453 - Echo and the Bunnymen - Reverberation

Por preguiça, falta de interesse, vergonha ou qualquer outro motivo, nunca quis saber desse álbum. As críticas eram tão ruins que quando fiz uma coluna abordando esse tema - simplesmente escrevi o que todo mundo comentou na época e me dei por satisfeito. Mas fã não é fã se não encarar todas fases, incluindo os "piores momentos". E não é que Reverberation tem qualidades e muitas?

Sem Ian e Pete, coube a Will ser o chefe do grupo e a banda soou mais psicodélica e sessentista do que os fãs queriam. Não havia nada do quilate dos grandes momentos da banda. Apenas um punhado de belas canções e um bom vocalista. Mas os fãs e críticas não perdoram batizando a banda de Fecko and the Bunnymen..


(Echo and the Bunnymen com Noel Burke ao centro)

Por que tanto ódio assim? Qual foi o crime que o desconhecido Noel Burke cometeu?

Vamos tentar esmiuçar um pouco isso, com uma entrevista que deu a um site, em março de 2008...

Segundo Noel, sua antiga banda, St. Vitus Dance havia terminado oito meses antes e ele não estava fazendo nada, em termos musicais, apenas trabalhando em uma livraria tempo integral, em Liverpool.

Certo dia recebeu um telefonema do dono da Probe Records, Geoff Davies. Segundo ele, Geoff havia encontrado o guitarrista Will Sergeant e este tinha gostado dos vocais de sua ex-banda e queria conhecê-lo. Um encontro foi agendado e ele acabou conhecendo não apenas Will, como o baixista Les Pattinson e Jake Brockman, um músico versátil que era membro fixo do Echo em excursões.

Após se conhecerem, marcaram um pequeno ensaio para uma audição, mas a morte de Pete de Freitas acabou adiando tudo. Will, no entanto, queria seguir em frente e telefonou agendando outra data.

Com a saída de Ian McCulloch e uma nova excursão norte-americana já previamente agendada, o guitarrista saiu correndo atrás de alguém para o posto, sentindo-se traído pelo velho amigo.

Noel não era um grande fã da banda. Tinha os dois primeiros LPs, alguns singles, mas não estava familiarizado com o repertório clássico do grupo e a idéia de tocar canções antigas não o agradava, embora Les e Will tivessem participado das composições. Por isso, achou necessário comporem novo material, embora os planos tenham ficado de lado no começo, pois tinham que cobrir algumas datas no EUA, previamente agendadas.

Em nenhum momento especulou-se a troca de nomes. Eles eram Echo and the Bunnymen com Ian e Pete e continuariam sendo se eles. Além disso, Will e Les queriam provar que era capaz de seguirem em frente e Noel topou a arriscada empreitada.

Após uma turnê pouco inspirada e de poucos shows, a banda conseguiu atrair o ex-engenheiro de som dos Beatles, Geoff Emerick, para produzir o novo disco, Reverberation.

Reverberation é um disco guiado por Will, aficcionado dos anos sessenta. Tivesse sido lançado por outra banda, seria elogiado e ganharia boas críticas. Sendo um novo disco do Echo and the Bunnymen, tomou paulada.

Além de Noel e Jack, o grupo estreava um novo integrante, o baterista Damon Reece, um baterista local e que depois integraria o Spiritualized, além de casar com Elizabeth Fraser, cantora dos Cocteau Twins.

Apesar de bem produzido, bem tocado e com Noel se mostrando um bom vocalista e feliz por gravar, pela primeira vez, em condições técnicas decentes, a verdade é que o disco foi um fracasso comercial, como havia sido o primeiro solo de Ian McCulloch, que contava com a participação de sua futura parceira.

Will e Geoff rechearam as composições de dulcimers, cítaras, harmoniuns, dando uma roupagem incomum para um disco do grupo, embora interessante.

Ao ser lançado, o disco trazia as seguintes faixas:

Lado 1

01. "Gone, Gone, Gone" – 4:13
02. "Enlighten Me" – 5:01
03. "Cut & Dried" – 3:47
04. "King of Your Castle" – 4:36
05. "Devilment" – 4:44

Lado 2

01. "Thick Skinned World" – 4:18
02. "Freaks Dwell" – 3:51
03. "Senseless" – 4:55
04. "Flaming Red" – 5:33
05. "False Goodbyes" – 5:40

O único single extraído do LP foi a canção "Enlighten Me", absolutamente ignorada.

O compacto de sete polegadas trazia no lado B tinha "Lady Don't Fall Backwards", enquanto na versão 12 polegadas as músicas eram "Lady Don't Fall Backwards" e "Enlighten Me (12" extended remix)".

A canção ficou apenas na 96ª posição no Reino Unido, embora tenha conseguido a oitava posição na Hot Modern Rock Tracks, de longe, a melhor posição obtida pela banda, na América!

O lançamento recebeu críticas negativas e acabou fazendo com que a Warner dispensasse o grupo, pouco meses depois.

Noel disse que durante as gravações, havia um grande entusiasmo da companhia, em Londres e que ficou surpreso, mas nem tanto, quando foram dispensados.

O mais curioso, porém, é que ele próprio não considera Reverberation como um disco do Echo and the Bunnymen, opinião partilhada pela maioria dos fãs, para quem a banda fez cinco discos entre 1980 e 1987, se separou e voltou apenas em 1997, com Evergreen.

"Certamente não soa como um álbum dos Bunnymen. E isso não me incomoda. Eu e Will éramos mais ligados nos anos 60, como aquelas bandas da coletânea Nuggets e Geoff é uma pessoa muito inteligente e habilidosa, um verdadeiro cavalheiro e fez o máximo para nos ajudar."

Mesmo com baixas vendagens, o grupo caiu na estrada nos anos de 1991 e 1992, com shows nos EUA, Irlanda e Inglaterra, em mais de 50 datas. No fim, acabaram dispensados pela Warner.

Sem desanimar, foram atrás de novo selo, assinaram com a Euphoric Records e lançaram os dois singles finais do período Noel Burke: Prove Me Wrong e Inside Me, Inside You.

A verdade é que os fãs continuaram a perseguir Noel nos shows, até que o próprio se encheu e resolveu que aquilo não tinha mais graça alguma. E a banda terminaria ao receber um telefonema do próprio Will avisando que voltara a tocar com Ian e iam montar um outro grupo. Ele não aguentava mais ouvir "Fecko and the Bunnymen" cuspido em sua direção!

Uma pena o final, até porque o disco vale várias audições. Perca a vergonha e faça como eu, embora esteja fora de catálogo e só se encontre uma cópia usada em sites como Amazon ou ebay.

Espero que tenham curtido um pedaço pouco contado da biografia do Echo and the Bunnymen. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Crocodiles (1980)
Shine's So Hard (1981)
Heaven Up Here (1981)
Porcupíne (1983)
Ocean Rain (1984)
Songs to Learn and Sing (1985)
Echo & The Bunnymen (1987)
Reverberation (1990)
BBC Radio 1 In Concert (1992)
Evergreen (1997)
Ballyhoo (1997)
What Are You Going To Do With Your Life? (1999)
Flowers (2001)
Crystal Days 1979-1999 (2001)
Live In Liverpool (2002)
Siberia (2005)
Fillmore - San Francisco Ca 12/5/05 (2006)
House of Blues - West Hollywood Ca 12/6/05 (2006)
The Very Best of Echo & the Bunnymen - More Songs To Learn & Sing (2006)


 

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