029 – Rory Gallagher – Irish Tour

Ele viveu durante 47 anos e morreu em uma cirurgia de transplante de fígado, em 1995. Foi um dos guitarristas mais hábeis de seu tempo. Bono, do U2, considera um dos dez maiores de todos os tempos e disse que sua morte foi irreparável. Patriotismo à parte, Rory acumulou bons trabalhos com o finado grupo Taste, nos anos 60, e em sua carreira-solo, nas décadas de 70, 80 e 90. O Irish Tour é seu segundo disco ao vivo e mostra uma banda coesa. Rory consegue vôos em músicas como “Walk on Hot Coals”, “A Million Miles Away” e “Too Much Alcohol”. Ele teve toda sua discografia relançada em 2000, com alguns discos recebendo capas diferentes. Por milagre, alguns saíram no Brasil.


Ele nasceu no dia 2 de março de 1948, na cidade de Ballyshannon, na República da Irlanda. Comprou o primeiro violão aos 9 anos. Aos 12 venceu uma competição em Cork e comprou sua primeira guitarra elétrica. Aos 13 formou a primeira banda. Com 15 anos, comprou uma Fender Stratocaster de segunda mão, instrumento que o acompanharia pela carreira toda. Em 1964 entrou na banda Fontana Show Band e passou o ano seguinte excursionando pela Grã Bretanha. O grupo muda de nome (The Impacts) e fazem shows em uma base norte-americana, em Madri (Espanha). Com 18 anos forma o Taste, um power trio junto com Eric Kitteringham (baixo) e Norman Damery (bateria).

A banda ganha novos integrantes em 1968: Richard McCracken (baixo) e John Wilson (bateria). Em 69 excursionam com o Blind Faith, sendo a banda de abertura. O grupo chega ao fim após o Festival da Ilha de Wight.

Já solo, em 1972, Rory ganha um disco de platina pelo álbum Live in Europe e ganha o prêmio de músico do ano da Melody Maker. Em 76, torna-se o primeiro artista a tocar no canal de TV Eurovision, em uma transmissão vista por mais de um milhão de pessoas.

No penúltimo ano de sua vida (1994), fica muito doente e morre em 14 de Junho de 1995, após uma cirurgia para transplante de fígado feita em abril. Não deixou esposa e filhos. Recebe a ovação da população de Cork após a morte.

Essa pequena biografia é uma mera introdução a um dos guitarristas britânicos mais originais e técnicos de todos os tempos. Rory Gallagher usou uma única guitarra em toda sua vida e quase não trabalhava com pedais, preferindo ligar a guitarra aos amplificadores, direto. Ele foi um artista que por onde tocou deixou sua marca. No final da década de 60, o Taste rivalizava com o Cream de Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce como o melhor power trio inglês. Seu maior parceiro solo foi o baixista com quem trabalhou entre os anos de 1970 a 1991, Gerry McAvoy. Gerry conta que conheceu Rory em 1968, em Belfast, durante um show do Taste. Gerry participava da banda Deep Joy e foi recrutado por Gallagher em 1970.

“Eu fiquei muito tempo com Rory porque existia uma conexão muito grande entre nós. Ele era um cara simples, mas muito perfecionista enquanto trabalhava. Como possuía um gênio afável, os músicos ficavam bastante tempo com ele e o entrosamento sempre era bom”, lembra Gerry.

As formações da Rory Gallagher Band foram:

1970 – 1972 – Rory (guitarra e vocal), Gerry McAvoy (baixo) e Wilgar Campbell (bateria).

1972 – 1976 – Rory (guitarra e vocal), Gerry McAvoy (baixo), Rod D’eath (bateria) e Lou Martin (teclados).

1976 – 1981 – Rory (guitarra e vocal), Gerry McAvoy (baixo) e Ted McKenna (bateria).

1981 – 1991 – Rory (guitarra e vocal), Gerry McAvoy (baixo) e Brendan O’ Neill (bateria).

1992 – 1994 – Rory (guitarra e vocal), David Levy (baixo), Jim Levaton (teclados), John Cooke (teclados), Richard Newman (bateria) e Mark Feltham (gaita).

O disco Irish Tour é de 1974, usando então a segunda formação. O álbum foi gravado durante alguns shows da excursão vitoriosa pelas duas Irlandas e possui duas capas diferentes: a primeira é a original, em vinil, e a segunda, com a foto de Gallagher, a reedição em CD.

Rory muitas vezes usava material inédito e gravava nos discos ao vivo que fez. Sempre bem recebido pela platéia e críticos, tocava com uma velocidade estonteante, passando seus blues e de outros artistas com grande galhardia.

Rory nunca ensaiava os solos da canções, pelo contrário, eram espontâneos, o que mostra ainda mais seu talento. Rory e sua Fender Stratocaster de segunda mão passeiam pelas canções com um brilhantismo incrível. Mais incrível é saber que não usou nenhum pedal para efeitos. Todos os solos saíam no tapa mesmo. Era apenas o artista e seu instrumento.

O disco contagia desde o começo e Rory toca guitarra, violão e gaita, além de todos os vocais. O disco vendeu bem na Irlanda e aumentou mais ainda o prestígio em seu país. Há quem o compare com Eric Clapton, Jimi Hendrix ou Jeff Beck, o que não é um exagero. Nas canções “A Million Miles Away” e “Walk On Hot Coals”, promove tremendos solos de guitarra, onde parece que viaja para o outro mundo. O trio acompanha com competência os improvisos de Rory, coisa tão normal em suas excursões.

“O improviso é muito importante para mim porque depois de vários shows tocando o mesmo repertório você fica enjoado e quer dar um colorido novo para a canção. Como sempre trabalhei com músicos competentes e minhas formações eram estáveis, facilitava. O que eu pensava, Rod, Gerry e Lou acompanhavam, sem atravessar a melodia. Foram bons tempos.”, lembrou Gallagher após um show.

Rory era o chamado cara básico. Usava um colete e calça jeans, camisa de manga comprida, cabelo longo e nunca pensou em trocar de guitarra.

“Trocar para que se sempre foi minha companheira? Em time que está ganhando não se mexe, não é assim o ditado? Eu fico com minha Fender mesmo.”

Veja o que pensam alguns conterrâneos irlandeses:

Bono: “Rory foi um dos grandes guitarristas de todos os tempos e um grande cavalheiro, muito simples.”

Van Morrison: “Era um músico monstruoso. Não tínhamos muito contato, mas sempre acompanhei sua carreira. Foi uma morte triste.”

Bob Geldof: “Minha geração aprendeu a odiar o que era velho, talvez porque não sabíamos tocar bem, já que éramos punks. Mas Rory sempre teve grande prestígio na Irlanda e no resto da Europa, além de ser uma pessoa muito simpática. Fiquei triste quando soube que ele morreu.”

Caso você não conheça Rory Gallagher e fique interessado, pode começar a ouvir o Irish Tour que saiu no Brasil em 2000 ou pelo BBC Sessions, disco duplo e importado. Se achar qualquer disco, compre. Se você gosta de blues e rock básico, gostará de toda sua discografia.

Fique com a letra de “Walk On Hot Coals” e a discografia de Rory. Um abraço.

Walk on Hot Coals

Well I lost my shirt at a card game in which I never had a chance
Well I lost my shirt at a card game in which I never had a chance
The deck was marked, the game was rigged,
You could not tell at a glance.
Well, Lost my job on the weekend and I was back out on the street
Well, I lost my job on the weekend and I was back out on the streets
No way to get a dollar, but I spent it at the roulette wheel
Well I walk on hot coals, sleep on a bed of nails
Walk on thin ice, skate on razor blades
Got my little girl beside me no matter what else fails.
Well I spent it all down at the race track
All the way my horsre led the field
Well I spent it all down at the race track
All the way my horse led the field
But it was a hoax, the mare was doped,
a length to win she fell down on her knees
Gonna throw away my lucky penny, rabbit’s foot and gypsy ring
Gonna throw away my lucky penny, rabbit’s foot and gypsy ring
not gonna gamble on my baby,
on this loosing streak I might not win
Well I walk on hot coals, sleep on a bed of nails
Walk on thin ice, skate on razor blades
Got my little girl beside me no matter what else fails
Well I walk on hot coals, sleep on a bed of nails
Walk on thin ice, skate on razor blades
Got my little girl beside me no matter what else fails

Discografia

com o Taste

Taste (1969)
On The Boards (1970)
Live Taste (1971)
Live at the Isle of Wight (1972)
In the Beginning, an early Taste of Rory Gallagher (1974)
Take It Easy Baby (demo sessions, 1974)
Rock Is Dead (2008)

Solo

Rory Gallagher (1971)
Deuce (1971)
Live In Europe (1972)
Blueprint (1973)
Tattoo (1973)
Irish Tour (1974)
Against The Grain (1975)
Calling Card (1976)
Photo Finish (1978)
Top Priority (1979)
Stage Struck (1980)
Jinx (1982)
Defender (1987)
Fresh Evidence (1990)
Etched In Blue (1991)
BBC Sessions (1999)
Let’s Go To Work (2001)
Wheels Within Wheels (2003)
The Big Guns: The Very Best of Rory Gallagher (2005)
Live at Montreux (2006)
The Essential (2008)
Notes from San Francisco (2011)