020 – Lone Justice – This World is Not My Home

Eles duraram apenas dois discos e depois lançaram uma coletânea com músicas inéditas e até uma cover de Sweet Jane, do Velvet, ao vivo com Bono do U2. Foram uma das bandas que ajudaram a cunhar o gênero cow-punk, que misturava as letras e os instrumentos da música country com a força do punk. Liderados pela baixinha e talentosa Maria McKee, amiga de Bruce Springsteen e Bob Dylan, o Lone Justice foi um grupo que apesar de pouco sucesso comercial deixou sua marca nos anos 80.


O Lone Justice é uma dessas bandas que quase ninguém viu, poucos ouviram falar, mas que encanta o ouvinte quando a escuta. Talvez a única canção que tenha tocado deles no Brasil foi “Shelter”, do segundo e último LP. O primeiro saiu em 85, em uma série chamada New Rock Collection, da CBS. Além do Lone, tinha o último Clash, o terceiro R.E.M., Wire Train, Dead or Alive, Wang Chung, Alarm, Big Audio Dynamite, entre outros.

Liderada pela baixinha e vibrante Maria McKee, meia-irmã de Brian MacLean, do psicodélico Love, dos anos 60, percorria todo circuito de rockabilly, e participou de duos, com o próprio Brian e com o cantor local de blues, Top Jimmy. Ela encontrou Ryan Hedgecock na cena rockabilly de Los Angeles. O grupo era inicialmente uma banda de covers, mas com a entrada do veterano baixista Marvin Etzioni e o baterista Don Heffington, que já havia tocado com Emmylou Harris, McKee começou a compor material inédito.

Aos poucos, elementos de rock começaram a ser introduzidos pela banda e o grupo se tornou um dos queridos da cena de LA. Em 1985, conseguiram um contrato com a Geffen Records e debutaram com um LP que levava o nome do grupo. O disco foi promovido com uma excursão abrindo para o U2. Bono e Maria McKee ficaram muito amigos. Apesar disso, o disco foi um fracasso de vendas e Etzioni, Hedgecock e Heffington abandonaram o grupo. Foram então recrutados o guitarrista Shane Fontayne, o baixista Greg Sutton e o baterista Rudy Richman. Ryan voltou ao grupo e gravaram o segundo LP, chamado Shelter, produzido por Jimmy Iovine.

Logo após o disco, Maria dissolveu o grupo e partiu para a carreira solo onde lançou bons discos.

“A banda continuou vendendo poucos discos e já não tinha mais motivação. Preferi partir para uma carreira solo e desmontar o Lone.”

O segundo álbum tirou um pouco da linha cow-punk que havia sido marca do primeiro álbum para um disco mais pop, com mais baladas. O grupo também teve problemas com a Geffen, que queria algo mais pop. Com tanta pressão, Maria preferiu pular fora.

Durante o tempo em que começou a montar sua carreira solo, foi ficando mais íntima de nomes de peso como Bruce Springsteen e Bob Dylan que elogiavam a força das composições daquela pequena garota. Maria era convidada para tocar em concertos e dar algumas canjas, e sempre era elogiada.

Para Shane Fontayne, que depois tocaria com a E-Street Band de Bruce, Maria era uma pequena mulher com uma voz gigantesca. Ele lembra que Little Steven tentou fazer dela uma espécie de Bruce de saias, já que ambos tinham a mesma visão da América e falavam das mesmas coisas.

Em 1999, saiu um disco chamado This World is Not My Home, que possui vários momentos deixados de lado nos dois discos. O disco começa com sete canções inéditas: “Drugstore Cowboy”, a punk “Rattlesnake Mama”, “This World is Not My Home”, “Working Man Blues”, “Cotton Belt”, “Go Away Little Boy” e “The Train”, e segue com canções manjadas dos dois primeiros discos, até cair em uma versão ao vivo de “Sweet Jane”, do Velvet Underground. A canção ganha na sua segunda parte a participação vocal de Bono, que mais uma vez faz questão de alterar a letra da canção, dizendo “Hey Bono I wanna play with your band”. Os dois fazem um dueto emocionante e emocionado, acabando com um solo de guitarra que não ficaria ruim nas mãos de Lou Reed, mas cresceria muito com The Edge.

O disco contém mais duas canções ao vivo, “Sweet, Sweet Baby” e Wheels, quando Maria toca teclados. Talvez a canção mais emocionante do disco seja a balada “Shelter”.

Eis a letra, que fez em parceria com Little Steven:

Well, Alright, You Gave All Up For a Dream
Fate proved unkind
to lock the door and leave no key
You´re unsure
Baby, I´m scared too
When the world crushes you…

Chorus
Let me be your shelter, shelter from the storm outside
Let me be your shelter, shelter form the endless night
Disillusion has an edge so sharp

It tears out your soul and leaves a stain upon your heart
I need you to wash mine clean
You´ve felt it, too
And You need me

Chorus
Let me be your shelter, shelter from the storm outside
Let me be your shelter, shelter form the endless night
Disillusion has an edge so sharp

Your struggle with darkness has left your blind
I´ll light the fire in your eyes

Chorus
Let me be your shelter, shelter from the storm outside
Let me be your shelter, shelter form the endless night
Disillusion has an edge so sharp

Traduzindo ficaria mais ou menos parecido com isso:

Muito bem, você deu tudo por um sonho
O destino provou não ser generoso
Para trancar a porta e deixar você sem a chave
Você está insegura
Querida, eu também estou assustado
Quando o mundo colide com você…

Deixe-me ser seu abrigo, abrigo para a tempestade lá de fora
Deixe-me ser seu abrigo, abrigo para as noites sem fim
A desilusão tem um corte afiado

Isto assusta sua alma e deixa uma mancha em seu coração
Eu preciso de você para deixá-la limpa
Você pode sentir isso, também
e precisar de mim

Deixe-me ser seu abrigo, abrigo para a tempestade lá de fora
Deixe-me ser seu abrigo, abrigo para as noites sem fim
A desilusão tem um corte afiado

Sua batalha com a escuridão a deixou cega
Eu irei iluminar o fogo dos seus olhos

Deixe-me ser seu abrigo, abrigo para a tempestade lá de fora
Deixe-me ser seu abrigo, abrigo para as noites sem fim
A desilusão tem um corte afiado

Todos os três Lone Justice e os trabalhos solos de Maria McKee estão em catálogo e merecem ser conferidos. Uma banda que, apesar da curta existência e pouco nome conquistado, adquire fãs que a ouvem ainda hoje. Bom divertimento!