Muita gente critica o movimento
punk por ser formado por grupos que mal lançavam poucos
compactos e um LP já implodiam. O maior exemplo, é
claro, foram os Sex Pistols. O X-Ray Spex pode ser encaixada nesse
grupo, já que, oficialmente lançaram um disco e
um punhados de compactos. Porém, assim como os meninos
de Malcolm McLaren, o importante não era a quantidade e
sim a qualidade. Liderada pela figuraça e maluca Poly Styrene,
o X-Ray deixou um dos mais espetaculares, divertidos registros
da época. Diferente das "musas" Siouxsie Sioux
e Debbie Harry, Poly não era exatamente uma musa, mas deixou
sua marca, antes de se tornar uma fanática hare krishna.
Marian
Joan Elliott-Said era mais uma adolescente de 18, 19 anos (nasceu
em 1957) quando resolveu que o novo movimento musical era bom
demais para ser desprezado.
O novo rebento que aterrorizava
o rock fora batizado de punk, virara febre no Reino Unido e, mostrava
que o rock era agora mais democrático do que nos anos 60
e 70.
Inspiradas na poetisa e
cantora Patti Smith, os grupos com meninas à frente, compondo
e passando sua mensagem era mais do que comum.
Foi assim como o Blondie
(embora Debbie Harry odiasse Patti, por ter roubado o baixista
Fred Smith nos primórdios do Blondie e tê-lo convencido
a tocar no Television, grupo do seu então namorado Tom
Verlaine), Chrissie Hynde, Siouxsie Sioux, etc...
Poucas figuras meninas,
no entanto, foram tão curiosas como Marian, ou simplesmente
Poly Styrene. Marian era filha única de uma secretária
e de um pai, natural da Somália e que logo deixou a menina
aos cuidados maternos.
A vida era dura e como
toda menina da época, tornou-se hippie. Poly sempre foi
uma garota curiosa, com visões estranhas e alucinações.
Em 1976, resolveu se arriscar
no mundo musical e, em maio de 1976, lançou pelo selo GTO
Records um compacto com a canção Silly Boy,
onde se apresentava como Mari Elliot. A cançãozinha
- um pop com uma levada reggae - teve repercussão zero,
embora fosse importante para lhe abrir as portas.
Marian
era apenas uma adolescente que se mantinha trabalhando com moda
e mais uma que sonhava com algo grande, quando sofreu um acontecimento
inesperado no dia em que completava 19 anos: um show dos Sex Pistols.
Aquele 3 de julho mudou
para sempre a vida da menina: era possível sim, ser feio,
esquisito, cantar mal, tocar ainda pior e ser divertido, excitante
e novo. Era tudo que ela sonhava.
A partir daí, se
tornou uma fã dos Pistols, presente em vários shows,
circulando pelos lugares certos, com as pessoas certas quando
resolveu criar sua banda.
Adeus, Marion! Nascia Poly
Styrene. Com um anúncio no semanário Melody
Maker - young punx who want to stick it together
- procurava outros jovens para começarem uma banda.
Logo apareceram o guitarrista
Jak Airport (Jack Stafford) o baixista Paul Dean, o baterista
Paul 'B. P.' Hurding, e uma menina de 16 anos, Lora Logic (Susan
Whitby), tocando sax.
A garota tinha um bom olho
para visual e logo começou a se destacar naquela banda
de nome estranho - X-Ray Spex - e que tinha ainda uma saxofonista,
algo raro em um grupo do estilo.
Mas
Poly era uma bela letrista, com belas sacadas e uma boa voz. Sobem
em um palco pela primeira em março de 1977 e ganham alguns
fãs logo de cara, fazendo do combo uma das atrações,
inclusive no lendário clube The Roxy.
Realizam shows com o Chelsea
(de um certo William Broad, muito famoso anos depois, como Billy
Idol), os Buzzocks e o Wire.
Acabam participando de
um importante album ao vivo do clube The Roxy - The Roxy
London WC2 -, onde detonavam "Oh Bondage, Up Yours!".
O disco trazia as seguintes
músicas e artistas:
Lado 1
1. "Runaway" (Rossi/Barrett)
by Slaughter & The Dogs
2. "Boston Babies" (Rossi/Barrett) by Slaughter &
The Dogs
3. "Freedom" (Wisdom/Nelson/Destroy/Grotesque) by The
Unwanted
4. "Lowdown" (Gilbert/Lewis/Newman/Gotobed) by Wire
5. "1 2 X U" (Gilbert/Lewis/Newman/Gotobed) by Wire
6. "Bored Teenagers" (TV Smith) by The Adverts
Lado
2
1. "Hard Loving Man"
(Halford) by Johnny Moped
2. "Don't Need It" (Blade/Woodcock/Chevette/Generate)
by Eater
3. "15" (Bruce/Cooper/Dunaway/Smith/Buxton) by Eater
4. "Oh Bondage, Up Yours!" (Styrene) by X-Ray Spex
5. "Breakdown" (Shelley/Devoto) by Buzzcocks
6. "Love Battery" (Shelley/Devoto) by Buzzcocks
O grupo já tinha
um certo sucesso quando assinou com a Virgin um contrato para
lançarem o primeiro compacto, com as canções
"Oh Bondage, Up Yours!" / "I Am A Cliché",
em setembro de 1977.
Poly era uma letrista inteligente
e logo de cara saca a clássica abertura "Some people
think little girls should be seen and not heard - well I think,
oh bondage, up yours!" no compacto, se mostrando uma defensora
dos direitos femininos.
Mas
a letra não era um libelo anti-feminista para ela, que
queria criticar o consumismo entre as mulheres.
Com um estilo diferente
das outras bandas e tendo uma maneira peculiar de cantar e que
influenciou muito depois (uma delas é certamente Maria
McKee do Lone Justice), Poly e banda se preparavam para lançar
o primeiro LP quando Lora Logic anunciou que havia sido sacada
da banda por chamar mais atenção do que Poly.
Lora acabou sendo substituída
por Glyn John e depois por Steve Rudi, conhecido como Rudi Thompson.
Com a maré favorável
assinam novo contrato, mas com a EMI e viajam para a América,
onde tocam no lendário CBGB, em Nova York e participam
de um programa do lendário DJ John Peel, na BBC.
Na volta lançam um novo compacto - "The Day
The World Turned Day-Glo" / "I Am A Poseur"
- que fica na 23ª posição na parada e com as
15 mil primeiras cópias em vinil laranja.
Em julho é lançado
um novo compacto - Identity - e apareceram no
programa Top of the Pops.
Poly começa a ter
um comportamento estranho e errático e aparece no concerto
Rock Against the Racism, em abril, com uma toalha na
cabeça.
Ao tirá-la mostra
com a cabeça inteira raspada, como protesto ao consumismo
e por se negar a fazer parte do esteriótipo feminino.
Poly confessou em uma entrevista
que havia tido uma visão em um quarto de hotel, ao olhar
para uma janela, onde via uma luz intensa, rosa e em formato de
disco. A radiação atacou o corpo dela e ela sentia
depois frio e calor.
Em
novembro é lançado o disco, Germfree Adolescents,
um dos grandes clássicos instantâneos do período.
Nas 12 faixas do álbum,
percebe-se todo o talento da cantora, que escreveu todas as letras:
Lado 1
1. "Art-I-Ficial" - 3:24
2. "Obsessed with You" - 2:30
3. "Warrior in Woolworths" - 3:06
4. "Let's Submerge" - 3:26
5. "I Can't Do Anything" - 2:58
6. "Identity" - 2:25
Lado 2
1. "Genetic Engineering" - 2:49
2. "I Live Off You" - 2:09
3. "I Am a Poseur" - 2:34
4. "Germ Free Adolescents" - 3:14
5. "Plastic Bag" - 4:54
6. "The Day the World Turned Day-Glo" - 2:53
Ao longo dos anos, o disco
teve outras edições, como uma de 1991, da gravadora
Caroline, que tinha outra ordem nas canções:
1. The Day The World Turned Dayglo"
- 2:50
2. "Obsessed With You" - 2:26
3. "Genetic Engineering" - 2:46
4. "Identity" - 2:21
5. "I Live Off You" - 2:06
6. "Germfree Adolescents" - 3:10
7. "Art-I-Ficial" - 3:21
8. "Let's Submerge" - 3:23
9. "Warrior In Woolworths" - 3:03
10. "I Am A Poseur" - 2:30
11. "I Can't Do Anything" - 2:55
12. "Highly Inflammable" - 2:32
13. "Age" - 2:36
14. "Plastic Bag" - 4:51
15. "I Am A Cliche" - 1:52
16. "Oh Bondage Up Yours!" - 2:48
* Tracks 12,13,15 &
16 from original singles.
Mas a melhor e mais completa
de todas é a de 2005 que traz tudo o que a banda gravou.
As 12 faixas clássicas, acrescidas de:
13. "Oh Bondage, Up
Yours!" - 2:51
14. "I Am a Cliché" - 1:55
15. "Highly Inflammable" - 2:35
16. "Age" - 2:38
17. "Genetic Engineering" - 2:49
18. "Art-I-Ficial" - 3:24
19. "I Am a Poseur" - 2:34
20. "Identity" - 2:25
21. "Germ Free Adolescents" - 3:05
22. "Warrior in Woolworths" - 3:06
23. "Age" - 2:38
* Tracks 13-16 from original
singles, tracks 17-20 from Peel Session 02/20/1978, tracks 21-23
from Peel Session 06/11/1978
Esgotada
da vida na estrada, cansada de ser perseguida pelos fãs
e com a pressão da gravadora, Poly anunciou que estava
saindo do grupo. Meses antes ela havia sido internada pela mãe
com suspeita de esquizofrenia. Mais tarde foi diagnosticada como
transtorno bipolar.
Sem ela, a banda ainda
tentou sobreviver alguns meses, mas em vão. Voltou apenas
em 1980 com um disco solo - Translucence, totalmente
diferente do álbum com sua ex-banda.
Insatisfeita com a vida
musical, abandonou de vez, tornou-se hare krishna, voltado ao
meio artístico em 1996, com o disco Conscious Consumer.
Apesar de tudo foi com
o álbum clássico e os cinco compactos que fez Poly
e o X-Ray Spex lendários no meio, mesmo em tão pouco
tempo. Deixo vocês com a discografia da banda.
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Singles
"Oh Bondage, Up Yours!" / "I
Am A Cliché" (1977)
"The Day The World Turned Day-Glo" / "I Am A Poseur"
(1978)
"Identity" / "Let’s Submerge" (1978)
"Germ Free Adolescents" / "Age" (1978)
"Highly Inflammable" / "Warrior In Woolworths"
(1979)
Discos
Germ Free Adolescents (1978)
Live At The Roxy (1991)
Conscious Consumer (1995)
Live at the Roundhouse London 2008 (2009)
|