Musica ethereal, musica etérea, celestial, sublime, elevada, divina, sobrenatural, perfeita, primorosa…Tudo isso diz muito do caráter e pouco ou nada sobre o que seria este estilo musical na prática.
Pode-se dizer que o “ethereal” seria uma feliz mistura de música clássica, pop, folk, soul, com uma pitada de eletrônico, além de outros estilos que variam de grupo para grupo. Mas esta seria a receita básica. Apesar de não se tratarem da mesma coisa, as fronteiras entre ethereal, new age e world music são às vezes quase que imperceptíveis (para desespero de muitos).
Esse designação para o estilo surgiu em meados da década de 1990, em referência à uma coletânea criada pelo selo Hyperium denominada “Heavenly voices” que reunia bandas com certas características em comum, grupos que apresentavam um estilo ligado ao neoclássico, à música medieval ou ao darkwave, tendo vozes femininas como destaque. Muitos desses grupos tiveram como inspiração a banda Cocteau Twins e o Dead Can Dance, além de seus músicos muitas vezes terem formação musical erudita. A denominação entretanto extrapolou as bandas ligadas ao selo Hyperium e hoje é atribuída a vários grupos que têm essas características em comum. Abrangendo bandas como sToa, Bel Canto, Attrition, Black Tape for a Blue Girl, Delerium, Chandeen, Faith And The Muse, Opera Multi Steel e mesmo projetos musicais como o This Mortal Coil, de iniciativa do presidente da 4AD Ivo Watts. Está gravadora, aliás, foi outro celeiro de bandas ethereal, a exemplo do próprio Cocteau Twins e do Dead Can Dance.
Alguns preferem fazer uma diferenciação separando a música ethereal do chamado estilo neoclássico. Pois enquanto as bandas ethereal utilizam predominantemente instrumentos eletrônicos, os adeptos do estilo neoclássico preferem instrumentos acústicos, próprios da chamada música erudita. Essa é uma diferenciação que talvez valha mais para os puristas, visto que muitos grupos costumam na verdade fazer uma fusão entre instrumentos acústicos e eletrônicos, tentando desenvolver uma mistura harmoniosa entre as duas tendências.
Podemos dizer que o elemento que mais caracteriza este estilo musical seja justamente o vocal, que apresenta sempre uma forte influência da musica erudita, especialmente do canto lírico. Não é à toa que os vocalistas de bandas ethereal são praticamente todos dotados de vozes espetaculares, e também, são quase todas mulheres (é claro que existem vozes igualmente talentosas na ala masculina, mas isso é quase um capítulo à parte). Seu canto parece por vezes melopéias de sereias, o chamado de Loreleis, ou os lamentos profundos e desesperados de uma banshee céltica, sem contudo perder o charme minimalista que dá a classe ao estilo.
E quando o canto de sereia se deita sobre a teia sonora tecida por sons acústicos, eletrônicos e inimagináveis que sempre acompanham as canções e formam uma rede só, aí então é que o estilo faz jus ao nome.
Essa base sonora pode ser composta das mais diferentes formas, com guitarras, alaúdes, sintetizadores, panelas (?????), flautas antigas…Nas mãos mágicas dos músicos do ethereal, tudo ganha um caráter inusitado.
Nos vocais muitas vezes pouco importam as letras (até hoje não se sabe ao certo o que Liz Fraser cantava no Cocteau Twins), pode ser uma canção medieval, poesia egípcia, ou palavras sem sentido, o que vale mesmo é a sonoridade e a maneira de se cantar.
Uma vez num show, perguntada sobre o que seria a sua música Liz Fraser disse que era ”música para induzir a vertigem”, e talvez essa seja a melhor definição de ethereal, música para delirar, sonhar.
Por Beatrix Algrave