O selo avisa: esse é um disco novo do Heads e não do Talking Heads. Os Heads são Jerry Harrison, Chris Frantz e Tina Weymouth. Com vários convidados para cantar as músicas, entre eles o falecido Michael Hutchence (INXS), Debbie Harry (Blondie), Maria McKee (Lone Justice), Shaun Ryder (Happy Mondays e Black Grape), Johnette Napolitano (Concrete Blonde), o lendário Richard Hell (Richard Hell & The Voidoids), Ed Kowalczyk (Live), Andy Paltridge (XTC), Gavin Friday (Virgin Prunes), Gordon Gano (Violent Femmes) e Malin Anneteg, o disco foi produzido da seguinte maneira: os três Heads fizeram as músicas na casa do casal Chris e Tina, em Connecticut, em duas semanas, e chamaram vocalistas amigos para colocar letras e cantar. O resultado é um disco arrepiante, da primeira até a última faixa. Pergunte a qualquer crítico qual o melhor álbum da década de 90, e ouvirá em 90%, Nervermind do Nirvana. Eu discordo. Acho Nervermind um disco legal, mas como tenho raízes nos anos 80, o meu disco preferido é No Talking Just Head, do The Heads. Quem?? The Heads são basicamente os Talking Heads sem o líder David Byrne. Eu tive chance de publicar uma entrevista com os Heads, em 97, na Folha de S. Paulo. Lógico que muito material foi editado, mas então preferi guardar o resto para uma outra hora. E por que não agora, pensei? O projeto em si é maravilhoso. Fazem as músicas e deixam com que os cantores entrem com as letras. O disco abre com “Damage I’ve Done”, com vocais gritados de Johnette Napolitano, perguntando os danos que poderia ter causado. A segunda canção é com Michael Hutchence, chamada “King is Gone”. Debbie Harry aparece pela primeira vez no disco com a faixa-título. “Adorei o projeto de tocar com velhos amigos e rever a época do CBGB (clube nova-iorquino onde nasceu o punk em Nova York, com Patti Smith, Television, Modern Lovers, Ramones, Talking Heads, Blondie, DNA, entre outros). Era como rever o passado, foi um projeto muito aconchegante.” Tina lembra das dificuldades do começo de carreira e retratou como uma das letras em “Punk Lolita”. “Todos nós fomos punk lolitas naquela época. Muitas garotas iam sem dinheiro, atrás de garotos e drogas. O clube tinha um clima todo perfeito para o período. Várias bandas tocavam e quisemos homenagear as lolitas mais frequentes. No CBGB rolava de tudo.” Destaques ainda para a voz do lendário Richard Hell, um dos fundadores do Television e que depois saiu, Maria McKee colocando muita raça em sua interpretação. Shaun Ryder está ótimo também em “Don’t Take My Kindness for Weakness”, que rendeu um vídeo bem bacana. Ed Kowalczyk disse que gostou da idéia do projeto e como Jerry Harrison era produtor do Live quis ajudar o amigo. “A minha letra é ‘Indie Hair’ e é totalmente maluca. Uma coisa diferente do que eu faria no Live. Adorei!” Outro velho companheiro de guerra, Andy Paltridge, do XTC, banda que os Heads originais sempre elogiaram foi outra importante contribuição. “Conhecia Tina, Jerry e Chris de tempos passados. Quando me chamaram, eu estava no meio de uma crise nervosa e aceitei participar do projeto, até como uma terapia.” O disco fecha com “Blue Blue Moon”, de Gavin Friday, colega de infância de Bono do U2. Sua voz soturna e seu jeito falado de cantar arrepiam na canção. Por aí você entende porque Bono o considera seu maior ídolo. (Imagem do clip de Damage I’ve Done) O álbum foi lançado em 96 e teve uma pequena tour com Napolitano e Debbie dividindo os vocais. Infelizmente o projeto só durou este disco. “Queríamos fazer uma coisa para os fãs do Talking Heads, mas como o David não topava, resolvemos nós três escrevermos músicas e chamarmos velhos conhecidos. Foi fantástico. Espero que voltemos a fazer um outro projeto diferente no próximo. Nunca nos copiamos e precisamos ser criativos no segundo”, afirmou Jerry. Talvez por não gostarem de se copiar é que não houve uma continuação. Os integrantes originais do Talking Heads fizeram um acordo de nunca mais usarem o nome da banda. A homenagem dos The Heads foi um perfeito fechamento para uma dos grupos mais importantes. O projeto, aliás, trazia a ideia de uma excursão e um DVD gravado, com os cantores convidados tocando músicas do Talking Heads, mas após um processo de David Byrne, foi abortado. Byrne queria até proibir o disco de sair, mas um acordo foi feito e o OK dado. Na época, Byrne considerava uma exploração de seu ex-grupo junto aos fãs: “tudo remete aos Talking Heads, inclusive o título, e alguns acharão que voltamos.” Até Malin Anneteg, uma cantora de rua de Nova York nos tempos dourados foi chamada para amarrar mais o disco. Havia a preocupação de escreverem sobre o passado de cada um e mostrar que mesmo sem David Byrne havia muita criatividade. O Tom Tom Club, projeto paralelo de funk e reggae de Chris e Tina, mostrou isso vendendo mais do que o Talking Heads na década de 80, durante o auge do grupo. O curioso disso tudo é que já existia, desde 1990, um grupo psicodélico e obscuro britânico chamado The Heads. O quanto eles ficaram felizes de serem confundidos, eu não faço a menor ideia… Veja quem cantou em cada faixa e os músicos envolvidos na gravação: “Damage I’ve Done” (Napolitano) “The King Is Gone” (Hutchence) “No Talking, Just Head” “Never Mind” (Hell) “No Big Bang” (McKee) “Don’t Take My Kindness for Weakness” (Ryder) “No More Lonely Nights” (Anneteg) “Indie Hair” (Kowalczyk) “Punk Lolita” “Only the Lonely” (Gano) “Papersnow” (Partridge) “Blue Blue Moon” (Friday) Músicos: Chris Frantz – drums, loops Fiquem com a letra de Punk Lolita. Um abraço e até a próxima coluna. She was a punk Lolita You don’t care that I’m just a punk girl doin’t funky Get offa your pedestal She was a Punk Lolita You don’t care that I’m just a punk girl doin’t funky She was a punk Lolita You don’t care that I’m just a punk girl doin’t funky Get offa your pedestal You don’t care that I’m just a punk girl doin’t funky
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