216 - Television - Adventure

Muito tempo atrás eu falei do primeiro disco do Television e apenas citei esse segundo. Uma injustiça a ser reparada, pois Adventure é um belíssimo álbum, apesar das péssimas vendagens, resultando no final do Television. Mas, ainda há boas histórias sobre como ele foi feito e algumas passagens curiosas sobre o grupo no ano de 1978. Sendo assim, vamos resgatar algumas dessas histórias...


Marquee Moon tinha sido aclamado como uma verdadeira obra-prima e colocou o Television em uma sinuca de bico: como poderia superar ou igualar o álbum? A resposta óbvia era: não havia como.

Marquee Moon havia amadurecido ao longo dos anos, com as canções sendo tocadas ao vivo, reescritas pacientemente por Tom Verlaine. O novo deveria nascer em meio a shows e até dentro do estúdio.

"Nosso primeiro disco foi gravado quase ao vivo dentro do estúdio, porque tínhamos trabalhado nas músicas por vários anos. Por isso mesmo foi gravado rapidamente. Sabíamos que não ficaríamos mexendo em tudo várias vezes. Na verdade, em algumas músicas Tom sequer fez três takes para seus vocais. Era quase tudo de primeira", lembra o guitarrista Richard Lloyd.

Por isso, quando começaram a escrever o material para um segundo disco, a insegurança era grande. "Quando começamos a mexer nas novas músicas, não tínhamos uma idéia definida e passamos a experimentar um pouco em estúdio, mudar arranjos, testar algumas idéias e aproveitar o orçamento generoso", continua Lloyd.

capa do disco AdventureNascia assim Adventure, que levou nove semanas para nascer e tinha uma outra ótica.

A grande preocupação de Tom Verlaine era fazer um disco mais pop, acessível. O disco continha oito faixas, sendo duas velhas conhecidas de shows - "Foxhole" e "Careful" - e com Tom tocando teclados e polindo um pouco a urgência dos tempos de Marquee Moon.

A primeira mudança pedida pelo líder do Television foi fazer uma capa de cor vermelha, já que considerava o preto do primeiro disco muito negativo.

O grupo entrou em estúdio em setembro de 1977, após uma excursão com Peter Gabriel, que detestaram, especialmente porque os fãs do ex-líder do Genesis odiaram o Television.

As sessões começaram nos estúdios da Brill Building, em nova York. Chamaram o produtor John Jansen, que trabalhava no Record Plant, que sugeriu que se mudassem para o Plant, superior tecnicamente. A idéia foi aceita e assim nascia o disco.

Tom VerlaineAdventure mostra novas facetas da banda é um grande álbum, embora sem metade do impacto de Marquee Moon. Verlaine estava mais preocupado em construir canções mais leves, embora mais elaboradas.

O disco abre com "Glory", um belo exemplo do novo som do Television: Tom está cantando mais baixo, a banda está mais suave. O mesmo acontece "Days", uma delicada balada.

Com "Foxhole", velha conhecida dos fãs e na qual Tom a anunciava gritando "Hey, soldier boy", o líder produz um de seus melhores solos, enquanto fala dos horrores da guerra.

A quarta canção, "Careful", era intitulada originalmente "I Don't Care", mas o nome foi alterado, após os Ramones gravarem uma canção com o mesmo nome. Nela, Tom tentou uma idéia bizarra, ao gravar seus vocais a três metros de distância do microfone. "Ficou interessante, mas nunca mais repeti a experiência", confessou.

"Carried Away" é outra bela canção, muito delicada, com teclados e longa. "The Fire", contém um belo solo de slide, feito com uma faca por Verlaine! Foi também a letra que mais deu trabalho a Verlaine, que a reescreveu inúmeras vezes.

"Ain't That Nothin'" possui um incidente curioso. A gravadora queria lançá-la como compacto e pediu que rapidamente a gravassem. Entraram um estúdio com um engenheiro de som da Elektra, extremamente ansioso, pois sua mulher estava na maternidade esperando um bebê. Por causa disso, ele acabou ligando os canais dos microfones da bateria de forma errada, deixando o som dos tom-toms completamente abafados. Por isso, a música teve que ser regravada para entrar no disco.

O disco fecha com "The Dream's Dream", que tinha o nome original de "Cairo". Outra curiosidade: durante as gravações, Richard Lloyd acabou internado em um hospital, onde passou vários dias. Junkie de carteirinha, Richard teve uma endocarditis, infecção causada por uma bactéria que ataca o coração, agravado pelo uso de heroína. Mas ele não perdeu o bom humor e tirou até algumas fotos no local, sendo essa, a mais famosa.

Logo após, o lançamento, o grupo saiu para tocar no Reino Unido, onde tiveram vários problemas com um engenheiro de som, que se recusava a mixar o som do grupo em seu PA.

"Ele era um daqueles doidos que só trabalhava com folk music, e não deixava, de maneira nenhuma, mixarmos nossos instrumentos corretamente. Fui falar com ele e disse que não precisava mixar as guitarras, apenas o baixo e a bateria. Mas ele não entendia e se recusou, dizendo que as guitarras iriam destruir o equipamento. Era enervante", conta Fred Smith.

capa do disco TelevisionAs baixas vendagens, críticas desanimadoras, fizeram com que o Televison parasse após um show no Bottom Line, em Nova York, em julho de 1978. A banda só voltaria a se reunir em 1992, quando lançaram um novo disco, com o nome da banda.

O grupo ainda se reúne para shows, como foi o do ano passado no Brasil, quando Tom Verlaine reclamou demais da qualidade de nossas casas noturnas, mas fez uma puta apresentação, segundo amigos. Uma última dica: os três discos de estúdios do grupo - incluindo Marquee Moon - estão disponíveis em edição nacional e a preços justos. Vale mais do que a pena adquirir essas preciosidades!

Deixo vocês com a discografia do grupo. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Marquee Moon (1977)
Adventure (1978)
The Blow-Up (1980)
Television (1992)
Live at the Old Waldorf (2003)

 


 

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