Arte – Gótica – Introdução

Para a maioria dos homens, a arte medieval é, desde há muito, sinônimo de arte gótica. Esta concepção, que ignora as artes bizantina e românica, é em parte justificável pelo fato da arte gótica ser a mais espetacular da Idade Média. A sua arquitetura é particularmente ousada e marca de certo modo, no Ocidente, o apogeu de um período que os historiadores situam entre 395 e 1453 (queda de Constantinopla). A arte gótica foi apreciada de maneiras diferentes consoante as épocas.

 

 

INTRODUÇÃO 

AmiensDurante os séculos em que foi "moderna", era conhecida sob o nome de "opus francigenum", o que significa "obra francesa", termo que evoca a sua principal origem. Todavia, assim que os italianos dos séculos XV e XVI se entusiasmaram pela Antigüidade Clássica, consideraram a Idade Média como uma época barbara, cuja principal criação era um estilo caracterizado pelo arco em ogiva. O termo gótico vai ser referido pela primeira vez por Giorgio Vasari, considerado o fundador da história da arte.  Como os Godos eram os bárbaros mais conhecidos, o estilo foi chamado gótico, isto é, bárbaro por excelência. Pois aos olhos de Vasari e de seus contemporâneos, a arte da Idade Média seria o oposto da perfeição, para eles era uma arte feia e obscura. A partir do século XIX com o romantismo, o adjetivo "gótico" perdeu o sentido pejorativo, mas no século XVI exprimia ainda desprezo. Autores românticos como Goethe, Victor Hugo e Walpole resgataram os valores estéticos da arte gótica envolvendo-a em uma aura de mistério.

Em geral, o gótico é mais homogêneo que o românico. Apesar de ser diferente na França, na Inglaterra, na Espanha ou na Itália e se um estudo mais profundo mostra diversidades regionais dentro de cada país, estas variações são menores comparadas as que existem na arquitetura e na escultura românicas. A unidade do gótico pode ser atribuída, em certa medida, à insegurança do trabalho nesta época; os artífices andavam de cidade em cidade segundo as possibilidades de emprego.

Amiens_fachada

Se a arte românica é fruto da Igreja, a arte gótica ao contrário nasceu com as cidades. A catedral tornou-se o centro da cidade, sendo a maior parte de suas atividades realizadas junto às paredes do edifício religioso ou no seu adro.

Com o desenvolvimento intenso do comércio, a economia prospera e nasce um novo mundo cosmopolita que se alimenta do turbilhão das cidades em crescimento e participa de um movimento intelectual em ascensão.

A própria igreja se certa forma se "seculariza" e em vez de voltar-se exclusivamente para a comunidade monástica volta-se para aquele que será de agora em diante o local do culto religioso por excelência, a catedral.

Quanto ao papel da catedral em relação à comunidade, é importante destacar que cada corporação da cidade contribuía para a sua execução. As diferentes Guildas poderiam por exemplo oferecer vitrais ou financiar a construção de uma capela. Em Chartres, os habitantes da cidade atrelavam-se às carroças para transportar a pedra para o local da obra, contribuição pessoal animada tanto pelo entusiasmo religioso como pelo orgulho cívico, pois a rivalidade entre as cidades era então intensa.A catedral era então, não apenas um símbolo da glória de Deus, mas também do poder da Igreja, do rei, da burguesia e de todos que a financiava.

Assim Paris construiu Notre-Dame, elevando as abóbadas a mais de trinta metros; um pouco mais tarde, Amiens construiu uma catedral cuja abóbada atingia quarenta metros; Beauvais ultrapassou-as em seguida, com uma catedral cuja nave central tinha perto de cinqüenta metros de altura. Em Beauvais, o desejo de ultrapassar as cidades rivais foi tal, que o edifício se desmoronou parcialmente, obrigando a reconstrução; e Siena, sempre invejosa de Florença, foi a primeira das duas cidades a construir uma catedral suntuosa. Florença aceitou o desafio e edificou outra catedral ainda maior. Para não ser batida, Siena decidiu fazer da anterior construção o transepto dum edifício gigantesco. Os sienenses nunca passaram além das fundações, mas estas mostram-nos claramente as suas verdadeiras intenções.

Chartres

A glória que as cidades alcançavam com as suas catedrais e o papel ativo desempenhado pelos seus habitantes em tais edificações fizeram crer freqüentemente que não havia arquitetos. É verdade que o título de arquiteto surge raramente nos registros medievais; o homem que desempenhava essa função é designado pelo nome mestre de obras ou mestre pedreiro. Estes artífices diferiam dos arquitetos modernos pelo fato de acumularem funções de arquiteto, de empreiteiro e de contramestre. Seria absurdo pensar que as plantas de edifícios tão complexos possam ter sido obra coletiva. Houve certamente em cada caso um homem que, pela imaginação, pelo sentido das proporções e pelos conhecimentos técnicos, se tornou arquiteto- um homem que cristalizava em si a concepção da catedral. Embora deixasse aos seus subordinados uma liberdade maior do que é possível hoje em dia, permitindo-lhes desenvolver idéias pessoais nas esculturas dos capitéis ou noutras partes do edifício, não deixando de ser por isso o principal responsável. Com efeito, conhecemos o nome da maior parte destes mestres-de-obra; o que não possuímos é a sua biografia. Para nós estes homens são unicamente nomes. Parece que o artista medieval não procurou o renome para além de seu próprio tempo; também é verdade que a imprensa ainda não existia.

Mesmo se tomarmos em linha de conta a importância do papel desempenhado pelo mundo secular na construção das catedrais góticas, não podemos minimizar o poder da força espiritual que a animou. É já bastante significativo o fato da cidade ter escolhido a catedral como principal monumento. O arrojo vertical da igreja, com os arcobotantes, os pináculos e as flechas, exprime um entusiasmo religioso e um fervor inigualável. Nenhum outro estilo revelou a exaltação mística com tanta perfeição.

Características principais do gótico

-Verticalismo dos edifícios substitui o horizontalismo do Românico;
-Paredes mais leves e finas;
-Contrafortes em menor número;
-Janelas predominantes;
-Torres ornadas por rosáceas;
-Utilização do arco de volta quebrada;
-Consolidação dos arcos feita por abóbadas de arcos cruzados ou de ogivas;-
-Nas torres (principalmente nas torres sineiras) os telhados são em forma de pirâmide.


 

FASES DO GÓTICO

Gótico Inicial

A primeira fase do período gótico iniciou por volta de 1120-50,e o edifício considerado como marco seria a catedral beneditina de Saint-Denis, cuja reconstrução desenvolvida sob a orientação do abade Suger (1137-1144) traria as características estruturiais que definiriam o estilo. Mais que uma obra arquitetônica, Saint Denis expressava uma filosofia espiritual. A importância da luz proviniente dos vitrais possui um simbolismo místico bastante elevado, representando a comunicação com o divino e a comunhão com o sagrado.

Saint-Denis estava situada em Île-de-France, região próxima a Paris,  uma região próspera, onde as populações urbanas e prósperas tinham a riqueza necessária para construir uma catedral de tamanha magneficência.Logo após Saint-Denis outras regiões iniciaram as construções de catedrais seguindo esse padrão. Outro exemplo de proto-gótico é a catedral de Sens, que contudo não é tão ousada quanto Saint-Denis.

Características principais:

-Portais quase em arco românico
-Preponderância de espaços cheios sobre vazios
-Colunas e pilastras grossas
-Arcobotantes curtos e grossos
-Divisão da fachada por pilastras

Esse período inicial é conhecido como proto-gótico ou gótico inicial e se estende até por volta de 1190 quando se inicia o chamado gótico radiante.

 

GÓTICO PLENO, RADIANTE OU CLÁSSICO (rayonnant)

Inicia-se por volta de 1190 e se estende até 1350 quando tem início o chamado período gótico tardio. O estilo tem esse nome por causa do uso de raias, linhas radiais na traceria ou arrendado. Este tipo de ornamento era utilizado na formação de aberturas em forma de rosáseas ou formando relevos em arcos, janelas abóbadas e pináculos ou mesmo em painéis. A rosácea passa a ter um papel muito importante nessa fase.

Catedrais que seguem esse estilo são Chartres, Bourges, Amiens e Reims.

 

Principais características:

Ogivas lanceadas
Equilíbrio entre área vazia e cheia
Colunas fasciculadas com capitel
Galeria dos Reis
Arcobotantes longos, finos e elegantes.
 

GÓTICO TARDIO OU FLAMEJANTE (flamboyant)

Teve seu desenvolvimento entre 1350 e 1500.  O século XIV viu a Europa ser atingida por uma das mais terríveis epidemias que houve na História: a peste negra. Esse flagelo dizimou a população européia no longo período em que grassou pelo continente. Calcula-se que tenha morrido mais da metade da população.
As mortes eram bruscas e a enfermidade durava pouco. O terror se espalhou por toda a parte. Foi esse pânico que suscitou toda uma série de expressões artísticas. Na música, surgiram as canções terríveis, como os cantos da Sibila e as danças da morte. A conhecida seqüência Dies Irae é desse tempo.

O flamejante se caracteriza pelo triunfo da curva e da contra curva, que vai produzir linhas sinuosas que parecem as de labaredas, por isso o nome do estilo que se caracteriza por esse gosto pelas linhas sinuosas intrincadas e de certa forma, pelo excesso. A contra curva é introduzida nas ogivas, nos arcos, e reina nas esculturas.

Principais características:

Rosácea com chamas
Cruzamentos numerosos de ogivas
Ogivas Abatidas
Ogivas com Cortinas
Colunas cilíndricas sem capitel
Preponderância da decoração sobre a arquitetura
Arcobotantes enfeitados


Fontes:

Arena, Hector L. Arte gótico tardio. Museo Nacional de Arte Decorativo, 1967.
Aubert, Marcel. Cathédrales et trésors gothiques de France. Arthaud, 1958.
Cali, François; Moulinier, Serge. “L’Ordre Ogival”. Paris: B. Arthaud, 1963.
Cali, François. “L’Ordre Flamboyant”.Paris: B. Arthaud, 1967.
Cosse, Jean “Initiation à l’art dês cathédrales”. Auxerre: Zodiaque, 1999.
Fedeli, Orlando – “Filosofia e Escultura na Idade Média” publicado no jornal Veritas, 1992.
Focillon, Henri. “Arte do Ocidnte”. Lisboa: Editoral Estampa, 1993.
Fulcanelli. O ministério das catedrais e a interpretação esotérica dos símbolos herméticos da grande obra, 1975.
Grodecki, Louis, Architettura gótica. Electa,2000.
Hauser, Arnold – História Social da Literatura e da Arte.
Meiss, Millard – Pintura em Florencia y Siena después de la Peste Negra.
Panofsky, Erwin “Arquitetura Gótica e Escolástica” – São Paulo – M. Fontes – 1991
Shaver-Crandell, Anne. A Idade Media. Circulo do Livro, 1984.
Simson, Otto Von “A Catedral Gótica”, Lisboa – Editorial Presença – 1991
Williamson, Paul, Escultura gótica (1140-1300). Cosac & Naify, 1998.

Author: Beatrix