254 - Mitch Easter

Há exatamente cinco anos eu fiz uma coluna sobre uma banda chamada Let's Active, um grupo pouco conhecido, e que sempre foi um dos meus preferidos. Depois de tanto tempo e audição dos discos consegui encontrar o site oficial do líder da banda, Mitch Easter, um renomando produtor e que trabalhou, entre outros, com o R.E.M. A razão pela qual essa entrevista está na seção de colunas e não na mais apropriada é puramente subjetiva, até porque acho que Mitch merece ter sua história um pouco mais dissecada. Sendo assim...


Mitch não pára de maneira alguma. Um dos produtores mais requisitados na América, ele está lançando seu primeiro disco-solo, Dynamico, e encerrando um jejum de quase 20 anos sem gravar nada. Músico excepcional, passou (e ainda passa) muito tempo sentado em estúdios produzindo, sendo um dos motivos que teve pouco tempo para gravar músicas mais pessoais.

Mitch confessa que após o término do Let's Active imaginou que não teria problemas em conseguir um novo contrato para seguir sozinho. Descobriu que não era bem assim e seguiu a vida como seu estúdio e produzindo dezenas de artistas.

Mitch respondeu essas perguntas enquanto produzia os Baskervilles e as fotos da matéria foram retiradas do arquivo do site pessoal do entrevistado.

Pergunta: - Olá Mitch, obrigado pela oportunidade . Minha primeira pergunta é sobre sua antiga banda, o Let's Active. Como ela foi formada?
Mitch Easter: -
Oi Rubens. O Let's Active foi formado em 1981 quando eu e Faye Hunter nos encontramos com Sara Romweber. Sara era bem mais jovem do que nós e vivia em uma outra cidade, mas sabíamos que seria perfeita para o grupo. Nós a convidamos para tocar conosco porque ela tinha participado de uma banda um pouco famosa chamada Mondo Combo, que tinha um pouco de influência de ska.

Pergunta: - Você construiu uma carreira paralela como produtor. Isso foi bom ou ruim para o Let's Active?
Mitch Easter: -
Bem, alguns dos grupos que produzi fizeram algum sucesso e isso acabou chamando a atenção para o meu nome e para a banda. Então, penso que foi uma coisa boa.

Don Dixon e Mitch durante as gravações de ReckoningPergunta: - Como foi trabalhar com o R.E.M?
Mitch Easter: -
Eles me chamaram porque Peter Holsapple havia me indicado e porque estavam procurando um estúdio para gravarem seu primeiro single. Nos divertimos muito gravando-o (Radio Free Europe), assim como gravando Chronic Town, quando tentamos algumas experiências. Nessa época já haviam assinado com a IRS e já tinham alguma popularidade e a gravadora tinha outros nomes para a produção, embora tenham perguntado ao grupo sobre quem queriam para a função. Aconteceram dois "testes"; um com outro produtor e outro comigo e com meu amigo Don Dixon. A banda gostou muito mais de nós e acabamos fazendo o disco Murmur de maneira bem rápida, bem como Reckoning. Cada um levou, em média, três semanas. Estávamos bem satisfeitos e fiquei chocado quando Murmur ganhou város elogios e foi eleito o disco do ano pela Rolling Stone. Foram ótimos dias: a banda se divertiu muito, eu também e o público amou. Ficamos bem perto da perfeição.

Pergunta: - Você tem seu próprio estúdio?
Mitch Easter: -
Sim, desde que comecei a trabalhar em 1980. O nome original era Drive-In Studio, mas em 1999 eu abri um melhor, o Fidelitorium Recordings. Ele tem um site caso queira conhecê-lo.

Pergunta: - Recentemente conversei com Scott Miller e ele me disse que você o ajudou a mexer com o programa Pro Tools. O que você pensa sobre essas novas tecnologias?
Mitch Easter: -
Hum... há algo errado aí. A última vez que encontrei Scott não falamos sobre Pro Tools. Em um dos discos do Loud Family eu emprestei uma máquina ADAT para que fizesse algumas coisas em sua casa, mas isso foi no início da década de 90. Gravar em casa é genial, desde que você tenha gravado algo realmente bom e porque te dá mais tempo de você pensar com mais clareza. O único problema é pode-se perder um pouco do foco e achar que pode reproduzir em um computador tudo o que é realizado num bom estúdio, o que, obviamente, não é verdade e por essa razão nem todos os músicos devem fazer isso. Alguns sabem trabalhar com o equipamento, mas para alguns é um verdadeiro obstáculo. Eu acho que há ainda uma grande importância nesse ambiente mais tradicional de um estúdio e por isso acho que sempre teremos alguns deles por aí, embora reconheça que as gravações caseiras têm diminuindo o uso deles. Eu gosto de trabalhar em um ambiente mais humilde, mais "caseiro" e vejo com tristeza que grandes e famosos estúdios estão desistindo do negócio.

capa do disco DynamicoPergunta: - Me fale um pouco do seu primeiro disco-solo, por favor...
Mitch Easter: -
Bem, depois que o Let's Active terminou em 1990, eu não sabia o que fazer com as canções que eu havia escrito. Na verdade, a maioria das novas composições hoje em dia são feitas por pessoas jovens escrevendo sobre coisas atuais e eu não sou mais jovem. Continuei escrevendo minhas canções e nos últimos anos percebi que não precisava me preocupar em lançar um disco por um grande selo, porque as pessoas, nos dias de hoje conseguem obter música de várias maneiras e também porque percebi que gosto de escrevê-las. Então, no último verão tive um tempo livre para mixá-las e decidi eu mesmo lançar meu CD para ver o que acontecia. Quero tocar mais pelo país, fazer mais shows e ter um CD faz todo o sentido. Dynamico está indo bem então acho que valeu a pena fazê-lo.

Pergunta: - Sempre foi difícil comprar discos do Let's Active e em 2002 ou 2003 os álbuns saíram em CDs. Ainda assim são discos difíceis de serem obtidos. Por que?
Mitch Easter: -
Acho que é culpa da IRS Records que não tem uma distribuição internacional eficiente em muitos locais, pois se concentram mais na América e no Reino Unido, o que considero um erro.

Pergunta: - Você sabia que a banda é conhecida no Brasil?
Mitch Easter: -
Não e estou surpreso, porque acho que nosso trabalho jamais foi lançado na América do Sul.

Pergunta: - Depois de tanto tempo há ainda algum artista com quem você sonha em trabalhar?
Mitch Easter: -
Eu gosto de trabalhar com um certo tipo de pessoa, pessoas com uma proposta bem particular. Não tenho interesse em fazer grandes discos comerciais. Me interesso por coisas diferentes. É claro que uma vez estando nesse ramo de atividade, gravo várias coisas e algumas acabo gostando mais do que outras.

Pergunta: - Poderia me dizer seus cinco artistas favoritos e cinco discos?
Mitch Easter: -
Ah, isso é impossível! Gosto de muita coisa e isso muda constantemente. Eu gosto muito dos anos 60, mas, por exemplo, ontem vi uma entrevista com Lalo Schifrin, e gosto muito do que ele fez, assim como outros compositores para o cinema, como Ennio Morricone, além de jazz moderno, música eletrônica. Ultimamente estive ouvido o Genesis com o Peter Gabriel - Nursery Cryme e Foxtrot - o que poderá ofender os amantes do pop. Eu também amo o Family, uma banda britânica dos anos 60, Roxy Music, Bowie, várias bandas punks dos anos 70... é muita coisa.

Pergunta: - Obrigado pela entrevista, Mitch e deixa uma mensagem aos fãs...
Mitch Easter: -
Eu que agradeço a chance e quero agradecer a todos que ouviram meus discos. Por favor, nos fale sobre as novas bandas brasileiras. Seria excitante conhecê-las!

 


 

 

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