425 - X-Ray Spex - Germfree Adolescents

Muita gente critica o movimento punk por ser formado por grupos que mal lançavam poucos compactos e um LP já implodiam. O maior exemplo, é claro, foram os Sex Pistols. O X-Ray Spex pode ser encaixada nesse grupo, já que, oficialmente lançaram um disco e um punhados de compactos. Porém, assim como os meninos de Malcolm McLaren, o importante não era a quantidade e sim a qualidade. Liderada pela figuraça e maluca Poly Styrene, o X-Ray deixou um dos mais espetaculares, divertidos registros da época. Diferente das "musas" Siouxsie Sioux e Debbie Harry, Poly não era exatamente uma musa, mas deixou sua marca, antes de se tornar uma fanática hare krishna.


Marian Joan Elliott-Said era mais uma adolescente de 18, 19 anos (nasceu em 1957) quando resolveu que o novo movimento musical era bom demais para ser desprezado.

O novo rebento que aterrorizava o rock fora batizado de punk, virara febre no Reino Unido e, mostrava que o rock era agora mais democrático do que nos anos 60 e 70.

Inspiradas na poetisa e cantora Patti Smith, os grupos com meninas à frente, compondo e passando sua mensagem era mais do que comum.

Foi assim como o Blondie (embora Debbie Harry odiasse Patti, por ter roubado o baixista Fred Smith nos primórdios do Blondie e tê-lo convencido a tocar no Television, grupo do seu então namorado Tom Verlaine), Chrissie Hynde, Siouxsie Sioux, etc...

Poucas figuras meninas, no entanto, foram tão curiosas como Marian, ou simplesmente Poly Styrene. Marian era filha única de uma secretária e de um pai, natural da Somália e que logo deixou a menina aos cuidados maternos.

A vida era dura e como toda menina da época, tornou-se hippie. Poly sempre foi uma garota curiosa, com visões estranhas e alucinações.

Em 1976, resolveu se arriscar no mundo musical e, em maio de 1976, lançou pelo selo GTO Records um compacto com a canção Silly Boy, onde se apresentava como Mari Elliot. A cançãozinha - um pop com uma levada reggae - teve repercussão zero, embora fosse importante para lhe abrir as portas.

Marian era apenas uma adolescente que se mantinha trabalhando com moda e mais uma que sonhava com algo grande, quando sofreu um acontecimento inesperado no dia em que completava 19 anos: um show dos Sex Pistols.

Aquele 3 de julho mudou para sempre a vida da menina: era possível sim, ser feio, esquisito, cantar mal, tocar ainda pior e ser divertido, excitante e novo. Era tudo que ela sonhava.

A partir daí, se tornou uma fã dos Pistols, presente em vários shows, circulando pelos lugares certos, com as pessoas certas quando resolveu criar sua banda.

Adeus, Marion! Nascia Poly Styrene. Com um anúncio no semanário Melody Maker - young punx who want to stick it together - procurava outros jovens para começarem uma banda.

Logo apareceram o guitarrista Jak Airport (Jack Stafford) o baixista Paul Dean, o baterista Paul 'B. P.' Hurding, e uma menina de 16 anos, Lora Logic (Susan Whitby), tocando sax.

A garota tinha um bom olho para visual e logo começou a se destacar naquela banda de nome estranho - X-Ray Spex - e que tinha ainda uma saxofonista, algo raro em um grupo do estilo.

Mas Poly era uma bela letrista, com belas sacadas e uma boa voz. Sobem em um palco pela primeira em março de 1977 e ganham alguns fãs logo de cara, fazendo do combo uma das atrações, inclusive no lendário clube The Roxy.

Realizam shows com o Chelsea (de um certo William Broad, muito famoso anos depois, como Billy Idol), os Buzzocks e o Wire.

Acabam participando de um importante album ao vivo do clube The Roxy - The Roxy London WC2 -, onde detonavam "Oh Bondage, Up Yours!".

O disco trazia as seguintes músicas e artistas:

Lado 1

1. "Runaway" (Rossi/Barrett) by Slaughter & The Dogs
2. "Boston Babies" (Rossi/Barrett) by Slaughter & The Dogs
3. "Freedom" (Wisdom/Nelson/Destroy/Grotesque) by The Unwanted
4. "Lowdown" (Gilbert/Lewis/Newman/Gotobed) by Wire
5. "1 2 X U" (Gilbert/Lewis/Newman/Gotobed) by Wire
6. "Bored Teenagers" (TV Smith) by The Adverts

Lado 2

1. "Hard Loving Man" (Halford) by Johnny Moped
2. "Don't Need It" (Blade/Woodcock/Chevette/Generate) by Eater
3. "15" (Bruce/Cooper/Dunaway/Smith/Buxton) by Eater
4. "Oh Bondage, Up Yours!" (Styrene) by X-Ray Spex
5. "Breakdown" (Shelley/Devoto) by Buzzcocks
6. "Love Battery" (Shelley/Devoto) by Buzzcocks

O grupo já tinha um certo sucesso quando assinou com a Virgin um contrato para lançarem o primeiro compacto, com as canções "Oh Bondage, Up Yours!" / "I Am A Cliché", em setembro de 1977.

Poly era uma letrista inteligente e logo de cara saca a clássica abertura "Some people think little girls should be seen and not heard - well I think, oh bondage, up yours!" no compacto, se mostrando uma defensora dos direitos femininos.

Mas a letra não era um libelo anti-feminista para ela, que queria criticar o consumismo entre as mulheres.

Com um estilo diferente das outras bandas e tendo uma maneira peculiar de cantar e que influenciou muito depois (uma delas é certamente Maria McKee do Lone Justice), Poly e banda se preparavam para lançar o primeiro LP quando Lora Logic anunciou que havia sido sacada da banda por chamar mais atenção do que Poly.

Lora acabou sendo substituída por Glyn John e depois por Steve Rudi, conhecido como Rudi Thompson.

Com a maré favorável assinam novo contrato, mas com a EMI e viajam para a América, onde tocam no lendário CBGB, em Nova York e participam de um programa do lendário DJ John Peel, na BBC.

Na volta lançam um novo compacto - "The Day The World Turned Day-Glo" / "I Am A Poseur" - que fica na 23ª posição na parada e com as 15 mil primeiras cópias em vinil laranja.

Em julho é lançado um novo compacto - Identity - e apareceram no programa Top of the Pops.

Poly começa a ter um comportamento estranho e errático e aparece no concerto Rock Against the Racism, em abril, com uma toalha na cabeça.

Ao tirá-la mostra com a cabeça inteira raspada, como protesto ao consumismo e por se negar a fazer parte do esteriótipo feminino.

Poly confessou em uma entrevista que havia tido uma visão em um quarto de hotel, ao olhar para uma janela, onde via uma luz intensa, rosa e em formato de disco. A radiação atacou o corpo dela e ela sentia depois frio e calor.

Em novembro é lançado o disco, Germfree Adolescents, um dos grandes clássicos instantâneos do período.

Nas 12 faixas do álbum, percebe-se todo o talento da cantora, que escreveu todas as letras:

Lado 1

1. "Art-I-Ficial" - 3:24
2. "Obsessed with You" - 2:30
3. "Warrior in Woolworths" - 3:06
4. "Let's Submerge" - 3:26
5. "I Can't Do Anything" - 2:58
6. "Identity" - 2:25

Lado 2

1. "Genetic Engineering" - 2:49
2. "I Live Off You" - 2:09
3. "I Am a Poseur" - 2:34
4. "Germ Free Adolescents" - 3:14
5. "Plastic Bag" - 4:54
6. "The Day the World Turned Day-Glo" - 2:53

Ao longo dos anos, o disco teve outras edições, como uma de 1991, da gravadora Caroline, que tinha outra ordem nas canções:

1. The Day The World Turned Dayglo" - 2:50
2. "Obsessed With You" - 2:26
3. "Genetic Engineering" - 2:46
4. "Identity" - 2:21
5. "I Live Off You" - 2:06
6. "Germfree Adolescents" - 3:10
7. "Art-I-Ficial" - 3:21
8. "Let's Submerge" - 3:23
9. "Warrior In Woolworths" - 3:03
10. "I Am A Poseur" - 2:30
11. "I Can't Do Anything" - 2:55
12. "Highly Inflammable" - 2:32
13. "Age" - 2:36
14. "Plastic Bag" - 4:51
15. "I Am A Cliche" - 1:52
16. "Oh Bondage Up Yours!" - 2:48

* Tracks 12,13,15 & 16 from original singles.

Mas a melhor e mais completa de todas é a de 2005 que traz tudo o que a banda gravou. As 12 faixas clássicas, acrescidas de:

13. "Oh Bondage, Up Yours!" - 2:51
14. "I Am a Cliché" - 1:55
15. "Highly Inflammable" - 2:35
16. "Age" - 2:38
17. "Genetic Engineering" - 2:49
18. "Art-I-Ficial" - 3:24
19. "I Am a Poseur" - 2:34
20. "Identity" - 2:25
21. "Germ Free Adolescents" - 3:05
22. "Warrior in Woolworths" - 3:06
23. "Age" - 2:38

* Tracks 13-16 from original singles, tracks 17-20 from Peel Session 02/20/1978, tracks 21-23 from Peel Session 06/11/1978

Esgotada da vida na estrada, cansada de ser perseguida pelos fãs e com a pressão da gravadora, Poly anunciou que estava saindo do grupo. Meses antes ela havia sido internada pela mãe com suspeita de esquizofrenia. Mais tarde foi diagnosticada como transtorno bipolar.

Sem ela, a banda ainda tentou sobreviver alguns meses, mas em vão. Voltou apenas em 1980 com um disco solo - Translucence, totalmente diferente do álbum com sua ex-banda.

Insatisfeita com a vida musical, abandonou de vez, tornou-se hare krishna, voltado ao meio artístico em 1996, com o disco Conscious Consumer.

Apesar de tudo foi com o álbum clássico e os cinco compactos que fez Poly e o X-Ray Spex lendários no meio, mesmo em tão pouco tempo. Deixo vocês com a discografia da banda.

Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Singles

"Oh Bondage, Up Yours!" / "I Am A Cliché" (1977)
"The Day The World Turned Day-Glo" / "I Am A Poseur" (1978)
"Identity" / "Let’s Submerge" (1978)
"Germ Free Adolescents" / "Age" (1978)
"Highly Inflammable" / "Warrior In Woolworths" (1979)

Discos

Germ Free Adolescents (1978)
Live At The Roxy (1991)
Conscious Consumer (1995)
Live at the Roundhouse London 2008 (2009)


 

 

 

Colunas