O canto do cisne. Após
13 anos juntos, os Talking Heads fizeram um requintado disco em
Paris recheado de convidados - entre eles, Johnny Marr - em um
disco que já tinha cara de adeus, após tantos grandes
momentos, brigas e esgotamento de idéias. Naked é
o disco menos lembrado da banda, mas nem por isso menos interessante.
O
último do grupo marca uma ruptura com os momentos pops
de Little Creatures e True Stories.
Em 1987, os Estados Unidos
experimentavam um crescente isolamento e a banda sentia que precisava
mudar esse quadro em seu novo LP.
Por isso mesmo, David Byrne
sugeriu que o novo trabalho fosse gravado na Europa, escolhendo
Paris como base, já que a capital francesa teve tradição
em aglutinar cultura de diversos cantos do planeta.
Byrne queria também
convidar músicos para dar um toque especial em cada composição.
As primeiras gravações aconteceram ainda em Nova
York e não eram nada mais do que pequenos rascunhos em
fitas cassetes, onde os membros tocavam outros instrumentos.
Dessa forma a baixista
Tina Weymouth assumia a guitarra, David Byrne assumiria o baixo,
o baterista Chris Frantz tocaria sintetizadores e o tecladista
e guitarra Jerry Harrison brincaria com uma bateria eletrônica.
Com várias idéias
reunidas, todas foram levadas para Paris. Muitas foram rejeitadas
e as escolhidas começaram a ganhar corpo. Ao lado do produtor
Steve Lillywhite, concepções nasciam e dependendo
da necessidade, músicos eram convidados, alguns de maneira
mais fixa como o guitarrista Yves N'Djock, o tecladista Wally
Badarou e os percussionistas Abdou M'Boup e Brice Wassy.
Todos eles ficavam tocando,
criando grooves, sem letras, trabalhando apenas nas melodias,
até ficarem boas o suficiente para que David Byrne começasse
a pensar no que escrever.
A
sonoridade estava mais distante do pop, mais próximo da
música caribenha e latina, com mais balanço.
Os arranjos de metais ficaram
a cargo de Ángel Hernández, músico de Célia
Cruz.
Entre todos, o mais ilustre
era o guitarrista dos Smiths, Johnny Marr. O grupo inglês
estava no meio do (também) último disco do grupo,
Strangeways, Here We Come, em meio a uma crise
entre Marr e Morrissey. Tablóides ingleses jogavam ainda
mais lenha na fogueira ao dizer que o guitarrista havia fugido
das sessões para se juntar aos Talking Heads, em Paris,
fato que deixou Marr extremamente azedo e irritado.
Marr participou em quatro
faixas: "Ruby Dear", "(Nothing But) Flowers",
"Mommy Daddy You and I" e "Cool Water".
A lista de músicos
envolvidos foi imensa, a saber:
Johnny Marr – guitars
on "Ruby Dear", "(Nothing But) Flowers", "Mommy
Daddy You and I", and "Cool Water"
Brice Wassy – percussion on "Ruby Dear", "(Nothing
But) Flowers", "The Facts of Life", and "Big
Daddy"
Abdou M'Boup – percussion, talking drum, congas, cowbell
on "Blind", "Mr. Jones", "Totally Nude",
and "(Nothing But) Flowers"
Yves N'Djock – guitar on "Blind", "Totally
Nude", and "(Nothing But) Flowers"
Eric Weissberg – pedal steel guitar on "Totally Nude"
and "Bill", dobro on "The Democratic Circus"
Mory Kanté – kora on "Mr. Jones" and "The
Facts of Life"
Wally Badarou – keyboard on "Blind" and "The
Facts of Life"
Manolo Badrena – percussion, congas on "Mr. Jones"
and "Mommy Daddy You and I"
Sydney Thiam – congas on "The Democratic Circus",
percussion on "Bill"
Lenny Pickett– saxophones on "Blind" and "Big
Daddy"
Steve Elson – saxophones on "Blind" and "Big
Daddy"
Robin Eubanks – trombone on "Blind" and "Big
Daddy", "Mr. Jones"
Laurie Frink and Earl Gardner – trumpets on "Blind"
and "Big Daddy"
Stan Harrison – alto saxophone on "Blind" and
"Big Daddy"
Al Acosta – tenor saxophone on "Mr. Jones"
Steve Gluzband – trumpet on "Mr. Jones"
Jose Jerez – trumpet on "Mr. Jones"
Bobby Porcelli – alto saxophone on "Mr. Jones"
Steve Sachs – baritone saxophone on "Mr. Jones"
Charlie Sepulveda – trumpet on "Mr. Jones"
Dale Turk – bass trombone on "Mr. Jones"
Moussa Cissokao – percussion on "Ruby Dear"
Nino Gioia – percussion on "The Facts of Life"
Philippe Servain – accordion on "Totally Nude"
James Fearnley – accordion on "Mommy Daddy You and
I"
Phil Bodner – cor anglais on "Cool Water"
Don Brooks – harmonica on "Big Daddy"
Kirsty MacColl – backing vocals on "(Nothing But) Flowers"
and "Bill"
Alex Haas – whistling on "Bill"
Após
as gravações em Paris, a banda retornou para Nova
York, onde David Byrne reescreveu algumas letras e cuidou dos
overdubs nos vocais.
Naked
acabaria sendo editado em abril de 1988, com elogios da crítica,
que percebia o momento mais feliz e menos pretensioso da banda
e com um som leve, dançante, leve e otimista, apesar de
algumas letras não serem exatamente assim.
O disco conseguiu bons
resultados comerciais, vendendo mais de 500 mil cópias
na América e ficando em 19º lugar na parada americana,
mesma colocação de Remain in Light.
"(Nothing But) Flowers"
ficou em quinto lugar na parada de compactos de rock, segunda
melhor posição conseguida pela banda, superada apenas
por "Wild Wild Life", do LP True Stories.
O disco trazia 10 faixas:
Lado A
01. "Blind" –
4:58
02. "Mr. Jones" – 4:18
03. "Totally Nude" – 4:10
04. "Ruby Dear" – 3:48
05. "(Nothing But) Flowers" – 5:31
Lado B
01. "The Democratic
Circus" – 5:01
02. "The Facts of Life" – 6:25
03 "Mommy Daddy You and I" – 3:58
04. "Big Daddy" – 5:37
05. "Cool Water" – 5:10
Após
o lançamento e alguns shows, o Talking Heads ficou em silêncio,
até anunciarem o fim das atividades, em 1991.
Não havia mais o
que explorar ou vontade de ficarem juntos.
O grupo só voltaria
a se reunir em 18 de março de 2002, quando foram introduzidos
ao careta Rock and Roll Hall of Fame.
Byrne acabaria entrando
em uma carreira-solo de gosto duvidoso, abraçou a música
brasileira e chegou a fazer discos tediosos e constrangedores.
Em 1996, o trio Tina Weymouth,
Chris Frantz, and Jerry Harrison se reuniu e criou o projeto The
Heads, de quem já escrevi.
Algumas reuniões foram especuladas,
mas nunca concretizadas.
Deixo vocês com a
discografia da banda. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Talking Heads: 77 (1977)
More Songs About Building And Food (1978)
Fear of Music (1979)
Remain In Light (1980)
The Name of This Band is Talking Heads (1982)
Speaking In Tongues (1983)
Stop Making Sense (1984, versão quase na íntegra,
1999)
Little Creatures (1985)
True Stories (1986)
Naked (1988)
The Best Of: Once In a Lifetime (1991)
Popular Favorites: Sand in the Vaseline (1991)
Once In a Lifetime (Box com 3 Cds, 2003)
Best of Talking Heads (2004)
Talking Heads Dual Disc Brick (caixa com 8 cds, 2005)
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