Em 1990, estava voltando da faculdade de
engenharia e passei por uma lojinha de discos pertinho de casa
(eu ainda não tinha aparelho de cds). Olhei uma banda estranha
chamada World Party, com uma capa divertida. Ao olhar os créditos
e ao descobrir que o líder era Karl Wallinger, ex-integrante
do Waterboys, banda que eu até hoje adoro, comprei na hora.
Fiquei surpreso com o que saía dos sulcos: um rock alegre,
contagiante e de forte influência dos Beatles, principalmente
de Paul McCartney, de quem Karl parece ser filho direto. Acabei
correndo atrás de tudo deles nos anos seguintes. Goodbye
Jumbo tornou-se um dos discos mais queridos da minha coleção.
Além de meu herói de adolescência, Steve Wickham,
conta com a participação de Sinéad O’Connor,
que estava começando a estourar. Este é o segundo
disco do grupo - o primeiro também havia saído no
Brasil anos antes e eu nem sabia - e talvez um trabalho que muitos
gostariam de chamar "obra-prima esquecida". Se alguém
usará este termo não sei dizer, mas com certeza
eu o farei, e sem medo de errar. Uma dessas bandas subestimadas
e que merecem ser comentadas.
Poucos
ouviram falar em Karl Wallinger, um destes músicos completos,
capazes de tocar vários instrumentos e ainda ser responsável
pela produção, gravação e o que mais
aparecer. Karl teve importância decisiva em This
Is The Sea, disco que fez estourar os Waterboys. Sem
ele, os arranjos de “The Whole of the Moon”, “Don’t
Bang The Drum”, para ficarmos nas mais famosas, seria impossível.
Mike Scott era o líder, mas era Karl quem dava charme às
canções. Essa galês, nascido na pequena cidade
de Prestatyn, no dia 19 de outubro de 1957, notou que poderia
voar sozinho e sem ter horas e horas de discussão com Mike.
Sendo assim, montou em 1987, o World Party e lançou o primeiro
disco Private Revolution.
“Com o Waterboys
eu experimentei os dois lados da moeda: a possibilidade de trabalhar
nos arranjos, mas ao mesmo tempo ficar em segundo plano, já
que a estrela era Mike. Além disso, ficávamos discutindo
no estúdio e nos shows. Foi quando pensei que estava na
hora de arriscar e montar um grupo ao meu estilo.”
O seu estilo era nada mais
do que uma homenagem aos Beatles. Karl gosta de contar como foi
influenciado não só pelo grupo de Liverpool, mas
também pelos irmãos: “eu adorava ouvir The
Boxtops e The Turtles, devido aos arranjos nos vocais. Um dia,
um dos meus irmãos trouxe o Forever Changes
do Love e, logo em seguida, chega minha irmã com Sgt.
Pepper’s. Sem falar que através dele eu
aprendi amar Chuck Berry, Eddie Cochran... Era impossível
não virar músico desse jeito.”
Depois de lançar
o primeiro álbum, Karl trabalhou no disco de estréia
de Sinéad O’Connor, The Lion and The Cobra,
em 1988. “Foi uma excelente oportunidade para colocar em
prática várias idéias e conceitos em estúdio.
Sinéad é uma grande cantora e muito aberta para
idéias. E não entendo porque muita gente antipatiza
com ela, já que é de uma extrema doçura.”
Karl
resolveu então lançar o segundo disco do World Party,
e em 1990, saiu Goodbye Jumbo. Citar uma ou duas
canções inesquecíveis é um sacrilégio.
Os dois singles foram “Way Down Now” e “Put
The Message in The Box”, mas em “When The Rainbow
Comes”, faz uma homenagem aos Beatles, brincando com “Please,
Mr. Postman”, que apesar de não ser da autoria da
banda, virou sucesso com o grupo na década de 1960. O disco
acabou sendo escolhido o álbum do ano pela revista Q.
“Acho realmente o
meu melhor disco. A atmosfera era a mais leve possível
e chamei todos os meus amigos para trabalharem. Eu não
tinha uma banda, e por isso não precisava ficar brigando
na hora de estruturar uma canção. E sinceramente,
era um prazer ter Steve, Guy Chambers, Chris Whitten me ajudando.
Até Sinéad me deu uma força, fazendo backing
em “Sweet Soul Dream”.
Um dos maiores méritos
de Karl é saber imitar com perfeição Paul
McCartney, sem perder seu estilo. “Sempre achei Paul o mais
talentoso dos Beatles. John podia ser o mais carismático,
George o misterioso, mas o grande músico e arranjador era
Paul e o melhor cantor da banda.” Tanta adoração
pelo ex-Beatle o fez participar de um tributo a McCartney na década
de 90.
“Não foi um
disco de grandes hits ou vendagens imensas, mas consolidou o meu
nome. Bang! (disco de 1993) fez muito mais sucesso
e consegui ficar em segundo lugar nas paradas britânicas.
É um mistério entender os fãs. Quando você
acha que fez seu melhor disco, as pessoas elegem outro. Muitos
falavam que eu era muito lento para lançar álbuns,
já que entre Private Revolution e Goodbye
Jumbo demorei três anos e mais três para
lançar Bang!, outros quatro para Egyptology
e mais três para Dumbing Up. Foram apenas
cinco discos em 13 anos, mas eu gosto de poder trabalhar os arranjos,
dar um tempo, ouvir as canções, não tenho
necessidade de ficar me expondo sempre.”
Entre Goodbye Jumbo
e Bang! o World Party lançou um EP Thank
You World, em 1991, onde finalmente regravou uma canção
de Lennon & McCartney, “Happiness Is A Warm Gun”.
Mas não tente fazer
dele um cara “cool”: “devo ser o pior cara para
criar essa imagem. Meu jeito quieto esconde um verdadeiro maluco.
Meu método de composição é completamente
incomum. Eu ligo um gravador e fico experimentando vários
instrumentos, gravando em vários canais. Alguns engenheiros
perguntavam o que eu queria com aquilo tudo. Eu só ria
e não respondia, porque não sabia a resposta. Minha
vida ficou bem mais fácil com os computadores, quando eu
não precisava ficar perdendo horas e horas colando um pedaço
com outro e até dispensava músicos na construção
de canções.”
Apenas os dois primeiros
discos do World Party saíram no Brasil e mesmo assim, em
vinil, mas não se desesperem, pois estão em catálogos,
ainda que apenas no exterior. Uma curiosidade: a balada mais bonita
que Wallinger escreveu está em Egyptology,
de 1997 e se chama “She’s The One”. Se ainda
restava alguma dúvida sobre o poder de fazer grandes canções
pop, aqui está a prova definitiva. E sabe quem ele imita?
um tal de Paul nos áureos tempos de uma certa bandinha
de Liverpool... É ver (e ouvir) para crer.
Fiquem com a letra de “Put
The Message in the Box”. Um abraço!
Put The Message
in the Box
And if you listen
now
you might hear
A new sound coming in
As an old one disappears
See the world in just one grain of sand
You better take a closer look
Don’t let it slip right thru your hand
Won’t you please hear the call
The World says
Put The Message
in the Box
Put the box into the car
Drive the car around the world
Until you get heard
Now is the moment
Please understand
The road is wide open
To the heart of every man
A few simple words
So a mule could understand
He don’t want tomorrow
If it’s just crumbling into sand
Won’t you please hear the call
She says
Put The Message
in the Box
Put the box into the car
Drive the car around the world
Until you get heard
The World says
Give a little bit
Give a little bit of your love to me
Cos I’m waiting right here with my open arms
Give a little bit
Give a little bit of your soul to me
Cos I’m waiting to behold your many charms
Is that love in the air?
She says
Put The Message
in the Box
Put the box into the car
Drive the car around the world
Until you get heard
Until you get heard
Until you get heard
Until you get heard
Until you get heard
Discografia
Private Revolution (1987)
Goodbye Jumbo (1990)
EP Thank You World (1991)
Bang! (1993)
Egyptology (1997)
Dumbing Up (2000)
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