454 - Electrafixion

É fato: fui negligente com o site nos últimos dois anos e prometo ser mais atento agora. Tenho dezenas de textos prontos e não acabados que quero desovar aos poucos. Para esse re-re-re-começo, escolhi o único disco lançado por Ian McCulloch e Will Sergeant que não pertence ao Echo and the Bunnymen, mas que culminou com a volta do grupo, dois anos depois.

Apesar de pouco conhecido, o Electrafixion deixou um CD, um EP e três ótimos singles.


Eu já havia falado deles quando fiz a coluna exatamente sobre a volta dos homens-coelhos em 1997, com o ótimo Evergreen. Mas, diabos, por que não uma coluna só deles? Então...

A história, segundo conta Ian McCulloch, começou no início dos anos 90 quando encontrou, em Londres, ninguém menos que o ex-guitarrista dos Smiths, Johnny Marr.

Ian vinha em um período de baixa em sua carreira-solo e com problemas pessoais que acabaram aumentando seu famoso gosto por bebida e drogas.

O encontro com Johnny se deu de forma amigável os dois resolveram gravar algumas canções, mas para seu despero, as fitas foram roubadas de sua van!

Mas duas dessas canções ficaram intactas - "Lowdown" e "Too Far Gone" - embora ele não soubesse exatamente o que fazer com elas.

Segundo Johnny Marr, o encontro se deu por volta de 1992 ou 1993. "Sempre gostei da voz de Ian e gravamos algumas canções que foram gravadas pelo Electrafixion. Eu também fiz a demo do que acabaria se tornando 'Nothing Lasts Forever', (primeiro single de Evergreen). Os primeiros 10 dias de nossa parceria foram criativos até a fita ser roubado quando a van ia da minha casa, em Manchester, para a casa dele, em Liverpool, uma história louca, já que, aparentemente, os ladrões estavam atrás de uma carga de oxigênio líquido! Foi um período bem interessante, embora tivéssemos problemas com as letras das músicas..."

Nesse meio-tempo Ian voltou a se aproximar de seu antigo amigo e parceiro Will Sergeant. Will não perdoava Ian por ter abandonado o Echo enquanto a banda ainda devia um disco para a Warner e com uma imensa turnê agendada. Ian, por seu lado, não o perdoava por seguir com a banda sem sua permissão e com o obscuro Noel Burke nos vocais.

O começo dos anos 90 vivia sob o furacão grunge, liderados pelo Nirvana. Ian e Will achavam que tinham gás para apresentarem algo novo, embora não tão viável economicamente.

Após recrutarem os desconhecidos Tony McGuigam (bateria) e Leon da Silva (baixo), montaram o Electrafixion.

Segundo Ian, o nome nasceu de uma idéia tola e absurda de Will: "o nome combina as palavras 'electrocution' e 'crucifixion'. Will tinha tido um sonho no qual eu era crucificado em uma cerca elétrica de arame farpado. Era um nome besta."

Musicalmente, a banda era mais barulhenta, "sônica". Ian queria mostrar que não estava morto e influenciado pelo som do Nirvana, queria soar alto, punk e urgente. E conseguiu.

O primeiro lançamento foi o EP Zephyr, com 4 faixas. Foi um choque.

Will parecia um alucinado na guitarra, mostrando todas as lições aprendidas nos discos do Velvet e dos punks ingleses. Ian provava que ainda sabia cantar, deixando a apatia de seus dois discos-solos para trás.

"Zephyr", "Burned" (que seria o nome do único disco deles, mas que, ironicamente, não constava nele), "Mirrorball" e "Rain on Me" eram um achado.

A primeira aparição da banda se deu em Paris, no dia 4 de fevereiro de 1994, quando Ian e Will tocaram quatro músicas em um programa de rádio do DJ Bernard Lenoir e se apresentaram como Black Space: "Timebomb", "Burned", "Feel My Pulse" e "Bed of Nails".

No primeiro dia de julho de 1994, a banda fez a primeira apresentação, em Liverpool. No total foram 30 shows pelo Reino Unido até o final.

Nessa época, o rock inglês começava a voltar às suas raízes com a explosão do britpop e dois veteranos dos anos 80 mostravam como se fazer um bom rock and roll.

Após a animadora estréia, a banda voltou aos estúdios e lançou o único registro, Burned.

Co-produzido ao lado de Mark "Spike" Tent (Madonna, U2, Bjork, Depeche Mode, Coldplay, Muse, Lilly Allen, Gwen Stefani, No Doubt, Mission, Yeah Yeah Yeahs, Oasis, Keane, Massive Attack, entre outros), o grupo mostrou, em 11 faixas, que ainda tinham muita lenha para queimar.

O petardo trazia as seguintes faixas, todas assinadas por McCulloch & Sergeant, exceto as duas com Marr:

01."Feel My Pulse" – 4:23
02. "Sister Pain" – 4:15
03. "Lowdown" (McCulloch, Sergeant, Johnny Marr) – 4:35
04."Timebomb" – 4:38
05. "Zephyr" – 4:12
06. "Never" – 4:46
07. "Too Far Gone" (McCulloch, Sergeant, Marr) – 4:48
08. "Mirrorball" – 3:56
09. "Who's Been Sleeping in My Head?" – 4:00
10. "Hit by Something" – 3:28
11."Bed of Nails" – 3:51

Após o lançamento do disco, a banda passou o ano de 1995 com shows na Europa e EUA. Will e Ian pareciam renascidos, se divertindo no palco com um repertório novo e raramente tocando algo do catálogo do Bunnymen, exceção feita a "Do It Clean" que fechou alguns shows.

O disco chegou a ficar na 38ª posição na parada britânica por duas semanas e ainda rendeu alguns compactos, como "Never".

Aos poucos, a banda foi acrescentando canções dos bunnymen nos shows, em 1996, especialmente na turnê norte-americana. "Quando tocávamos 'Killing Moon' sentíamos a velha magia e foi aí que resolvemos voltar como Echo and the Bunnymen. A parte complicada era convencer Les (Pattison, o baixista original). Bastou apenas ele dizer 'ok' e estávamos de volta.", relembra Ian.

Burned, contudo, ainda teve uma edição especial e rara, em CD, em 2007, uma edição dupla, qur trazia o EP Zephyr, no primeiro disco, além dos singles "Lowdown", "Never" e "Sister Pain" e versões ao vivo, onde fechavam com "Loose", dos Stooges.

Disco 1

"Feel My Pulse" – 4:23
"Sister Pain" – 4:15
"Lowdown" (McCulloch, Sergeant, Johnny Marr) – 4:35
"Timebomb" – 4:38
"Zephyr" – 4:12
"Never" – 4:46
"Too Far Gone" (McCulloch, Sergeant, Marr) – 4:48
"Mirrorball" – 3:56
"Who's Been Sleeping in My Head?" – 4:00
"Hit by Something" – 3:28
"Bed of Nails" – 3:51
"Zephyr" – 4:54
"Burned" – 5:45
"Mirrorball" – 4:05
"Rain on Me" – 5:35
"Never" (Utah Saints 'Blizzard On' Mix) – 6:36

Disco 2

"Holy Grail" – 7:07
"Land of the Dying Sun" – 5:28
"Razor's Edge" – 4:15
"Not of This World" – 3:38
"Subway Train" – 3:00
"Work it on Out" – 4:25
"Zephyr" (live) – 4:31
"Feel My Pluse" (live) – 3:56
"Sister Pain" (live) – 4:01
"Lowdown" (live) (McCulloch, Sergeant, Marr) – 4:32
"Never" (live) – 5:38
"Holy Grail" (live) – 5:40
"Too Far Gone" (live) (McCulloch, Sergeant, Marr) – 4:48
"Burned" (live) – 4:44
"Loose" (live) (The Stooges) – 4:01

Ah, sim. A parceria McCulloch-Marr ainda rendeu um último single, um orgulho para Ian: o hino da seleção inglesa para a Copa de 1998: England United - How Does It Feel (To Be On Top Of The World)

A canção que não fez grande sucesso, ficando apenas uma semana no Top 10. O England United era formado por: Ian McCulloch, Simon Fowler (Ocean Colour Scene), Tommy Scott (Space) e Mel C (Spice Girls).

O single trazia duas faixas:

1. (How does it feel to be) On the top of the world
2. (How does it feel to be )On the top of the world - instumental

Espero que tenham gostado da história do Electrafixion. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Singles

Zephyr EP (1994)
"Lowdown" (1995)
"Never" (1995)
"Sister Pain" (1996)

Disco

Burned (1995)


 

 

Colunas