Ele é simplesmente o maior guitarrista de todos os tempos, o maior símbolo quando se fala de anos 60, o homem que revolucionou o rock e toda a música, um negro genial, canhoto e que fazia amor com a guitarra. Foi o homem que tocou fogo no instrumento, para uma audiência assustada, em Monterey; que colocou Londres de cabeça para baixo, mesmo sendo contemporâneo dos Beatles. Este homem, um nativo de Seattle é um dos grandes expoentes culturais do Século XX: Jimi Hendrix. E nessa coluna falaremos dos primeiros 24 anos de vida desse mito, antes de virar Jimi Hendrix.

E para essa biografia mais do que especial, é necessário alguns parênteses: eu tentei colocar toda a discografia oficial do mito, ou quase toda, porque Hendrix é, junto com os Beatles, o campeão em discos póstumos.

É impressionante como há uma indústria sedenta em lançar gravações de Hendrix do arco da velha, com qualidades sonoras bem distintas. Mas isso só existe, claro, porque há um público igualmente faminto por mais registros, não importando quais seja. Assim, a lista é incompleta, mas foi o mais perto que pude chegar…

A história desse fenômeno começa no dia 27 de novembro de 1942, no King County Hospital, na chuvosa Seattle, nos Estados Unidos.

É nesse dia que nasce Johnny Allen Hendrix, filho de James Allen “Al” Hendrix, que trabalhava na base militar de Oklahoma e da adolescente de 17 anos, Lucille Hendrix.

A vida do pequeno Johnny foi difícil. Seu pai havia sido enviado para a guerra poucos meses antes do filho nascer e só o viu quando já tinha quatro anos. A primeira coisa que Al fez foi rebatizar a criança com o nome de James Marshall Hendrix, já que John era nome de um ex-namorado de Lucille. Al argumentou também que era uma homenagem ao irmão morto, Leon Marshall Hendrix.

James era o filho mais velho do casal. Em 1948, nasceu o irmão Leon Hendrix, seguido, depois por Joseph Allen Hendrix, Kathy Ira Hendrix e Pamela Hendrix.

A vida da família era difícil, com muito pouco dinheiro e os pais de Jimi tiveram, ainda, a infelicidade de ver os três filhos mais novos nascerem com problemas físicos ou mentais.

Para desespero do casal e do filho mais velho, os três foram dados para adoção, pois não conseguiam mais pagar as contas médicas. Kathy era cega.

A vida familiar era dura e os Hendrix resolveram se separar quando Jimi tinha apenas nove anos. Jimi perderia a mãe em 1958. A vida do menino sempre foi difícil e por um tempo viveu em Vancouver (Canadá) na casa da avó, para poder aliviar os problemas financeiros.

Com tantos problemas, não era de se espantar que o pequeno James fosse uma criança tímida e com problemas emocionais, agravado pela extrema pobreza.

As condições eram tão miseráveis que o quarto de Jimi era um armário, onde dormia e se escondia quando os pais brigavam.

A vida de garoto não foi melhor. Sem a mãe – a quem sempre amou e serviu como musa inspiradora de várias músicas – Jimi começou a descobrir a música. Com 15 anos, conseguiu U$5 com o pai e comprou seu primeiro violão. Era uma maneira de fazer o menino mais feliz. O pai sonhava em vê-lo jogar futebol, mas o pequeno James não mostrou talento algum. A guitarra tinha apenas uma corda e, mesmo assim, Jimi se esforçava para aprender.

Um ano depois, para a alegria do garoto, seu pai lhe conseguiu a primeira guitarra elétrica, uma Supro Ozark. A ironia da história é que Jimi acabou reprovado na escola justamente em música. Apesar disso, Jimi mostrava uma paixão invulgar pelo instrumento e a carregava para todo lado, mesmo não tendo um estojo apropriado. A guitarra era a grande paixão do menino.

O grande ídolo do garoto era Elvis Presley, a quem assistiu em 1957, em Seattle. Desbravador, se juntou a um grupo local, o Velvetones e debutaram na sinagoga Temple De Hirsch Sinai, onde ensaiavam, no porão, regularmente, mas sem pagamento. Ainda assim, era uma chance de ouro, que chamou a atenção por ser negro, canhoto e ter um estilo peculiar de se mexer no palco.

Jimi acabou completando o ginásio na Washington Junior High School, mas não se formou no colegial na Garfield High School. Jimi até chegou a dizer, já famoso, que foi perseguido por questões raciais, mas o diretor da escola retrucou dizendo que era apenas um aluno desinteressado, mostrando suas notas.

A vida de James Marshall Hendrix daria uma guinada, em 1961. Após ser pego roubando um carro, Jimi foi fichado e tinha duas opções: ou se alistava e ficaria o tempo da pena no exército ou cumpriria a pena. Jimi resolveu ser militar.

Após um curso básico, Jimi se inscreveu na tropa dos pára-quedistas, em 1961 e se mudou para Fort Campbell, no Kentucky.

Apesar de escrever cartas para a família dizendo que estava feliz, Jimi era um tormento para oficiais e colegas: preguiçoso, chegando ao ponto de se masturbar em um local público.

Tanta irresponsabilidade fez os superiores pedirem o seu desligamento da corporação, coisa que não o chateou, pelo contrário. Para disfarçar, Jimi contou que havia sido dispensado por quebrar um tornozelo durante saltos. Estava exultante, pois poderia voltar à sua amante, a guitarra.

Nessa época nasceu a amizade com o baixista Billy Cox, que seria um grande parceiro de Jimi, anos mais tarde.

Os dois acabaram se mudando para Clarksville, no Tennessee e se apresentavam como The King Kasuals. Foram nesses shows que Jimi desenvolveu a técnica de tocar a guitarra com os dentes.

Ele já havia visto, ainda menino, em Seattle, Butch Snipes tocar assim. No Kasuals, o “dono da técnica” era Alphonso ‘Baby Boo’ Young . Jimi confessa que não era fácil, mas o público exigia algo diferente e por isso havia pedaços de dentes por todo o palco.

A banda acabou se mudando para Nashville, para uma comunidade negra da cidade onde se toca r&b e blues. Eram quase a banda oficial do Club del Morrocco. Jimi e Billy moravam em um apartamento acima de onde morava a então namorada de Hendrix, Joyce.

Enquanto vivia com o grupo, Jimi resolveu outros rumos, até para poder sobreviver. Assim, ingressou no combo “Chitlin Circuit”, feita para músicos negros que tocavam no sul e leste da América.

Com eles, Jimi servia de grupo de apoio para nomes como Chuck Jackson, Slim Harpo, Tommy Tucker, Sam Cooke e Jackie Wilson, sendo uma importante escola.

Jimi, porém, se frustrou com a experiência e, em janeiro de 1964, arrumou as malas e se mudou para Nova York.

Assim que chegou, fez amizade com Lithofayne “Faye” Pridgeon, que logo seria sua namorada e com os gêmeos Allen, Albert e Arthur e que, no futuro, mudariam os nomes para Taharqa and Tunde-Ra Aleem.

Além de amigos, os gêmeos serviram para ensinar Jimi onde andar ou não, afastando-o de confusões. Em fevereiro, Hendrix vence um concurso de talento amador no famoso Apollo Theater e como “prêmio” é contratado pelos Isley Brothers.

A vida dentro do grupo foi dura e não muito prazeirosa, mas rendeu a ele uma primeira experiência em estúdio, gravando “Testify”.

No entanto, Jimi deixou o grupo em outubro de 1964, foi contratado por Litte Richard, por intermédio de Gorgeous George Ordell. Richard gostou do garoto, embora reclamasse do seu gestual no palco e dos seus paletós durante a turnê “The Royal Company”.

Durante uma pausa, em Los Angeles, já em 1965, participa de uma gravação da cantora Rosa Lee Brooks, no compacto My Diary.

Nessas sessões conhece outro músico negro, maluco e guitarrista e de quem seria grande amigo: Arthur Lee, que no ano seguinte, montaria a banda Love.

Jimi também participaria do compacto de Little Richard, I Don’t Know What You’ve Got, But It’s Got Me, lançado pela Vee-Jay.

Em maio faz sua primeira aparição televisa, no WLAC-TV Channel 5, de Nashville, como banda de apoio de Buddy & Stacey, tocando “Shotgun”, no programa Night Train. Cansado do estrelismo de Little Richard junta-se, no final de 1965, a Curtis Knight and the Squires.

Os dois viviam no mesmo hotel, America, e Curtis o convidou para ingressar no grupo. Jimi ainda tocaria dois meses com Joey Dee and the Starliters, antes de se juntar a Knight.

No dia 15 de outubro de 1965, assina um contrato de três anos com Ed Chalpin, pela irrisória quantia de $1 e pagamento de 1% do royalty. Esse contrato seria a pedra no sapato do músico por toda a carreira e a briga segue, aliás, até hoje, passados quase 40 anos de sua morte.

Jimi começa então uma vida imensa de músico de estúdio, tocando com Lonnie Youngblood; The Icemen; Jimmy Norman & Billy Lamont, além de assinar uma composição, a instrumental “Hornets Nest”. Nessa época resolve montar sua própria banda, The Blue Flames, com Randy Palmer (baixo), Danny Casey (bateria) e um garoto de 15 anos na guitarra rítmica, Randy Wolfe. Randy Wolfe, algum tempo montaria um grupo de nome Spirit, ficando ele famoso como Rany California. Nessa época era conhecido como Jimi James.

Os Blue Flames chamaram a atenção ao abrirem um show dos Monkees em Nova York, em 1966. A banda faria shows no Cafe Wha?, na Rua MacDougal Street, em Greenwich Village e, em um desses foram vistos por uma jovem de nome Linda Keith.

Linda era nada menos que a namorada de Keith Richards, dos Rolling Stones.

Entusiasmada falou deles para o empresário do grupo, Andrew Loog Oldham.

Mas Oldham não se interessou – no que se arrependeu eternamente – e Linda foi atrás de Chas Chandler, ex-baixista dos Animals e que procurava jovens músicos para produzir e ser empresário.

Chas Chandler viu os Blues Fames e ficou fascinado por Jimi James. Começaria aí uma revolução na música, papo para outra coluna. Um abraço e até mais.

Discografia

Singles

“Hey Joe” (1966)
“Purple Haze” (1967)
“The Wind Cries Mary” (1967)
“Burning of the Midnight Lamp” (1967)
“Foxy Lady” (1967)
“Up from the Skies” (1968)
“All Along the Watchtower” (1968)
“Crosstown Traffic” (1968)
“Stone Free”(1969)
“Fire” (1969)
“Stepping Stone” (1969)
“Voodoo Child (Slight Return)” (1970)

Discos

Are You Experienced (1967)
Axis: Bold as Love (1967)
Electric Ladyland (1968)
Smash Hits (1968)
Band of Gypsys (1970)

Discos póstumos

The Cry of Love (1971)
Experience (1971)
Isle of Wight (1971)
Rainbow Bridge (1971)
War Heroes (1972)
Hendrix in the West (1972)
More Experience (1972)
Sound Track Recordings from the Film Jimi Hendrix (1973)
Loose Ends (1974)
Crash Landing (1975)
Musique Originale du Film Jimi Plays Berkeley (1975)
Re-Experienced (1975)
Midnight Lightning (1975)
The Essential Jimi Hendrix (1978)
The Essential Jimi Hendrix Volume Two (1979)
Nine to the Universe (1980)
Stone Free (1981)
The Jimi Hendrix Concerts (1982)
The Singles Album (1983)
Kiss the Sky (1984)
Jimi Plays Monterey (1986)
Johnny B. Goode (1986)
Band of Gypsys 2 (1986)
Live at Winterland (1987)
Radio One (1988)
The Essential Jimi Hendrix Volumes One and Two (1989)
Live & Unreleased: The Radio Show (1989)
Cornerstones: 1967-1970 (1989)
Lifelines: The Jimi Hendrix Story (1990)
Sessions (1991)
Footlights (1991)
Stages (1992)
The Ultimate Experience (1992)
Blues (1994)
Woodstock (1994)
Voodoo Soup (1995)
Bleeding Heart (1997)
First Rays of the New Rising Sun (1997)
South Saturn Delta (1997)
BBC Sessions (1998)
Experience Hendrix: The Best of Jimi Hendrix (1998)
Live at the Fillmore East (1999)
Live at Woodstock (1999)
The Jimi Hendrix Experience (2000)
Voodoo Child: The Jimi Hendrix Collection (2001)
The Singles Collection (2001)
Blue Wild Angel: Live at the Isle of Wight (2002)
Live at Berkeley (2003)
Martin Scorsese Presents the Blues: Jimi Hendrix (2003)
Live at Monterey (2007)