Muito tempo atrás - coluna
47, para ser mais exato - falei do primeiro disco do Velvet.
Agora, ouvindo novamente os antigos clássicos do grupo
e relendo a biografia pela enésima vez, resolvi acabar
de contar a história de um dos grupos mais importantes
- para muitos, o mais importante depois dos Beatles. Aqui falarei
desde White Light/White Heat, até o estranhíssimo
Squeeze, quando nenhum membro original constava no grupo e a bateria
ficou a cargo de um certo Ian Paice, do Deep Purple... Estranho
isso? Mais estranhos eram os sons de Lou e companhia em pleno
anos 60...
1 - Um Beatle
para o Velvet
A
saída de Andy Warhol foi muito traumática, embora
previsível. Como ele não sabia lidar com o meio
musical e gostava muito mais de fazer seus filmes, Andy foi deixando
o Velvet Underground se virar sozinho. Mas o que Andy não
esperava era um ato de ingratidão de Lou Reed e que marcou
a amizade entre os dois.
Lou havia conhecido um
empresário chamado Steve Sesnick, que realmente gostou
do Velvet e queria ser o empresário. Sesnick era um homem
com muito mais conhecimento no meio musical e logo foi se aproximando
de Lou e ganhando a confiança do líder da banda.
Sesnick acreditava que poderia fazer o grupo ser tão grande
quanto os Beatles e, para isso contava com um futuro aliado: o
próprio empresário dos garotos de Liverpool, Brian
Epstein.
Steve conhecia o advogado
de Epstein em Nova York, Nat Weiss, e através dele fez
contato. Sesnick tinha inclusive dado uma cópia do primeiro
disco para Brian. Dias depois, o próprio Steve conseguiu
que Brian conhecesse Lou Reed e afirmasse que tinha gostado muito
do álbum. Lou agradeceu, mas não ficou tão
esperançoso. Infelizmente para Steve, logo depois Brian
Epstein faleceu e a ajuda foi pelo ralo.
Independente disso, Lou
gostou da agilidade e da visão do novo empresário
e por isso resolveu conversar com Andy Warhol. Andy já
estava magoado com algumas atitudes hostis de Lou com Nico. Mas
nada se comparou quando ele chegou e formalmente demitiu Warhol
da função de empresário. O que Lou não
esperava e temeu foi a reação de seu mentor: "ele
simplesmente ficou furioso e me chamou de rato, a pior ofensa
que poderia dirigir a alguém. Eu sabia que seria horrível
seguir sem ele, mas precisava deixar o ninho. Só não
esperava que ficasse tão furioso, pois ele mesmo incentivava
as pessoas a procurarem seu caminho."
Andy realmente fazia isso,
mas não esperava tamanha ingratidão, principalmente
porque tinha investido uma grande soma de dinheiro. Mas Andy o
liberou sem problemas, desde que recebesse o acordado em contrato
- 25% de tudo que o Velvet recebesse sob sua batuta. Após
isso, Warhol esfriou sua amizade com o cantor até o fim
de sua vida, evitando ao máximo o contato com Lou. Mas
ele manteve sua postura indiferente e quando era perguntado sobre
o Velvet, apenas dizia: "oh, eu gostava tanto deles e decidiram
procurar outro empresário. Mas não tem problema."
Os problemas é que
começavam a perseguir o Velvet, principalmente John Cale...
2 - White Light/White
Heat
Sem
Andy e sem Nico, o Velvet se trancou em estúdio no segundo
semestre de 1967 para trabalhar em um novo disco. E durante as
gravações começaram a pipocar as tensões
entre Lou e John. Grande parte da culpa cabe a Steve, que viu
em Reed um grande músico e letrista e começou a
encher a cabeça dele afirmando que ele era o astro da banda
e inflando o já inflado ego do cantor.
Para piorar, Steve começou
a querer colocar os demais Velvets em um segundo plano. "Steve
começou a construir um abismo entre eu e Lou. Ele chegava
e dizia que eu era apenas o parceiro dele, mais nada. Eu dizia
que as coisas não funcionavam assim dentro do Velvet",
explicava John.
E Lou realmente começou
a brigar com John nos arranjos e as discussões ficavam
cada vez mais ríspidas. Sesnick passou a ser odiado não
apenas pelos membros do grupo, como por todos os amigos da banda
e até por Andy, que sabia de tudo o que acontecia e comentava:
"oh, eles escolheram um monstro para o meu lugar!"
Enquanto
a rixa interna crescia, John tinha uma outra missão: produzir
o primeiro disco-solo de Nico, Chelsea Girl.
O trabalho contou com três canções escritas
por Lou Reed, que desejava continuar colaborando com Nico dentro
de seus termos, mantendo uma boa distância. Um dos maiores
colaboradores do disco foi um jovem de 17 anos e que escreveu
boa parte das letras, Jackson Browne. E Jackson lembra bem de
Lou durante as gravações: "ele ficava quieto
no seu canto e falava apenas por monossílabos, da mesma
maneira que Andy havia feito no primeiro disco deles. Mas Lou,
apesar de sua aparência dura e distante era um cara muito
gentil e foi extremamente atencioso comigo."
Quando o disco saiu em
outubro, houve um certo desapontamento de todos, já que
alguns arranjos haviam sido mudados. Lou quase chorou ao ver que
alguns arranjos de Cale haviam sido mudados e disse que gostaria
de ter tido mais autonomia no projeto.
Enquanto
lamentavam o resultado de Chelsea Girl, Lou e
John já haviam concluído o segundo disco do Velvet,
White Light/White Heat.
O novo trabalho trazia
apenas seis músicas e é uma grande amostra do talento
de John Cale. Cale é responsável por dois grandes
momentos do disco: a canção falada "The Gift",
em que ele funciona como o narrador, deixando bem evidente o seu
pesado sotaque galês; e a radical e estranha "Sister
Ray". "Sister Ray" é uma peça de
mais de 17 minutos que conta a história de marinheiros
que são levados por drag queens às suas casas, mortos
e que começam uma orgia quando são presos pela polícia.
A canção introduz vários ruídos eletrônicos,
não utiliza baixo e era tocada em um total clima de caos.
Mas a maior canção
do disco é mesmo a faixa-título. E a idéia
dela vem de uma experiência definitiva para Lou: aos 17
anos, ele foi internado em um hospital psiquiátrico e obrigado
a tomar três choques elétricos durante oito semanas
para "curar" seu "homossexualismo", por incrível
que pareça. A "luz branca" e o "calor branco"
das letras são exatamente o que ele sentiu e viu na primeira
vez que sofreu tamanha tortura.
Veja a letra da canção...
White Light/White
Heat
(White light)
White light going messin' up my mind
(White light)
and don't you know it's gonna make me go blind
(White heat)
Oh, white heat, it tickle me down to my toes
(White light)
Lord have mercy, white light have it goodness knows
(White light)
White light going messin' up my brain
(White light)
oh, white light it's gonna drive me insane
(White heat)
Oh, white heat, it tickle me down to my toes
(White light)
oh, white light, I said now, goodness knows
do it
(Ooohhh-ooohhh, white light)
Oh, I surely do love to watch that stuff drip itself in
(Ooohhh-ooohhh, white light)
Watch that side, watch that side
don't you know gonna be dead and dried
(Ooohhh-ooohhh, white heat)
Yeah foxy mama, watching me walking down the street
(Ooohhh-ooohhh, white light)
Come upside your head
gonna make you dead hang on your street
(White light)
White light movin' me between my brain
(White light)
white light gonna make you go insane
(White heat)
Oh, white heat, it tickle me down to my toes
(White light)
oh, white light, I said now, goodness knows
(White light)
Oh, white light, it lightens up my eyes
(White light)
don't you know it fills me up with surprise
(White heat)
Oh, white heat, tickle me down to my toes
(White light)
oh, white light, I'll tell you now, goodness knows
now work it
(Ooohhh-ooohhh, white light)
Oh, she surely do move speed
(Ooohhh-ooohhh, white light)
Watch that speed freak, watch that speed freak
yeah, we're gonna go and make it every week
(Ooohhh-ooohhh, white heat)
Oh, sputter mutter
everybody's gonna go and kill their mother
(Ooohhh-ooohhh, white light)
Here she comes, here she comes
everybody get it gonna make me run
do it
Higher
3 - A demissão de John Cale
O
disco acabou sendo lançado apenas no dia 30 de janeiro
de 1968 e não teve boa acolhida. Além disso, Lou
usou, pela primeira vez, um expediente que se tornaria comum em
sua carreira: alterar o som na mixagem. Estava claro que Cale
exercia uma importância imensa dentro da concepção
sonora e que o Velvet era muito mais do que um simples grupo de
acompanhamento como queria Sesnick e como, no fundo, desejava
Lou, sempre temeroso e invejoso em relação ao talento
de seus colaboradores.
O maior exemplo está
na faixa "I Heard Her Call My Name", quando mixou bem
alto a sua parte na canção, especialmente o solo
de guitarra, soterrando os demais membros na canção.
Maureen disse que quando ouviram a faixa, não acreditaram
no que Lou havia feito: "ele simplesmente se dirigiu até
o estúdio sem nos avisar e soterrou a canção
com todo aquele ruído. Você podia apenas ouvir a
parte dele e acabou com tudo."
Lou usaria muito esse expediente,
especialmente em carreira-solo, quando contava com o excelente
guitarrista Robert Quine em sua banda. Em um dos discos, ele simplesmente
abaixou todo o som das guitarras de Quine e mandou a fita para
o guitarrista ouvir. Furioso, Quine simplesmente estraçalhou
a fita com uma marreta e viajou até passar a raiva.
Mas
mesmo tendo uma baixa vendagem, o grupo começou a ver mais
dinheiro do que quando estavam com Andy, já que Sesnick
conseguiu marcar mais apresentações para o grupo
e tiveram ainda mais, quando Sesnick convenceu a MGM a dar o dinheiro
que gastariam com promoção para usarem em uma excursão.
A banda viajava sempre de primeira-classe, ficava em hóteis
caros e não se preocupavam com as contas. Mas quem estava
cada vez mais preocupado era Cale, que a cada dia lutava contra
Lou e Steve. Cale queria manter a postura de banda de vanguarda,
enquanto os dois preferiam ser um grupo de rock. A situação
chegou ao ponto de Cale e Sesnick se pegarem a tapa e pelo pescoço
após um porre de ambos.
O
ciúme de Lou aumentou ainda mais quando John Cale anunciou
que ia se casar com sua namorada, Betsey Johnson. Lou ficou furioso,
porque para ele, Cale só poderia estar casado com apenas
uma coisa: o grupo. "Lou ficou furioso, porque agora havia
uma mulher no meio do relacionamento entre eles. Mas naqueles
dias, John ficava irritado com as constantes brigas entre eles."
O casamento, inicialmente
marcado para fevereiro, só aconteceu em abril, pois John
contraiu hepatite. Lou apareceu à cerimônia, mas
o relacionamento cada vez mais se deteriorava.
Após o casamento,
o grupo saiu em excursão e Lou resolveu que era hora de
expulsar o antigo parceiro do Velvet. Os dois já não
conseguiam mais se entender musicalmente. Lou queria ser um astro
do rock e Joh, um artista de vanguarda. Com isso, Lou marcou uma
reunião em setembro e chamou apenas Maureen e Sterling,
e avisou que John estava fora do grupo: "fora por hoje ou
pela semana toda", perguntou Sterling. "Para sempre",
retrucou o cantor. E para piorar ainda mais a situação,
pediu que Morrison desse a notícia para Cale, que não
suspeitava de nada.
Quando Cale soube, ficou
furioso: "nós íamos viajar para Cleveland para
fazermos um show, quando Sterling veio até a minha casa
e deu a notícia. Isso é bem típico de Lou;
mandar alguém fazer o serviço sujo." Porém,
John afirmou que não fora expulso da banda e que havia
saído. Para Betsey, era evidente que isso iria acontecer:
"os dois caminhavam em lados opostos, e como Lou era o líder
e principal compositor do grupo, era natural que John fosse excluído."
4 - Uma banda convencional
Sem
Cale, Sesnick acabou chamando o desconhecido Doug Yule para seu
lugar. Doug tocava numa banda de Boston chamada Glass Menagerie
e já conhecia o Velvet, quando a banda tocou no Boston
Tea Party. Sterling e Maureen não gostaram de terem um
novo membro no Velvet, já que a banda tinha uma estrutura
interna muito delicada.
Doug era um bom baixista,
mas não podia substituir John Cale de maneira alguma. Apesar
disso, Lou abraçou o jovem músico e o tratava com
mais respeito e carinho do que os demais integrantes do grupo.
Novamente
um quarteto, o grupo entrou em estúdio para gravarem o
terceiro disco do grupo, intitulado apenas The Velvet
Underground. Os fãs levaram um susto quando ouviram
o trabalho, pois, ao invés de todos as experimentações,
o grupo soava extremamente acessível, com canções
mais pops, bem leves. Lou abordava um tema até então
inédito para ele, o amor. Assim "Pale Blue Eyes"
nada mais era do que uma canção para uma ex-namorada
e a doce "Candy Says" - a melhor composição
de Lou, em suas próprias palavras - fala de um travesti
que freqüentava a Factory, Candy Darling, que odiava ser
homem e queria ser mulher. Lou disse que se inspirou no travesti
para falar de um tema mais universal o "de olharmos para
o espelho e não gostarmos do que vemos."
O
disco ainda traz uma faixa bem estranha, que remete um pouco aos
tempos de Cale - "The Murder Mystery". Nela, Lou e Sterling
recitam dois poemas ao mesmo tempo, um em cada canal de estéreo.
Um fala de maneira lenta e o outro de maneira rápida. Mas
Lou contou que a idéia, apesar de boa, não funcionou,
porque, no final, o ouvinte não conseguia ouvir nenhum
dos dois corretamente e por causa disso, toda diversão
sumiu.
Sterling também
contou que o som do disco ficou mais "limpo" devido
a um roubo no aeroporto de Nova York, quando viajavam para Los
Angeles, local da gravação do disco, quando todo
o equipamento do grupo, incluindo pedais e outras engenhocas sumiu.
Sem tais recursos, o jeito foi fazer um trabalho mais calmo.
Uma curiosidade: existem
duas mixagens disponíveis do disco. No LP da época
e na redição em CD, a gravadora optou por uma mixagem
diferente do que sugeriu Lou Reed, que deu um acabamento menos
"equilibrado", recusado pela gravadora. Mas essa mixagem
- batizada de "closet mix", por Sterling Morrison -,
aparece quando o disco é reproduzido na caixa Peel
Slowly And See.
O ano de 1969 era um ano
relativamente calmo e o grupo se preparava para gravar um quarto
disco, quando tiveram uma notícia inesperada...
5 - "Sem canções
de drogas!"
O Velvet começava
a trabalhar em um novo disco, extremamente animado com as novas
canções, quando foram avisados que o disco não
sairia.
O grupo havia passado os
meses de maio até outubro entrando e saindo do Record Plant
Studios e produziram 14 canções novas - clássicos
como "I Can't Stand It", "Foggy Notion", "Lisa
Says", "Stephanie Says", quando o presidente da
MGM, Mike Curb resolveu demitir todos seus "artistas malucos
e drogados", sobrando também para o Mothers, de Frank
Zappa.
A demissão do Velvet
da gravadora veio em um momento doloroso para a banda, já
que Lou brigava com Steve Sesnick e Maureen e Sterling já
admitiam a possibilidade de deixarem o grupo.
Essas canções
"perdidas" foram recuperadas na década de 80,
quando a mesma MGM lançou dois discos com as canções:
VU e Another View.
O grupo, no entanto, não
ficou sem gravadora, pois o presidente da Atlantic Records, Ahmet
Ertegun assinou com o grupo. Ertegun, inclusive, propôs
lançarem por uma subsidiária, a Cottilion. Mas Ertegun
fez um pedido para Lou: "não quero um disco que fale
de drogas. Quero um disco cheio de grandes canções,
para tocarem em rádios!"
E Lou atendeu...
6 - Max's Kansas
City e o adeus de Lou
Mas antes de acabarem as
gravações do disco, o grupo teria que cumprir uma
agenda de seis shows no Max's Kansas City, em Nova York. O grupo
não tocava na cidade desde 1967 e Lou não estava
nem um pouco contente com os shows. Para piorar, Maureen tinha
tido dado a luz à sua primeira filha em junho e não
iria poder participar do show. O jeito foi convidar o baterista
Billy Yule, irmão de Doug e que havia trabalhado como músico
de estúdio no novo disco.
Maureen
disse que, mesmo assim, resolveu ver uma apresentação:
"foi horrível, não era mais o Velvet. Apenas
Lou e Sterling eram da formação original, mas era
nítido a falta de ânimo dos dois". Antes do
último show, Lou avisou a Steve que deixaria o grupo. Sesnick
pouco se importou, já que queria se livrar de Reed, apostando
em Doug para substitui-lo.
Moe lembra que quando Lou
Reed confessou que não suportava mais aquela vida e a pressão,
ela não podia acreditar: "mais do que ninguém,
ele era o Velvet. Sem Lou, tudo estava acabado."
Incrível
ou não, a apresentação do dia 23 de agosto
acabou sendo gravada e lançada dois anos mais tarde como
um álbum, o Live at Max's Kansas City,
uma das mais tristes gravações do grupo. Totalmente
entediados, a banda vai anunciado novas canções,
enquanto é possível ouvir conversas de pessoas dentro
do bar. E o mais incrível é que esse disco tenha
saído agora, em 2005, em versão remasterizada e
com todas as canções na íntegra. Apesar do
desleixo da banda, vale como um importante registro, especialmente
de Lou.
Menos
de um mês depois do show, é lançado o derradeiro
disco do Velvet com Lou: Loaded. E novamente
o álbum traz algumas peculiaridades. Apesar de constar
o nome de Maureen nos créditos, ela não tocou em
nenhuma faixa, sendo substituída por Billy Yule - que recebia
6 dólares por dia como músico contratado. E Moe
ficou muito irritada quando viu seu nome nos créditos.
Por mais incrível
que pareça, Loaded é o disco favorito
de muitos fãs e por um simples motivo: é um dico
cheio de grandes canções. O disco abre com a bela
"Who Loves The Sun", cantada por Doug. Uma balada bem
anos 60 em que ele reclama por que precisa do sol, depois que
sua amada partiu seu coração. Mas os dois maiores
méritos do disco são o clássico "Sweet
Jane" e "Rock And Roll". Sobre essas duas canções,
Lou comenta:
"Rock
And Roll" é auto-biográfica e fala de mim.
Se eu não tivesse ouvido rock and roll na rádio
quando criança, jamais desconfiaria que havia vida no planeta.
Foi o rock quem me salvou."
Sobre "Sweet Jane",
Lou explica que a edição da canção
foi um dos motivos que o levaram a deixar o Velvet. Quando fizeram
o trabalho de pós-produção, haviam feito
uma versão editada da canção, cortando uma
parte da letra, o que irritou Lou. "Eles cortaram um pedaço
da letra que falava do 'days of wine and roses', mesmo contra
minha vontade. Você pode imaginar o que é escrever
uma canção, e vê-la cortada, e pior, sendo
eternizada dessa maneira? Eu nunca perdoei por terem feito isso!"
A
versão original de "Sweet Jane" foi restaurada
quando a caixa Peel Slowly And See foi lançada,
mas mesmo assim, não agradou Lou: "ela já tinha
ficado famosa da outra maneira. Até me perguntaram porque
eu havia mexido nela para esse lançamento."
Quando o disco saiu, Sterling
optou por seguir os passos de Lou e abandonar a banda. O guitarrista
optou em acabar os estudos interrompidos em 1965 e se graduar
em inglês e dar aulas, profissão que seguiria até
1992. Maureen ainda seguiu mais um tempo, mas também logo
pulou fora do grupo. A banda agora era liderada por Doug Yule,
como Steve Sesnick tanto queria.
7 - Reunião
e o triste adeus
Em
1971, Doug e Steve resolveram manter o nome e saíram chamando
músicos totalmente desconhecidos para a banda. Mantendo
o mano Billy na bateria e convidando Willie Alexander, Walter
Powers, Rob Norris, George Kay, Mark Nauseef e Don Silverman,
fizeram uma série de shows até 1973, quando, não
satisfeito, Doug resolveu macular totalmente o nome do grupo.
Em um disco lançado apenas no Reino Unido e tendo o baterista
Ian Paice, do Deep Purple, como o único convidado, Doug
lançou um embaraço em forma de vinil: Squeeze.
"Reconheço
que era muito mais um disco-solo meu do que outra coisa e só
usei o nome Velvet Underground, pois tinha os direitos sobre ele.
"De qualquer maneira, o disco foi um fiasco absoluto e nem
teve uma edição norte-americana e nem foi sequer
cogitado em sair como CD.
Mas, para a sorte dos fãs,
o nome do Velvet foi sedimentado com uma reunião surpreendente
e que (também) foi editada em 2003: um show no club Bataclan,
em 1972.
A reunião contou
com Lou Reed, John Cale e Nico, que pela primeira vez, se reuniam,
desde 1967. Lou e John haviam se encontrando pela última
vez em 1969, quando Steve convidou John para algumas gravações
do disco abortado pela MGM. O empresário queria ver se
era possível trazer Cale de volta, mas não teve
sucesso, embora ele tenha participado da faixa "Ocean".
Já em Paris, a história foi outra: o encontro de
29 de janeiro reuniu os três em 14 músicas e, ironicamente,
marcou a única apresentação do Velvet Underground
na Europa. Ainda que desfalcados de Sterling e Maureen.
Mas o nome Velvet Underground
ainda seria ouvido muitos anos depois...
8 - A volta, ainda
que breve
Em
1990, Lou e John Cale resolveram se reunir para um disco-tributo
a Andy Warhol, Songs for Drella. E dessa reunião
começou a ser especulado uma futura reunião do Velvet.
Mas Lou não queria
nem ouvir falar em Velvet Underground, apesar de Moe ter participado
de seu disco anterior, New York. Porém,
Sylvia Reed, então esposa de Lou, começou a tramar
a futura volta do Velvet. E foi em um show no dia 15 de junho
de 1990, quando Lou e John faziam uma apresentação
na cidade francesa de Jouy-en-Josas, a convite da Fundação
Cartier, para pouco mais de 150 pessoas e jornalistas, que Lou
interrompeu e disse: "temos uma pequena surpresa para vocês..."
A pequena surpresa era
a presença de Sterling e Moe, que fizeram uma versão
de 17 minutos para "Heroin". O acontecimento foi noticiado
em todo o planeta como a "volta do Velvet Underground!"
Não ainda... O problema
é que Lou já tinha uma imensa e bem-sucedida carreira-solo
e não queria voltar em igualdade de condições
com os demais, particularmente com Sterling e Moe, que tinham
vidas bem modestas e até sacrificadas - na ocasião,
o guitarrista ganhava pouco dinheiro com suas aulas e a baterista
era caixa de supermercado.
O primeiro contato havia
sido feito quando os outros dois membros queriam alguma compensação
financeira pelo legado da banda, todo em poder de Lou. Reed aceitou
rever o contrato sem muitos problemas, possibilitando um dinheiro
extra aos demais. Mas a reunião mesmo só começou
a acontecer em 1992. No dia 5 de dezembro, Lou e John tiveram
a companhia de Sterling Morrison no palco, que estava nervoso
pelos anos de inatividade como guitarrista.
Em
fevereiro de 1993, os quatro resolveram se encontrar em Nova York
para ensaiarem. "Foi uma reunião tensa, mas tocamos
por mais de cinco horas e saímos todos felizes", conta
Tucker.
O grupo resolveu então
realizar um sonho: fazer uma excursão pela Europa, o que
não havia ocorrido na década de 60. E, para minimizarem
os custos, o Velvet abriria os shows do U2, então em uma
mega temporada pelo planeta. Mas isso causou alguma comoção
dos fãs: "abrir para o U2 é o mesmo que Hendrix
abrindo para os Monkees. Não deveria ser o contrário??",
reclamou um.
A excursão, que
iniciou bem, começou a azedar quando Lou resolveu mostrar
quem mandava na banda. Nos primeiros shows, Lou mostrava calma
e compreensão com o nervosismo geral, especialmente de
Sterling, com quem havia reestabelecido grande amizade. Ele, inclusive,
chegou a pedir desculpas sinceras após uma bronca em um
ensaio. Mas Lou era imprevisível e ao final da excursão,
John Cale lamentava amargamente ter aceitado tal convite.
Mas o pior veio depois.
Quando os quatro retornaram à América, Lou ficava
mandando mensagens grossas por fax para John e Sterling, dizendo
o que haviam feito de errado e como tinha ficado desapontado com
John. A situação ficou tão incontrolável,
que após Sterling e Maureen receberem o dinheiro que tinham
direito, nunca mais quiseram saber de uma volta. E com a morte
de Sterling, no dia 30 de agosto de 1995, em Poughkeepsie, Nova
York, o Velvet encerrou de vez.
Mas
o grupo deixou dois importantes registros. O primeiro é
o CD duplo da excursão, Live MCMXCIII,
que causou muita tensão para Lou, já que, segundo
Maureen "ele descobriu que sua voz estava ruim e que sua
habilidade na guitarra não é tão grande assim
e quis fazer vários overdubs"; e a imponente caixa,
Peel Slowly And See, contendo cinco CDs, sendo
os quatro discos de carreira do grupo - descontando, obviamente
Squeeze - e mais um CD com demos, além
de um luxuoso livro de 88 páginas.
O
grupo teve uma série de lançamentos póstumos,
como reedições de todos os discos e várias
caixas.
A influência do Velvet
nos anos 80 e 90 é imensa, podendo ser comparada aos Beatles.
Poucos grupos puderam desfrutar de uma notoriedade tão
grande anos depois de encerrarem suas atividades.
Lou Reed segue em uma bem-sucedida
carreira-solo, embora tenha oscilado em qualidade nos últimos
trabalhos.
Deixo vocês com a
discografia do grupo. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
The Velvet Underground
and Nico (1967)
White Light/White Heat (1968)
The Velvet Underground (1969)
Loaded (1970)
Live at Max's Kansas City (1972)
Squeeze (1973)
1969: Velvet Underground Live vol.1 (1974)
1969: Velvet Underground Live vol.2 (1974)
VU (1985)
Another View (1986)
The Best of The Velvet Underground (1989)
Live MCMXCIII (1993)
What Goes On (1993)
Peel Slowly and See (1995)
20th Century Masters - The Millennium Collection: The Best of
the Velvet Underground (2000)
An Introduction to The Velvet Underground (2000)
Bootleg Series, Vol. 1: The Quine Tapes (2001)
Le Bataclan '72 - Lou Reed, John Cale & Nico (2003)
Gold (2005)
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