158 - That Petrol Emotion

O That Petrol Emotion nasceu nos anos 80, mas sua origem vem de bem antes, lá no meio dos anos 70, quando a Irlanda revelou o Undertones, uma das bandas punk mais legais da época e autores da lendária "Teenage Kicks". Após o final do Undertones, alguns integrantes resolveram continuar a vida chamado um norte-americano para os vocais e montaram o That Petrol Emotion. Dessa mistura de punk, surf music, rock básico e outras influências, o quinteto fez grandes canções e deixou uma discografia de respeito, com, pelo menos, dois discos clássicos: Manic Pop Thrill e Babble.


da esquerda para a direita: Reámann O'Gorman, John "Sean" O'Néill, Steve Mack, Ciaran McLaughlin e Damian Ó NéillEm 1977, o mundo conheceu a explosão do punk, ou, ao menos a explosão das bandas britânicas. Nasciam grupos como Sex Pistols, The Clash, etc...

E na Irlanda, alguns grupos começaram a aparecer e dois deles foram muito importantes: o Stiff Little Fingers e o Undertones.

O Undertones já foi comentado nesse espaço e deixaram um punhado de grandes canções, como "Teenage Kicks". Mas o grupo acabou em 1984 e nesse mesmo ano, Sean O'Néill, o principal compositor do grupo, junto com um colega e DJ de um clube chamado The Left Bank, em Derry, começaram a montar uma demo com novas composições.

Essas canções, por sua vez, foram mostradas a Alan McGee, que tinha montado pouco tempo antes o selo Creation - que mais tarde lançaria grupos como The Jesus And Mary Chain, Primal, House Of Love, Oasis, só para ficarmos nos mais famosos - os convidou para irem até Londres e gravarem um single. A dupla já era um trio, com a adição do baterista Ciaran McLaughlin e tornou-se um quarteto quando o irmão de Sean, Damian, entrou para ser o baixista.

Mas McGee demorou para colocar o quarteto em estúdio e como estavam duros chamaram uma garota de nome Mel e arranjaram algumas apresentações com o provisório nome de Novacaine Combo. Além de Mel, Réamann e Damian, dividiam os vocais.

capa do compacto KeenMas Mel não agradou tanto assim e começaram a procurar um vocalista para o grupo. De tanto caçarem, esbarraram em um norte-americano, oriundo de Seattle e que estava em Londres, procurando uma banda: Steve Mack.

Os quatro gostaram de Steve, e o Novacaine Combo mudou de nome: assim o quinteto foi batizado de That Petrol Emotion.

Os quatro já haviam feitos duas canções para o tal compacto que Alan McGee ia lançar, "Keen" e "A great depression on a slum night", e mais do que depressa Steve Mack resolveu tirar as vozes e Réamann e Damian e colocar a sua voz com a principal, deixando a dos companheiros para acompanhamento. Mas, Alan parecia que não queria nada com o grupo e desanimados e desejando retornar para a Irlanda.

A sorte, no entanto, foi bacana com eles e o selo The Pink Label resolveu lançar as duas músicas em um compacto, que foram novamente regravadas e a banda debutou em vinil em setembro de 1985.

capa do compacto V2Só que além das duas canções pela Pink Label, o grupo resolveu lançar outro compacto com outras duas canções por um selo próprio, o Noiseanoise: "V2 / "Happiness drives me round the bend".

A explicação dada por Sean ao lançarem dois compactos diferentes por dois selos diferentes foi simples: "estávamos putos com o Alan, que nos enrolou durante meses e vimos que a única opção seria bancarmos um compacto. Ele já existia em nossa cabeça e já estava pronto quando a The Pink Label nos chamou."

Os dois compactos foram produzidos pelo próprio grupo.

capa do disco Manic Pop ThrillMas não foi nem pelo selo próprio e nem pela Pink Label que lançaram, no ano seguinte, o primeiro disco, Manic Pop Thrill. O trabalho acabou sendo lançado pela Demon Records e o disco fez um grande sucesso na parada independente inglesa.

Mais do que o som feroz do grupo, Manic Pop Thrill era um disco que falava de política e era extremamente anti-britânico.

Mesmo pegando pesado com a Inglaterra, o disco foi elogiado pela imprensa local como um dos melhores lançamentos do anos e dando uma grande notoriedade ao grupo.

O disco trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. Fleshprint
02. Can't Stop
03. Lifeblood
04. A Natural Kind of Joy
05. It's a Good Thing
06. Circusville

Lado B

01. Mouth Crazy
02. Tightlipped
03. A Million Miles Away
04. Lettuce
05. Cheapskate
06. Blindspot

Sobre política, Sean apenas afirmava que não tinha como deixar de abordar o tema sem ser irlandês.

"Esse foi um tema sempre presente em nossas vidas desde pequenos. Não é um disco anti-britânico. É, antes de tudo, um disco irlandês."

"It's a Good Thing" foi escolhida para ser o compacto do disco, com a canção "The deabeat" no lado B.

O disco foi produzido em Gales, por Hugh Jones, que trabalhou com Echo and The Bunnymen, entre outros.

capa do disco BabbleCom boa presença de palco, um vocalista carismático e boas canções, o grupo acabou chamando a atenção de uma grande gravadora, no caso a Polydor, que os contratou e lançou em 1987, o segundo disco do grupo, Babble.

O disco fez um enorme sucesso, graças às canções "Big Decison" e "Swamp". O That Petrol Emotion conseguiam fundir dance, rap, punk, com camadas de guitarra e boa música pop.

Babble trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. Swamp
02. Spin Cycle
03. For What It's Worth
04. Big Decision (Extended Version)
05. Static
06. Split!

Lado B

01. Belly Bugs
02. In the Playpen
03. Inside
04. Chester Burnette
05. Creeping to the Cross

Boa parte dessa mistura era responsabilidade de Steve, mas as composições de Sean, autor de quase todas as músicas, mostrava uma banda tremendamente afiada e perto de se tornarem um grande acontecimento.

Babble foi agraciado com vários elogios na América e na Europa e colocado em várias listas de melhores do ano. Só que o grupo acabou dando uma rasteira na Polydor e assinou com a Virgin para produzirem o novo disco. O motivo alegado para isso foi a insatisfação com a divulgação do disco.

capa do disco The End of the Millennium Psychosis BluesE a mudança de gravadora fez mal, já que o novo disco, The End of the Millennium Psychosis Blues, foi um tremendo fiasco, tanto comercial qaunto em inspiração.

Para piorar, Sean resolveu deixar o grupo, alegando que queria passar mais tempo em casa cuidado da família.

Sem Sean, o principal compositor, o That Petrol Emotion entrou em um processo de crise e de dúvida. Na verdade, o disco mostrava um grupo pouco inspirado, indo mais para o lado funk e dance. Um trabalho menor na carreira.

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. Sooner or Later
02. Every Little Bit
03. Cellophane
04. Candy Love Satellite
05. Here It Is... Take It!
06. The Price of My Soul

Lado B

01. Groove Check
02. The Bottom Line
03. Tension
04. Tired Shattered Man
05. Goggle Box
06. Under the Sky

No mesmo ano, Steve deu sua ajuda em uma luta contra a AIDS, em um disco, contendo apenas músicas de Johnny Cash - Til Things Are Brighter, cantando "Rosanna's Goin' Wild".

O disco foi produzido por Jon Langford da importante banda The Mekons.

Para compensar o fraco disco, que deixou os fãs decepcionados é lançado um EP ao vivo, onde o grupo mostra toda sua força no palco.

capa do EP Livecapa do EP That Petrol Emotion: The Peel Sessions BBC Archives

Intitulado apenas Live, o disco continha as músicas: "Genius move", "It's a good thing", "Here it is...take it", "Cinnamon Girl" (de Neil Young), "Circusville" "V2" e "Non-Alignment Pact" (do Pere Ubu).

 

capa do disco ChemicrazyEm 1989 foi o ano da gravadora Strange Fruit, lançar dois EPs dos programas do radialistas John Peel: That Petrol Emotion: The Peel Sessions BBC Archives e That Petrol Emotion: The Peel Sessions.

No mesmo ano, saiu um Peel Sessions do Undertones, banda originária dos membros do That Petrol Emotion.

Após dois anos sem um disco novo, os integrantes começaram a ocupar a lacuna deixada por Sean. Damian assumiu a guitarra, ao lado de Reámann, entrando John Marchini no baixo.

Com ele, e ainda Steve Mack nos vocais é lançado o quarto álbum, o segundo pela Virgin, Chemicrazy, em 1990.

O disco também não agradou, ficando claro que a ausência do antigo compositor era muito sentida. As duas melhores canções do disco eram "Hey Venus" e "Sensitize," de um formato pop bem acessível

O grande trunfo do grupo agora era o alucinado vocalista que mostrava todo seu carisma ao vivo.

"Gosto de dar o melhor show possível aos nossos fãs e sempre gostei de ir à shows cheios de energia e entrega dos vocalistas. Por isso tento manter a mesma postura."

E a performance de Steve era realmente contagiante. Na verdade, a diferença de som registrada em vinil e ao vivo eram abissais nessa época.

"Gravar é diferente de tocar ao vivo. Em um estúdio, há inúmeros pequenos detalhes e muitas vezes se grava um som que é impossível de ser reproduzido em um palco. Ao vivo, o que conta é a energia", confessa Steve.

capa do disco FireproofApós outro disco fraco de vendas, a Virgin acabou não renovando o contrato com o grupo que entrou em outro processo de hibernação.

Em 1993, eles soltam dois discos: a coletânea Exploded View e Fireproof. Ambos foram lançados pela pequena Koogat, que na América era representada pela Rykodisc. Após três anos, o grupo tinha outra mudança: saía John Marchini e entrava Brendan Kelly no baixo.

Fireproof é um disco influenciado pelo som grunge da época, embora com a marca do That Petrol Emotion. É um disco cheio de guitarras ferozes e o grande momento desde Babble. A banda mostra que tinha muito o que dar e saem em nova turnê, que lamentavelmente seria a derradeira.

"Já não havia aquela motivação depois de tanto tempo. Vimos que tínhamos feito o melhor na época", disse Steve Mack."

capa do disco Final FlameDois desses shows foram gravados e resultaram no disco derradeiro do grupo, Final Flame, que só foi lançado em 2000. Sean até participou do final do show.

O disco mostra todo o carisma que a banda possuía, com duas performances alucinantes: uma em Londres e outra em Dublin.

Após o final da banda, cada membro seguiu sua vida, sendo que Steve regressou à Seattle natal e formou o Anodyne. Lançaram um disco em 1998, mas ao descobrirem que havia uma banda irlandesa de mesmo nome, mudaram para Marfa Lights. Sean também seguiu tocando e formou o Rare. Os outros membros tiveram alguns projetos ligados à música; alguns mais sérios e outros só tocando por prazer.

O bom é que alguns discos foram lançados por aqui, especialmente os dois da Virgin. Os dois primeiros tiveram uma versão remasterizada em CD, como é o caso de Manic Pop Thrill, com faixas extras, como "V2", "Jesus Says", "The Deadbeat", "Mine" e "Non-Alignment Pact".

Deixo vocês com a letra de "V2". Um abraço e até a próxima coluna.

V2

I've got a june-bug crawlin'
It dears to come
It really dears to come
She could say no
No
No

Really tryin' tryin' to say no
Yes some easy trouble
It is a one way dream
Maybe I
Said no
No
No

And I've need
Plague for a partial
Called Captain Fear to come
As a rag-doll changed yours
It doesn't know
Know
Know

Discografia

Keen/A great depression on a slum night (compacto, 1985)
V2 / Happiness drives me round the bend (compacto, 1985)
It's a Good Thing / The deadbeat (compacto, 1986)
Manic Pop Thrill (1986)
The Peel Sessions (EP, 1986)
Babble (1987)
The End of the Millennium Psychosis Blues (1988)
Live (EP, 1988)
The Peel Sessions - BBC Archives (EP, 1989)
The Peel Sessions (EP, 1989)
Chemicrazy (1990)
Exploded View (1993)
Fireproof (1993)
Final Flame (2000)



 

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