323 - Lou Reed - Magic and Loss

Magic and Loss é um disco extremamente pessoal para Lou Reed, pois homenageia dois amigos que perdeu em dois anos diferentes, ambos em abril: o compositor Doc Pomus e Rita, uma pessoa desconhecida. Lou Reed atravessava um bom momento na vida, mas, apesar disso, abordou temas pesados como morte e solidão.


Entre dois (meses de) Abril, eu perdi dois amigos; Entre dois (meses de) Abril, Mágica e Perda.

Essa era a dedicatória escrita por Lou Reed no encarte do disco Magic and Loss, que dedicou o disco à Doc Pomus e a Rita. Uma liberdade poética, já que Doc morreu no dia 14 de março.

Após dois discos de grande sucesso de crítica - e, até de vendagens - e uma viagem até Praga para entrevistar o futuro presidente da República Checa, Vaclav Havel, grande fã dos Velvet Underground e atendendo um pedido da revista Rolling Stone, Lou se concentrou em um novo disco.

Lou se inspirou em fazer o disco após perder dois amigos: Doc Pomus e Rita. Na verdade, seriam três, com a inclusão de Lincolin Swado, amigo pessoal desde 1962, e que fora encontrado morto em fevereiro de 1990, no apartamento onde morava, em um crime que ocupou às páginas policiais, com a suspeita que havia sido assassinado pelo seu senhorio, que queria despejá-lo.

Lincoln sempre havia sido um bom amigo de Lou, tanto que já tinha sido alvo de duas homenagens anteriores em disco anteriores: na faixa "Home of the Brave", do disco Legendary Hearts, e em "My Friend George", em New Sensation. No novo disco seria lembrado em "Harry's Circumcision".

Mas, Lincoln não havia entrado nos créditos e sim Doc Pomus e Rita.

Doc Pomus, grande compositor dos anos 50 e 60 e autor de hits de Elvis Presley, the Drifters, Dion and the Belmonts, era amigo de Lou há uns dois anos e, segundo Lou, uma pessoa especial, doce e amistosa. Os dois moravam perto e logo Lou começou a freqüentar sua casa e o visitava no hospital, enquanto fazia vários exames. Já Rita, era uma amiga desconhecida, mas que havia sido muito importante para ele em sua vida.

Durante o funeral de Doc Pomus, no dia 17 de março, Lou no Riverside Memorial, Lou viu o lendário Little Jimmy Scott cantando e perguntou se não gostaria de participar do disco em homenagem à Doc, convite aceito por Scott.

Enquanto produzia o disco, Lou lançou um livro de poesia, Between Thought and Expression, publicado no verão de 1991, pela Hyperion Express.

Gravado no mês de abril de 1991, Magic and Loss foi apenas lançado em 14 de janeiro de 1992, com a produção assinada por Lou e o guitarrista Mike Rathke. Além dos dois, a banda era composta pelo baixista Rob Wasserman, o baterista Michael Blair, além de Little Jimmy Scott cantando em "Power and Glory", e Michael Blair, Lou e Roger Moutenot fazendo backing vocals em "What's Good".

O CD trazia as seguintes faixas. As palavras em itálicos eram o sub-titulos das mesmas:

Faixas

1. Dorita The Spirit – 1:07
2. What's Good The Thesis – 3:22
3. Power and Glory The Situation – 4:23
4. Magician Internally – 6:23
5. Sword of Damocles Externally – 3:42
6. Goodby Mass In a Chapel Bodily Termination – 4:25
7. Cremation Ashes to Ashes – 2:54
8. Dreamin Escape – 5:07
9. No Chance Regret – 3:15
10. Warrior King Revenge – 4:27
11. Harry's Circumcision Reverie Gone Astray – 5:28
12. Gassed and Stoked Loss – 4:18
13. Power and Glory, Part II Magic - Transformation – 2:57
14. Magic and Loss The Summation – 6:39

Magic and Loss teve ótima receptividade no mercado britânico, ficando em sexto lugar.

Na América, ficou apenas na 80ª posição e rendeu ao menos um grande hit, "What's Good", que teve a primazia de ser o primeiro número 1 na parada de rock moderno da Billboard. A canção teve um vídeo e participou da trilha-sonora do filme de Wim Wenders, Until The End Of The World.

Magic and Loss é um excelente disco pessoal e Lou conta que para gravá-lo trabalhou incessantemente, embora, sem pressão. "Não gosto de ser pressionado, quando isso acontece, o trabalho não flui." Segundo ele, era um disco complexo. "Não sou o único que perdeu grandes amigos nos últimos tempos, especialmente nesses tempos de AIDS e outras doenças novas. As canções falam de emoções complexas. 'The Warrior King' fala sobre um ponto de vista do narrador, que sente raiva ao ver o que as doenças fazem com seus amigos e da impotência de nada poder fazer, mesmo tendo os melhores médicos e toda a tecnologia disponível."

Lou, no entanto, pedia para que notasse que o título falava de perda e não de morte. Eu não chamei o disco de Magic and Death de propósito. Acabei me lembrando de quando Andy Warhol me disse que achava horrível que não ensinassem na escola sobre o amor ou coisas mais práticas, como perda e como agir quando é confrontado com isso. Por isso, evitei a palavra morte, embora ela seja um tema fascinante, talvez, o maior de todos."

Magic and Loss traz um dos meus versos favoritos de Lou, aquele que fecha "What's Good": "What's good? / Life's good - But not fair at all" (O que é bom? A vida é boa - mas não é justa de maneira nenhuma)."

Lou e Mike passaram várias horas trabalhando no disco, não apenas compondo as canções, mas trabalhando com a melhor tecnologia disponível. Lou também atravessava um momento positivo em sua vida.

Em novembro de 1991, Lou viajou para Londres, onde recebeu um prêmio da Revista Q pelo conjunto da obra. Em dezembro, a gravadora lançou a caixa Between The Thought and Expression - mesmo nome do livro - com todos os discos de sua carreira.

A curiosidade é que Lou descobriu que algumas fitas masters estavam oxidadas ou destruídas e para isso precisou comprar uma cópia em vinil do seu LP The Bells - já fora de catálogo - por US$ 50 para poder fazer uma edição em CD.

Lou acabou saindo em excursão com o disco tendo Little Jimmy Scott como convidado, tour que rendeu um vídeo de nome Magic and Loss - Live in Concert, gravado em 18 de março de 1992, em Londres. Jimmuy participou das canções "Power & Glory", " Dirty Boulevard ", "Satellite Of Love" and "Walk On The Wild Side".

Após a excursão, Lou resolveu surpreender ainda mais os fãs, reagrupando o Velvet Underground, história que já contei nessa coluna.

Deixo vocês com a discografia de Lou. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Lou Reed (1972)
Transformer (1972)
Berlin (1973)
Rock 'n' Roll Animal (1974)
Sally Can't Dance (1974)
Lou Reed Live (1975)
Metal Machine Music (1975)
Walk on the Wild Side & Other Hits* (1975)
Coney Island Baby (1975)
Rock and Roll Heart (1976)
Walk on the Wild Side: The Best of Lou Reed* (1977)
Live: Take No Prisoners (1978)
Street Hassle (1978)
The Bells (1979)
Vicious* (1979)
Rock and Roll Diary: 1967-1980* (1980)
Growing Up in Public (1980)
Rock & Roll Today (1980)
The Blue Mask (1982)
I Can't Stand It* (1982)
Rock Galaxy* (1983)
Legendary Hearts (1983)
Live in Italy (1984)
New Sensations (1984)
City Lights (Classic Performances By Lou Reed)* (1985)
Mistrial (1986)
New York Superstar* (1986)
Wild Child* (1987)
New York (1989)
Retro* (1989)
Songs for Drella (1990)
Magic and Loss (1992)
Between Thought and Expression: The Lou Reed Anthology* (1992)
A Retrospective* (1993)
Very Best of Lou Reed & Velvet Underground* (1995)
The Best of Lou Reed & the Velvet Underground* (1995)
Different Times: Lou Reed in the '70s* (1996)
Set the Twilight Reeling (1996)
Live in Concert (1997)
Perfect Day* (1997)
Perfect Night: Live in London (1998)
The Definitive Collection* (1999)
Very Best of Lou Reed* (2000)
Ecstasy (2000)
American Poet (2001)
The Wild Side: Best of Lou Reed* (2001)
Golden Collection* (2002)
Legendary* (2002)
NYC Man: The Ultimate Lou Reed Collection*(2003)
The Raven (2003)
The Platinum & Gold Collection* (2004)
NYC Man: Greatest Hits* (2004)
Le Bataclan '72 (2004)
Animal Serendade (2004)
Hudson River Wind Meditations (2007)

* coletâneas

 

 


 

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