"Há
muitos anos sonho com esse disco."
Foi assim que Fabio Golfetti,
voz, guitarra, produtor e líder do (agora quarteto) Violeta
de Outono definiu o novo disco do grupo, Volume 7.
Apesar de ser considerado
o sétimo disco do grupo, Fabio considera-o como se fosse
o segundo, já que em sua visão apenas o primeiro
disco pela extinta Plug (Violeta de Outono) foi
pensado como um disco. "Até o Em Toda Parte
já foi meio fragmentado, pois aproveitamos composições
antigas. Esse disco novo foi ensaiado durante bastante tempo e
gravado de uma maneira ideal", completa.
E, para essa
resenha, eu resolvi inovar. Ao invés de publicar nova entrevista
na seção correspondente, optei em colocá-la
junta à esse texto para que o leitor e fã do grupo
possa ter uma idéia mais clara do que Fabio e o grupo pensaram
na confecção do novo trabalho. Assim,
primeiro, você ficam com o meu ponto de vista e depois as
explicações de Fabio. Sendo assim..
Resenha
A primeira constatação
é que o Violeta não é o mesmo. Saiu a formação
clássica de trio entrando um quarteto. Com a volta do baterista
Claudio Souza e das entradas do baixista Gabriel Costa e do tecladista
Fernando Cardoso, o grupo deu uma guinada ao rock progressivo,
especialmente o de "Canterbury", a grande influência
de Fabio.
Essa influência pode
ser notada logo na capa: a foto-montagem é uma brincadeira
com a capa do primeiro álbum do Soft Machine; a cor é
tirada do Third, disco também do Soft;
o número "7" é influencia direta do Fourth,
do mesmo grupo; mas o som está mais para Caravan e Camel.
Mas nem todo ele: o disco
abre com "Além do Sol", uma pequena variação
de "Línguas de Gato em Gelatina" e com um belíssimo
solo de guitarra no final, que remete um pouco a Santana. Fabio
disse que esse solo foi construído a partir de um pequeno
tema inspirado na guitarra durante os ensaios.
A partir da faixa 2, destacam-se
os lentos e bonitos solos de Hammond e o grupo mostra uma incrível
coesão. A diferença para o disco anterior, Ilhas,
é latente. Enquanto o trabalho anterior foi feito aos pedaços,
juntando várias gravações e tendo pouco tempo
para gravar a bateria, por exemplo, 7 foi gravado
cuidadosamente ao vivo em dois dias no estúdio Mosh - 11
e 12 de abril. "Nós só deixamos meus vocais
e alguns sons de piano para depois, mais para acertar os timbres",
conta Fabio.
Assim, "Caravana",
a faixa 2, é um tributo ao grupo inglês Caravan.
A seguir duas faixas compostas pelo guitarrista Fernando Alge
(não confundir com o tecladista Fernando Cardoso): "Broken
Legs" e "Eyes Like Butterflies", que está
presente no DVD do grupo gravado com a Orquestra Sinfônica
da USP.
A quinta faixa "Em
Cada Instante", parceria de Fabio com Fernando Cardoso mostra
climas envolventes. A sexta, "Pequenos Seres Errantes"
é quase uma longa suíte instrumental soturna, com
vocais esparsos de Fabio, que a dedicou à seu mentor, Daevid
Allen.
"Ponto de Transição"
é a faixa mais curta e talvez "pop" do disco.
"Sete é o retorno/ Segue o curso do céu",
canta Fabio. O disco se encerra com a longa "Fronteira",
a que mais possui influência do Soft Machine. Longa improvisação
no teclado, mudanças no andamento e belo entrosamento entre
os membros.
O disco é outro
lançamento da Voiceprint
e também pode ser adquirido pelo site do grupo.
Entrevista
Pergunta:
- Vamos lá, Fabio. Você já me disse
várias vezes que o Volume 7 é o disco que sempre
quis fazer e que apenas ele, o EP da Wop-Bop e o primeiro pela
Plug foram feitos de maneira adequada. É isso mesmo?
Fabio Golfetti: - É verdade, estamos muito satisfeitos
com a música que estamos fazendo, e fizemos o máximo
para poder registrar o disco nas condições ideais
possíveis. O primeiro passo foi compor um repertório
novo e ensaiar, como uma banda deve fazer. Retomamos o conceito
original do Violeta para gravar, ou seja, entramos no estúdio
para registrar o que tocamos ao vivo, captar a energia, o feeling
da banda, e o resultado foi esse, gravamos ao vivo no Mosh
Studios em São Paulo, que tem um equipamento vintage
epermite este tipo de projeto. O disco não tem overdubs,
apenas alguns pianos e os vocais foram gravados separadamente.
Pergunta:
- Foi uma maneira totalmente diferente daquela que você
gravou Ilhas, por exemplo.
Fabio Golfetti: - Certamente. O disco Ilhas
foi gravado ao longo de três anos numa fase de transformação
do Violeta. Em 2000 a banda teve uma formação mais
inusitada, com o Sandro Garcia (Continental Combo) no baixo e
o Gregor Izidro (FuzzFaces) na bateria, uma sonoridade mais pré-psicodélica
e, depois de uma série de shows, eu queria registrar algo
novo com eles. Porém, logo depois, o Sandro saiu e o Angelo
retornou à banda. Entramos num estúdio em São
Paulo e gravamos algumas bases do repertório que vinha
sendo tocado em shows. Esse material acabou ficando em arquivo,
num período que estávamos tocando menos, até
que eu e o Angelo resolvemos terminar tudo, gravando as partes
de guitarras, vocais e efeitos em meu home studio. No final, mixamos
e finalizamos o disco que também inclui algumas participações
como a do Fabio Ribeiro nos teclados, o João Parahyba na
percussão e a Naide Patapas em alguns vocais.
Pergunta: - Aliás,
Claudio Souza é o baterista ideal do Violeta mesmo...
Fabio Golfetti: - Nós dois somos os criadores
do conceito da banda. Viemos da mesma geração e
ouvimos as mesmas coisas desde a adolescência, o que foi
um fator decisivo para podermos criar a banda. É difícil
falar em baterista ideal para o Violeta, mas acredito que o estilo
dele definiu a sonoridade da banda. O Gregor é um grande
músico, também de um conceito muito coerente, foi
muito prazeroso tocar com ele, que agregou um espírito
mais "garagem" durante o período entre 2000 e
2003.
Pergunta: - O som
de vocês se distanciou bastante do início...
Fabio Golfetti: - Com a entrada do teclado e a banda
se tornando um quarteto e definitivamente nos distanciamos do
pop. Uma das razões é bem simples: nossos grandes
heróis sempre foram os mestres dos anos 70; Soft Machine,
Caravan, Pink Floyd, bandas que tem a base de órgão
e piano muito presente, e que se distanciaram da musica pop completamente
(exceto o Pink Floyd que acabou voltando para o pop). A primeira
tentativa que fizemos nesta direção foi durante
1996-1997 com a participação quase efetiva do tecladista
Fabio Ribeiro que está registrada no CD Live At
Rio Artrock Festival 1997. Hoje, com o total descompromisso
com gravadoras, estamos à vontade em fazer o som que realmente
gostamos e sem ter que abandonar nosso ideal.
Pergunta: -
Você gravaram uma cover de "Let the Childen
Play" do Santana, que está na página do My
Space de vocês...
Fabio Golfetti: - No ano passado fomos convidados pela
gravadora italiana Mellow Records a participar de uma coletânea
tributo ao Santana. Ficamos pensando em qual música interpretar,
ouvimos as psicodélicas, mas o Gabriel no trouxe a idéia
de "Let The Children Play", que é um mantra latino
que se encaixou muito bem no nosso estilo. A utilização
do órgão Hammond ajudou a definir a sonoridade que
estávamos buscando e também direcionou o Volume
7.
Pergunta: - Eu
falo isso porque gostei muito do seu solo de guitarra em "Além
do Sol" porque me lembrou Santana.
Fabio Golfetti: - Legal, obrigado... Na verdade não
havia pensado em Santana, talvez subliminarmente pelo fato de
termos gravado a música do Santana nas mesmas condições
alguns meses antes, talvez... mas o núcleo da composição
surgiu de uma seqüência harmônica na guitarra
que estrutura toda a música e termina em dois solos (órgão
e guitarra) num crescendo envolvente. Os solos foram "escritos"
nota por nota, mas interpretados de maneira livre na sessão
de gravação.
Pergunta: - Vocês
estão fazendo muitos shows, não?
Fabio Golfetti: - Estamos fazendo vários shows
para marcar este novo disco, tocando quase todas as semanas como
no inicio de carreira. Estamos realmente empolgados com este novo
disco que certamente irá se frutificar em novas composições
nesta linha.
Pergunta: - E como
estão sendo essas apresentações?
Fabio Golfetti: - Estamos tocando basicamente o disco
inteiro com poucas músicas do antigo repertório
e a receptividade está sendo boa. Como temos tocando com
frequência, podemos variar em alguns shows, incluir alguma
música diferente não usual no repertório.
Pergunta: - Mas
as pessoas não reclamam?
Fabio Golfetti: - Aqui em São Paulo, onde tocamos
toda semana, eu acredito que nosso público está
interessado em ouvir as novidades. Dependendo da ocasião
incluímos mais musicas antigas, como foi o caso do arquivo
do rock realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som). Temos também
tocado as vezes outros projetos como o Tributo a Syd Barrett,
e mesmo o Invisible Opera Company. O público que vai aos
nossos shows hoje, não têm a referencia do que fazíamos
há 20 anos, então acho que estruturar o show com
nosso repertório antigo, só se justifica em locais
onde raramente passamos e tocamos. O espírito da nossa
nova música é outro. Comparo com a maioria das bandas
nos anos 70, que faziam um álbum conceitual e saiam em
tour promovendo aquele álbum, e eventualmente tocavam algo
anterior, pelo menos na fase de divulgação. Isso
nos ajuda a deixar a nossa música "viva", orgânica
e reinventada a cada show.
Pergunta: - Sem
revival, então?
Fabio Golfetti: - Fizemos shows "memória"
durante vários anos, principalmente porque nos restringíamos
às poucas aparições no final dos anos 90.
Nosso momento agora é outro, com o quarteto e um novo leque
de possibilidades sonoras, queremos recomeçar e trazer
a banda para uma nova e melhor forma.
Pergunta: - Agora
que você conseguiu gravar um disco que sempre quis, pensa
no Volume 8?
Fabio Golfetti: - Nesse momento queremos tocar muito
o Volume 7, fazer shows e divulgar este novo
Violeta. Claro que durante a produção deste disco
já surgiu a idéia para o próximo. A última
faixa, "Fronteira", representa o limite no velho Violeta
e nosso caminho futuro, repleto de passagens jazzísticas,
progressivas e psicodélicas.
Pergunta: - Valeu,
Fabio, por nova entrevista.
Fabio Golfetti: - Muito obrigado mais uma vez pelo seu
apoio, Rubens, um abraço.
Faixas
1. Além do Sol
2. Caravana
3. Broken Legs
4. Eyes Like Butterflies
5. Em Cada Instante
6. Pequenos Seres Errantes
7. Ponto de Transição
8. Fronteira
EXTRA: Videoclip (MPG)
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