Há exatamente
cinco anos eu fiz uma coluna
sobre uma banda chamada Let's Active, um grupo pouco conhecido,
e que sempre foi um dos meus preferidos. Depois de tanto tempo
e audição dos discos consegui encontrar o site oficial
do líder da banda, Mitch Easter, um renomando produtor
e que trabalhou, entre outros, com o R.E.M. A razão pela
qual essa entrevista está na seção de colunas
e não na mais apropriada é puramente subjetiva,
até porque acho que Mitch merece ter sua história
um pouco mais dissecada. Sendo assim...
Mitch
não pára de maneira alguma. Um dos produtores mais
requisitados na América, ele está lançando
seu primeiro disco-solo, Dynamico, e encerrando
um jejum de quase 20 anos sem gravar nada. Músico excepcional,
passou (e ainda passa) muito tempo sentado em estúdios
produzindo, sendo um dos motivos que teve pouco tempo para gravar
músicas mais pessoais.
Mitch confessa que após
o término do Let's Active imaginou que não teria
problemas em conseguir um novo contrato para seguir sozinho. Descobriu
que não era bem assim e seguiu a vida como seu estúdio
e produzindo dezenas de artistas.
Mitch respondeu essas perguntas
enquanto produzia os Baskervilles e as fotos da matéria
foram retiradas do arquivo do site
pessoal do entrevistado.
Pergunta:
- Olá Mitch, obrigado pela oportunidade . Minha primeira
pergunta é sobre sua antiga banda, o Let's Active. Como
ela foi formada?
Mitch Easter: - Oi Rubens. O Let's Active
foi formado em 1981 quando eu e Faye Hunter nos encontramos com
Sara Romweber. Sara era bem mais jovem do que nós e vivia
em uma outra cidade, mas sabíamos que seria perfeita para
o grupo. Nós a convidamos para tocar conosco porque ela
tinha participado de uma banda um pouco famosa chamada Mondo Combo,
que tinha um pouco de influência de ska.
Pergunta: - Você
construiu uma carreira paralela como produtor. Isso foi bom ou
ruim para o Let's Active?
Mitch Easter: - Bem, alguns dos grupos que produzi fizeram
algum sucesso e isso acabou chamando a atenção para
o meu nome e para a banda. Então, penso que foi uma coisa
boa.
Pergunta:
- Como foi trabalhar com o R.E.M?
Mitch Easter: - Eles me chamaram porque Peter Holsapple
havia me indicado e porque estavam procurando um estúdio
para gravarem seu primeiro single. Nos divertimos muito gravando-o
(Radio Free Europe), assim como gravando Chronic
Town, quando tentamos algumas experiências. Nessa
época já haviam assinado com a IRS e já tinham
alguma popularidade e a gravadora tinha outros nomes para a produção,
embora tenham perguntado ao grupo sobre quem queriam para a função.
Aconteceram dois "testes"; um com outro produtor e outro
comigo e com meu amigo Don Dixon. A banda gostou muito mais de
nós e acabamos fazendo o disco Murmur
de maneira bem rápida, bem como Reckoning.
Cada um levou, em média, três semanas. Estávamos
bem satisfeitos e fiquei chocado quando Murmur
ganhou város elogios e foi eleito o disco do ano pela Rolling
Stone. Foram ótimos dias: a banda se divertiu muito,
eu também e o público amou. Ficamos bem perto da
perfeição.
Pergunta: - Você
tem seu próprio estúdio?
Mitch Easter: - Sim, desde que comecei a trabalhar em
1980. O nome original era Drive-In Studio, mas em 1999 eu abri
um melhor, o Fidelitorium Recordings. Ele tem um site
caso queira conhecê-lo.
Pergunta: - Recentemente
conversei com Scott Miller e ele me disse que você o ajudou
a mexer com o programa Pro Tools. O que você pensa sobre
essas novas tecnologias?
Mitch Easter: - Hum... há algo errado aí.
A última vez que encontrei Scott não falamos sobre
Pro Tools. Em um dos discos do Loud Family eu emprestei uma máquina
ADAT para que fizesse algumas coisas em sua casa, mas isso foi
no início da década de 90. Gravar em casa é
genial, desde que você tenha gravado algo realmente bom
e porque te dá mais tempo de você pensar com mais
clareza. O único problema é pode-se perder um pouco
do foco e achar que pode reproduzir em um computador tudo o que
é realizado num bom estúdio, o que, obviamente,
não é verdade e por essa razão nem todos
os músicos devem fazer isso. Alguns sabem trabalhar com
o equipamento, mas para alguns é um verdadeiro obstáculo.
Eu acho que há ainda uma grande importância nesse
ambiente mais tradicional de um estúdio e por isso acho
que sempre teremos alguns deles por aí, embora reconheça
que as gravações caseiras têm diminuindo o
uso deles. Eu gosto de trabalhar em um ambiente mais humilde,
mais "caseiro" e vejo com tristeza que grandes e famosos
estúdios estão desistindo do negócio.
Pergunta:
- Me fale um pouco do seu primeiro disco-solo, por favor...
Mitch Easter: - Bem, depois que o Let's Active terminou
em 1990, eu não sabia o que fazer com as canções
que eu havia escrito. Na verdade, a maioria das novas composições
hoje em dia são feitas por pessoas jovens escrevendo sobre
coisas atuais e eu não sou mais jovem. Continuei escrevendo
minhas canções e nos últimos anos percebi
que não precisava me preocupar em lançar um disco
por um grande selo, porque as pessoas, nos dias de hoje conseguem
obter música de várias maneiras e também
porque percebi que gosto de escrevê-las. Então, no
último verão tive um tempo livre para mixá-las
e decidi eu mesmo lançar meu CD para ver o que acontecia.
Quero tocar mais pelo país, fazer mais shows e ter um CD
faz todo o sentido. Dynamico está indo
bem então acho que valeu a pena fazê-lo.
Pergunta: - Sempre
foi difícil comprar discos do Let's Active e em 2002 ou
2003 os álbuns saíram em CDs. Ainda assim são
discos difíceis de serem obtidos. Por que?
Mitch Easter: - Acho que é culpa da IRS Records
que não tem uma distribuição internacional
eficiente em muitos locais, pois se concentram mais na América
e no Reino Unido, o que considero um erro.
Pergunta: - Você sabia que
a banda é conhecida no Brasil?
Mitch Easter: - Não e estou surpreso, porque acho
que nosso trabalho jamais foi lançado na América
do Sul.
Pergunta: - Depois
de tanto tempo há ainda algum artista com quem você
sonha em trabalhar?
Mitch Easter: - Eu gosto de trabalhar com um certo tipo
de pessoa, pessoas com uma proposta bem particular. Não
tenho interesse em fazer grandes discos comerciais. Me interesso
por coisas diferentes. É claro que uma vez estando nesse
ramo de atividade, gravo várias coisas e algumas acabo
gostando mais do que outras.
Pergunta:
- Poderia me dizer seus cinco artistas favoritos e cinco discos?
Mitch Easter: - Ah, isso é impossível!
Gosto de muita coisa e isso muda constantemente. Eu gosto muito
dos anos 60, mas, por exemplo, ontem vi uma entrevista com Lalo
Schifrin, e gosto muito do que ele fez, assim como outros compositores
para o cinema, como Ennio Morricone, além de jazz moderno,
música eletrônica. Ultimamente estive ouvido o Genesis
com o Peter Gabriel - Nursery Cryme e
Foxtrot - o que poderá ofender os amantes do pop.
Eu também amo o Family, uma banda britânica dos anos
60, Roxy Music, Bowie, várias bandas punks dos anos 70...
é muita coisa.
Pergunta: - Obrigado
pela entrevista, Mitch e deixa uma mensagem aos fãs...
Mitch Easter: - Eu que agradeço a chance e quero
agradecer a todos que ouviram meus discos. Por favor, nos fale
sobre as novas bandas brasileiras. Seria excitante conhecê-las!
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