Muito tempo atrás
eu falei do primeiro
disco do Television e apenas citei esse segundo. Uma injustiça
a ser reparada, pois Adventure é um belíssimo álbum,
apesar das péssimas vendagens, resultando no final do Television.
Mas, ainda há boas histórias sobre como ele foi
feito e algumas passagens curiosas sobre o grupo no ano de 1978.
Sendo assim, vamos resgatar algumas dessas histórias...
Marquee
Moon tinha sido aclamado como uma verdadeira obra-prima
e colocou o Television em uma sinuca de bico: como poderia superar
ou igualar o álbum? A resposta óbvia era: não
havia como.
Marquee Moon
havia amadurecido ao longo dos anos, com as canções
sendo tocadas ao vivo, reescritas pacientemente por Tom Verlaine.
O novo deveria nascer em meio a shows e até dentro do estúdio.
"Nosso primeiro disco
foi gravado quase ao vivo dentro do estúdio, porque tínhamos
trabalhado nas músicas por vários anos. Por isso
mesmo foi gravado rapidamente. Sabíamos que não
ficaríamos mexendo em tudo várias vezes. Na verdade,
em algumas músicas Tom sequer fez três takes
para seus vocais. Era quase tudo de primeira", lembra o guitarrista
Richard Lloyd.
Por isso, quando começaram
a escrever o material para um segundo disco, a insegurança
era grande. "Quando começamos a mexer nas novas músicas,
não tínhamos uma idéia definida e passamos
a experimentar um pouco em estúdio, mudar arranjos, testar
algumas idéias e aproveitar o orçamento generoso",
continua Lloyd.
Nascia
assim Adventure, que levou nove semanas para
nascer e tinha uma outra ótica.
A grande preocupação
de Tom Verlaine era fazer um disco mais pop, acessível.
O disco continha oito faixas, sendo duas velhas conhecidas de
shows - "Foxhole" e "Careful" - e com Tom
tocando teclados e polindo um pouco a urgência dos tempos
de Marquee Moon.
A primeira mudança
pedida pelo líder do Television foi fazer uma capa de cor
vermelha, já que considerava o preto do primeiro disco
muito negativo.
O grupo entrou em estúdio
em setembro de 1977, após uma excursão com Peter
Gabriel, que detestaram, especialmente porque os fãs do
ex-líder do Genesis odiaram o Television.
As sessões começaram
nos estúdios da Brill Building, em nova York. Chamaram
o produtor John Jansen, que trabalhava no Record Plant, que sugeriu
que se mudassem para o Plant, superior tecnicamente. A idéia
foi aceita e assim nascia o disco.
Adventure
mostra novas facetas da banda é um grande álbum,
embora sem metade do impacto de Marquee Moon.
Verlaine estava mais preocupado em construir canções
mais leves, embora mais elaboradas.
O disco abre com "Glory",
um belo exemplo do novo som do Television: Tom está cantando
mais baixo, a banda está mais suave. O mesmo acontece "Days",
uma delicada balada.
Com "Foxhole",
velha conhecida dos fãs e na qual Tom a anunciava gritando
"Hey, soldier boy", o líder produz um de seus
melhores solos, enquanto fala dos horrores da guerra.
A quarta canção,
"Careful", era intitulada originalmente "I Don't
Care", mas o nome foi alterado, após os Ramones gravarem
uma canção com o mesmo nome. Nela, Tom tentou uma
idéia bizarra, ao gravar seus vocais a três metros
de distância do microfone. "Ficou interessante, mas
nunca mais repeti a experiência", confessou.
"Carried Away"
é outra bela canção, muito delicada, com
teclados e longa. "The Fire", contém um belo
solo de slide, feito com uma faca por Verlaine! Foi também
a letra que mais deu trabalho a Verlaine, que a reescreveu inúmeras
vezes.
"Ain't That Nothin'"
possui um incidente curioso. A gravadora queria lançá-la
como compacto e pediu que rapidamente a gravassem. Entraram um
estúdio com um engenheiro de som da Elektra, extremamente
ansioso, pois sua mulher estava na maternidade esperando um bebê.
Por causa disso, ele acabou ligando os canais dos microfones da
bateria de forma errada, deixando o som dos tom-toms completamente
abafados. Por isso, a música teve que ser regravada para
entrar no disco.
O
disco fecha com "The Dream's Dream", que tinha o nome
original de "Cairo". Outra curiosidade: durante as gravações,
Richard Lloyd acabou internado em um hospital, onde passou vários
dias. Junkie de carteirinha, Richard teve uma endocarditis,
infecção causada por uma bactéria que ataca
o coração, agravado pelo uso de heroína.
Mas ele não perdeu o bom humor e tirou até algumas
fotos no local, sendo essa, a mais famosa.
Logo
após, o lançamento, o grupo saiu para tocar no Reino
Unido, onde tiveram vários problemas com um engenheiro
de som, que se recusava a mixar o som do grupo em seu PA.
"Ele era um daqueles
doidos que só trabalhava com folk music, e não deixava,
de maneira nenhuma, mixarmos nossos instrumentos corretamente.
Fui falar com ele e disse que não precisava mixar as guitarras,
apenas o baixo e a bateria. Mas ele não entendia e se recusou,
dizendo que as guitarras iriam destruir o equipamento. Era enervante",
conta Fred Smith.
As
baixas vendagens, críticas desanimadoras, fizeram com que
o Televison parasse após um show no Bottom Line, em Nova
York, em julho de 1978. A banda só voltaria a se reunir
em 1992, quando lançaram um novo disco, com o nome da banda.
O grupo ainda se reúne
para shows, como foi o do ano passado no Brasil, quando Tom Verlaine
reclamou demais da qualidade de nossas casas noturnas, mas fez
uma puta apresentação, segundo amigos. Uma última
dica: os três discos de estúdios do grupo - incluindo
Marquee Moon - estão disponíveis
em edição nacional e a preços justos. Vale
mais do que a pena adquirir essas preciosidades!
Deixo vocês com a
discografia do grupo. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Marquee Moon (1977)
Adventure (1978)
The Blow-Up (1980)
Television (1992)
Live at the Old Waldorf (2003)
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