por Beatrix
Algrave
Como uma banda
que lançou pouco mais de quatro álbuns e que, ainda
por cima, cantava em alemão pode ter conquistado tanto
sucesso junto à "cena gótica" inglesa?
E como a vocalista dessa dita banda pode disputar em pé
de igualdade o título de rainha dos góticos com
sua majestade única, Siouxsie Sioux? Quer respostas? Então
passe uma noite embalando os seus pesadelos com os alalaôs
da bruxa-rainha-loira Anja Huwe, ao som de "Incubus Succubus",
"Matador", "Viva", "Fetish", "Tocsin"...
e tire suas próprias conclusões...
O
Xmal Deutschland surgiu na cidade de Hamburgo, Alemanha, no ano
de 1980. Originalmente, era formado por um grupo de cinco garotas
sem nenhuma experiência musical, mas com idéias bastante
definidas sobre o som que pretendiam fazer.
Aliás, a falta de
experiências anteriores com outras bandas acabou se tornando
uma característica de todos aqueles que fizeram parte do
Xmal, sem exceção.
Enquanto na Inglaterra
o pós-punk e o "gótico" davam os primeiros
passos através de bandas do calibre de Bauhaus, Joy Division,
The Cure e Siouxsie & The Banshees, na Alemanha surgia o movimento
"Die Geniale Dilletanten", de profunda contestação
artística e de cunho quase "dadaísta"
convidando à quebra de todas as regras e convenções
musicais. Esse movimento artístico seminal que pretendia
criar uma nova linguagem artística alemã também
foi chamado de "Neue Deutsche Welle", apesar de ser
um tanto difícil estabelecer critérios de classificação
em relação às características do movimento
pela própria diversidade de leituras envolvidas, o certo
é que se tratava de uma revolução conceitual
furiosa e criativa que foi capaz de envolver grupos singulares
como Palais Schaumberg, Eintürzende Neubauten, Abwarts, DAF
e, é claro, o Xmal Deutschland.
A
formação original do Xmal Deutschland era composta
por Anja Huwe (vocais), Manuela Rickers (guitarra) e Fiona Sangster
(teclados), Rita Simon (baixo) e Caro May (bateria).
Logo após a primeira
apresentação do grupo, Rita Simon é substituída
por Wolfgang Ellerbrock que passa a ser a única figura
masculina no grupo. Com esta formação, gravam em
1980 o seu primeiro single, o hoje em dia raríssimo "Schwarze
Welt", pela pequena gravadora independente alemã Zick
Zack Records.
No ano seguinte participariam
de uma compilação da mesma gravadora com a música
"Käbermarsch". Logo
a seguir, Caro May também deixa o grupo, sendo substituída
por Manuela Zwingman, em 1982.
Na Alemanha, o Xmal seria
o precursor do estilo que ficaria conhecido como "gótico",
entretanto a aproximação em direção
ao estilo festejado em Londres se deu de forma gradual através
do mesmo "crossover" adotado por Siouxsie e seus Banshees
em relação ao punk. Não é à
toa que Anja ficaria também conhecida como a "Siouxsie
loira" e disputaria com Susan Dallion o título de
"rainha dos góticos".
No outono de 1982, realizaram
seu primeiro show na Inglaterra. Quando assinam, em 1982, com
a gravadora inglesa 4AD, lar do Cocteau Twins, a ligação
entre o Xmal e a cena de Londres se tornaria mais forte. Na verdade,
o contrato com a gravadora surgiu depois que o Xmal fez a abertura
de um show do Cocteau Twins na Inglaterra.
No
mesmo ano, o Xmal recebe um convite de John Peel para participar
de uma gravação em seu famoso e inovador programa
de rádio. Essa gravação posteriormente deu
origem a um álbum a exemplo do que aconteceu com outros
artistas.
O lançamento do
primeiro álbum Fetisch, em 1983, pela
4AD marca a introdução do som da banda para o público
não alemão, que recebe o Xmal calorosamente. Com
Fetish e o single "Qual", lançado
logo a seguir, atingem o topo da parada independente britânica.
Recebem críticas entusiasmadas e o convite para participar
da turnê do Cocteau Twins como banda de abertura.
O som do Xmal, estilo "drive"
furioso, conduzido pelo baixo massacrante e guitarra serra elétrica,
junto com os alalaôs de Anja Huwe e um teclado viajante
é unanimemente aclamado por crítica, jornalistas
e fãs, todos impressionados com o contraste entre a fúria
e a agressividade das músicas, texturas refinadas e letras
soturnas. Entretanto, os temas soturnos do álbum são
às vezes um tanto repetitivos girando em torno quase que
exclusivamente do "problema do mal".
Definitivamente
o Xmal começava a seduzir as platéias estrangeiras,
vindo a se tornar uma das mais famosas bandas do underground alemão,
principalmente na Inglaterra. A Zick e Zack relança os
dois primeiros singles do Xmal, na Alemanha, e na Europa são
lançadas por diferentes gravadoras três compilações
com músicas da banda.
No mesmo ano de 1983 participam
de uma nova turnê em junho na Inglaterra e gravam uma nova
Peel Session e regravam uma versão 12'' de "Qual".
Logo após, iniciam uma turnê por toda Europa incluindo
Holanda, Bélgica, Itália e Alemanha.
Inevitavelmente, retornam
para uma outra turnê no Reino Unido em outubro e regravam
o single "Incubus Succubus" em versão de 7''
e 12''. Logo após a turnê, Manuela Zwingmann deixa
o grupo sendo substituída pelo inglês Peter Bellenir.
O
Xmal sai de cena para um curto período de auto-exílio
musical. Mas, é apenas uma pausa necessária para
o triunfante retorno com o inspirado álbum Tocsin,
gravado em Londres, em abril de 1984, sendo lançado em
junho do mesmo ano.
Tocsin
traz o mesmo estilo que consagrou a banda em Fetish
aliado a uma batida tribal e texturas ainda mais viajantes, mas
sem abrir mão do peso, marcando a estréia do novo
baterista.
Na falta de uma melhor
definição para o estilo da banda alguns chegam a
comparar o som de Tocsin a uma mistura bem sucedida
de Cocteau Twins e Siouxsie and The Banshees. O álbum alcança
grande sucesso levando o Xmal a realizar sua primeira turnê
na América. Xmal Uber Alles!
Em 1985, gravam o single
"Sequenz" e realizam nova turnê, nos Estados Unidos
e Japão. E, na mesma época, após três
anos de muito sucesso, a banda deixa a 4AD, e funda o seu próprio
selo, XILE, assinando com a Phonogram um contrato para a distribuição
de suas gravações no Reino Unido.
Seu primeiro single pelo
novo selo é "Matador" gravado em 1986 que traz
a canção de mesmo nome, simplesmente a mais conhecida
e memorável canção da banda, e a que alcançou
o maior sucesso nas paradas alternativas da Europa.
Em
1986, John Peel lança as Peel Sessions
com a banda. O disco traz quatro faixas: Polarlicht, Der Wind,
Jahr Um Jahr e Autumn. Logo após o lançamento com
sucesso do single "Matador", a banda deixa a Europa,
e parte em turnê mundial fazendo uma série de concertos
que seriam reunidos no seu terceiro álbum, VIVA,
lançado em abril de 1987.
VIVA é
considerado um marco na carreira do Xmal, pois veio derrubar a
tese de que o grupo só era bom no estúdio, perdendo
muito do seu peso ao vivo. Este álbum veio desmentir categoricamente
essa afirmação através de uma fileira de
obras primas que arrasaram o mundo "gótico".
Suas músicas são,
literalmente, lindas de morrer. Menos furioso e caótico
que os álbuns anteriores, entretanto mostra um trabalho
mais maduro e refinado, tanto nas letras como nos sons, com maiores
doses de sintetizadores que dão um toque levemente new
wave nas faixas, a exemplo do que foi feito com "Matador"
(incluída no álbum) e que se choca com as letras
apocalípticas presentes neste disco, causando um contraste
interessante.
Após a turnê
européia de divulgação do álbum, três
membros deixam a banda e apenas Anja e Wolfgang, entre altos e
baixos, permanecem. A voz de Anja Huwe também sofreu uma
melhora considerável, já não se importando
tanto em fugir de comparações com Siouxsie, e apresentando
uma extensão vocal excelente, principalmente nas notas
altas.
Entretanto, apesar do sucesso
alcançado na Inglaterra e Europa e do reconhecimento do
talento vocal e interpretativo de Anja, além das qualidades
sofisticadas das composições do grupo (particularmente
na Alemanha pátria do Xmal), o público permanece
absolutamente indiferente aos apelos sedutores de Anja e seus
asseclas.
Contudo,
o lançamento do quarto álbum o derradeiro (infelizmente!)
Devils e o novo single "Dreamhouse"
prometia mudar essa situação.
Neste trabalho, o Xmal
consegue o efeito de combinar simultaneamente harmonia e dissonância
em um estilo evocativo ao mesmo tempo hipnótico e sedutor
raramente visto no universo pop alemão.
Associando linha simples
de baixo com inventivas texturas de guitarra e a voz avassaladora
de Anja Hüwe, que neste trabalho mostra uma clara evolução.
Ironicamente, este é o primeiro álbum da banda a
trazer letras em inglês, apesar de ter sido gravado e produzido
na Alemanha. Contou ainda com a participação do
produtor e tecladista alemão Henry Starodte. Apesar do
sucesso na Alemanha o álbum não consegue a mesma
repercussão internacional dos anteriores, sendo um prenúncio
do fim da banda, justo quando começavam a exibir um maior
amadurecimento musical.
De
fato, no final da década de 1980 o gótico começava
a sofrer uma série de baixas perdendo muito do seu fôlego.
Durante a turnê de divulgação de Devils
Anja e Wolfgang começam a não mais se entender,
apresentando sérias discordâncias em relação
ao futuro musical do grupo.
O álbum é
tido como o mais New Wave da banda, um estilo que, aliás,
ia dominando cada vez mais o som deles, mesmo com a permanência
de temas soturnos, à moda dos trabalhos anteriores. Entre
1988 e 1989, Wolfgang deixa o Xmal de lado e vai trabalhar em
parceria com outras bandas e artistas. Em 1990, ainda tentam uma
reunião com os outros membros originais da banda, o que
se mostrou impossível pelo grau de incompatibilidade apresentada
o que os levou a anunciar o inevitável fim do grupo.
Para saciar um pouco as
saudades deixo para vocês a letra da música "Matador".
E até a próxima...
Matador
Oh was fur ein fest
Take the red carnation
Carina
Place it in your hair
La-la-la-la-run to the arena
Give it to your matador
Matador....
Matador....
Matador....
Oh was fur ein fest
Spectacular - and in the avenidas
They celebrate the game
La-la-la-la-loud about devotion or death
Matador
Matador....
Matador....
Matador....
Your grace and your pose
Knows only one target
Legend and masquerade
For ever more
Gets wilder and wilder
Excited
Banderillas
Coloured knives are flashing
For the fight!
Oh celebrate
Take the red carnation
Carina
And throw it in the sand
La-la-la-launisch ist das gluck!
Matador....
Matador....
Matador...
Discografia
Compactos
Schwarze Welt (7")
(1981)
Incubus Succubus (12") (1982)
Incubus Succubus II (1983)
Incubus Succubus II (12") (1983)
Qual (12'') (1983)
Sequenz (7") (1985)
Sequenz (12") (1985)
Matador (12") (1986)
Matador (7") (1986)
Matador (Blood & Sand) (12") (1986)
The Peel Sessions (12") (1986)
Sickle Moon (12") (1987)
Sickle Moon (7") (1987)
Dreamhouse (12") (1989)
I'll Be Near You (12") (1989)
Discos
Fetisch (1983)
Tocsin (1984)
Fetisch (1986)
Viva (1987)
Devils (1989)
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