109 - ZERØ - Entrevista com Guilherme Isnard


Meus leitores (já nem sei quantos são, to me sentindo o "Sydney Sheldon" do rock) vão se lembrar dessa banda, com certeza. E muito mais do mega hit "Agora Eu Sei" em que teve a participação de Paulo Ricardo quando o RPM era a "Xuxa do rock" (melhor eu parar com essas comparações...) e quando estouraram na cena. Quem leu (ou lia) a extinta BIZZ, se lembra dos pegas do vocalista Guilherme Isnard com a crítica, quando eram chamados de "bregas", "românticos exagerados" entre outras "pérolas" culturais dos críticos. Mas, apesar disso, o ZERØ sempre manteve sua postura desde o início e tinha nas interpretações de Isnard e no apuro visual, os grandes destaques. Aliás, Guilherme explicou o motivo de tanta preocupação com a imagem (não, não vou contar, terão que ler...) e o que andou fazendo quando o grupo sumiu de cena, ou pelo menos, da grande mídia. De quebra, o grupo tem um dos melhores (senão o melhor) site de uma banda de rock tupiniquim. Vamos ao papo então?


 

Essa foi uma entrevista atípica. Atípica porque sempre que peço uma entrevista por e-mail e mando as perguntas, muitos reclamam que são muitas ou que escrever é algo cansativo. “Aí não daria para ligar? Por telefone é mais rápido...”. Bem, pode ser mais rápido, mas muitas vezes sai bem caro, como quando liguei para Andy Gill, na Inglaterra.

Mas com o Guilherme não teve isso não. Aliás, teve sim. Ele demorou para mandar as respostas e até achei que a entrevista tinha rodado. Mas o motivo pela demora foi surpreendente: Guilherme não apenas respondeu pacientemente minhas 17 questões; ele auto-biografou o ZERØ (essa é a grafia oficial), de uma maneira tão extensa, completa e bem escrita que nem vou fazer o meu famoso texto introdutório. Tudo que você sempre quis saber (e eu também!) do grupo está aqui. E você até pode conversar com a lenda. Saiba isso e muito mais agora...

PS: Eu que agradeço a entrevista, Guilherme. Se as perguntas foram inteligentes, as respostas foram ainda mais e quase não tive que “copydeskar” suas respostas. Uma coisinha ali outra acolá, mas nada sério.

Boa leitura!

Pergunta: - Guilherme, poderia, por favor, falar um pouco sobre a origem do Zero e as principais influências? Roxy Music era mesmo a grande inspiração? E de onde veio o nome?
Guilherme:
- O ZERØ surgiu em 1983, assim que eu saí dos Voluntários da Pátria. Um amigo me apresentou a uma banda de punk-jazz instrumental chamada Ultimato. Eu gostei do som e me propus a criar melodias para os temas e escrever algumas letras. Todos gostaram do resultado e então começamos a ensaiar esses temas e a compor novas canções, até juntar material para uma apresentação. Nesse meio tempo enviamos um demo-tape com cinco canções (que foram recentemente lançadas pelo fã-clube em versão para colecionadores) e acabamos sendo selecionados para uma coletânea da Deck Discos, da qual dois artistas foram selecionados para assinar um contrato com a CBS (atual Sony Music). Assim surgiu o nosso primeiro compacto com “Heróis” no lado A e “100% paixão”, no lado B. É preciso lembrar que isso aconteceu 20 anos antes dessa moda de 100% isso ou aquilo...
Essa formação, embora só tenha gravado a demo e um compacto, é a original. As influências iam do psicodelismo inglês ao art-rock norte americano, passando pelo som progressivo e a música experimental. Posso citar como influências de King Crimson a Talking Heads, e nesse meio-de-campo tem lugar ainda pra Gang of Four, Simple Minds, David Bowie e Roxy Music, é claro, mas não que eles tenha sido a maior influência. A midia é que resolveu fazer essa relação mais pela estética de elegância do que pelo som propriamente dito.
Sobre a origem do nome... é aquilo mesmo, uma lista múltipla e profundo debate. ZERØ acabou vencendo por que tinha a mesma grafia em diversas línguas e também por representar um ponto de partida, sem esquecer a conotação niilista que tinha tudo a ver com os temas existencialistas, que eram o nosso principal assunto.

um dos primeiros show da banda, no ano de 1983, em BrasíliaPergunta: - Vocês nasceram na década em que o rock brasileiro foi mais relevante. Como era a cena comparada aos dias de hoje e o espaço na mídia?
Guilherme: -
Naqueles idos de 1982 quando eu comecei, a realidade é semelhante a de hoje, com a agravante de que ainda estávamos sob o julgo da ditadura militar. As bandas tocavam umas para as outras, os artistas de rock do país eram Rita Lee e Lulu Santos e o movimento underground era solenemente ignorado pela indústria fonográfica.
Isso começou a mudar depois que o RPM, Titãs e Legião Urbana gravaram seus primeiros discos. De repente, toda aquela pressão de talento acumulado explodiu ao mesmo tempo e foi aquilo que todos os que viveram lembram com saudade, um festival de bandas de várias tendências, sotaques, estilos e propostas. E foi assim que a musica jovem brasileira virou a mesa dos enlatados internacionais, criando uma linguagem nacional para o ritmo universal da juventude, discutindo com profundidade as questões e dimensões de uma realidade totalmente brasileira.
Hoje em dia eu vejo uma cena muito parecida, centenas de bandas ignoradas por uma indústria que não faz outra coisa a não ser se queixar da pirataria que ela mesmo estimula. Ou será que ninguém percebe que um CD custa três vezes o que deveria custar? Ou ainda, que a pirataria só prejudica os autores e intérpretes, que não tem a sua propriedade intelectual remunerada, e o estado e fisco que não têm os seus impostos recolhidos. Mas mesmo assim, a Sony, que é uma das maiores reclamonas - vive ameaçando fechar as portas da sua divisão fonográfica – espantosamente, é uma das maiores fabricantes e vendedoras de CD mídia gravável e de gravadores de CD para computador. Como isso se explica? Ou sou só eu que vejo a situação por aí?
Só que, a exemplo do que aconteceu nos anos 80, essa panela de pressão vai estourar novamente, e isso acontecer será um deus nos acuda, porque o que tem de gente boa por aí, do Oiapoque ao Chuí, não é mole, não. A grande diferença é que hoje as condições de trabalho são outras, bem melhores... Já se pode compra instrumentos importados, já existem ótimos instrumentos nacionais, a estrutura de shows e turnês evoluiu demais... enfim, tudo melhorou, só a indústria fonográfica e os seus “departamentos” de marketing terceirizados (ou deveria dizer jabalizados), as rádios, é que andam para trás, na contra-mão da história.

Pergunta: - Eu sei que você já se cansou de responder, mas como alguns dos meus leitores têm menos de 20 anos, gostaria que você falasse um pouco sobre isso. É sobre a gravação de "Agora Eu Sei", que teve a participação de Paulo Ricardo, que estava no auge com o RPM. Eu me lembro de você ficar extremamente irritado quando o acusaram, de maneira injusta, de ter se aproveitado do sucesso do RPM ao convidá-lo para dividir os vocais e obter sucesso. Qual é a verdadeira versão? Quando vocês gravaram o RPM já era aquele fenômeno todo?
Guilherme:
- A irritação era por conta da insinuação maldosa e historicamente equivocada, pois o ZERØ é muito anterior ao RPM. O Paulo e o Deluqui sempre estavam na primeira fila dos meus shows, desde os Voluntários, e também freqüentavam os nossos ensaios. Foi em um ensaio que o Paulo ouviu “Agora Eu Sei” pela primeira vez e disse que era uma grande canção e que gostaria de gravá-la comigo. Entre gravar e, finalmente, lançar a canção, o RPM tornou-se o fenômeno de mídia no Brasil. A prova de que não foi uma armação é a seguinte: Naquela época, e ainda hoje, é o costume abrir o CD com a música de “trabalho”, aquela que a gravadora e o artista apostam e pretendem divulgar. A faixa 1 do LP “Passos no Escuro” é “Cada Fio um Sonho”, que era a música escolhida para a divulgação. Só que, entre prensar e lançar o LP, O RPM estourou de um jeito que, quando os radialistas descobriram que o Paulo fazia backing vocals na faixa 2, “Agora Eu Sei”, passaram por cima da nossa faixa de trabalho e saíram tocando-a. No começo isso assustou a gente, porque a gente via o que estava acontecendo com os caras e ficamos temerosos de que estaríamos atrelados àquela trajetória meteórica. Só relaxamos quando “Formosa” começou a tocar.

Pergunta: - Ouvindo o primeiro compacto e as canções gravadas nos ensaios que estão presentes no lançamento do selo Invisível, duas coisas me chamaram a atenção: a falta de um tecladista e a proximidade sonora com o Simple Minds. Existia essa proximidade com o som feito pela banda escocesa? E quando você optou por colocar um tecladista?
Guilherme:
- Bom... Como eu contei acima, o ZERØ teve uma formação “original” e uma “clássica”, a original era uma banda de duas guitarras que estava muito mais próxima da sonoridade do “Talking Heads” do que do “Simple Minds”. Em comum, só o papo cabeça... A segunda formação aconteceu por acaso, e a gente nem imaginava que ela seria uma continuidade do ZERØ. Essa formação organizou-se de um jeito muito peculiar. Eu sempre encontrava o Eduardo Amarante, que era meu vizinho em Sampa, e um guitarrista que eu admirava, inclusive, pela importância histórica (ele era, ao lado do primeiro guitarrista com quem eu toquei, o Miguel Barella do “Voluntários da Pátria”, parte do legendário “Agentss”, banda seminal do genial Kodiak Bachine). O Edu sempre que me via, perguntava porque eu não estava mais cantando, que eu era um grande cantor, blá-blá-blá... E eu sempre dizendo que havia tido duas más experiências e que não me imaginava envolvido profissionalmente com música nunca mais. Um certo dia, ele me disse que ia fazer um som na noite seguinte com dois amigos que tinham acabado de sair de suas respectivas bandas, “Degradée” e “Joe Eutanazia”– ele mesmo tinha acabado de encerrar as atividades do “Azul 29” - e me convidou. Eu relutei, mas fui. Cheguei e não conhecia ninguém, perguntei pelo Edu, que não estava, e disse que tinha sido convidado por ele. Os caras estranharam, mas disseram que ele devia estar chegando, me chamaram pra entrar. Resultado: o cara me convidou pra uma jam-session que ele não foi, e nós (O tecladista Freddy Haiat o baixista Ricky Villas-Boas e eu) compusemos “Cada Fio um Sonho” no primeiro encontro, “Agora eu Sei” no segundo e “Formosa” no terceiro, quando ele finalmente apareceu e gravou de primeira a inesquecível e marcante introdução de “Agora Eu Sei”. Na seqüência, o grande visionário Jorge Davidson, da EMI, me ligou pra saber o que eu andava fazendo. Disse que estava me divertindo sem compromissos com uns amigos, e ele me pediu pra mostrar o novo material. O resto é história.
Ou seja, novamente, nada planejado, mas tudo certo.

Pergunta: - Você sempre gostou de dizer que é um romântico incurável. Esse romantismo ainda persiste? E qual é o principal combustível de seu romantismo? Ser romântico é necessário ser brega como pregam?
Guilherme:
- Olha só, o novo show do ZERØ tem o seguinte nome: “O Quinto Elemento”, tá respondido? Eu sou mesmo romântico, desde de o tempo em que ainda não era moda. Nos anos 80, era malvisto ser romântico, mas eu nunca me importei, o nosso empresário da época, o jornalista Eduardo Logullo, dizia que o ZERØ fazia música pra quem sabia beijar e era isso mesmo. Afinal, o amor ou a falta dele, está no fundo de todas as questões importantes do ser humano.
O combustível do meu romantismo é o amor em si, e os seus desdobramentos. Brega o romantismo? Eu acho brega o desamor, a violência, a panfletagem raivosa, o protesto retórico e as canções vazias.

Pergunta: - Quais eram as bandas que eram amigas de Guilherme e do Zero? Qual foi o grande show conjunto que você realizou ou a performance mais inesquecível do grupo?
Guilherme:
- Em São Paulo a gente dividia o estúdio de ensaio com o Metrô, e o RPM era uma banda bem chegada. No Rio tinha o Hojerizah, Os Rapazes de Vida Fácil – primeira banda do Alvin L que escreve as canções do Capital Inicial - e os Picassos Falsos. Eu também era muito amigo da galera de Brasília. Pouca gente sabe, mas o ZERØ estreou lá, em 1983, no teatro do Colégio Escola Parque num show com a Plebe, a Legião e o Capital. No começo todas as bandas de lá ficavam hospedadas na minha casa quando vinham a São Paulo. O Dinho era como um irmão, assim como o saudoso Renato Russo. O ZERØ fez muitos concertos memoráveis: No Teatro do MASP (São Paulo), no Noites Cariocas do Morro da Urca (Rio de Janeiro), no Mineirinho (Belo Horizonte), entre tantos outros. Mas, muito provavelmente, os nossos maiores espetáculos foram os shows de abertura da turnê da Tina Turner, quando tocamos duas noites no estádio do Pacaembu lotado e uma noite no Maracanã, pra aproximadamente 200.000 pessoas.

Pergunta: - Passos no Escuro vendeu quase 200 mil cópias. Deu para fazer um pé-de-meia para o futuro?
Guilherme:
- Nem. Deu pra curtir muito, é verdade. Cruzeiro de veleiro pelas Ilhas Virgens Britânicas e alguns brinquedinhos tecnológicos, mas nada demais. Naquela época não se ganhava dinheiro, o divertimento era muito, mas a grana era curta. As necessidades da nossa geração criaram toda uma infra-estrutura de shows e turnês que simplesmente não existiam, no início era tudo muito mambembe. E também, o ZERØ não vendeu os 3 milhões de cópias do RPM.

 

Pergunta: - Você continua sendo um cantor 100% de seu tempo ou hoje trabalha em alguma outra coisa?
Guilherme: - Não sei se você sabe, mas eu fiquei 5 anos longe dos palcos, de 1992 até 97. Durante esse tempo fiz mil coisas diferentes tentando levar uma vida normal, mas só encontrei mil maneiras de ser infeliz. No final de 96, após quase 5 anos de silêncio, fiz um show para homenagear um grande e esquecido sambista, o Luiz Antônio, que veio a falecer um mês depois. Aí não consegui mais parar, montei uma banda pra divulgar um trabalho solo e, quando comecei a aparecer novamente, o público exigiu a volta do ZERØ. Como era aniversário de 15 anos da banda, contatei a galera da formação clássica e o Fabio Golfetti, da formação original para dois shows comemorativos, no BallRoom, no Rio e no Blen-Blen, em São Paulo. Depois disso não deixaram mais a gente parar. O ZERØ hoje faz entre 3 e 5 shows por mês, o que não é nada de extraordinário, mas que na atual conjuntura econômica-cultural, é significativo. Não dá pra viver igual nababo, mas dá pra ir levando, apostando que dias melhores virão. Fora isso, as pessoas começaram a nos regravar, a banda carioca FullGás e a cantora Nila Branco, por exemplo. Ou seja, Guilherme Isnard é 100% cantor e compositor, se é que você me entende.

 

Pergunta: - Uma das marcas fortes do Zero era o cuidado com o vestuário, o que fazia de vocês, a banda mais elegante do rock brasileiro. O visual era pensando, planejado por quem?
Guilherme: - Ué, essa é fácil, por mim é claro, antes do ZERØ eu trabalhava como designer de moda, você não sabia? (eu tinha me esquecido disso, Guilherme...)
Eu mudei pra Sampa pra desenhar a roupa da Zoomp, e quando o ZERØ foi convidado pra gravar o “Passos no Escuro”, eu criava as coleções da Ellus. Ou seja, era natural que eu tivesse uma preocupação com o figurino, até mesmo porque eu pensei em fazer uma banda por causa da moda. Não me entenda mal, mas é que eu viajava muito pro exterior pra acompanhar as coleções e os últimos lançamentos e aproveitava a oportunidade pra assistir a todos os shows que eu pudesse e fiquei com vontade de montar uma banda no Brasil.

Pergunta: - Se fosse rotular a banda em um estilo musical, qual o Zero se encaixaria? Rock, new wave, new romantics? Aliás, alguma vez esses rótulos te incomodaram?
Guilherme:
- O ZERØ é rock, com toda certeza, agora, qual o tipo de rock, nem eu e talvez ninguém saiba. Eu nunca me importei com isso, já chamaram a gente de progressivo e de neo-gótico. Você pode imaginar duas coisas mais distantes?
Mas a primeira formação, até por conta da nossa profissão (éramos 5 arquitetos e 1 designer), tinha influência do Art-Rock norte americano do começo dos 80. Já na formação clássica, a predominância era mesmo do rock progressivo inglês do final dos anos 70.

Pergunta: - Imagine que pudesse voltar ao passado. O que gostaria de repetir e o que gostaria de apagar de sua memória?
Guilherme: - Hum... essa é difícil... Deixa eu ver...
Repetir, eu acho que queria repetir tudo, menos as burradas é claro! E apagaria algumas pessoas em quem eu confiei e não devia, um moleque recalcado chamado Alex Antunes e uma tal de Juliana Zambelo que é uma traíra ignorante, pra citar só dois, mas pode crer que são vários.

 

Pergunta: - Voltando à questão da atual cena rock no Brasil. Hoje ela está praticamente morta. Os espaços são escassos, a divulgação é quase nula. Fazer música, e rock especificamente, no Brasil é quase um ato de rebeldia por todas as dificuldades. Em sua opinião porque houve essa regressão e qual é sua inspiração em continuar?
Guilherme: - Em primeiro lugar, fazer rock é um ato de rebeldia sempre! Mas a regressão foi por obra da indústria fonográfica, como eu contei lá em cima. Eles ignoravam o movimento rock até a coisa explodir, quando explodiu, trataram de ganhar rios de dinheiro, só tinha um probleminha: gravar e lançar artistas nacionais custa dinheiro, e não é pouco. Tem os custos de estúdio, capa, figurinos, fotos, videoclip, assessoria de imprensa, kits promocionais, “jabá” pra rádio, TV, etc... Então o “produto” artista nacional, é caro, tem um custo inicial, o tal de “break even” de 30.000 cópias em média – isso na época em que eu fazia parte dessa indústria, mas não deve ter mudado muito não – enquanto o “produto” artista internacional, já vem pronto, sem custos além dos de industrialização. Já vem com o master, a capa, o clip, a repercussão da mídia internacional, ou seja, é só prensar e vender, então o “break even” (o número de cópias vendidas, que são necessárias para cobrir o custo do produto) e conseqüentemente o risco, é muito menor, qualquer 3000 cópias paga o lançamento gringo.
Diante desse fato, é fácil supor que depois de uma farra inicial, as multinacionais começaram a ficar preocupadas com aquele movimento que tomou de assalto a preferência do público e a mídia. É preciso lembrar que a nossa geração conseguiu inverter os percentuais históricos de execução radiofônica que sempre estiveram em 70 a 80% de música estrangeira, para 70 a 80% de música nacional, e o melhor... de puro roquenrou!!!!
O resultado dessa “tomada de consciência” da indústria foi de que as rádios FM pararam de tocar as bandas e inventaram o tal de brega romântico, que o Paulo Ricardo veio a redescobrir no final dos anos 90. Depois do brega, veio a onda sertaneja, a onda da lambada, a onda do pagode, a onda do axé, e por aí vai...
Eu continuo justamente porque ainda tenho inspiração, e porque como todo mundo sabe o mundo é redondo, e assim também é a vida e os ciclos se repetem, mas além disso, nesse momento em que as bandas e os novos talentos pululam, algo de muito importante está para acontecer.

 

Zero faz um show em uma rave gótica, tendo Fabio Golfetti, na guitarraPergunta: - Gostaria que falasse sobre esse lançamento da Invisível. Qual a relação com Fabio Golfetti, quase 20 anos após as gravações?
Guilherme: - O Fábio sempre foi um lorde, somos amigos até hoje, eu sou fã do estilo siririca’s “glissando” guitar que ele inventou (e odeia que eu tenha batizado assim, ah ah...). Na verdade ele é o único “ZERØ original” com quem ainda me relaciono. Nós fizemos um show antológico para 3500 pessoas, com três gerações (A banda nova, mais o Ricky Villas e ele) de ZERØs no palco, numa rave gótica no pico do Jaraguá em Sampa, dois anos atrás.

O CD Dias Melhores é resultado da batalha dele e do Renato Donisete, presidente do nosso fã-clube, para lançar o material da formação clássica que estava inédito em CD. Reeditaram as duas musicas do nosso compacto, mais o nosso primeiro demotape de estúdio, gravado em 83 e de bônus, algumas gravações de ensaios. A qualidade deixa um pouco a desejar, mas para os fãs foi um lançamento inestimável.

Pergunta: - Bryan Ferry continua sendo o cara mais "cool" do mundo em sua opinião? O que achou do último disco dele, Frantic?
Guilherme:
- Nem ouvi. Isso responde a sua pergunta? Eu gosto das coisas antigas e, principalmente, do Roxy Music, na época do Brian Eno.

Pergunta: - O Zero possui um dos sites mais bonitos e elaborados das bandas brasileiras. Quem o desenhou e com quais recursos ele é mantido?
Guilherme:
- O site do ZERØ, é o presente amoroso de um cara que era fã passou a ser amigo, o Stefan Santana, que mora em Washington DC, USA. De lá mantém atualizado esse trabalho incrível. O site que esse nosso talentoso amigo e benfeitor construiu com a ajuda do Renato e de outros, é (e não porque é nosso) sem modéstia, e com certeza, o site de banda mais bonito (e como beleza não é tudo) e rico de conteúdo que eu já vi. O que você precisar ou quiser saber da gente está lá, de agenda de shows a vídeos da época do Cassino de Chacrinha. E isso tudo é mantido com os mesmos recursos que a banda. O amor que nós conseguimos inspirar desinteressados aos outros e que retorna maravilhosa e inesperadamente das formas mais espetaculares. Um grande milagre de Deus na verdade.

Ps: Se alguém se interessar em patrocinar ou apoiar, será bem-vindo. A média é de 1000 acessos por mês, já estamos em 15.000 visitantes desde que o Stefan colocou no ar, em Janeiro de 2003.

Pergunta: - Existe alguma chance do grupo voltar a gravar por uma grande gravadora? Como esse é seu projeto paralelo cantando samba? Noel Rosa e Bryan Ferry convivem pacificamente? Aliás, essa parceria daria casamento?
Guilherme: - Enquanto toda a galera da minha juventude curtia os baianos e a tropicália, eu era apaixonado pelos sons que chegavam das Minas Gerais. O Clube da Esquina foi meu único e adorado LP de MPB durante anos, e Minas soube me retribuir esse amor. Mas nós vivemos em tempos onde até pra um gênio como Milton Nascimento, está difícil gravar por uma grande gravadora. Aliás, pensando bem, eu acho que nem existe, nem cabe mais esse negócio de grande gravadora.
Flexibilizar é a palavra de ordem. Viva os regionalismos! Os sotaques! Os pequenos mercados! Os artistas de grande talento e pequeno público! Viva os selos! A internet! Viva as alternativas e os alternativos! É deles o reino dos céus.
Os meus sambas ainda darão o que falar, pode confiar, só que estão mais pra Cartola que pra Noel. Com Bryan Ferry? Deve combinar sim, ele curte, sempre fala de dançar um samba em suas canções, só eu é que estou em outra. Meu cantor predileto desde 99 é o Lian MacKahey da banda londrina Cousteau que parece que agora chama Moreau.

 

Pergunta: - Deixe uma mensagem para seus fãs e fale dos projetos futuros e como o público pode conversar contigo.
Guilherme: - Putz! Me adiantei e já mandei “aquele” recado na resposta anterior... Mas dá pra acrescentar ainda o famoso, mas verdadeiro, clichê de que todo sonho vale a pena. Eu tentei me desviar do meu e não fui feliz, então, o que eu posso aconselhar é o seguinte: Se agarre ao seu, com fé e esperança, porque o que você leva dessa vida é, ironicamente, o que você der pra ela. E ela não pede muito, só que você se comprometa com a sua verdade.
No meu futuro, com certeza, tem muita música. Com o ZERØ estamos começando a gravar o novo repertório que é fueda de bueno! Sem o ZERØ eu já compus mais de 30 sambas que espero um dia gravar. Tenho também o meu romance pra escrever, o primeiro deles... Me aguardem.

Pra conversar com a gente é só ir lá no site e clicar em contato, eu é que leio e respondo tudo.

Discografia

Heróis/ 100% Paixão (compacto, 1985)
Passos no Escuro (1985)
Carne Humana (1987)
Electro Acústico (2001)
Obra Completa (Reunião dois dois primeiros LPs, 2003)

 




 

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