Esse nunca foi um disco fácil, mas
que faltava na discografia oficial de Bowie em CD. Com alguns
meses de atraso (tirado para matar a saudade), entra aqui neste
espaço para ser comentado. O show é o já
famoso do seu primeiro adeus dos palcos. O que Bowie não
disse era sobre o tipo de adeus, no caso de seu alter-ego Ziggy,
mas não do próprio David.
O show foi gravado no dia
3 de julho de 1973, no Hammersmith Odeon. Boowie tinha no Spiders
from Mars o guitarrista mais criativo com quem já trabalhou,
Mick Ronson. Um filme foi rodado no mesmo dia, dirigido pelo conceituadíssimo
D A Pennebaker, que já havia feito Don't Look Back (documentário
sobre a turnê britânica de Dylan, em 19965) e o documentário
sobre o Festival de Monterey, o que lhe dava credibilidade e empatia
com o mundo do rock. O show de Ziggy era pesado, indigesto para
a maioria dos mortais à época: Bowie com pesada
maquiagem, roupas com toques orientais, abertura da Nona de Beethoven
tirada de Laranja Mecânica de Stanley Kubrick
e fortes doses de sexo – implícitas e explícitas.
O conceito de Ziggy por si só já era indigesto –
andrógino, egocêntrico, um rock star que teve começo,
meio e um fim trágico. E no palco, Bowie, um expert em
teatro e ex-aluno de mímica de Lindsay Kemp, levou ao extremo.
Claro que havia a música
– grande música, monumental trilha sonora de uma
geração. Era a última apresentação
de uma tour que tinha varrido o mundo por quase 18 meses –
o primeiro show foi no dia 29 de janeiro de 1972, em Aylesbury,
até esse de Londres, em 3 de julho. No meio deles, dois
discos mais que perfeitos, o próprio The Fall and
Rise of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars e Aladdin
Sane. Um repertório cristalino, uma banda coesa,
afinada e perfeita co-estrela de Bowie, talvez o mais enigmático
e sensual perfomer que o rock conheceu.
Em dois cds o repertório
total do show, com todas as nuances rockers, vaudevilles e canções
inéditas. “My Death”, de Jacques Brel, e “White
Light/White Heat”, do Velvet que nunca haviam sido gravados
por David são as duas grandes jóias escondidas.
Sua presença em palco, simulando sexo oral com Ronson ou
as entrevistas com os fãs (que podem ser conferidas no
formato DVD lançado em conjunto) dizendo serem apenas seguidores
do “Deus Bowie, o condutor de nossa espaçonave para
outro mundo”, mostra o clima ecumênico que se instalara,
se é que o rock pode ser ecumênico. Seu discurso
de adeus antes de encerrar o espetáculo com a lógica
“Rock and Roll Suicide” – “Não
é apenas o último show da tour, mas o último
show que faremos, obrigado” – mostra que Bowie estava
pronto para matar sua excepcional banda e seu personagem para
continuar a construir a mais bela, improvável e sólida
carreira que um cantor poderia ter tido antes e depois dele. Bowie
sempre foi um excepcional observador do mundo e um catalisador
de tendências, e teve em Ziggy a maior prova de sua influência
e genialidade. Esse não é simplesmente um registro
ao vivo de um show ou um grande disco. É um pedaço
precioso da música e da cultura e de sua devastadora influência
mesmo já passado 30 anos. Seu lançamento nacional
e por um preço acessível é um motivo imperdível
para ser adquirido.
Track list
Disco 1
Intro
Hang On To Yourself
Ziggy Stardust
Watch That Man
Wild Eyed Boy From Freecloud
All The Young Dudes
Oh! You Pretty Things
Moonage Daydream
Changes
Space Oddity
My Death
Disco 2
Intro
Cracked Actor
Time
The Width of A Circle
Let's Spend The Night Together
Suffragete City
White Light/White Heat
Farewell Speech
Rock'N'Roll Suicide
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