Eu até
falei de Surfer Rosa na coluna que fiz sobre o Doolittle,
mas foi tão por cima que resolvi contar um pouco melhor
a história desse extraordinário disco. Eleito o
melhor lançamento de 1988 por parte da crítica mundial,
Surfer Rosa mostrou que os Pixies haviam chegado para marcar sua
passagem. Apesar do pouco sucesso comercial, o lançamento
seria obra fundamental para dezenas de imitadores anos depois,
entre eles o Nirvana.
Reza
a lenda que todos os poucos sortudos que compraram um disco do
Velvet Underground montaram uma banda.
E a lenda se mantém
com os Pixies. É enorme a lista de fãs do grupo,
começando por Kurt Cobain, que disse certa vez que sonhava
em escrever canções no "estilo Pixies".
Coisa que jamais conseguiu, diga-se de passagem.
E Surfer Rosa
serviu para selar o "estilo Pixies", com seus vocais
urrados e cantados; suas letras em inglês e espanhol e o
casamento de violões acústicos com guitarras ácidas
e vocais doce da baixista Kim Deal.
Entusiasmados
com a banda, a 4AD pediu que Steve Albini os produzisse. Albini
era uma espécie de guru do underground norte-americano
e havia sodo contratado por Ivo Watts-Russell, dono do selo, por
intermédio de um amigo.
Albini levou o grupo ao
Q Division, em Boston, em dezembro de 1987. O estúdio havia
sido recomendado por Paul Kolderie, assistente de Gary Smith quando
esse produziu Come on Pilgrim.
O orçamento era
apenas de US$10 mil e Steve ganharia US$ 1.500 pela empreitada.
Ele se recusou a receber royalties, pois considerava
isso um "insulto ao grupo".
Os Pixies matinham os mesmos
temas do primeiro trabalho anterior: mutilações,
voyeurismo, tudo com uma produção bem lo-fi,
bem discreta, mas dando muita ênfase à bateria.
Albini
deixou os músicos desconcertados com suas idéias:
para gravar os vocais de Kim Deal de "Where Is My Mind?"
e "Gigantic", levou todo o equipamento para o banheiro
com a intenção de conseguir um som mais cru, real.
Em "Something Against
You", filtrou a voz de Francis por um amplificador de guitarra.
O disco foi gravado rapidamente
e quando lançado causou comoção entre os
críticos, especialmente os ingleses da New Musical
Express e Record Mirror, que o consideraram o disco
do ano.
Surfer Rosa
saiu em abril de 1988, primeiro na Inglaterra, e apenas em agosto
na América, quando começou a ser distribuído
pela Rough Trade, antigo selo dos Smiths.
Apesar
de tanta babação de ovo, Surfer Rosa
escorregou nas paradas e um único compacto foi extraído,
"Gigantic", parceria de Francis com Kim Deal (no disco
ela se auto-intitulou Mrs. John Murphy). Apesar disso, Watts-Russell
afirmou que vendeu cinco vezes mais que Come on Pilgrim.
O álbum trazia faixa
desconcertantes, casos de "Oh My Golly!", cantada em
espanhol e berrada e "Tony's Theme", um super-herói.
Em "Cactus",
um prisioneiro pede que sua namorada manche um vestido dela com
sangue e que o envie a ele na cadeia.
O álbum é
também lembrado pela lindas fotografias da capa e da contra-capa:
uma prostituta italiana nua, posando como dançarina flamenca
e mostrando belos seios. Além disso, há um crucifixo
na parede e um braço de guitarra saindo da mesma parede.
As duas imagens foram feitas pelo inglês Simon Larbalestier,
que já havia feito a foto de Come on Piligrim
e costumava trabalhar para a 4AD.
A
nudez da capa foi sugestão do Francis, embora não
fosse a idéia original para a embalagem e o nome do disco
veio da letra de "Oh My Golly", "Besando chichando
con surfer rosa". E o que saía dos sulcos (de vinil
da época) era igualmente belo.
Os Pixies deixaram uma
multidão de fãs, entre eles David Bowie, que gravou
"Cactus" em Heathen, que lançou
em 2002. Além disso, convidou Frank Black para tocar com
ele em sua festa de 50 anos, em 1997, no Madison Square Garden.
Deixo vocês com a
discografia do grupo. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
EP Come on Pilgrim (1987)
Surfer Rosa (1988)
Doolitle (1989)
Bossanova (1990)
Trompe Le Monde (1991)
Death to the Pixies (1997)
Pixies at the BBC (1998)
Complete B-Sides (2001)
Pixies (2002)
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