens jazzísticas, progressivas e psicodélicas.

Pergunta: - Valeu, Fabio, por nova entrevista.
Fabio Golfetti:
- Muito obrigado mais uma vez pelo seu apoio, Rubens, um abraço.

Faixas

1. Além do Sol
2. Caravana
3. Broken Legs
4. Eyes Like Butterflies
5. Em Cada Instante
6. Pequenos Seres Errantes
7. Ponto de Transição
8. Fronteira
EXTRA: Videoclip (MPG)