"Imagine só um grupo
que reunisse o melhor cantor do mundo (Roy Orbison) com o melhor
compositor (Bob Dylan)". A frase do integrante - e também
co-produtor - Jeff Lynne dá uma idéia do que foi
o projeto Traveling Wilburys, uma idéia "mágica"
que bolou da cabeça de George Harrison e que foi gravado
em inacreditáveis 10 dias em uma banda que tinha Roy, Bob,
George, Jeff e Tom Petty. Um sucesso estrondoso, com mais de cinco
milhões de cópias vendidas e que revitalizou a carreira
de todos.
Em
1988, George Harrison estava pensando em uma idéia para
escrever um lado B para seu novo compacto-solo This Is
Love do aclamadíssimo disco Cloud Nine
(nono lugar na parada norte-americana) quando saiu para
jantar com os amigos Roy Orbison e Jeff Lynne (co-produtor do
álbum junto com George).
George convidou os dois
para a gravação no dia seguinte, em Los Angeles,
e resolveu ligar para Bob Dylan, dono de um pequeno estúdio
caseiro, em Malibu. Como George tinha esquecido uma guitarra na
casa de Tom Petty, acabaram o convidando para umas gravações.
George adorou o resultado
da sessão. A primeira canção a ser gravada
e que seria usada no lado B era "Handle with Care".
O ex-Beatle conta que
todos gostaram e ao ser perguntado qual era o nome da música,
Harrison viu uma caixa onde estava escrito "manuseie com
cuidado". Imediatamente tirou o título.
Não tendo muita
certeza sobre o que deveria fazer com a faixa gravada, Harrison
a guardou a canção por um tempo, até que
resolveu levá-la ao chefe da A&M Records, Mo Ostin,
que ficou extasiado com o material.
"Percebi que ela era
boa demais para ser um lado B, a voz de Roy era algo incrível.
'George, não podemos fazer isso virar um álbum?'
foi a pergunta que fiz. E acho que ele pensava o mesmo há
algum tempo."
Sem perder tempo, resolveu
ligar para os outro quatro participantes e convidou-os para fazerem
um álbum, uma idéia aceita de imediato. Nascia
assim, de maneira totalmente improvisada, o Traveling WIlburys.
"Se você tentasse
reunir essas pessoas para uma banda e planejasse isso, jamais
daria certo. A maneira que aconteceu foi pura mágica, sei
lá, talvez fosse uma noite de lua cheia, algo assim",
conta George.
Para as gravações,
foram até a casa do produtor e ex-líder dos Eurythmics,
Dave Stewart, que havia sido produtor de alguns LPs de Dylan dos
anos 80, como Empire Burlesque.
O estúdio era muito
apertado e não comportava cinco músicos com guitarras
e, por isso, resolveram gravar na cozinha da casa, colocando os
microfones e violões, fazendo os vocais dentro do próprio
estúdio.
Outro
problema é que Dylan tinha uma excursão agendada
para o final do mês de maio e por isso precisavam ser rápidos,
já que a primeira reunião aconteceu no dia 7 de
maio.
Dessa maneira, se comprometeram
a gravar 10 canções em 10 dias e o arranjos seria
gravados em Londres, sem Dylan.
Gravar um grupo com cinco
grandes nomes seria um problema, não fossem eles tão
amigos, a ponto de escreverem as canções juntos
e compartilharem um ambiente de pura alegria.
Na verdade, todos se sentiam
extasiados por montarem uma banda, ainda que ficcional, com nada
menos que Roy Orbison, uma das lendas dos anos 50 e aquele que
Elvis Presley considerava a maior voz do mundo.
Como não queriam
usar os nomes reais, resolveram criar uma espécie de irmandade,
os Traveling Wilburys, embora o primeiro nome fosse Trembling
Wilburys. A mudança só aconteceu após sugestão
de Lynne.
Dessa maneira, os integrantes
teriam os seguintes nomes:
Nelson Wilbury - George
Harrison
Otis Wilbury - Jeff Lynne
Lefty Wilbury - Roy Orbison
Charlie T. Jr. - Tom Petty
Lucky Wilbury - Bob Dylan
As
músicas eram feitas em conjunto, mas um dia Tom e Bob apareceram
com "Tweeter and the Moneky Man" uma canção
que só "dois americanos poderiam escrever", segundo
George. Para ele, era uma maravilha ver como Bob trabalhava e
mexia nas letras, melhorando-as a cada minuto.
Uma outra curiosidade foi
a gravação de "Rattled", onde o excepcional
baterista Jim Keltner começou a batucando por toda a cozinha
da casa, dentro do refrigerador, nas garrafas, em tudo, que ia
sendo gravado para dar uma acústica bem "suja",
como se fosse um verdadeiro rock dos anos 50.
Roy Orbison era sem dúvida
nenhuma o grande nome e - ao mesmo tempo - o grande outsider do
projeto, uma lenda viva dos anos 50 e que havia sido o ídolo
de todos eles, o grande amigo de Elvis, de Carl Perkins, de Jerry
Lee, dono da voz mais sensual e poderosa que o rock já
conhecera.
E Roy estava em um momento
de baixa na carreira na primeira metade dos anos 80, quase esquecido
e lentamente reconstruía a fama. Em 1987 havia recebido
um prêmio Grammy de Best Country Collaboration with Vocals,
ao fazer vocais com k. d. lang em "Crying".
"Se
você está sentado no sofá, trabalhando em
uma canção e Roy está cantando, mesmo que
ele cantasse em um tom suave, é um tom especial, um som
especial, um grande presente. Sempre dizíamos isso a ele:
'Roy, você deve ser o melhor cantor do mundo. E ele dizia
'sim, eu sou'. Ele tem a melhor voz da música pop. Você
não consegue superá-lo", conta Tom no DVD que
acompanha a caixa especial, editada em 2007 e que reúne
os dois CDs lançados pelo grupo.
A performance de Roy em
"Not Alone Any More" é de fazer qualquer ser
humano com sangue nas veias se emocionar.
Após as gravações,
George viajou com as gravações para Londres acompanhado
de Jeff, Tom e Roy para finalizar os arranjos enquanto Bob começava
uma nova excursão.
Lançado em outubro
de 1988, Traveling Wilburys Volume 1 foi um sucesso
imenso e inesperado, vendendo cinco milhões de cópias,
chegando ao terceiro posto nos Estados Unidos e segundo, na Inglaterra.
O
disco acabaria gravando um Grammy, em 1989, na categoria Best
Rock Performance by a Duo or Group with Vocal (album).
Um dos grandes momentos
é o vídeo promocional de "Handle with Care",
o da foto ao lado.
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "Handle with Care"
– 3:20
2. "Dirty World" – 3:30
3. "Rattled" – 3:00
4. "Last Night" – 3:48
5. "Not Alone Any More" – 3:24
Lado B
1. "Congratulations"
– 3:30
2 . "Heading for the Light" – 3:37
3 . "Margarita" – 3:15
4. "Tweeter and the Monkey Man" – 5:30
5. "End of the Line" – 3:30
O
sucesso fez com que George Harrison quisesse um novo disco, que
seria batizado de Volume 3, ao melhor estilo
beatle para criar uma mística e confudir as pessoas.
Mas o que seria um grande
acontecimento sofreu uma perda imensa com a inesperada morte de
Roy Orbison, de ataque cardíaco, no dia 6 de dezembro de
1988, aos 52 anos.
A perda de Roy foi uma
perda imensa, mas ainda os quatro membros restantes lançaram
um novo disco, o tal Volume 3, editado em 1990.
Novo disco, novos personagens:
Spike Wilbury - George
Harrison
Clayton Wilbury - Jeff Lynne
Muddy Wilbury - Tom Petty
Boo Wilbury - Bob Dylan
Apesar de ter feito um
boa carreira comercial, o novo álbum ficou bem abaixo do
primeiro, o que era normal, já que se o anterior fora concebido
de maneira "mágica", o segundo fora planejado.
E, além disso, o charme de Roy não existia mais.
O disco trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "She's My Baby"
– 3:14
2. "Inside Out" – 3:36
3. "If You Belonged To Me" – 3:13
4. "The Devil's Been Busy" – 3:18
5. "7 Deadly Sins" – 3:18
6. "Poor House" – 3:17
Lado B
1. "Where Were You
Last Night?" – 3:03
2. "Cool Dry Place" – 3:37
3. "New Blue Moon" – 3:21
4. "You Took My Breath Away" – 3:18
5. "Wilbury Twist" – 2:56
Os
dois discos ficaram durante anos sem uma edição
em CD, até que em 2007 foi editado um box com os dois CDs
e mais um DVD contendo um documentário das gravações
do primeiro álbum e todos os vídeos editados pelo
Traveling Wilburys.
E, de quebra, duas faixas
bônus em cada CD: no Volume 1, "Maxine"
e "Like a Ship" e no Volume 3, "Nobody's
Child" e "Runaway".
Deixo vocês com a
discografia da banda. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Traveling Wilburys Volume
1 (1988)
Traveling Wilburys Volume 3
The Traveling Wilburys Collection (2007)
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